quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O Homem que Só Sabia Trabalhar em Política

Walmir Bastos Ribeiro, baiano de Brotas de Macaúba, chegou a Anápolis em 1957, trazido pelo seu pai que vinha frequentemente a Goiás para comprar fumo em rolo, em Bela Vista e Pirenópolis. Hospedou-se na Pensão do Bom Jesus, onde morou por vários anos. Matriculou-se na segunda série ginasial, do Colégio Estadual, dirigido pelo professor Hely Alves Ferreira, eleito prefeito de Anápolis em 1958. Foi apresentado aos seus colegas de classe, dentre eles Jayro Rodrigues da Silveira e eu, pelo professor Hely. Por estar impecavelmente trajado, sua chegada foi marcante. Terno de linho na cor creme, gravata borboleta e contava com bigode ao estilo Cantinflas. Para os colegas, Walmir dizia ser de Jequié, terra de Lomanto Júnior. Admirador de Vieira de Melo. No princípio suas despesas eram bancadas pelo seu pai. Com o passar do tempo teve que trabalhar para se sustentar.

Já adaptado em Anápolis, Walmir contou com a colaboração de políticos pertencentes ao PSD, dentre eles o deputado estadual Plínio Jayme, para conseguir emprego público. Seu primeiro contrato foi para prestar serviço na Telegoiás. Atenderia as reclamações que chegassem à empresa. A primeira reclamação que recebeu, sem repassá-la ao técnico responsável, foi ele mesmo aos aparelhos transmissores, mexendo em toda fiação, provocando pane em todo o sistema. Os técnicos demoraram uma semana para sanar o estrago.

Não querendo deixá-lo ao abandono, acharam melhor que fosse para a Companhia de Força e Luz, entregar os avisos e contas aos usuários. Começou bem. Até que chegou à casa de um amigo para a entrega do talão. Achou o portão do corredor aberto, adentrou à cozinha. Leu o jornal Folha de Goyas que seu amigo deixara sobre a mesa. Tomou café e por ali ficou. Quando a esposa do amigo, o viu sentado à mesa, caiu em prantos gritando por socorro. Os vizinhos vieram todos ver o que acontecia, enquanto Walmir Bastos, intrigado com tanto alvoroço, saia assustado. Foi seu primeiro e último dia de entrega de talões de energia elétrica.

Resolveram contratá-lo para trabalhar no comitê político do candidato a governador Mauro Borges. Acertaram em cheio. Nessa função ninguém era mais ativo e competente que ele. Nunca mais deixou a atividade política. Foi sete vezes vereador em Anápolis. Presidente da Câmara Municipal na fase mais difícil enfrentada pelo legislativo municipal. Preso inúmeras vezes pelos órgãos de repressão durante a ditadura militar de 1964. Organizador permanente dos Simpósios Estudantis promovidos pela Câmara Municipal de Anápolis. Era a forma de politizar os estudantes. No Legislativo municipal, o mais autêntico combatente à ditadura. Um dos heróis da resistência democrática em Anápolis. Sofreu prisões e torturas, resistindo todo tipo de violência. Não renunciou a presidência da Câmara Municipal, impedindo que afastassem pela força o prefeito Henrique Santillo, conforme plano da Arena e parte do MDB municipal.

Walmir Bastos Ribeiro disputou sua primeira eleição em 1966, pelo MDB. Não se elegeu. Seus eleitores, que eram principalmente estudantes, ficaram com Henrique Santillo. Na quarta suplência, com o falecimento dos vereadores emedebistas, Adão Mendes Ribeiro, João Furtado de Mendonça, João Luiz de Oliveira e Oscar Miotto, se efetivou.

