sábado, 27 de fevereiro de 2010

José Batista Jr. e as Histórias

– Os emedebistas têm vergonha de transmitir no rádio o discurso do seu candidato.

Era o que ouvíamos todos os dias dos adversários que nos faziam a maior pressão, pois o discurso do prefeito Henrique Santillo era retumbante, enquanto o do nosso candidato terminava sempre com uma historinha meio sem graça.

Escolhido José Batista Jr. como candidato a Prefeito pelo Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, em sucessão a Henrique Santillo, discutimos com ele o seu plano de Administração para Anápolis. Célio Gomes, economista de Goiânia, que viera para auxiliar Henrique, e o jornalista Castro Filho, jornalista, também de Goiânia, e eu, Deputado Estadual, nos reuníamos diariamente com o candidato, orientando como deveria se apresentar nos comícios, que eram transmitidos pela Rádio Carajá.

À noite, no palanque, José Batista Jr. em rápidas palavras destacava realizações da Administração de Henrique Santillo para apresentar em seguida as suas propostas. Logo criava improvisos, a sua característica marcante, baseando-se numa fábula para encerrar seu pronunciamento.

No dia seguinte ao apresentarmos as noticias do comício anterior pelo programa “O povo falou, tá falado”, passávamos o discurso do prefeito Henrique Santillo, que tocava a emoção do eleitor. Todos os dias a história se repetia. A forma clara, direta do José Batista Jr. agradava os eleitores aglomerados nos comícios, que acompanhavam os oradores atentamente. Para programa de estúdio, no entanto, a contundência de Henrique Santillo, seu discurso forte e preciso, era o ideal. Batista Jr. entendia e concordava com a estratégia.

Os nossos adversários, que transmitiam seus comícios pela Rádio Imprensa passaram a cobrar a fala de José Batista Jr. que só acontecia nos comícios:

– Os emedebistas têm vergonha de passar o discurso do seu candidato. Prestem atenção, eles passam todos os dias as palavras de Henrique Santillo, mas o candidato é José Batista Jr. Cadê as propostas do candidato José Batista Jr.?

Isto começou a nos incomodar e queríamos evitar que o nosso candidato ficasse desacreditado. Conversávamos com ele, fazíamos o roteiro de seu discurso, mostrando que não dava para passar historinhas ou fábulas na hora do noticiário.

À noite ele começava bem seu discurso, mas daí a pouco:

– Temos que lutar. Não podemos cruzar os braços. Todos nós conhecemos a história das duas rãs. Caíram num latão cheio de leite. Uma delas desistiu da luta e foi para o fundo do latão, morrendo sufocada. A outra tinha confiança na sua luta. Esperneou, esperneou incansavelmente. Aos poucos o leite foi se transformando em creme. Ficou firme e ela saltou para o chão, se salvando.

Mais uma vez estávamos impedidos de enfrentar o desafio dos adversários. Para não correr mais riscos, passávamos a palavra de Henrique Santillo.

A forma incisiva com que o prefeito falava, a convicção com que defendia suas idéias, arrebatava multidões. Sua constante presença nos comícios, nas emissoras de rádio e em debates públicos, arrebanhava a cada instante mais e mais simpatizantes à candidatura de José Batista Jr.

O final todos já sabem: vitória por quase 4 mil votos de vantagem contra o melhor candidato que a Arena poderia lançar. Eurípedes Barsanulfo Junqueira, homem respeitado e muito preparado, mas que não suportou o peso político do santillismo em Anápolis.

Na madrugada do dia da posse de José Batista Júnior, um verdadeiro batalhão da Polícia Militar estadual tomou conta dos transmissores e estúdios da Rádio Carajá, numa operação comandada pelo governo do estado. Dezenas de policiais fortemente armados e sem mandado judicial, impediram-nos de adentrarmos as dependências da emissora, que nos pertencia desde 1967.

Um grupo de democratas, pertencentes ou simpáticos ao MDB, adquiriu de Plínio Jayme a Rádio Carajá. Depois de seis anos sob nosso controle, os governistas pretextaram ser exigência do Departamento Nacional de Telecomunicações, a DENTEL, a devolução da emissora a Plínio Jayme, por não ter sido autorizada sua transferência.

Preparavam assim, os golpistas de Goiás, o terreno para outras violências que se sucederiam contra o MDB anapolino.

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