sexta-feira, 15 de abril de 2011

Vale a pena lutar (Parte I)

[Discurso de agradecimento ao título de cidadania anapolina]

Meus amigos,

Eu escrevi algumas palavras aqui, mas eu quero deixar que meu coração fale. Vocês poderão dizer que até pode significar um ato demagógico, mas eu estou realmente emocionado e extremamente agradecido por esse acontecimento.

Já tive oportunidade de experimentar emoções enormes, participar de fatos que foram marcantes na minha vida. Mas, não há dúvida que, esse de hoje, é o coroamento de um trabalho de quase 40 anos - ou mais de 40 anos - na cidade de Anápolis, sempre contando com o apoio total e irrestrito da nossa população.


Éramos meu pai, Virginio Santillo, minha mãe, Elydia Maschietto Santillo, o Henrique (estava com seis anos de idade), eu (com quatro anos) e o Romualdo (com dois anos). Em 1944, nós chegávamos à cidade de Anápolis. Chegávamos à cidade de Anápolis para daqui não sair mais. Só saímos uma única oportunidade. E essa oportunidade foi em 1949, quando nós saímos da sede do município e fomos para o distrito de Matão, hoje considerado município de Ouro Verde. Lá nós fomos trabalhar na zona rural, numa fazenda do Chefinho, na mata dos Criolos. Foi a única vez que saímos e ficamos quase um ano fora - ou um ano aproximadamente - e retornamos para a cidade de Anápolis.

Não é fácil falar a respeito da luta do meu pai. Foi uma luta titânica. Uma luta realmente destemida, violenta, podemos assim dizer, para enfrentar todas as adversidades. Meu pai era um homem simples, de poucos estudos, que veio para Anápolis em 1944 sem saber exatamente o que é que nos esperava aqui nessa cidade. Ele trabalhou aqui em Anápolis e Goiás como ambulante, visitando as cidades de Abadiânia e Trindade, vendendo pernete e outras bebidas para os festeiros, de um modo geral. Depois foi trabalhar em pequeno comércio, com a venda de batatinha e outros legumes. Terminou a sua vida sendo um pequeno comerciante, ali na rua Rui Barbosa, esquina com a rua Quintino Bocaiúva.

Meu pai foi realmente um batalhador, um homem realmente destemido. E, ao seu lado, a minha querida mãe, que também trabalhou bastante. Ela era costureira e ajudava na renda familiar. Eu, Henrique e Romualdo, nós fazíamos parte dessa família. Só nós, mais niguém. Mais nenhum outro parente nosso veio para o estado de Goiás. Só nós cinco. Aqui nos instalamos e fomos extraordinariamente bem recebidos pelo povo, tanto nas atividades profissionais quanto na atividade maior que nós podíamos fazer, que era a atividade política. Por isso, nós somos imensamente gratos ao povo de Goiás e, especialmente, ao povo de Anápolis.

Galgamos os postos mais importantes que poderíamos ter em nossa vida. Henrique foi vereador, prefeito, deputado estadual, senador, governador e ministro da Saúde. Romualdo, deputado estadual por dois mandatos. Eu tive a honra de ser deputado estadual, três vezes deputado federal, duas vezes prefeito, secretário de governo e secretário da Educação. É muito, para uma família sem tradição no estado, que aqui chegou anonimamente. E anonimamente procuramos trabalhar toda nossa existência, a não ser no momento que tínhamos que levar o nosso nome à consideração e à apreciação do eleitor do nosso estado. Assim, essa atividade foi espetacular.

Eu quero falar um pouco de minha vida política. Comecei politicamente no Grêmio Literário Castro Alves do Colégio Estadual. Fui eleito em 1960 numa memorável eleição, em substituição ao queridíssimo e, já saudoso, companheiro Gil Xavier Nunes, quando fui eleito presidente do Grêmio Literário Castro Alves. Contando com o apoio dos estudantes, nós fizemos um trabalho pela valorização da educação. Fizemos um trabalho para equipar a nossa escola, principalmente na área para o atendimento ao ensino de biologia. Fizemos um trabalho para a contrução da quadra de esportes do colégio e todo o equipamento ali existente. Graças a esse trabalho contínuo nosso, fui re-eleito presidente do Grêmio Castro Alves logo em seguida.

Em 1962, nós acabamos com o isolamento do estudante secundarista de Anápolis que era filiado a UIEA, União Independente dos Estudantes de Anápolis. Eu, Jacy Fernandez e Levi Eschetini, fundamos a UESA, da qual eu fui o seu primeiro presidente, na eleição direta feita pelos estudantes secundaristas de Anápolis em 1963. Não terminei meu mandato. Estava apenas no início da administração quando veio o Golpe Militarista de 1964; e eu, pelas minhas posições políticas, fui afastado daquela entidade. Passei então a militar com mais intensidade na área esportiva.

