segunda-feira, 29 de março de 2010

Histórias de Cronistas e do Futebol

Publicado na edição de 27/03/2010 do jornal Diário da Manhã

Nunes Macedo, grande repórter de pista dos anos 60/70, na Rádio Brasil Central, antes de ser cronista trabalhava como encanador, em Anápolis. Fanático por futebol e pretendendo mudar de profissão, fez curso de árbitro, na escola da Liga Anapolina de Desportos. Foi aluno brilhante.

Sua estreia foi no jogo Serraria x Castilho, pelo Campeonato Anapolino. Estádio Manoel Demóstenes lotado. Nunes Macedo se impunha pelo conhecimento das regras, imparcialidade e acompanhamento das jogadas. Jovem, com muito vigor físico e amando a nova profissão, estava onde a bola ia.

Num lance violento praticado pelo lateral esquerdo Batata, do Serraria, jogador de estatura mediana, forte e corpulento, Nunes não teve dúvida, apitou pênalti e expulsou o zagueiro de campo. Antes que Aluísio, artilheiro do Castilho, fizesse a cobrança, Batata desferiu um torpedo de braço esquerdo na testa do árbitro, jogando-o ao chão.

Só recobrou os sentidos 40 minutos depois, no Pronto Socorro do Hospital Evangélico. Nunes Macedo nunca mais apitou nem pelada de rua, preferindo continuar como encanador. Só retornou aos estádios, retomando o gosto pelo futebol, bem mais à frente, como repórter, pela Rádio Imprensa, sob o comando de Jayro Rodrigues.

Petrônio Cruz, comentarista esportivo da Rádio Santana, só chegava ao jogo no final do segundo tempo. Fazia seu comentário intermediário por telefone, depois de ouvir nossa narração enquanto fechava o caixa do matinê, no Cine Vera Cruz, onde era gerente. Muitas vezes, quando a frequência ao cinema era maior, não ouvia a transmissão. Comentava sem ao menos saber quais os times que jogavam.

Gedeon Camargo, hoje militando na crônica esportiva de Uberlândia, começou a carreira como repórter na equipe da Rádio Carajá. Num jogo Anapolina x Anatex, pelo campeonato da LAD, entrevistou o zagueiro Orlando, da Anapolina. A xata não vencia há quatro partidas. Quis saber do zagueiro o porquê de tantos tropeços:

– Orlando, como você explica essa hecatombe que ocorreu na Anapolina ?

Como o zagueiro se confundiu completamente com a pergunta, respondendo coisa sem nexo, como “não é verdade que tenha comido feijoada...”, Gedeon o cortou:

– Orlando, parece que não fui entendido. Gostaria que você explicasse como justificar a debacle da Anapolina no campeonato?

Antônio Afonso de Almeida foi o pioneiro locutor esportivo em Anápolis. Da escola de Valdir Amaral da Rádio Globo do Rio de Janeiro narrava os lances de forma lenta e detalhada.

Para gravar no Estádio Pedro Ludovico, em Goiânia, partida entre as seleções de Goiás e Mato Grosso, com ele foi Clovis Guerra, chefe do departamento de Jornalismo da Rádio Carajá. Gravador grande, fitas trocadas com frequência, monitorado por Clovis. Faltando 20 minutos para o término e a última fita de que dispunham chegando ao final, Clovis, desesperado gritou para Afonso:

– Acelere, narre mais rápido! Seja como Pedro Luiz, da Bandeirantes! Lento assim a fita não vai dar.

A Rádio Carajá funcionava na parte superior de um prédio do Banco Estado de Goiás na Praça do Bom Jesus. Na parte superior externa do imóvel havia um possante alto falante, transmitindo toda programação da emissora. Às 11 horas, no seu programa esportivo, desportistas lotavam a praça em frente à emissora para se inteirar das últimas do esporte.

Mané Padeiro, que fazia a entrega de pães e roscas em sua carroça tipo baú, era presença cativa. Chovesse ou fizesse sol, às 11 horas lá estava ele com sua carroça. Torcedor fanático do Anápolis, naquele dia estava impaciente ao saber que Nilo, Carlinhos e Felinho, jogadores do tricolor, poderiam se transferir para o Ypiranga, maior adversário do Anápolis. Deixou a carroça no acostamento da calçada e foi para o meio da plateia.