Eleito vice-presidente da Câmara Municipal de Anápolis, mesa comandada por Antônio Marmo Canedo, na legislatura seguinte, Walmir Bastos chegou a sua presidência com a morte prematura, de Antônio Canedo. Walmir faleceu em 1994, como um dos mais valorosos políticos de Anápolis em todos tempos.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Coisas da Vida

José Moreira, o Zuza, natural de Uruana, filho de Agenor Moreira, ex-prefeito daquela importante cidade do Vale do São Patrício, foi um dos melhores funcionários públicos estaduais, em todos os tempos. Tive a honra de contar com seu talento e dedicação quando ocupei as secretarias da Educação e Governo. Foi o responsável pelo setor financeiro, nas duas secretarias. Aposentado como fiscal dos tributos estaduais, Moreira hoje dedica seu tempo à família, religião e pequena chácara próxima ao Campus da UFG, em Goiânia.

Zuza saiu bem cedo de Uruana para estudar em Goiânia. Oriundo de família pobre, enfrentou muita dificuldade para vencer os obstáculos que a vida reserva a todos nós. Mesmo assim se transformou na principal referência para os conterrâneos que precisavam de alguma ajuda, ou informação em Goiânia. No início, sem emprego fixo, quase nenhum dinheiro no bolso, fazia uma refeição ao dia. Quando almoçava, não jantava. Nunca perdeu a esperança e sempre tinha palavra amiga aos que com ele conviviam ou dele precisavam. Várias pessoas que recorreram aos seus préstimos e conviveram com ele na juventude, afirmam que Moreira repartia sanduíche para não deixá-los com fome quando vinham do interior para Goiânia. Mesmo com o prestígio que angariou ao longo da sua carreira profissional, José Moreira continua a mesma pessoa simples, solidária e humilde. Nunca disputou mandato popular.

No seu tempo de estudante e de pequenos recursos, Zuza fazia suas refeições no Restaurante do Bolonha. Sua mesa, no almoço ou jantar era sempre a mesma: nº 10. Os garçons tinham por ele o maior respeito. Solteiro, aparência atlética, alegre e descontraído, era presença marcante no restaurante.

Numa dessas idas diárias ao Bolonha, José Moreira ao sentar-se à sua mesa, viu duas moças sentadas à mesa em frente, comendo as melhores e mais sofisticadas massas servidas pela casa. Enquanto aguardava o atendimento pelo garçom, despistadamente, olhava para as garotas. Notou, da mesma forma, que comentavam alguma coisa a seu respeito. Apesar da timidez, aos poucos foi se liberando. Ao ser olhado com insistência por uma delas, teve a coragem de cumprimentá-la com gesto de cabeça. Recebeu de volta sorriso discreto.

Quando o garçom veio para atendê-lo, Zuza se lembrou que possuía apenas alguns trocados no bolso. Não dava para pedir o mesmo que as moças. Pegou o cardápio, deu uma olhada nele de cima a baixo, e disse baixinho próximo ao ouvido do garçom, seu conhecido e amigo:

- Por favor, traga-me o prato de todos os dias!

Enquanto isso só queria mesmo era paquerar as garotas. Chegando à portinhola por onde os pedidos eram feitos, gritou o garçom com a voz clara e estridente, para que todos no salão ouvissem:

- Desce uma sopa água e sal, para mesa 10!

Moreira, vermelho e apressado, foi para o sanitário, só voltando à mesa para comer sua sopa com água e sal, quando as garotas já haviam deixado o restaurante.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Godofredo e Sua Obra Sobre Anápolis

O jornalista Godofredo Sandoval Batista lançou, no último dia 8 de dezembro, importante livro contando a história de Anápolis desde 1860, quando dona Ana das Dores, depois de descansar às margens de uma cristalina e refrescante nascente dágua, existente nas proximidades do córrego das Antas, viu a mula que fazia parte da tropa, empacar. Relataram os que presenciaram a cena, que dona Ana ao abrir a bruaca que a mula transportava, encontrou a imagem de Santana. Retirada a imagem, a mula voltou a andar normalmente. Ana entendeu como sendo recado divino, para que se construísse naquele local, capela em louvor à santa. Daquele acontecimento aos dias de hoje, já se passaram 150 anos. Aí a razão de “Anápolis 150 anos de bairrismo”.

