sábado, 27 de fevereiro de 2010

Nosso batalhão voluntário

– São esses dois aqui, eles estão causando o maior tumulto e contrariando a lei eleitoral!

– Que é isso, rapaz? Sai daqui bagunceiro, você é que está causando tumulto, nem sei quem é você! Disse Felipe Jorge Matar, para o Tostão, que assustado, não entendia nada.

Enquanto Tostão deixava o recinto às pressas, atônito, Felipão abraçava Edenval e Elcival Caiado, na maior felicidade.

Isto aconteceu na primeira eleição que disputamos na oposição em Anápolis.

Era 1974 e com a implantação da Base Aérea, o município fora enquadrado como área de Interesse à Segurança Nacional, sendo a cidade administrada por prefeito nomeado.

Henrique seria candidato a Deputado Estadual e eu a Federal. Meu irmão mais velho, Henrique, ficaria no eixo Anápolis – Goiânia, trabalhando pelas nossas candidaturas. Sentíamos pela reação popular que o povo estava ao nosso lado, nos estimulando a ir em frente. O conceito que o povo tinha a nosso respeito era de orgulho pela resistência que mantínhamos contra o regime opressor instalado no país em 1964, o que nos motivava a intensificar o trabalho. Acomodação ou preguiça não faziam parte do nosso dicionário. A nossa mensagem de resistência era levada com destemor e persistência. Os tropeços, como a cassação de prefeito José Batista Jr. e transformação do Município em Área de interesse à Segurança Nacional não nos desanimavam. Pelo contrário, nos davam mais motivação. Não tínhamos apego ao poder. Sabíamos fazer política na oposição. Nossas armas eram disposição, amor à democracia e coragem. Com um verdadeiro batalhão de homens e mulheres idealistas que também acreditavam na força popular, resistir era o lema único de todos. A influência do poder econômico, dentro do MDB não existia. A tática dos governistas era a de forçar prefeitos do MDB a aderirem, sempre com a velha e surrada cantiga de que só assim os benefícios chegariam ao seu município. Para cidade do porte de Anápolis essa manobra não funcionava, uma vez que o eleitor estava mais esclarecido.

Transcorrida a campanha eleitoral, nenhum incidente mais grave ocorreu, porque evitávamos aceitar as provocações que faziam. Nas eleições e na apuração dos votos não nos preocupávamos, porque nas seções eleitorais e mesmo nas juntas apuradoras, tínhamos simpatizantes em maioria, não deixando que o resultado da vontade popular fosse adulterado.

Vicente Alencar, presidente do MDB anapolino, designou Felipe Jorge Matar para delegado fiscal das eleições. Felipe reuniu os fiscais, passando-lhes instruções de que observando qualquer descumprimento à lei eleitoral, denunciasse o fato a um policial mais próximo. As informações constavam num manual entregue a cada um. No dia da eleição, tudo correndo dentro da normalidade, Tostão, um dos nossos fiscais voluntários, foi até o comitê do MDB atrás de apoio para retirar dois senhores, elegantemente trajados, que cumprimentavam eleitores na fila de secção em que trabalhava, no Banco do Brasil. Felipe logo deu o grito:

– Vamos lá, Tostão! Vou ensinar a você como se deve proceder. Seja quem for, vai para a cadeia. Cadeia, Cadeia... Entendeu?

Ao chegarem ao banco, na secção eleitoral, Felipe avistou os irmãos Edenval e Elcival Caiado, cumprimentando os eleitores. Elcival disputava com Henrique Fanstone os votos arenistas do município, enquanto Edenval, o mais velho dos filhos de Totó Caiado, dava apoio ao irmão. Tostão se aproximou dos dois e gritou para Felipão:

– São esses dois aqui!

– Que é isso, rapaz? Sai daqui bagunceiro, nem sei quem é você! Disse Felipe Jorge Matar, para o Tostão, que assustado, não entendia nada.

Enquanto Tostão deixava o recinto às pressas, atônito, Felipão abraçava Edenval e Elcival Caiado, na maior felicidade:

– Se algum desses meninos atrevidos mexer com os senhores, podem me procurar. Queremos tranqüilidade.

Um comentário:

  1. parabens por ter mais uma vez lebrado com carinho do nosso saldoso pai, pois ele era realmente uma pessoa especial , diferente de tudo e de todos , obrigado , do seu filho felipe jr e claudina matar (esposa).

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