quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Partido dos trabalhadores no Congresso Nacional

Em 1980, com o fim do bipartidarismo, o Movimento Democrático Brasileiro-MDB, transformou-se em partido. Ulysses Guimarães seu presidente nacional. A vitória extraordinária da dupla Henrique Santillo e Juarez Bernardes sobre o trio arenista Jonas Duarte, Osires Teixeira e Jarmund Nasser, para o Senado, nas eleições de 1978, destacou Santillo como a maior liderança do Estado. Estava consolidada sua força eleitoral. Qualquer eleição direta que disputasse a partir daquele instante, com certeza sairia vencedor.

Como Henrique Santillo nunca se preocupou em ter comando do partido a nível regional, quando o diretório estadual foi ser estruturado, Iris Rezende Machado, que havia passado 10 anos fora da das disputas eleitorais, por ter perdido seus direitos políticos em 1969, com o término da punição que o levou ao ostracismo, retornou ingressando no PMDB. Com deputados e lideranças conservadoras, Iris Rezende formou o diretório com ampla maioria de simpatizantes seus, para que fosse o candidato ao governo do Estado, nas eleições diretas marcadas para 1982.

Com o golpe, Iris assumindo o controle absoluto do PMDB goiano, o grupo Santillista decidiu ingressar no Partido dos Trabalhadores, abrindo caminho para Henrique Santillo, também disputar a governadoria. Dessa forma Henrique Santillo foi o primeiro senador petista, no Senado. Foi inclusive o secretário da reunião realizada em São Bernardo do Campo, em que o partido se organizou nacionalmente, sob o comando de Luiz Inácio Lula da Silva.

Na Câmara Federal, os ex-emedebistas Airton Soares-SP, Luiz Checchinel-SC, Edson Kahir-RJ, Antônio Carlos de Oliveira-MS e eu de Goiás, formamos a primeira bancada do PT. Os companheiros me indicaram como o primeiro líder petista na Câmara dos Deputados. Fui líder durante o tempo em que estive no partido. Demos ao Partido dos Trabalhadores amplitude nacional. Colaboramos muito para o seu fortalecimento. Além do trabalho parlamentar visitamos quase todos os estados organizando o partido.


Na próxima terça feira, dia 6/12/2011, será inaugurado o painel dos deputados que lideraram o PT na Câmara Federal desde o seu surgimento. Solenidade marcada para às 19 horas, no Salão Verde do Congresso Nacional. Embora não mais pertencendo ao PT, mas por ter sido seu primeiro líder, fui convidado a participar desse acontecimento histórico.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O terceiro lugar

Em 1972, o prefeito Henrique Santillo desejando modernizar e ampliar o serviço de água e esgoto do município de Anápolis, pleiteou financiamento junto à Caixa Econômica Federal. Administrava o serviço, a Superintendência Municipal de Saneamento-Sumsan. Esbarrou na exigência da Caixa, de só financiar projetos que pertencessem às empresas estaduais. Não tendo alternativa, e para não prejudicar a população, o prefeito transferiu para a Saneago o comando do serviço de água e esgoto e todo o patrimônio que pertencia à Sumsan.

Como Governador, em 1987, portanto há 24 anos, o destino reservou a Henrique Santillo realizar o que planejara como prefeito. Implantou no Município importante sistema de captação e tratamento do esgoto domiciliar. Foram aplicados mais de cem milhões de dólares. A maior obra pública realizada em favor da população de Anápolis em todos os tempos. Tudo financiado pela Caixa Econômica Federal. A rede coletora que existia, até então, atendendo precariamente ao setor central da Cidade, foi toda refeita por rede moderna, resistente e de grande vazão. Todos os bairros existentes e minimamente habitados foram beneficiados. Quase toda a área territorial urbana existente recebeu o serviço de esgoto. O sistema recebeu moderníssima estação de tratamento. Sepultado de uma vez por todas o esgotamento, sem qualquer tratamento, esgoto que era despejado no Córrego Antas sem tratamento, agora voltava com águas cristalinas ao leito do referido curso d’água.

Esse serviço extraordinário aliado ao abastecimento de água potável às regiões da Jaiara, Alexandrina, Boa Vista, Santa Isabel, Jardim América, Santa Maria de Nazareth, Fabril e dezenas de outras, pelo sistema do Ribeirão Piancó, realizado na administração de Íris Rezende Machado, foi marcante para se melhorar as condições de vida dos anapolinos. Os mais de quatro milhões de metros quadrados que fizemos de asfaltamento na cidade consolidaram essa melhoria. Mortalidade infantil caiu. Doenças respiratórias e todas aquelas originárias da falta infraestrutura sanitária como diarréia, hepatites, dengue e poliomielite foram reduzidas a níveis das cidades desenvolvidas.