O jornalista relata fatos que presenciou e outros que conseguiu através de pesquisas. Consultou livros de outros autores sobre o mesmo tema. Ouviu relatos pessoais de historiadores e jornalistas mais antigos. Leu coleções completas de jornais anapolinos que hoje não circulam mais. Nos arquivos da prefeitura, analisou fotos e documentos históricos importantes. Foi sintético na sua narrativa, sem perder a fidelidade com os fatos narrados. Em “Anápolis 150 anos de bairrismo”, realça pontos relevantes e significativos de todos os setores da sociedade local. Escreve sobre desenvolvimento econômico, político, cultural, educacional e esportivo, mas não se esquece de figuras humildes e marcantes como Antônio Caetano Júnior, o uberabense Caetano, torcedor fanático da Associação Atlética Anapolina. No Estádio Manoel Demóstenes, ridicularizava jogadores adversários quando chutavam errado ao gol da Anapolina. Gritava com todas as forças dos seus pulmões: “Óh o pé dele Carpaneda!”. Com Teodora, a dama do Anápolis Futebol Clube, mulher que ia aos jogos do tricolor impecavelmente trajada e sempre acompanhada de sombrinha multicolorida, fazia o show à parte para os torcedores. Não se esqueceu de Maria Rosa, com seu clube Pena Azul ou Ponciana, com sua casa de encontros amorosos em pleno setor central da cidade.

Fala sobre o trabalho de evangelização do monsenhor Pitaluaga e sua firme ideologia de direita. Isso ficou evidente quando da visita do marechal Tito, da Iugoslávia, a Anápolis. Criticou a visita do velho marechal até mesmo quando a comitiva passava pela Praça do Bom Jesus. Marcante foi sua discussão verbal pelo alto-falante da Igreja Bom Jesus, com Geraldo Soares e Romualdo Santillo, redatores e apresentadores da “Rodinha do Café,” às 12 horas, pela Rádio Carajá. Eram os jornalistas provocando Pitaluga e ele respondendo agressivamente pelos alto-falantes da igreja.

Godofredo Sandoval Batista nos relata sobre a importância do café do Antônio, na Rua Barão do Rio Branco. Ponto de encontro de políticos, desportistas e sociedade em geral. Espécie de Café Central, da gente anapolina. Rua Barão de Rio Branco famosa também por ser palco de paquera para os jovens nos anos 50 e 60. O “vaivém”da moçada acontecia todos finais de semana, feriados e dias santificados, na Barão entre a Engenheiro Portela e Sete de Setembro. Homens nas calçadas e as mulheres desfilando pelo centro da rua a céu aberto. Dezenas de casais se conheceram e se casaram graças ao “vaivém.”

O livro de Godofredo Sandoval Batista é a mais perfeita crônica sobre Anápolis, sua gente e sua vida. Merece ser lido e discutido.

Só num ponto Godofredo Sandoval Batista comete pequeno equivoco. Com precisão descreve a conquista do campeonato paulista do IV Centenário pelo Corinthians, em 1954. Quando sua família retornava de Vianópolis para Anápolis. Fala do time com Gilmar ou Cabeção, Homero e Olavo; Idário, Roberto e Goiano; Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Nonô ou Souzinha. Descreve que Baltazar era artilheiro e bom cabeceador. O cabecinha de ouro. O eleva à condição de inventor da bicicleta e conhecido como Diamante Negro! Inventor da bicicleta e Diamante Negro, foi Leônidas. É importante esse reparo para que torcedores do São Paulo e Flamengo não venham posteriormente nos contestar.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A História Se Repetiu

Na década de 70, Romualdo trabalhava com meu pai numa pequena cerealista de compra e venda de cereais. Embora pequena a firma fazia grande movimento pelo intenso rodízio praticado. Seus fornecedores eram, especialmente do Vale do São Patrício e da Estrada de Ferro.

