segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Quebra da Unidade Peemedebista em Goiás (I)


Quando em 1980 o Movimento Democrático Brasileiro - MDB foi transformado em Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB, Henrique Santillo era o político mais respeitado e influente da oposição em Goiás. Sua vitória ao lado de Juarez Bernardes ao Senado pelo MDB foi espetacular. O triunfo dos dois consolidou a supremacia da oposição junto ao eleitorado no Estado e Henrique Santillo como seu principal líder. Ele que se preparava desde 1974 para disputar o governo estadual era o candidato natural em 1982.

Na organização de PMDB, como Henrique Santillo nunca se preocupou em mandar no partido, ter maioria no diretória regional, embora sendo sua maior expressão política regional, por isso foi marginalizado. Lideranças mais próximas ao senador, principalmente estudantes, professores, artistas, líderes sindicais, intelectuais, líderes comunitários e grupos de esquerda foram ignorados na composição do diretório. Ficaram de fora apesar de todo seu potencial político-eleitoral. Tudo porque Iris Rezende queria a formação de um diretório onde tivesse ampla maioria, pois desejava ser candidato do partido ao governo, em 82. Contrariados com a desconsideração, resolvemos deixar o PMDB para organizarmos o PT.

Após reunião de São Bernardo do Campo, onde o PT fez seu grande encontro nacional, constatamos que embora Lula reprovasse em conversas reservadas a ação dos grupelhos incrustados dentro do partido, na prática os apoiava. Os grupos trotkistas a princípio não aceitavam a via parlamentar. Queriam ser um partido revolucionário. Qualquer político, por melhor que fosse sua atuação, era menosprezado e até desdenhado pelos grupelhos. Mesmo sendo minoria, davam as cartas, definindo o caminho a ser trilhado pelo partido. O Partido dos Trabalhadores, no seu início, era fechado e sem perspectiva de poder. Defendia métodos revolucionários, Nós, os santillistas, retornamos ao PMDB. Optamos desde a primeira hora lutar pela redemocratização dentro dos estreitos limites da lei. Nunca o grupo discutiu a possibilidade de enfrentar o autoritarismo na clandestinidade. Questão de convicção. Não seria em 1980, quando a abertura começava a surgir, que abraçaríamos outro tipo de resistência.

Reingressamos ao PMDB. As articulações internas no partido para que Henrique Santillo fosse o candidato a governador, pelas forças oposicionistas de vanguarda continuaram. Contatos que fizemos junto às lideranças do interior, estudantes, intelectuais, líderes classistas e sindicalistas, sentimos mais uma vez o respeito e confiança que tinham na nossa prática política. Aos poucos notamos que Henrique Santillo mantendo a candidatura, sem maioria entre os convencionais que escolheriam os candidatos do PMDB, dividiria o partido. Os ânimos estavam acirrados e isso poderia provocar divisão irreconciliável. Não queríamos divisão. Nosso adversário não era Iris Rezende Machado, mas sim o representante da ditadura. O candidato da Arena. Henrique decidiu refluir de uma possível candidatura ou simples disputa na convenção que escolheria o candidato a governador do PMDB. Comunicamos essa decisão aos companheiros. Apoiamos integralmente a candidatura de Iris Rezende Machado ao governo, com o empresário Onofre Quinan, em sua vice. Derval de Paiva que estava cogitado para a vice-governadoria na chapa de Iris Rezende, entendeu o valor do acordo, abrindo mão imediatamente da sua postulação. Disputou reeleição para deputado estadual. Sólida parceria foi mantida por algum tempo.

Quando o PMDB nacional foi realizar sua Convenção Nacional para a renovação do diretório, Ulysses Guimarães estava rompido com o presidente da República, José Sarney. A orientação do partido foi para que os integrantes do PMDB que faziam parte do ministério de Sarney, deixassem seus cargos. Iris estava licensiado do governo de Goiás, ocupando o ministério da Agricultura. Apenas Luiz Henrique da Silveira, ministro da Indústria e Comércio, se afastou. Iris Rezende, Roberto Cardoso Alves, Carlos Santana e Jader Barbalho, também ministros peemedebistas, ficaram em seus postos. O mesmo aconteceu com Joaquim Roriz, governador nomeado de Brásilia.

Alguns dias antes da Convenção Nacional, o deputado Hélio Duque (PMDB-PR) encabeçou movimento para que peemedebistas que ocupassem cargos de nomeação no governo Sarney não fizessem parte do diretório. Preocupado com o desdobramento que isso poderia provocar em Goiás, Henrique Santillo foi a Brasília conversar com Ulysse Guimarães. Depois das suas poderações sobre o risco de quebra na unidade do partido no Estado, caso Iris Rezende e Joaquim Roriz ficassem de fora do diretório nacional, Ulysses o tranquilizou:

- Fique tranquilo, isso é apenas um movimento da juventude! Agradeço a manifestação, mas não interfirirá no fortalecimento do PMDB. Estaremos todos juntos.

O governador voltou certo de que tudo não passava de reação isolada de um pequeno grupo de descontentes.

Alguns dias depois, Ulysses Guimarães comunicou a Henrique Santillo:

- Governador, sou obrigado a lhe comunicar que infelizmente não vou poder colocar Iris e Joaquim Roriz no diretório. A pressão é grande e os companheiros não concordam que os que ocupam cargos de confiança no governo sejam integrantes do diretório nacional. Alegam que ficou claro que os que não se afastaram estão muito mais preocupados com os cargos que com a trajetória de lutas do PMDB. Desde já o convido para fazer parte do diretório nacional, representando Goiás.

Querendo de qualquer maneira preservar a unidade do PMDB em Goiás, Henrique Santillo procurou Iris e Roriz para que juntos resolvessem o impasse...

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