Antônio Afonso, o radialista, fez a pergunta a um dos atletas que estavam na relação dos que poderiam mudar de time:

– É verdade que você está deixando o Anápolis, se transferindo para o Ypiranga?

O “não”, dito pelo jogador, foi com o som emitido pelo contato da língua com os dentes superiores:

– Dhi, dhi, dhi, dhi... Idêntico ao que os carroceiros utilizam para que o cavalo vá em frente.

Aquele som, velho conhecido do animal que servia Mané Padeiro, ampliado pelo alto-falante, fez com que o cavalo saísse em disparada carreira pela Rua Barão do Rio Branco, despejando pães e roscas pelo caminho. Só parou quando foi contido por populares na Praça Santana.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Anápolis, primeiro time do interior a ser campeão

Publicado na edição de 21/03/2010 do jornal Diário da Manhã

Neste ano, comemoramos 45 anos da conquista do primeiro campeonato goiano de futebol profissional por uma equipe interiorana. O protagonista dessa façanha memorável foi o Anápolis Futebol Clube. Desbancou, com categoria, equipes como Atlético, Goiânia, Vila Nova, Inhumas e Crac de Catalão. Contando com plantel de craques de Anápolis e outros oriundos do interior de Minas Gerais e São Paulo, o tricolor foi brilhante.

A cidade acabara de receber uma moderna praça de esportes para os padrões da época, o Estádio Jonas Duarte. Com diretoria dinâmica, formada por desportistas como Altino Teixeira de Moraes, Ronaldo Jayme, Amim Antônio, Osvaldo Cunha, Didi Castanheira, Amim Gebrin, Osvaldo Abrão, Rubens Porfírio, José do Rosário Figueiredo, José Miguel Hajar, Francisco Teixeira e muitos outros, o tricolor foi impecável.

Altino de Moraes, empresário no ramo de materiais de construção, nunca havia militado num time de futebol. Assumiu a presidência do Anápolis por insistência de Ronaldo Jayme e Osvaldo Cunha, se transformando em pouco tempo, no mais apaixonado de todos os tricolores. Ronaldo Jayme, como diretor de esportes, levou para a equipe, craques como Nelson Parrilla, Deca, Haly, Dida, Osmar e Sorriso vindos de Minas e interior de São Paulo. José Figueiredo era o gozador responsável para descontrolar adversários e árbitros. Certa vez, foi retirado do gramado por dois soldados que o carregaram até o banco de reservas, após invadir o campo se dirigindo ao árbitro da partida, em pleno jogo: “O senhor sabe com quem está falando?”

Na reta final do campeonato, circulou comentário de bastidor que estaria sendo montado complô na FGD, para prejudicar ou evitar o sucesso do Anápolis na temporada, através das arbitragens. Ronaldo Jayme conversou com seus companheiros de diretoria dizendo que, na primeira oportunidade, mostraria como iria enfrentar as arbitragens.

No domingo seguinte, no Estádio Jonas Duarte, o tricolor enfrentou o Goiânia. Numa jogada com atacante do alvinegro, o goleiro Moraes cometeu pênalti, sendo expulso de campo. Ronaldo Jayme entrou em campo, tirou do bolso um canivete, furou a bola e a ergueu para delírio dos torcedores anapolinos.

Apaziguando os ânimos, Altino Teixeira foi para o gramado e entregou ao juiz nova bola, se dirigiu à trave esquerda do gol, encostando sobre ela, comunicando ao árbitro que estava ali para garantir a cobrança do pênalti. O árbitro o agradeceu, mas pediu que se retirasse do campo. Dida, improvisado goleiro, defendeu o pênalti.

Altino era realmente simplório. Paô, que Altino nunca havia visto, foi contratado por determinação sua, pela fotografia. Quando viu aquele cidadão de pernas grossas e musculosas, ficou impressionado, determinando sua contratação.

Ronaldo Jayme, mesmo reconhecendo que o pênalti cometido por Hali realmente acontecera, pretendeu dar uma demonstração que ninguém tiraria vitória do Anápolis pela arbitragem. Furou a bola e furaria quantas fossem necessárias para garantir lisura na atuação dos árbitros.