Com a transformação de Anápolis em Área de Segurança Nacional, Zé Bigode que trabalhava em cargo comissionado na Junta de Alistamento Militar, foi dispensado pelo prefeito nomeado Irapuan Costa Júnior.

Natural de Orizona, onde conhecia os produtores rurais do município, se dispôs visita-los para a compra de feijão roxinho, um dos melhores de Goiás. Romualdo solicitou que Antônio Senhorinho, o Tonho Gaguinho, o levasse a Orizona. Zé Bigode foi de terno e gravata. Se trajava impecavelmente, até mesmo para a compra de feijão na zona rural.

Por volta das 10 horas da manhã daquele dia, fornecedor de Vianópolis, ao fazer o acerto da mercadoria com Romualdo, lhe perguntou se ele ainda possuía um Karmanguia. Ao responder que sim, o cliente lhe indagou:

– Por acaso ele foi para a região da Estrada de Ferro, hoje ?

– Ele está em Orizona ! Disse Romualdo.

– Então era ele mesmo! Quando vinha pra cá , naquela reta chegando ao povoado de Caraíba, município de Vianópolis, vi levantar um poeirão na lateral da estrada e um Karmanguia capotado.

– Eles se machucaram?

– Não! Só o carro ficou com os pneus para cima. Vi um senhor de terno e gravata, todo sujo pela poeira, batendo com as mãos na calça e paletó, falando sem parar:

– Que coisa mais desagradável. Que coisa mais desagradável...

Até hoje Romualdo tenta compreender como o Tonho Gaguinho conseguiu capotar o Karmanguia, sem que batesse em animal, pedra ou buraco numa estrada reta, mesmo não sendo asfaltada.

Impressionado com o inusitado acidente, o promotor de Justiça aposentado, Roldão Izael Cassemiro, já contou essa história para dezenas de alunos seus nas faculdades de direito onde leciona.

Na semana passada, Roldão acompanhou Daniel de Freitas, também integrante aposentado do Ministério Público, a Aruanã. Participaram de audiência no Fórum local. Daniel dirigiu o carro de sua propriedade em que viajaram. Chegaram ao destino por volta das 10h da manhã.

Às 10h30, me encontrava na Rádio Manchester, quando meu celular tocou. Era Roldão falando de Aruanã:

– Adhemar, “que coisa mais desagradável.”

– Que aconteceu Roldão ?

– Sabe aquela história do Zé Bigode limpando com as mãos a poeira da roupa no capotamento do Karmanguia, dizendo sem parar: “Que coisa mais desagradável?”

– Claro que me lembro!

– Aconteceu agora, com a gente!

– Como?

– Nós já estávamos aqui dentro da cidade de Aruanã, numa avenida reta sem nenhum obstáculo pela frente, Daniel perdeu o controle do carro, capotando em seguida. Quando deixamos o carro acidentado, me vi em plena via pública limpando poeira do terno. Mas que coisa mais desagradável. Encerrou a ligação com gostosa gargalhada.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Quase Candidato a Prefeito de Niquelândia

Em 1976, foi disputada em Anápolis a primeira eleição municipal só para vereadores, depois que o município foi enquadrado na Área de Segurança Nacional. O prefeito nomeado Jamel Cecílio, lançou chapa arenista altamente representativa. Mesmo assim foram eleitos 8 vereadores pela Arena e 7 pelo MDB. Foi a primeira e única vitória dos arenistas no município. Não havendo eleição para prefeito, participamos das campanhas por todo interior.

Em Niquelândia, a liderança mais forte ligada ao MDB era o comerciante Manoel Dourado, irmão do ex-deputado José Dourado. Os seus companheiros preferiram formar sublegenda na Arena. Dourado não quis disputar a prefeitura. Sem outro nome, ficou decidido que o partido não teria candidato na eleição daquele ano.

