sábado, 27 de fevereiro de 2010

Campanha acirrada para a prefeitura

– Como a senhora sabe, vamos eleger novo prefeito municipal no final do ano. Estamos aqui com José Batista Júnior que é nosso candidato. Pedimos o apoio e ajuda da senhora para ele.

Mas a resposta daquela mulher desequilibrou nossa seriedade, com muito custo conseguimos controlar a formalidade da visita, que era sempre rápida, pois todas as casas ainda seriam visitadas.

Este foi um dos fatos interessantes da campanha municipal de 1972.

No início daquele ano, com o mandato do prefeito Henrique Santillo chegando ao fim, iniciamos a discussão para escolher o candidato do MDB, para disputa no final daquele ano.

Como Anapolino de Faria já se manifestara não ser seu projeto político disputar a prefeitura naquele momento, vários nomes foram sugeridos, como o do empresário Alex Salomão.

Depois de muita discussão a escolha recaiu sobre o nome do Secretário Municipal de Educação, professor José Batista Júnior, quase que por consenso, tendo como vice-prefeito o vereador Milton Alves Ferreira.

Nosso adversário seria o professor Eurípedes Barsanulfo Junqueira, pessoa íntegra e de muito prestígio em Anápolis. Havia realizado excelente trabalho como diretor do Colégio Estadual “José Ludovico de Almeida”, além de muito admirado pelo funcionalismo público municipal, pela forma correta que desempenhava a atividade no serviço público.

Sabíamos que derrotá-lo não seria tarefa fácil.

Contávamos com a grande credibilidade que angariamos junto ao povo pela defesa clara e transparente que fazíamos da democracia em combate à ditadura. Os argumentos em nosso favor eram a palavra de esperança pelas liberdades democráticas e a excelente administração municipal que Henrique fazia, embora tivesse apenas um mandato de três anos.

A campanha desenrolou-se nas caminhadas diárias por todos os bairros e vilas do município. Estivemos na Vila Formosa, primeiro conjunto habitacional financiado pelo Banco Nacional de Habitação- BNH, construído na administração do prefeito Raul Balduíno, cujo administrador, o jovem Frederico Jayme Filho, nos acompanhava de casa em casa.

A aceitação do nome de José Batista Júnior era crescente.

Numa dessas visitas chegamos à casa de uma senhora simpática, que nos recebeu amavelmente. Coube a mim justificar o motivo da visita:

– Como a senhora sabe, vamos eleger novo prefeito municipal no final do ano. Estamos aqui com José Batista Júnior que é nosso candidato. Pedimos o apoio e ajuda da senhora para ele.

Gostei do jeito dele. Dificilmente eu me engano, parece gente boa. Mas vocês chegaram num dia que estou desprevenida, sem dinheiro nenhum.

– Ah! Desculpe, nós não explicamos bem, a ajuda que queremos não é em dinheiro, precisamos do seu voto, do dos familiares e amigos.

– Ah! Mas isso eu faço com a maior satisfação. Amanhã eu volto para Carolina, no Maranhão, vou pedir para toda a minha família que mora lá comigo que vote nele.

Não havia ainda debate ou programa pelo rádio ou televisão, o que só ocorreu nas eleições gerais de l974.

Os coordenadores da campanha arenista me procuraram para que José Batista Júnior e Eurípedes Junqueira fizessem debate pela TV Anhangüera, único canal que chegava até Anápolis.

Confiantes que seu candidato seria mais preparado que José Batista Júnior, os arenistas programaram o debate entre os dois nos estúdios da TV em Goiânia, que aconteceria num domingo, logo após Wilson Simonal, o programa de maior audiência no estado. Todas as despesas com a televisão foram pagas pelos arenistas.

No dia marcado, acompanhei José Batista Jr. ao estúdio da TV Anhangüera, na avenida Goiás, como fora combinado entre os dois candidatos à prefeitura de Anápolis.

Encontramos ambiente claramente desfavorável, preparado para dificultar o desempenho do nosso candidato.

Figuras representativas da Arena estadual e jornalistas especialmente convidados para o debate entraram no estúdio onde atuariam como entrevistadores, no que prontamente discordei.

Aceitaria os entrevistadores desde que fosse eu um entrevistador também, o que não aceitaram, evoluindo para que apenas os dois candidatos participassem, com perguntas e respostas alternadas.

José Batista, que era freqüentemente ridicularizado pelos adversários nos programas radiofônicos diários, a todos surpreendeu saindo-se muito bem, convencendo os telespectadores de que estava preparado para administrar o município.

O encerramento da campanha foi desigual.

O MDB realizou seu comício na Praça Bom Jesus na carroceria de madeira de uma caminhonete, com aparelhagem de som de duas Kombis, tendo como atrações artísticas Zé Venâncio e Saulino e a dupla Cascatinha e Inhana.

A ARENA contratou grandes atrações de um famoso circo, com globo da morte e, dentre as atrações artísticas, a apresentação do conjunto Os Incríveis, mais famoso conjunto musical do país, na época, com sonorização profissional.

Ao pronunciar seu discurso, o Deputado Federal Anapolino de Faria fez uma de suas eloqüentes observações:

– Nossos adversários estão oferecendo aos nossos eleitores maravilhosos espetáculos circenses. Trouxeram os mais famosos motoqueiros da América do Sul para se apresentarem no globo da morte. Trouxeram os mais famosos artistas populares do Brasil, como o conjunto Os Incríveis. Trouxeram tudo de fora. Só não trouxeram os palhaços. Esses são daqui da terra mesmo.

José Batista Júnior foi eleito prefeito numa das mais emocionantes eleições acontecidas em Anápolis até então.

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