O jogo final, no Estádio Jonas Duarte , foi contra o Vila Nova. O Anápolis virou o marcador, depois de estar perdendo por 2 x 1. Venceu por 3 x 2. Deca marcou 2 e Dida. O Anápolis marcou 5 gols para valerem 3. A equipe tricolor jogou com Moraes, Nina, Osmar, Paraguai e Haly; Dida. Eudécio e Genésio; Zezito, Nelson Parrilla e Deca.

O arbitro foi José Muniz Brandão, da Federação Goiana de Desportos.

segunda-feira, 15 de março de 2010

De promessa em promessa, Anápolis perde espaço

Publicado na edição de 28/02/2010 do jornal Diário da Manhã

Em 1970, portanto há quarenta anos, Henrique Santillo, como prefeito de Anápolis, teve a competência de perceber que a área rural, nas duas margens da estrada ligando a cidade a Leopoldo Bulhões, trecho compreendido entre o antigo Aprendizado Agrícola Sócrates Diniz e a estrada de ferro, deveria ser considerada de utilidade pública, pelo município de Anápolis, para a instalação de um futuro distrito industrial.

Isso aconteceu num momento em que o forte da economia anapolina era o comércio atacadista de cereais. Como o governo federal não havia entrado ainda na comercialização de produtos agrícolas, a praça de Anápolis era a mais importante do Centro-Oeste. Praticamente toda safra de arroz, milho e feijão de Goiás e do Maranhão era negociada no município. Cerealistas de São Paulo, Rio e Minas Gerais faziam suas compras dos produtos, se abastecendo em Anápolis.

O prefeito Raul Balduíno, nos anos de 1968/69, realizou nas dependências do Parque Agropecuário, as duas primeiras feiras da indústria anapolina. Pequenas porque diminuto era o parque industrial do município.

Ao assumir a prefeitura, substituindo Raul Balduíno, o prefeito Henrique Santillo não só continuou realizando anualmente a Faiana como procurou forma concreta de transformar Anápolis em grande polo industrial. Para tanto precisava definir o local para a instalação de indústrias. Definiu que seria onde hoje está o Daia.

Leonino Caiado, no governo, desapropriou a área, criou a Lei 7.700 de incentivo fiscal e viu a indústria de azulejos Cecrisa se tornar a primeira indústria do futuro distrito industrial. Irapuan Costa Júnior, com decisivo apoio do general Ernesto Geisel, presidente da República, construiu toda infraestrutura do Distrito Agroindustrial de Anápolis - Daia, um dos mais bem estruturados no gênero, em todo Brasil. Iris Rezende Machado consolidou o Daia com a Lei Fomentar. Dezenas de indústrias se instalaram ali, graças aos incentivos concedidos pelo governo estadual. Henrique Santillo construiu a segunda linha de transmissão de energia elétrica impedindo que apagões que eram constantes, continuassem prejudicando os empresários. Maguito Vilela e nosso trabalho na prefeitura de Anápolis possibilitaram a criação, em Anápolis, do Porto Seco, com aquisição do patrimônio que pertencia à Rede Ferroviária Federal, para a instalação do porto. Marconi Perillo adquiriu mais uma área de terra para ampliação do Daia e transformou a Lei Fomentar em Lei Produzir. Esses empreendimentos foram fundamentais para a consolidação de Anápolis como o mais importante parque industrial goiano.

Há pelo menos 8 anos Anápolis não recebe nenhum benefício do poder público, para alavancar ainda mais seu desenvolvimento. A tão decantada Plataforma Logística Multimodal, inaugurada pomposamente pelo governo estadual, há vários anos, até hoje não viu uma única empresa nela se instalar. O Aeroporto de Cargas, depois do seu projeto ser sobrestado nas gavetas do Tribunal de Contas do Estado-TCE, por imperfeição e falhas, foi licitado, mesmo sem os recursos necessários para sua construção. A realização das obras depende do ministério da Defesa, que bancaria 90 milhões de reais, dos 100 milhões previstos para o custo do investimento. O entreposto da Zona Franca de Manaus está ficando apenas na vontade dos anapolinos, à medida que Uberlândia se aprofunda nos investimentos para que ali seja instalado, e as obras em Anápolis não saem do papel.