No encerramento do prazo para o registro de candidatura, fomos procurados por Jovino Konder, se dizendo interessado em disputar pelo partido a prefeitura de Niquelândia. Pediu-nos que conseguíssemos carro para levá-lo. Foi de Opala. Em sua companhia, seguiu professor Lucas Gonçalves, para preparar a documentação à Justiça Eleitoral. O próprio Jovino dirigiu o veículo.

Quando se aproximavam de Niquelândia, na região conhecida como Quebra Linha, Konder parou o automóvel no acostamento:

- Não posso ser visto. Vou deitar no banco de trás. Passou o volante ao professor Lucas.

- Eu nunca dirigi um carro!

- Não tem problema. Eu vou lhe ensinando como troca de marcha. Pode seguir devagar. Ressaltou Konder.

Lucas deu a última cartada:

- Jovino, como candidato você tem que aparecer!

- É que algumas pessoas não podem me ver. Depois com a candidatura registrada a história é outra...

Dirigindo a 10 km por hora, na BR-414, chegaram ao armazém do Manoel Dourado, em Niquelândia. Jovino o queria seu vice. Não conseguindo, partiu em busca de alguém que estivesse disposto a aceitar a disputa. No balcão do armazém, tomando cachaça, estava Sebastião. Jovem vaqueiro, peão de pequena fazenda da região.

- Quer ser candidato a vice-prefeito? Indagou Konder, batendo nas costas do rapaz que se engasgou de susto.

Sem tempo para melhor pensar, Sebastião aceitou. Não portando documento, pediu a um amigo que fosse até sua casa e lhe trouxesse título de eleitor, CPF e identidade. A esposa do Tião que lavava roupas e vasilhas ao mesmo tempo, quis saber o que estava acontecendo. Quando lhe foi dito que o marido seria candidato a vice-prefeito, largou o serviço doméstico partindo para o armazém a sua procura. Tião picado pela mosca azul já havia tomado gosto pela disputa. Não aceitou de forma alguma os argumentos da mulher para que abandonasse a disputa. Conformada e resmungando, retornou ao tanque.

Decidida a candidatura de Sebastião à vice, era hora de providenciar a documentação do candidato a prefeito. Não podendo ser visto, pediu a Manoel Dourado que buscasse seu título no Cartório Eleitoral. Poucos minutos depois, Dourado voltou:

- Jovino, você é eleitor em Rio Maria, no Pará!

- Como? Eu fiz a solicitação de transferência!

- Você fez o pedido, mas não pagou a multa. O processo ficou parado.

Lucas Gonçalves e Jovino Konder retornaram a Anápolis enfrentando a poeira da BR-414.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

No Passado Foi Diferente

Alguns amigos, principalmente eleitores que sempre me apoiaram nas disputas eleitorais, me perguntam se não foi difícil para mim tomar a decisão de deixar o PMDB. Para todos respondo que sim. Ingressei na vida política me filiando ao MDB. Partido que muito fez para que a ditadura de 1964 caísse e ressurgisse a democracia. Nunca havia militado noutro partido. Já em 1966, quando ajudei fundar o Movimento Democrático Brasileiro, em Anápolis, participei da eleição de Henrique Santillo a vereador. Garantir sua posse foi batalha heróica e nos moldou para a verdadeira guerra que teríamos pela frente. Em 1970 me elegi a deputado estadual. Com a cassação do mandato do prefeito Iris Rezende e suspensão dos seus direitos políticos por 10 anos, o MDB quase acabou em Goiânia. A principal trincheira da resistência democrática em Goiás foi construída em Anápolis. As vitórias que conseguíamos contra a Arena, eleição após eleição, davam visibilidade à luta oposicionista que sustentávamos. Graças a esse quadro nossa responsabilidade na formação do partido de oposição verdadeira foi enorme.

Os companheiros do interior admiravam o trabalho que fazíamos em Anápolis. Sabiam das perseguições que sofríamos, mas não fraquejávamos. Pelos estreitos caminhos que as leis de exceção nos ofereciam resistíamos indo à frente. Não nos acovardávamos e nem temíamos os prepotentes. A cada eleição inventavam enxurrada de denúncias na tentativa de nos intimidar.

