sábado, 27 de fevereiro de 2010

O sumiço dos fuzis do Tiro de Guerra

– Walmir, você é elemento muito ativo, quem foi que assaltou o Tiro de Guerra de Anápolis e levou os fuzis?

– Adhemar Santillo e Washington Barbosa!

Depois de sofrer torturas físicas e psicológicas durante o tempo em que estava preso nas dependências do PIC em Brasília, só restou ao vereador Walmir Bastos fazer a confissão que foi recebida com euforia pelos seus torturadores, apesar de inverossímil.

Com o único objetivo de controlar a política administrativa de Anápolis, a Polícia Federal e setores específicos do Exército na década de 70 prenderam o presidente da Câmara Municipal, o vereador Walmir Bastos Ribeiro, pelo menos em três oportunidades distintas.

Quando prenderam Walmir Bastos, dentro do meu carro, no estacionamento privativo da prefeitura municipal, na Praça do Bom Jesus, foram presos na mesma época Washington Barbosa, Maristela Mendes, Alexandre Almeida, Geraldo Tibúrcio e outros acusados de atividades subversivas. Ficaram presos no PIC, em Brasília e a tortura psicológica contra o vereador foi intensa e revoltante. Na mesma época, alguns integrantes da “Guerrilha do Araguaia” como José Genuíno, estavam também recolhidos nas dependências do Exército, para onde levaram Walmir Bastos.

Como faziam o jogo da ARENA de Goiás, queriam a renúncia do “Baiano”, como carinhosamente era conhecido por ser de Brotas da Macaúba. Walmir era submetido diariamente a interrogatórios intermináveis. Cansado, deprimido, sem força para reagir, resistiu o máximo que sua força suportou. Decidiu assinar documento renunciando a presidência da Câmara Municipal de Anápolis e o próprio mandato de vereador.

Contudo, antes de assinar o papel elaborado pelo oficial identificado como major Leopoldino, outras indagações foram feitas a ele, que nas inquisições anteriores não haviam perguntado:

– Walmir, você é elemento muito ativo, quem foi que assaltou o Tiro de Guerra de Anápolis e levou os fuzis?

– Adhemar Santillo e Washington Barbosa!

Logo após o golpe de 31 de março, que destituiu João Goulart da presidência da República, o TG-53, de Anápolis foi assaltado numa madrugada, com os assaltantes levando 20 fuzis, que serviam para o treinamento dos seus atiradores.

A alegria foi total entre os torturadores de plantão. Julgavam que tinham descoberto os autores de um dos assaltos mais ousados contra uma instituição militar: assalto ao Tiro de Guerra-53 de Anápolis e roubo de 20 fuzis. Já se imaginavam condecorados com medalhas de honra ao mérito e promoção na carreira. Major Leopoldino, que não disfarçava seu contentamento, insistiu em busca mais informações:

– Walmir, quem é Adhemar Santillo?

– É Deputado Estadual do MDB em Goiás!

Decidiram que dariam mais esclarecimento à questão com acareação entre Walmir Bastos e Washington Barbosa que também estava ali preso. Ao ser buscado na sua cela para a acareação, sendo informado do que se tratava, Walmir reagiu, desconversando a declaração dada sob pressão psicológica no dia anterior:

– Quando colocaram aquele capuz na minha cabeça, pensei no pior.

– Que pior, safado? Perguntou Leopoldino.

– Ontem me deram murro na cabeça e muitos chutes!

– Nós vamos colocar você e o Washington frente a frente. Você vai declarar que os fuzis do Tiro de Guerra foram furtados por ele e pelo Adhemar Santillo!

– Inventei a história para não apanhar mais. Na frente de outras pessoas falo apenas a verdade... Disse Walmir.

– Qual é a verdade?

– Se nem vocês com esta força toda sabem quem assaltou o Tiro de Guerra, eu é que vou saber?

Walmir foi solto. O debate sobre o assalto ao TG e furto das armas ficou por ali mesmo, já que em Anápolis nunca foi aventada essa história.

Solto, após atender o capricho do major Leopoldino, assinando a renúncia do seu mandato no PIC, em Brasília, Walmir continuou desempenhando suas funções como vereador e presidente da Câmara, porque seu pedido de renúncia nunca foi formalizado à Câmara Municipal.

Duro golpe contra os arenistas de Anápolis que apostavam no seu afastamento e a conseqüente eleição de um anti-santillista para a presidência. O sonho dos golpistas era afastar Henrique Santillo da Prefeitura. A presença do “Baiano” na presidência da Câmara abortava, como de fato abortou, qualquer manobra antidemocrática.

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