Fui trabalhar, antes disso, na Rádio Carajá, ao lado do companheiro Habib Issa. Comandávamos toda a programação de esporte da Rádio Carajá, tendo também ao lado o companheiro Antônio Afonso de Almeida. De lá, fui fazer o trabalho para a Liga Anapolina de Desportos. Os clubes maiores de Anápolis - Anápolis, a Associação Atlética Anapolina, Ipiranga Atlético Clube - tinham deixado a liga para se increverem diretamente na Federação Goiana de Desportos. Nós criamos a liga só com os clubes de Anápolis. Fui, naquela oportunidade, eleito presidente da entidade, numa eleição onde apenas eu apresentei-me como candidato. Fui re-eleito para o segundo mandato e, mais uma vez, eleito para o terceiro mandato, sempre como candidato único da Liga Anapolina de Desportos. Fizemos o entrosamento total do esporte varzeano de Anápolis com o esporte de Goiânia. Trabalhamos junto a Raul Balduíno para contruir o Estádio dos Amadores, que foi concluído na minha primeira gestão em 1968.

Daí, eu saí para ajudar o meu irmão. Em 1966, foram extintos os partidos políticos, criados apenas dois: A Arena, que dava sustentação ao governo; e MDB, que era o partido contrário. Fui dos primeiros filiados, ao lado do Henrique e Romualdo, no MDB. Naquele mesmo ano de 1966, Henrique foi eleito vereador, o mais votado na história de Anápolis em todos os tempos. Isso a 38 anos atrás, quando ele obteve 1.536 votos num eleitorado que era pouquinho superior a 12 mil eleitores. Teve uma votação fantástica.


A votação que ele teve despertou a ira dos adversários. No dia de sua diplomação, apareceu um calhamaço apócrifo sobre a mesa do juiz eleitoral. O juiz eleitoral diplomou 14 vereadores e mais dois suplentes de cada um dos dois partidos, mas não fez a diplomação do Henrique. Através de questão de ordem, ele (Henrique) quis saber o porquê da sua não diplomação. O juiz simplemente respondeu: "O senhor é comunista! Fichado no G2 da Polícia Militar de Belo Horizonte!" Os companheiros ficaram atônitos. Dois anos apenas após o Golpe, ainda o movimento era efervescente. A caça às bruxas existia. Mas eu me dispús a ir a Belo Horizonte para buscar a documentação para defendê-lo.

Fui a Belo Horizonte. Fiquei dois dias lá, postado a porta do Comando da Polícia Militar. Saí de lá com documento dizendo que, na G2 da Polícia Militar de Belo Horizonte, não havia qualquer registro que desabonasse a figura do Sr. Henrique Santillo. Trouxe o documento e entregamos para o nosso advogado de defesa. Ele fez a anexação dele junto ao processo que estava no Tribunal Regional Eleitoral. Marcaram a audiência para daí uns dias na frente.

No dia do julgamento, nós estávamos lá. O Dr. Rômulo Gonçalves, nosso advogado - advogado de presos políticos do estado de Goiás - estava lá para nos defender. Quando nós chegamos no auditório, fomos informados que, do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, chegara para o Palácio das Esmeraldas, em Goiânia, de Israel Pinheiro, em Minas Gerais, para Otávio Lage, em Goiás, um telex - naquela epoca não havia fax - dizendo que era para tornar nula a certidão dada pela G2 da Polícia Militar, por que o Henrique estava realmente fichado lá como comunista.

Aí teve, então, um papel importantíssimo, um papel decisivo, o juiz federal de Goiás, Dr. José de Jesus. Ele determinou a formulação da defesa junto aos demais integrantes do Tribunal, quando ele derrotou qualquer argumento, dizendo que não se pode anular uma certidão assinada pelo Comandante da Polícia Militar de Belo Horizonte, com sinete da Corporação, dizendo que nada há contra Henrique Santillo. Essa certidão não pode ser anulada por um telex vindo diretamente do Palácio da Liberdade em Belo Horizonte. Henrique foi por isso mesmo absolvido, e, consequentemente, determinada a sua posse como vereador, isso já em abril do ano seguinte. Mesmo assim, o juiz eleitoral se negou a dar a ele a posse. Foi preciso que o Tribunal Regional Eleitoral determinasse que o Dr. Cir Roriz fosse indicado, e foi dada a posse ao Henrique a vereador.


Então, já foi uma batalha inicial enorme. Mas nós, acreditando na Justiça e sabendo que valia a pena lutar, lutamos para que ele pudesse garantir o seu mandato. Em 1969, ele foi eleito prefeito municipal. Antes de ser eleito, eles impugnaram a candidatura dele; impugnaram a diplomação e impugnaram a posse. Mas nós conseguimos fazer que ele assumisse a Prefeitura Municipal.

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