Cassação do mandato do prefeito José Batista Júnior (MDB), com a transformação do municipio em Área de Interesse à Segurança Nacional; invasão da Rádio Carajá, que havíamos adquirido do ex-deputado Plínio Jayme, pela Policia Militar do Estado, devolvendo seu comando ao antigo proprietário; fechamento da Rádio Santana que adquirimos em substituição à Carajá; prisão do bravo e saudoso vereador Walmir Bastos Ribeiro e prisões de auxiliares do ex-prefeito Henrique Santillo, não nos amedrontaram. Revigoraram nossas forças.

Em Anápolis nos fortalecíamos dia a dia com nossa pregação diária em favor das liberdades democráticas no programa radiofônico, “ O povo falou tá falado”. Fazíamos reuniões domiciliares preparando novos quadros de autênticos resistentes à ditadura. Simpósios trabalhistas e estudantis completavam nosso pacote na formação de lideranças.

No interior, mesmo com a simpatia de expressivas lideranças pela nossa atuação, questões políticas locais falavam mais alto. Essas lideranças preferiam ficar agasalhadas em sublegendas dentro da Arena a formar o MDB. No início o partido contou com adesão de posseiros, pequenos sitiantes, lavradores e trabalhadores braçais. Mesmo assim enfrentamos a resistência dos políticos locais.

Em Estrela do Norte, o caminhoneiro Hilton Lucena de Oliveira foi preso, prisão preventiva decretada pelo Juiz da Comarca, porque estava filiando eleitores ao MDB. Altivo, conhecido carroceiro da cidade, que o ajudava no trabalho de filiação, apanhou tanto da polícia que sumiu da cidade. Em Jaraguá, Militino, conceituado farmacêutico no município, juntamente com a companheira Maria filiaram gente da zona rural. Quando completaram as filiações necessárias foram ao Cartório Eleitoral para o registro dos filiados. Encontraram nas mãos do escrivão, carta renúncia assinada por cada um dos filiados. Em Mara Rosa lançamos a candidatura Zériaco, à prefeitura. A única propaganda que fez foi um cartaz com seu nome e caricatura, desenhados por sobrinho seu. Em Silvânia, Geraldo Bonfim, pequeno comerciante de secos e molhados enfrentou o poderio arenista dos Caixeta. Em Goianápolis, os vereadores emedebistas Lucas Gonçalves e João Leite de Morais tiveram os mandatos cassados por trabalharem em Anápolis. Assim surgiu e se fortaleceu o MDB.

Graças à resistência dessa gente humilde e batalhadora, Iris Rezende Machado chegou ao governo de Goiás em 1982, depois de 10 anos afastado compulsòriamente da vida política. O partido de hoje não é o mesmo do seu nascimento. Deixamos o PMDB mas não deixamos a luta. Estaremos noutra trincheira com os mesmos ideais do passado. Não nos sentiríamos confortáveis, num partido moldado na resistência democrática e que hoje pune as vozes internas que democraticamente discordam da sua prática política.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Agasalhe, ou Deixe o Povo Trabalhar

Quando assumi a Prefeitura de Anápolis, em janeiro de 1986, encontrei cadastrados no município, 96 ambulantes instalados nas ruas centrais da cidade. Os comerciantes, principalmente lojistas, que pagam regularmente os impostos, encargos trabalhistas, aluguel, água e luz, gritavam contra a concorrência desigual praticada pelos camelôs, principalmente dos que congestionavam a porta da sua loja. Era questão relativamente pequena para uma cidade grande como Anápolis. Tinha que ser equacionada antes que a situação piorasse. Construímos o Camelódromo num estacionamento existente no complexo da Praça Americano do Brasil. Todos os que trabalhavam ao ar livre, nas ruas, foram instalados naquele local. Os atritos desapareceram, os ambulantes passaram a ter local certo de atuação para seus fregueses e saíram da informalidade, gerindo seu próprio negócio.