Passados 24 anos da execução daqueles serviços, pouco ou quase nada foi acrescido ao que existia. A extensão do serviço de água potável que houve, foi realizada na administração de Maguito Vilela, governador e nossa como prefeito, em 1998. Aproveitando o excedente da água do Distrito Agro Industrial de Anápolis-DAIA foram atendidos bairros como Santo André, São João, Calixtolândia, Pólo Centro, Vivian Parque, Calixtópolis, Vila União, Paraíso, Novo Paraíso, Parque das Primaveras, Mariana e outros. Atendimento que é emergencial e precário poderá ir ao colapso com a inclusão do Residencial Copacabana, com 1300 residências do programa Minha Casa, Minha Vida, que também será abastecido pelo mesmo sistema do DAIA.

Essa falta de investimento em saneamento em Anápolis nestes últimos 24 anos, conforme dados do Sistema de Informações em Saúde, do Ministério da Saúde, está provocando graves consequências à saúde dos anapolinos. Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, sobre Esgotamento Sanitário Inadequado e Impactos na Saúde da População, em municípios com mais de 300 mil habitantes, revela que Anápolis está entre os município com a maior incidência de diarréia, provocada por falta de saneamento. São 325,7 internações para cada grupo de 100 mil habitantes. Três vezes mais que a média brasileira de 107,4 internações por diarréia, para cada grupo de 100 mil habitantes. O Município ocupa o lamentável 8º lugar, em nível nacional, sobre pessoas com diarréia, por falta de saneamento. Quando se trata dos custos dessas internações para a saúde pública, a diarréia causada pela falta de saneamento em Anápolis fica em 3º lugar. Só gastam mais que Anápolis, no tratamento à diarréia, Vitória da Conquista (BA) e Maceió (AL).

Anápolis em 2003, treze anos após Henrique Santillo ter construído essa importante obra, ocupava o 16º lugar entre os municípios goianos mais bem servidos pelo serviço de esgoto. Em 2008, data em que a pesquisa foi realizada pelo Ministério da Saúde, caiu para a 47ª posição. Culpa da falta de investimento em saneamento e expansão desordenada de novos loteamentos. População convivendo com fossas e cisternas, sofrendo diversas doenças que já não existem no mundo civilizado. Hoje, pelo exagerado crescimento urbano e ausência de saneamento, a situação é mais dramática que em 2008. Está passando da hora de o poder público agir, tomando as necessárias providências. Anápolis que já foi referência de cidade mais bem servida com saneamento em Goiás, ocupa, hoje, o humilhante terceiro lugar no Brasil, em gastos com internações por diarréia, pela falta de infraestrutura sanitária. Essa posição é um dado relevante de alerta. Não podemos deixar que o troféu de campeão nacional da diarréia venha para Anápolis na próxima pesquisa.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Volta ao passado

Sábado passado, dia 19 de junho, tive a satisfação e motivo para recordar um pouco do meu tempo de jovem. Época de estudante no colégio estadual José Ludovico de Almeida. Além de estudar militava na política estudantil. Por ser o maior estabelecimento educacional de Anápolis, o colégio estadual, era também o celeiro em que se formavam as grandes lideranças políticas de Anápolis. Estivemos no colégio São Francisco de Assis, um dos mais conceituados de Anápolis, participando de debate com os estudantes, ao lado de Odilon Alves, diretor e redator da revista Planeta Água; Paulo Gonçalves, professor e jornalista; Maria de Lourdes, professora de Alemão e jornalista e Onaide Santillo, radialista e apresentadora de programa na TV-14 de Anápolis. Fomos convidados pelos professores Marcos Aurélio Divino e Wilma. Discutimos temas do momento e sobre a profissão de jornalista com os concluíntes do 3° ano do ensino médio daquele colégio.

Embora não tenha estudado no colégio São Francisco, tive ótimo relacionamento com os estudantes daquele colégio quando militava na política estudantil. Em 1963, juntamente com Eles Alves Nogueira, Levy Schiettini, Valmir Bastos Ribeiro e Jacy Fernandes, acabamos com o isolamento dos estudantes de Anápolis. Transformamos a União Independente dos Estudantes Anapolinos – UIEA em União dos Estudantes Secundaristas de Anápolis – UESA, vinculada à União Goiana dos Estudantes Secundaristas – UGES. Fui eleito seu primeiro presidente, como candidato único, num pleito direto, com a participação de todos os estudantes secundaristas do município. Dos colégios particulares o mais conceituado e numeroso era o São Francisco. Escolhi meu companheiro de chapa para a vice presidência entre os franciscanos.

A maior emoção ficou por conta de relembrar que por aquelas escadarias pomposas e salas amplas e arejadas do tradicional São Chico, havia passado, por três anos consecutivos, meu irmão Henrique Santillo, que viria se transformar no futuro governador de Goiás. Uma das mais autênticas lideranças políticas do Brasil, no combate à ditadura. Henrique Santillo foi o mais aplicado e dedicado aluno de toda história do Colégio São Francisco de Assis. Fundador do seu grêmio estudantil, Clarim das Letras e das Artes. Foi também seu primeiro presidente. Os colegas de Henrique Santillo, no colégio São Francisco, como Geraldo Fleury Curado, afirmam que ele era para os companheiros de classe o conselheiro e professor que todos consultavam.

Há algum tempo atrás recebi como presente do amigo Mauro Gonzaga Jaime, o Pastinha, alguns exemplares do jornal Arauto dos Reis, órgão informativo do colégio nos anos 50, em que divulgava as melhores notas obtidas pelos alunos em cada mês. Em todos os meses Henrique Santillo figura em primeiro lugar, na sua turma. Era estudioso sem alienação política. Pelo contrário, como estudante secundarista em Anápolis e universitário em Minas Gerais, onde cursou medicina na UFMG, foi atuante politicamente. Presidente do Diretório Acadêmico da faculdade de medicina, presidente do DCE mineiro e presidente da UEE, sem deixar de ser o estudante brilhante dos tempos de secundarista, realizando todo curso de medicina, como o primeiro aluno da turma.

Relembrei todas essas passagens de um cidadão que foi a grande referência da qualidade do ensino do Colégio São Francisco de Anápolis no passado, sob a direção do frei Chicão. Naquele prédio antigo, muito bem conservado e repleto de histórias, eu e os demais convidados, vimos o São Francisco moderno. O Projeto IPOCAR – Investigação, Produção, Opinião, Cidadania, Argumentação e Realidade, do qual participamos, além de preparar os estudantes no conhecimento profundo dos acontecimentos cotidianos, os ajuda na tomada de uma decisão mais segura em busca do seu futuro profissional. Os tempos mudaram, mas o Colégio São Francisco continua moderno e atualizado, formando estudantes cônscios da sua responsabilidade como cidadãos.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Queda e retorno da autonomia política

O 28 de agosto de 1973 aparentava ser um dia como outro qualquer. Muito sol, ventava bastante, quando cheguei à Assembléia Legislativa, em Goiânia, para a sessão plenária , que seria realizada pela manhã. A diferença, a novidade, ocorreu em seguida quando fui informado por um telefonema de Brasília, que José Batista Júnior, prefeito de Anápolis, acabara de ter seu mandato cassado, direitos políticos suspensos por 10 anos. O vice prefeito Milton Alves Ferreira não fora cassado, mas impedido de tomar posse, pois no mesmo ato assinado pelo general Emilio Garrastazu Médici, nomeava o engenheiro Irapuan Costa Júnior, como primeiro prefeito nomeado de Anápolis, que naquele dia foi transformada em Área de Interesse à Segurança Nacional.

Violência inconcebível praticada contra um povo que não se rendia e jamais se rendeu aos caprichos dos prepotentes e inimigos das liberdades democráticas. José Batista Júnior que vencera a eleição enfrentando toda máquina oficial do governo e poderio econômico, soube da sua cassação por noticiário de rádio, quando voltava de Goiânia, sem ser atendido pelo secretário da Segurança Pública, onde fora para tratar de assuntos daquela pasta em Anápolis.

Foram 12 anos sem eleição para a prefeitura e 8 prefeitos nomeados. Nesse período o MDB continuou ganhando todas as eleições que disputou no Município. A única exceção ficou por conta da eleição para vereadores ocorrida em 1976, em que a Arena elegeu oito vereadores e o MDB, sete. Durante esse tempo companheiros humildes foram presos; várias tentativas os adversários fizeram para cassar nossos mandatas – Henrique Santillo e meu; impediram Henrique de atender pelo INPS; tentaram pelo suborno comandar o MDB municipal; assumiram a direção da Rádio Carajá através de força policial e fecharam a Rádio Santana, onde apresentávamos o programa “ O Povo Falou ta Falado.”

Fizemos inúmeros encontros políticos, discursos, debates nas comissões técnicas da Câmara Federal, simpósios estudantis na Câmara Municipal e reuniões domiciliares. mantendo acesa a luta pela autonomia política de Anápolis. O vereador Valmir Bastos Ribeiro foi verdadeiro “leão” nessa luta. Preso inúmeras vezes, torturado e permanentemente perseguido, Valmir foi exemplo de lealdade aos companheios e convicto defensor do estado democrático de direito. Graças à sua dedicação e prestigio conseguiu trazer a Anápolis, para debater política e fortalecer a luta pelo retorno da autonomia política do Município, figuras como Ulysses Guimarães, Aldo Fagundes, Odacir Klein , Freitas Nobre, Jaison Barreto, Tarcisio Delgado e outros expoentes do MDB nacional.

Estamos neste ano completando 25 anos do retorno ao direito do anapolino escolher pelo voto livre e soberano, o seu prefeito. Tenho muito orgulho de ter participado dessa luta gigantesca e vitoriosa. Satisfação de ter sido eleito pelo voto direto o primeiro prefeito depois do fim de prefeitos nomeados.

Os jovens, aqueles que contam com menos de 30 anos, não sabem os prejuízos causados pela ditadura. Não foram apenas as perdas materiais. Essas são repostas. Os maiores malefícios ocorreram no impedimento de formação de novas lideranças.As lideranças políticas de maior expressão na política nacional são remanescentes de 1964. Lideranças autenticas, mas que estão paulatinamente desaparecendo. O autoritarismo e leis de exceção impediram o surgimento de substitutos. Estamos com carência de lideres autênticos. Fruto do regime ditatorial. Para que isso não mais se repita, não devemos deixar que as atrocidades caiam no esquecimento, principalmente dos jovens.