sábado, 27 de fevereiro de 2010

A experiência esportiva do Romualdo


– Vamos ao assistir o treino hoje, Romualdo!

Fui incisivo com meu irmão que, diferente de mim, não gostava de futebol. Mas o meu desejo era de que ele se entrosasse com o esporte e naquele dia consegui que ele me acompanhasse ao treino do time do São Francisco, filiado à Liga Anapolina de Desportos.

Ao contrário de Romualdo, meu irmão mais novo, sempre gostei de esporte e tive o meu ápice como jogador de futebol quando recebi a faixa de Campeão Anapolino de 1959, um dos poucos atletas do Ipiranga Atlético Clube que disputou todos os jogos, quando decidi parar de jogar.

Antes, porém, disputei o campeonato estadual pelo Ipiranga Atlético Clube.

Aquele campeonato teve jogos memoráveis dos quais um em que o Ipiranga venceu o Ceres Esporte Clube, em Ceres por 1x0. Fui o marcador do seu melhor atacante, Jairzinho, que em seguida foi vendido à Sociedade Esportiva Palmeiras. No Estádio Manoel Demóstenes, campo de terra, o único existente em Anápolis, o Ipiranga venceu o Goiânia Esporte Clube, o melhor time do futebol goiano naquele tempo, por 3x1.

Minha despedida foi sem nenhum alarde, sem comunicar nem mesmo aos meus colegas de equipe, principalmente Pepey e Zanoni, que mais que companheiros de futebol, eram meus amigos nas caminhadas noturnas de final de semana.

Geraldo Bacalhau, ex-jogador do Operário, campeão goiano de 1946, era o técnico ipiranguista, campeão de 1959 e acertou com a Federação Goiana de Futebol um jogo entre a seleção dos novos de Goiânia e a de Anápolis. O jogo foi no Estádio Pedro Ludovico, numa noite de quarta-feira. Geraldo formou a seleção que entendia ser a melhor para representar o futebol anapolino. Fui o titular na zaga lateral direita. Ao final a vitória foi dos goianienses, pelo elástico e humilhante placar de 9 a 0. Isso mesmo, 9x0. Chegamos a Anápolis sendo tratados como os integrantes da seleção dos nove.

No domingo seguinte, a seleção goianiense compareceu completa, com os ídolos do Goiânia Esporte Clube, Taxinha, Carlinhos, Gambá, Osmar e todos que nos humilharam em Goiânia. O Ipiranga também com todo o seu time que vencera o campeonato anapolino, entre eles Pepei, Zanoni, Roberto, Dadá , Glicério e eu, que haviamos enfrentado os goianienses e perdido por 9 x 0.

Antes dos 20 minutos marcamos 1x0. No inicio do 2° tempo a seleção dos novos de Goiânia marcou o gol de empate. Aos 35 minutos fizemos o gol da vitória. Vencemos a famosa seleção goianiense em nossa casa, vingando a derrota que nosso time sofrera na capital.

Recebi a faixa e fui pra casa. Daí para frente só joguei na equipe de radialistas e jornalistas e no time do Colégio Estadual Jose Ludovico de Almeida. Minha paixão passou a ser a política estudantil. Vivi intensamente o futebol até completar os 19 anos. Continuei a vibrar com ele, mas como assistente, torcedor ou narrador esportivo.

Eu era tão fanático por futebol que muitas vezes os treinos no Araguaia ou no Ipiranga, que eram à tardezinha, me impediam de comparecer às aulas, já que estudava no período noturno, porque trabalhava durante o dia.

Tentei de toda maneira arrastar o Romualdo para as mesmas aventuras, sem sucesso. A primeira vez que aceitou meu convite, era um garoto franzino de 12 anos e me acompanhou ao Estádio Manoel Demóstenes. Era um treino do São Francisco integrado por craques como Hugo, Valquinho, Guerrinha, Olegário, João Campos, Célio Sabag e Américo Stival. O campo era cercado por ripas que faziam às vezes de alambrado. Romualdo ficou sentado sobre a cerca, no fundo do gol, onde os jogadores batiam bola para treinamento do goleiro Flavio Santos. Numa bola rolada para fora da área o zagueiro Américo bateu forte, acertando em cheio a testa do Romualdo, que desprevenido caiu da cerca:

– Não volto nisso mais nunca! Não adianta me chamar!

Saiu limpando a roupa suja de terra e com um galo enorme na cabeça, que ainda me deu trabalho para explicar para nossa mãe.

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