Retornando à prefeitura em 1997, para o segundo mandato, novamente ambulantes espalhados pela cidade inteira, vendendo desde CDs piratas, produtos do Paraguai, a roupas finas. Mais uma vez determinamos que no imóvel pertencente ao município, com mais de 1.500m² na Rua General Joaquim Inácio, ao lado do Terminal Urbano, fosse construído o Centro Comercial Popular, onde acomodamos mais de 350 ambulantes. Local de movimento popular intenso, os comerciantes todos na formalidade, fazem juntamente com os integrantes do Camelódromo, a alegria dos que procuram produtos com preços inferiores. Com satisfação contam inúmeras histórias de sucesso comercial. Alguns já conseguiram formar filhos em cursos superiores. Outros compraram casa própria e melhoraram de vida.

Hoje, pelas ruas de Anápolis, sem medo de errar, existem centenas de novos ambulantes. Há setores no centro, em que os camelôs ocupam praticamente de dois a três quarteirões de calçadas. Vende-se de tudo nessa que é a maior feira livre permanente do Estado. Para os que conhecem a “Feira de Caruaru” celebrizada pelo Rei do baião, Luiz Gonzaga, dizem que a de Anápolis nada fica a dever à famosa feira do interior pernambucano. Vende-se qualquer tipo de bugiganga. Desde alfinete, retrós, canivete corneta a gorrinhos vermelhos com bolinhas luminosas para fantasia de Papai Noel. De frango caipira a ovos de codorna. Frutas nacionais, importadas e muita planta medicinal. Em algumas dessas bancas de ervas, para a retirada de calo encravado a cura de diabetes a freguesia é cativa. Enquanto o poder público municipal não constrói um local para abrigá-los, os ambulantes crescem sem parar. “É sinal de vitalidade da economia no município”, dizem alguns. “Mesmo que hajam especuladores alugando o trabalho de algum desempregado para tomar conta da banca, vale a pena, pela maioria que retira o sustento da família com seu trabalho”, garantem outros.

Esse é momento do ano mais esperado por qualquer comerciante, esteja na formalidade ou ambulante. Chegada das festas de final de ano. Tempo para ganhar alguns reais a mais. Nem todos estão alegres e sorridentes. Vendedores da feirinha artesana estão revoltados. Justamente agora, em que todos pregam a paz. Receberam ultimato da administração municipal para que saiam da Praça Abilio Wolney, onde encontra-se o prédio principal da prefeitura. Trabalham naquela área há vários anos. Essa feira que comercializa produtos artesanais, principalmente roupas, funciona há mais de 20 anos, em Anápolis, aos domingos. Se consolidou junto à população anapolina e das cidades vizinhas. Réplica da Feira Hippie de Goiânia que se multiplicou em Feira da Lua e Feira do Sol.

O que mais tem desesperado os artesãos é o argumento de que por trabalharem debaixo de barracas de lona, deixam a praça com aspecto feio.

Todos os prefeitos que administraram o município nos últimos anos, os apoiaram. Nenhum os impediu de trabalhar. Os artesãos esperam que o prefeito do Partido dos Trabalhadores, não venha colocá-los à ociosidade, ao desemprego, sem renda no Natal, por trabalharem fora do padrão de estética.

0 exigido pelas autoridades municipais.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

É Preciso Ser Ousado

O prefeito municipal é o agente público mais exigido pelo povo. Por estar mais perto e diretamente envolvido com as questões que mexem com a vida dos cidadãos as cobranças são permanentes. Por isso, muitas vezes é obrigado a adotar medidas que ultrapassam sua área de administração.

