Ser oposição no período da Ditadura Militar dependia de coragem, idealismo e muito amor à Democracia. Era difícil para parlamentares e prefeitos exerceram seus mandatos. As perseguições eram constantes e infundáveis. A organização do MDB em alguns municípios era quase que impossível.
Certa vez, numa madrugada, em pleno ano de 1971, fui acordado pelo Romas, Chico Maneco, Eduardo Jorge e outros integrantes do Diretório Municipal do MDB de Estrela do Norte. Hilton Lucena, hoje trabalhando no Tribunal de Contas do Estado e Altivo tiveram prisão preventiva decretada pelo Juiz de Direito local. As Alegações para o Juiz decretar a prisão foram que eles estavam filiando pessoas ao MDB e que se não fossem presos poderiam fugir do município. Foi a primeira vez que percorri a Belém Brasília após a cidade de Ceres.
Chegamos a Estrela do Norte, eu e Dr. Hiram Bezze, no dia seguinte. Fomos direto à cadeia pública, encontrando Hilton, na única cela existente naquele presídio juntamente com outro presidiário, que dias antes havia matado quatro crianças à machadada, no vizinho município de Mutunópolis. Com nossa presença, sabendo que recorreríamos ao Tribunal de Justiça o Juiz relaxou a prisão, colocando nossos "subversivos" em liberdade.
Com nossa ida ao então Médio Norte e o sucesso da missão, passamos a ser procurados pelos companheiros que se sentiam injustiçados. Alguns meses após fui chamado pelo Jair Sapateiro, pessoa humilde que se dispunha a fazer parte do MDB de Formoso. A Arena local era comandada por Felipe Cardoso, o Felipão, pai do atual Deputado Marcos Cardoso. Felipão era líder e bastante querido do povo formosense. Para lá me acompanhou o Dr. Vicente Alencar, um dos mais importantes advogados de Goiás contra a ditadura militar.
Quando andávamos pelas avenidas e ruas de Formoso, o Jair nos relatou o que, no seu entendimento, era falha gravíssima do sistema eleitoral daquela cidade:
– Eu chamei vocês aqui para que denunciem a esculhambação do sistema eleitoral aqui em Formoso.
– Qual é o problema? Indagamos.– Trago como exemplo o que está acontecendo com meu Título Eleitoral.
– O que está acontecendo? Perguntei:– Meu Título está com a fotografia de outra pessoa.
– Mas o nome é o seu, não é Jair? Disse Alencar.– Não. O nome também é de outra pessoa.
– Você já votou com esse Título? Perguntamos.– Não. Ele é novo!
– Então, Jair vá ao Cartório Eleitoral, deixe lá o Título que está em seu poder e peça ao escrivão o seu, porque você está com Título de outro eleitor.Assim foi feito e tudo voltou à normalidade, em Formoso.
Quando precisamos hoje, políticos com ou sem mandatos, não resistindo aos favores oficiais dos governantes buscando, a qualquer pretexto forma de adesão, temos que voltar as nossas vistas e atenções ao passado, para rendermos nossas homenagens a companheiros como Altivo e Hilton Lucena, pela coragem e destemor que sempre demonstraram em sua conduta de cidadão e político. Contamos com muita gente como eles, para derrubarmos a ditadura.
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