Até o Centro de Convenções, anunciado para ser construído na área em que funcionava o Aprendizado Agrícola Sócrates Diniz, passou de sonho a pesadelo. Sua maquete desapareceu e o dinheiro, que a Secretaria da Indústria e Comércio dizia ter em caixa para sua execução, virou fumaça.

Enquanto isso municípios que estão recente na luta pela industrialização como Aparecida de Goiânia, graças às suas representações políticas e determinação do seu prefeito, paulatinamente vão assumindo a liderança industrial do Estado. Ficamos apenas com promessa de empreendimentos megalomaníacos enquanto outros municípios vão se consolidando dentro da realidade da economia brasileira e usando o poder político que um dia Anápolis já teve.

A origem dos Irmãos Coragem e Metralha


Publicado na edição de 04/03/2010 do jornal Diário da Manhã

Com o golpe militar que destituiu o presidente João Goulart, em 31 de março de 1964, as principais lideranças políticas pertencentes ao PSD, em Goiás, lideradas pelo senador Pedro Ludovico, foram paulatinamente cassadas ou cooptadas pelos novos detentores do poder. Os udenistas assumiram o governo no Estado, mesmo antes da vitória de Otávio Lage, em 1965, com a cassação do governador Mauro Borges e designação do general Meira Matos, como interventor.

Uma oposição diferente foi organizada em Goiás. Oposição disposta a lutar contra a ditadura e seus malefícios. Sem se deixar contaminar pelas benesses do poder. Assim jovens, na maioria sem passagem por outras siglas partidárias, se organizaram no Movimento Democrático Brasileiro-MDB.

Em Anápolis, como Raul Balduíno fora eleito prefeito numa aliança PSD-PTB, a oposição foi composta por remanescentes do PSD, que preferiram o MDB, a serem liderados de Henrique Fanstone, chefe arenista no município. Novas lideranças, principalmente do setor estudantil, optaram também pelo MDB.

A diferença de comportamento e prática política entre as duas correntes era notória. Enquanto os oriundos do PSD faziam oposição a Henrique Fanstone, os jovens faziam oposição à nova ordem política instalada no País. Faziam oposição à ditadura.

O PSD anapolino, nas eleições de 1965, fez acordo, por baixo do pano, com parte da Arena, a liderada pelos Caiado, apoiando Otávio Lage de Siqueira ao governo, “cristianizando” Peixoto da Silveira, candidato do PSD. Em troca, a ala Caiado votaria em Raul Balduíno, PSD|PTB, abandonando Henrique Fanstone, de quem era inimiga.

O primeiro grande embate interno no MDB anapolino aconteceu nas eleições legislativas de 1966. As 15 cadeiras na Câmara Municipal eram preenchidas sistematicamente por representantes de famílias numerosas no município. Na primeira disputa entre emedebistas e arenistas, esse quadro mudou, com a vitória de Henrique Antônio Santillo, como o vereador mais votado de todos os tempos em Anápolis, com 1.536 sufrágios. A família Santillo era formada por cinco componentes que vieram de Ribeirão Preto-SP, na década de 40.

A extraordinária votação por ele obtida e a desastrosa atitude do juiz eleitoral ao não diplomá-lo, ao alegar ser ele comunista, ensejaram o surgimento do santillismo, símbolo da resistência democrática local.

Em 1969, Henrique Santillo (MDB) foi eleito prefeito, derrotando Luiz Vieira (Arena). Nas eleições legislativas do ano seguinte, 1970, o MDB elegeu dez vereadores e a Arena os cinco restantes. Pelo MDB foi reeleito Anapolino de Faria a deputado federal, enquanto fui eleito deputado estadual. Assim que a Mesa Diretora da Câmara foi eleita, composta só por vereadores leais ao prefeito Henrique Santillo, os emedebistas, oriundos do velho PSD, romperam com Henrique Santillo. Três vereadores que os acompanhavam, Linconl Xavier Nunes, Pedro Sergio Sobrinho e João Divino Cremonez, passaram a votar com os arenistas, em oposição a Henrique Santillo. O MDB, que tinha maioria folgada de 10 X 5, passou a ser minoritário de 7 X 8.