A inexistência de viaduto e até mesmo de uma simples rotatória, na BR-153 ligando Anápolis City com Bairro de Lourdes, acidentes pavorosos aconteciam naquele trecho da rodovia federal, todas as semanas, causando dezenas de vítimas. Cansado de cobrar das autoridades federais e não ser atendido, o prefeito Wolney Martins decidiu investir parte dos poucos recursos disponíveis no Tesouro municipal para resolver o problema. Toda obra foi paga pelo município. A administração estadual colaborou em parte na movimentação de terra. Foi trabalho ousado e fundamental na preservação da vida dos que diariamente transitavam e transitam pelo local.

Ao suceder Wolney Martins acertei com o governador Maguito Vilela que faríamos pelo Dergo o anel viário de Anápolis. Basílio, arquiteto do Departamento de Estradas de Rodagens do Estado de Goiás, elaborou o projeto. Sairia da BR-060 em frente ao Calixtópolis encontrando com a BR-153 no trevo da saída para Brasília, até à proximidade da entrada ao povoado de Miranápolis. Dali cortando região rural do município até atingir o ponto inicial do anel, próximo ao posto Presidente, na BR-060. O Dergo realizou a concorrência pública e os serviços tiveram início pela abertura da segunda pista da BR-153, a partir do trevo que liga Anápolis a Brasília.

Contando com a decisiva colaboração dos meus ex-companheiros da Câmara Federal, Odacyr Klein – ministro dos Transportes e Tarcisio Delgado, diretor presidente do DNER, conseguimos repassar a obra para o ministério dos Transportes. Muito importante foi a participação de Iran Saraiva, ministro do Tribunal de Contas da União – TCU, desembaraçando junto ao Ibama, questões sobre preservação ambiental. Toda formalidade legal para a continuidade da obra foi agilizada pelo ministro, junto ao TCU.

Graças ao trabalho arrojado que a prefeitura de Anápolis e o governo estadual realizaram para construção da obra, contamos com o trecho da BR-153 duplicado do trevo que liga Anápolis a Brasília até próximo a Interlândia. O viaduto Ayrton Sena, construído na administração Wolney Martins, foi duplicado. Da mesma forma nova ponte construída sobre o córrego das Antas, ao lado da sede campestre do clube Lírios do Campo. Essa nossa decisão ousada e determinante ensejou a construção de outras obras valiosas no setor de transporte em Anápolis: viaduto na BR-153, cruzamento com a BR-414 que liga Anápolis a Corumbá de Goiás e viaduto no trevo ligando BR-153 à Vila Jaiara, principal ligação de Anápolis com o norte do Estado.

Firme tomada de posição pelo atual comandante do poder público municipal está sendo aguardada pelos anapolinos, para a continuidade normal dos serviços. O Denit está devagar, quase parado na execução de obras de menor complexidade e de muita importância para o município. Trincheira e passarela ligando os bairros Jardim Progresso ao Parque dos Pirineus estão paralisadas há meses. Denit não dá qualquer esclarecimento do porque de tanto atraso. Trecho da BR-153, do início da BR-414 ao trevo Vila Jaiara tem sido palco de inúmeros acidentes com vitimas fatais. A população do parque dos Pirineus encontra-se totalmente ilhada. As crianças do parque estudam no Jardim Progresso, têm que atravessar as duas pistas da rodovia e pistas auxiliares sem nenhuma segurança. Foram instalados na BR-153 todos os postes e luminárias no trecho compreendido entre trevo saída para Brasília à Vila Jaiara, há pelo menos seis meses. Não há sequer previsão de quando a iluminação funcionará. Da mesma forma o trevo no final da Avenida Universitária e início da BR-414 precisa de reformulação completa e imediato sistema de iluminação. Denit não soluciona o problema e sobre eles nada comenta. Para a iluminação da rodovia e do trevo estão faltando transformadores. Celg e Denit não se acertam. Sem interferência enérgica do poder público municipal as pequenas, mas importantes pendências se perpetuam. O Executivo municipal de Anápolis já deu provas no passado, que muita coisa se consegue assumindo responsabilidade que pertence ao governo federal.