sábado, 27 de fevereiro de 2010

O Volks da Nilda Mota

Cansada, suando muito, a Vereadora Nilda Mota só falava, quase chorando:

– Não dá, não dá para virar!

Até que desistiu.

Então solicitei ao meu fiel companheiro:

– Tião, por favor, faça a manobra no carro!

Era um Volks, tipo fusca, que eu havia enviado para que a Vereadora Nilda Mota, liderança que despontava de forma extraordinária, fizesse o trabalho político de visitas na região de Formoso. E este foi um dos acontecimentos.

Com a decisão tomada por Henrique de se candidatar a Deputado Estadual, enfrentei a campanha de Deputado Federal em 1974.

Visitei os diretórios do MDB no vale do São Patrício, Médio Norte, Estrada de ferro e Região de Anápolis. Carlos Wilson, Tião Borges, o Tião Gordo, Vicente Alencar e Hiran Bezze eram meus companheiros. Sempre revezava com um deles nas minhas constantes viagens.

Certa feita em Formoso, na residência do Firmino, antigo morador daquele município e amigo de longas datas de meu pai, marquei uma reunião. Nas primeiras horas de uma terça-feira quente, típica da região norte do estado, entrando no recinto da reunião, fui recebido por um participante, já com um copo de pinga pura do alambique artesanal:

– Aqui a gente recebe as pessoas importantes oferecendo cachaça, da melhor! Pode tomar que é pura.

Não querendo fazer feio, mesmo depois de ter bebido copo de leite e comido pão com manteiga naquela hora, recebi o copo e tomei a dose que me havia oferecido.

A todo instante o bêbado aparecia com o copo cada vez mais cheio, me estendendo a mão e passando para mim. Para me livrar, levava o braço para trás, passando o copo para o Tião Borges, que tomava um pouco e jogava a restante fora. Só assim me foi possível fazer a estréia em Formoso, sem sair carregado ou cambaleando. Em compensação, terminada a reunião o Tião Gordo não sabia nem em que cidade estávamos.

Chegamos a Trombas, ainda Distrito de Formoso, Nilda Mota Lucindo, a maior líder feminina do Médio Norte, Vereadora mais votada proporcionalmente de todos os tempos em Formoso, estava organizando encontro a céu aberto, na principal praça do local. Havia grande gameleira, que, com sua sombra, abrigava uma multidão do sol escaldante.

O Deputado Estadual Juarez Magalhães, candidato à reeleição, e eu, apoiados por Nilda Mota e o diretório do MDB de Formoso, havíamos lhe enviado um Volkswagen, usado, muito ruim de mecânica.

No instante de fazer a manobra para que o alto-falante abrigado no teto do fusca ficasse de frente para a platéia, Nilda não conseguia de forma alguma virar o carro. Cansada, suando muito a Vereadora só falava, quase chorando:

– Não dá, não dá para virar!

Até que desistiu. Então, solicitei ao meu fiel companheiro:

– Tião, por favor, faça a manobra no carro!

Da mesma forma, Sebastião Borges, com toda sua habilidade de motorista, não conseguiu manobrar o Volks. Exausto por tentar tantas manobras sem sucesso, bem mais forte que Nilda, Tião Gordo agarrou no pára-choque do carro virando-o para o sentido que queríamos.

Só assim ficamos sabendo que o Volks que havíamos mandado para a Vereadora fazer a campanha no município só andava em linha reta.

Trabalhando todos os dias, o tempo todo, Nilda Mota fez de Lázaro Barbosa, Juarez Magalhães e eu, os mais votados naquele município. Seu carisma, simpatia e liderança contagiavam a todos que a conheciam. Morreu em conseqüência de um atropelamento na Avenida Universitária, quando descia do ônibus do qual retornava da Faculdade de Direito de Anápolis, a FADA, para sua casa, no inicio da Vila Santa Isabel.

Nilda Mota Lucindo morreu sem ver a Avenida Universitária duplicada por mim enquanto prefeito e nem mesmo participou do governo do seu querido MDB, pois a posse de Iris Rezende Machado, em 1983, foi na mesma época do acidente que a vitimou.

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