Tentaram afastar o vereador Valmir Bastos (MDB) da presidência da Câmara. Acusado de subversivo, foi preso várias vezes. Queriam na verdade afastar o prefeito Henrique Santillo, elegendo um presidente que fosse seu adversário. A bravura do presidente e a coragem dos santillistas, apoiados pelo deputado Anapolino de Faria, evitaram a violência dos adesistas.

Em 1972, para a sucessão de Henrique Santillo, os adesistas do MDB apoiaram o candidato arenista, Euripedes Barsanulfo Junqueira. Mesmo assim, a vitória do professor José Batista Júnior (MDB) foi consagradora. A derrota do professor Euripedes Junqueira, considerado uma reserva moral do partido e de grande prestígio popular, assustou os arenistas de Goiás. Cansados de apanhar, decidiram tirar a autonomia política de Anápolis, transformando-a em Área de Interesse à Segurança Nacional.

A violência aconteceu em 28 de agosto de 1973, com base no AI-5, José Batista Júnior foi cassado e seu vice Milton Alves Ferreira, impedido de assumir o cargo. A Arena assumiu o poder em Anápolis, com a nomeação de Irapuan Costa Júnior.

O MDB continuou ganhando as eleições das quais o povo participava. Graças a isso tudo e à coragem que nunca faltou ao grupo, os santillistas ficaram conhecidos como “Irmãos Coragem”.

Em 1974, Henrique, candidato a deputado estadual e eu, candidato a deputado federal, aparecíamos no horário eleitoral, que era ao vivo, com o “pingue-pongue da verdade”, criticando a ditadura. Os “Irmãos Coragem” deixaram de ser marca meramente anapolina para ser de todo o Estado. Ao mesmo tempo, os Santillo foram conhecidos como os que metralhavam a ditadura. Daí a origem de “Irmãos Metralha”.

Sarney e Collor inviabilizaram Henrique Santillo

Publicado na edição de 11/03/2010 do jornal Diário da Manhã

Como secretário de Governo de Henrique Santillo em 1990, acompanhei todos os detalhes da angústia sofrida por ele, pela perseguição política praticada contra seu governo, pelos presidentes José Sarney e Fernando Collor de Melo.

Conhecendo a realidade de todos municípios goianos, e por ser municipalista, o governador assumiu consigo mesmo, compromisso de ajudá-los. Percorrendo todas as regiões conheceu de perto o sofrimento da população interiorana, decidindo que poderia como governador, melhorar a vida daquela gente. Na consulta que efetuou junto aos prefeitos definiu-se que asfaltamento urbano das cidades era a grande reivindicação.

Os prefeitos afirmavam que o extraordinário programa de pavimentação de rodovias estaduais feito pelo governo Íris Rezende, despertou na população de todos os municípios o interesse pela pavimentação urbana. Não possuindo recursos suficientes para execução do benefício, recorreram ao governador.

O Estado também não dispunha de recursos suficientes para atende-los. Não queria ajudar alguns deixando outros ao abandono, elaborou projeto que beneficiasse todos, levando-o a apreciação do presidente José Sarney e do ministro do Desenvolvimento Urbano, Prisco Viana. Gostaram do que viram e se comprometeram fazer empréstimo especial a Goiás, pela Caixa Econômica Federal.

Henrique Santillo autorizou o diretor geral do Dergo, João Batista Alves, criar o Programa de Pavimentação Municipal – PPM. Em pouco tempo milhões de metros quadrados de asfalto cobriram as principais vias públicas de todas as cidades goianas. A pavimentação urbana feita pela administração Henrique Santillo às cidades goianas, se em rodovias, daria para asfaltar uma estrada de Goiânia a Uberlândia, em duas pistas.

Cidades ganharam visão urbanística nova. Moradores reformaram ou pintaram seus imóveis. Terrenos baldios logo receberam construções de ótima qualidade Os prefeitos construíram e ajardinaram praças, preservaram áreas ambientais e fizeram calçadas dos locais públicos. A limpeza foi implantada a partir da pavimentação em quase todas as cidades. Melhorou o padrão de saúde e vida da população.

