sábado, 27 de fevereiro de 2010

Nos tempos da goiabinha

– Quando a onça já está morta, aparecem os que querem tirar-lhe o couro!

Este foi o final do discurso do vereador emedebista, num comício com os candidatos do MDB, onde Lázaro Barbosa era a figura principal, como candidato ao Senado.

Neste ano, 1974, mais uma vez não tínhamos eleições para governador. A Emenda à Constituição aprovada em 1973, suspendendo a eleição direta para Governador em 1974, decepcionou e irritou muita gente pelo Brasil inteiro. Em Goiás os principais líderes do MDB, Anapolino de Faria e José Freire, Deputados Federais mais votados do partido em 1970 desistiram de disputar a reeleição, desanimados por mais um golpe à democracia, dado pelo regime militar. Fernando Cunha e Juarez Bernardes disputaram à reeleição. Iturival Nascimento, Genervino da Fonseca e eu, nos candidatamos ao lado de outros companheiros, formando a chapa emedebista à Câmara.

A grande novidade foi a disposição de Lázaro Ferreira Barbosa, tendo Dário de Paiva e Dino Américo como suplentes, para se candidatar ao Senado. Inicialmente tudo parecia brincadeira. Todos indagavam:

– Como se atrevem a enfrentar a Arena? Será que não perceberam que Manoel dos Reis “ganhou na loteria” quando foi escolhido para ser o candidato da Arena?

Manoel dos Reis era o preferido de Leonino Caiado para substituí-lo no governo do estado. A cassação de José Batista Jr., prefeito de Anápolis, com a transformação do município em Área de Segurança Nacional facilitou as coisas para os adversários de Leonino dentro da Arena, quando Irapuan Costa Júnior foi designado o primeiro prefeito nomeado de Anápolis. Prestigiado pelos militares que dirigiam o País, logo se notou que a passagem de Irapuan pela prefeitura seria provisória:

– Irapuan está usando o trampolim. Seu destino é a governadoria no ano que vem! Afirmavam os contrários a Leonino na Arena.

Não deu outra, Irapuan Costa Júnior foi escolhido, sem grande surpresa, para o mundo político goiano. Como prêmio de consolação, os arenistas “brindaram” Manoel dos Reis com o lançamento da sua candidatura ao Senado.

Iniciados os programas pelo rádio e televisão, o MDB ganhou força e Lázaro Barbosa de candidato simbólico passou a ser a maior atração nos comícios, fazendo sua candidatura crescer de forma inacreditável.

Quase ao final da campanha eleitoral, um líder de região distante convidou-nos, Lázaro, Soyer e eu, para um comício. Numa quarta-feira de manhã estávamos na praça principal da cidade, enfeitada com nossa propaganda eleitoral, palanque equipado com som potente e muita gente para nos ouvir e aplaudir. O líder fez a saudação aos candidatos, justificando seu apoio ao MDB. Em seguida falamos, Soyer, eu e Lázaro fazendo o encerramento.

Terminados os discursos, já nas despedidas, o apresentador foi surpreendido por um vereador do MDB que não havia sido escalado para falar, pedindo oportunidade para discursar. Muito democrático, o líder acenou concordando, quando então, o vereador falou sobre sua trajetória política, fidelidade ao MDB, dificuldade para exercer o seu mandato na oposição, afirmando apoio que hipotecava às nossas candidaturas e encerrou:

– Quando a onça já está morta, aparecem os que querem tirar-lhe o couro!

Não ficou claro para quem ele estava enviando o recado, mas antes da nossa chegada ao município naquela manhã, havia mesmo um comentário de possível apoio das lideranças presentes a candidatos da ARENA. Mas, tanto o líder da região como muitos outros companheiros sempre participavam das campanhas estaduais apoiando candidatos do MDB e naquela manhã o apoio estava sendo confirmado.

Sem maiores comentários, fomos todos convidados para o almoço, assim como o próprio vereador. Lázaro, Soyer e eu deixamos a cidade logo depois, para compromissos em outros municípios. Naquele tempo ainda não havia o conforto do celular e nem tão pouco o asfalto na maioria das cidades de Goiás. Ao passar em casa, de onde seguiria para outro compromisso, Onaide assustada, olhos arregalados me disse:

– Telefonaram para você, dizendo que dois desconhecidos fizeram uma armadilha a um vereador da cidade em que você estava e deram-lhe uma sova com vara de goiabinha!

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