sábado, 27 de fevereiro de 2010

Prefeito pede intervenção em Goiás

Foi puro atrevimento do líder anapolino Henrique Santillo.

O ato de solicitar intervenção no Governo de Goiás, justificando atraso no repasse dos tributos devidos aos municípios, detonou uma crise no Governo, porque era muita ousadia para aquela época.

A assessoria jurídica do governador Otávio Lage buscou solução rápida para abafar a crise.

Mas isto foi conseqüência.

Na verdade, estávamos vivendo momentos de tranqüilidade política em Anápolis. Parecia um sonho, tudo correndo às mil maravilhas. Henrique Santillo, mesmo com pequenos recursos financeiros, realizava grande obra administrativa como prefeito, no período de 1970 a 1972. Embora esta tranqüilidade fosse sentida na administração da cidade, continuavam os ânimos políticos emocionalmente radicalizados, tanto no MDB como na Arena, partido adversário do prefeito. Assim, o que era calmaria num dado momento, poderia ser o oposto pouco depois. E foi realmente o que aconteceu.

Naquela semana deveria ser repassado o ICM às prefeituras. Henrique Santillo, prefeito de Anápolis, aguardava com grande expectativa a chegada dos recursos, a maior cota do mês, quando saldaria os salários dos servidores públicos municipais. Após cinco dias da data obrigatória de repasse do ICM à prefeitura, o recurso ainda não havia chegado aos cofres municipais de Anápolis. Angustiado e não sabendo a quem recorrer, Henrique convocou Vicente Alencar ao seu gabinete, autorizando-o a tomar as providências cabíveis.

Constituição Federal e Estadual em mãos, certo de que não seria atendido só pelo diálogo, Vicente Alencar, Procurador Geral do Município de Anápolis, elaborou petição à Justiça, solicitando intervenção federal no estado de Goiás, justificando atraso no repasse dos tributos devidos aos municípios. Sua atitude foi vista pelos demais prefeitos que enfrentavam o mesmo drama e pelos políticos em geral, como atitude ousada e muito corajosa. A Lei de Segurança Nacional protegia o presidente da República e governadores estaduais, tornando-os impunes em crimes de responsabilidade.

No dia seguinte, os jornais diários editados em Goiânia e até mesmo alguns dos principais jornais do eixo Rio – São Paulo noticiavam o pedido de intervenção em Goiás feito pelo prefeito Henrique Santillo, do MDB de Anápolis. Necessitando dar resposta dura e imediata ao atrevido líder anapolino, a assessoria jurídica do governador Otávio Lage buscou solução rápida para abafar a crise.

A primeira coisa feita pelo governador foi repassar imediatamente a cota dos municípios, que já estava com mais de uma semana de atraso. Feito isso, pelo jornal Folha de Goiás, veio a ameaça oficial, com afirmação de que o governador reagiria ao pedido de intervenção, processando e punindo Henrique Santillo, com base na Lei de Segurança Nacional.

A notícia de processar Henrique Santillo pela Lei de Segurança Nacional foi tomada como verdadeira, visto a proximidade do Jornal Folha de Goiás com o palácio das esmeraldas e por isso mesmo, jornalistas, radialistas, representantes até da imprensa nacional, fizeram verdadeiro plantão à porta do gabinete do prefeito, em Anápolis. Recebendo toda a imprensa, Henrique credenciou o procurador geral do Município para dar as declarações necessárias. Vicente, de forma clara e determinada os convidou para, em meia hora, irem até ao Jóquei Clube de Anápolis, na BR-060, saída para Brasília, onde daria uma entrevista coletiva. Os jornalistas ficaram sem entender porque as declarações seriam dadas oficialmente em resposta ao governador, num clube social.

Era manhã de segunda feira, dia reservado apenas ao funcionamento interno do clube. Como chefe de gabinete de Henrique e diretamente interessado em ajudar meu irmão, acompanhei o procurador, Vicente Alencar, passando primeiro em sua casa onde ele pegou seu calção de banho, o que, sinceramente deixou-me desconfiando e preocupado. Ao chegarmos ao clube, antes que os jornalistas começassem a chegar, foi ao vestiário, vestiu o calção e logo deu um salto e braçadas na piscina.

Os fotógrafos e jornalistas encontraram Vicente Alencar dando largas braçadas e deixando a piscina, de cabelos molhados, assentou-se numa espreguiçadeira, acendeu um charuto, mesmo sem ter este hábito, bem acomodado, passou a dar declarações, sem mesmo esperar as perguntas:

– Quero que vocês digam ao editor de cada jornal para colocar minha foto como estou, bem à vontade, depois de um bom mergulho, sentado à beira da piscina, fumando um bom charuto, com a legenda: “nossos repórteres encontraram o advogado Vicente Alencar, procurador da prefeitura de Anápolis, no Jóquei Clube, que entre um mergulho e outro respondeu ao governador.

Diante da atitude ousada e corajosa do procurador Vicente Alencar, os jornalistas deram gostosas gargalhadas e esperaram uma atuação mais drástica do governador diante de tamanha humilhação. Na terça-feira, o jornal Folha de Goiás publicou a foto tirada no Jóquei Clube, com a legenda igualzinho ao que havia solicitado Vicente Alencar.

Não sei se foi o recado do Vicente Alencar ao governador ou outro motivo, mas o tão falado processo contra Henrique Santillo pela Lei de Segurança Nacional morreu por ali mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário