O 28 de agosto de 1973 aparentava ser um dia como outro qualquer. Muito sol, ventava bastante, quando cheguei à Assembléia Legislativa, em Goiânia, para a sessão plenária , que seria realizada pela manhã. A diferença, a novidade, ocorreu em seguida quando fui informado por um telefonema de Brasília, que José Batista Júnior, prefeito de Anápolis, acabara de ter seu mandato cassado, direitos políticos suspensos por 10 anos. O vice prefeito Milton Alves Ferreira não fora cassado, mas impedido de tomar posse, pois no mesmo ato assinado pelo general Emilio Garrastazu Médici, nomeava o engenheiro Irapuan Costa Júnior, como primeiro prefeito nomeado de Anápolis, que naquele dia foi transformada em Área de Interesse à Segurança Nacional.
Violência inconcebível praticada contra um povo que não se rendia e jamais se rendeu aos caprichos dos prepotentes e inimigos das liberdades democráticas. José Batista Júnior que vencera a eleição enfrentando toda máquina oficial do governo e poderio econômico, soube da sua cassação por noticiário de rádio, quando voltava de Goiânia, sem ser atendido pelo secretário da Segurança Pública, onde fora para tratar de assuntos daquela pasta em Anápolis.
Foram 12 anos sem eleição para a prefeitura e 8 prefeitos nomeados. Nesse período o MDB continuou ganhando todas as eleições que disputou no Município. A única exceção ficou por conta da eleição para vereadores ocorrida em 1976, em que a Arena elegeu oito vereadores e o MDB, sete. Durante esse tempo companheiros humildes foram presos; várias tentativas os adversários fizeram para cassar nossos mandatas – Henrique Santillo e meu; impediram Henrique de atender pelo INPS; tentaram pelo suborno comandar o MDB municipal; assumiram a direção da Rádio Carajá através de força policial e fecharam a Rádio Santana, onde apresentávamos o programa “ O Povo Falou ta Falado.”
Fizemos inúmeros encontros políticos, discursos, debates nas comissões técnicas da Câmara Federal, simpósios estudantis na Câmara Municipal e reuniões domiciliares. mantendo acesa a luta pela autonomia política de Anápolis. O vereador Valmir Bastos Ribeiro foi verdadeiro “leão” nessa luta. Preso inúmeras vezes, torturado e permanentemente perseguido, Valmir foi exemplo de lealdade aos companheios e convicto defensor do estado democrático de direito. Graças à sua dedicação e prestigio conseguiu trazer a Anápolis, para debater política e fortalecer a luta pelo retorno da autonomia política do Município, figuras como Ulysses Guimarães, Aldo Fagundes, Odacir Klein , Freitas Nobre, Jaison Barreto, Tarcisio Delgado e outros expoentes do MDB nacional.
Estamos neste ano completando 25 anos do retorno ao direito do anapolino escolher pelo voto livre e soberano, o seu prefeito. Tenho muito orgulho de ter participado dessa luta gigantesca e vitoriosa. Satisfação de ter sido eleito pelo voto direto o primeiro prefeito depois do fim de prefeitos nomeados.
Os jovens, aqueles que contam com menos de 30 anos, não sabem os prejuízos causados pela ditadura. Não foram apenas as perdas materiais. Essas são repostas. Os maiores malefícios ocorreram no impedimento de formação de novas lideranças.As lideranças políticas de maior expressão na política nacional são remanescentes de 1964. Lideranças autenticas, mas que estão paulatinamente desaparecendo. O autoritarismo e leis de exceção impediram o surgimento de substitutos. Estamos com carência de lideres autênticos. Fruto do regime ditatorial. Para que isso não mais se repita, não devemos deixar que as atrocidades caiam no esquecimento, principalmente dos jovens.
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