Enquanto o serviço era realizado de forma ágil, fui com Henrique Santillo algumas vezes ao Palácio do Planalto, em busca da liberação dos recursos prometidos pelo presidente Sarney. De lá ele nos encaminhava para o ministro Prisco Viana, que por sua vez nos mandava para o Vioti, presidente da Caixa Econômica Federal. Essa ciranda do “jogo de empurra”, nós a realizamos no mínimo quatro vezes. Por fim, cansado e desiludido com tanto descaso e desrespeito, o governador Henrique Santillo encontrou uma solução doméstica para saldar a divida com as empresas que fizeram a pavimentação: emitiu Letras do Tesouro Estadual de longo prazo, tendo como avalista o Banco do Estado de Goiás-BEG, colocando-as no mercado, fazendo caixa para o Tesouro do Estado.

Collor, ao tomar posse, assinou decreto elaborado pela sua ministra do Planejamento, Zélia Cardoso, proibindo estados e municípios emitirem Letras do Tesouro, exigindo o resgate imediato das já emitidas. Ao governador Henrique Santillo não restava outra alternativa que não fosse resgatar as letras vendidas, pois caso contrário o BEG seria liquidado extra-judicialmente.

O governador foi ao Banco Central, acertou com o seu presidente Ebrahim Eris que o valor total das Letras do Tesouro por ele emitidas, seria pago nos 10 meses de administração que ainda lhe restavam, com retenção de parte do Fundo de Participação dos Estados, que o Tesouro Federal repassa mensalmente aos Estados. Sem contar com o FPE completo, Henrique Santillo evitou que o BEG fosse liquidado, pagou a divida do PPM e se inviabilizou administrativamente.

domingo, 14 de março de 2010

Santillo e a soberba, por Waldemar Curcino de Morais Filho

Publicado no jornal Diário da Manhã

Creio que a melhor maneira de prestar uma homenagem a Henrique Santillo, nestes cinco anos após sua partida, que vão se completar em junho, é não ter medo e ser sincero em falar do seu estilo de vida. Digo isso porque ele deixou para um pequeno grupo, que não viveu em êxtase com o poder e riquezas, o legado de não comungarmos com a soberba e seus predicados como a empáfia e a vaidade. A inveja e a soberba, de certa forma, caminham próximas nas situações do dia-a-dia e é um sentimento variável de acordo com os indivíduos, embora, ao pobre, seja mais difícil exercê-la. O soberbo tende a se mostrar, enamorado que vive de sua própria existência e, ao se exibir, desperta a inveja nos outros. Gente como Santillo, com seu cabedal de inteligência, humanismo, generosidade, despertava a admiração nos outros, tornava o mundo melhor de ser compreendido pela simplicidade com que interagia com o poder.

Santillo veio de uma família muito simples, imigrantes da Itália; teve uma infância difícil, juventude cheia de lutas, tentando por meio do estudo, com o que Deus lhe deu de especial, a inteligência, um lugar ao sol. Na fase adulta não se acomodou em ser apenas um médico, partiu para as lutas políticas, culminando com mandatos políticos populares. Nos mandatos que exerceu no Legislativo e Executivo priorizou sempre o ser humano, na essência do amor e respeito ao próximo. Santillo parece ter aprendido a, desde muito cedo, combater a soberba. Sempre evitou a ostentação, conteve as vaidades e olhava o mundo não a partir de si mesmo, mas principalmente pelo que percebia ao seu redor, comparava, analisava e traçava suas metas com virtude e solidariedade.

Convivi com ele 22 anos, desde o tempo de senador, como assessor e secretário particular. Pude testemunhar o modo simples de vida que ele preservou desde a sua infância até a sua partida. Transmitia que o mais importante que o cargo era o ser humano. Sofria com o sentimento do seu semelhante. Apesar da aparência sisuda se comprazia com a alegria, sobretudo a dos amigos e familiares. A despeito de sua vasta cultura, tinha interesse em dialogar com os menos cultos. Nunca ouvi nem o vi faltar com respeito com seu semelhante, nem usar de artimanhas para tentar atingir algum adversário político. Sempre os respeitava e mantinha as divergências no campo das idéias.

Considerava a vaidade e a soberba como defeitos dos piores, porque enganam a nós mesmos e nos faz perder o sentido das proporções e, não raro, nos levam a cair no ridículo, porque sempre haverá alguém mais forte do que nós. A tendência comum dos indivíduos em criar gosto pela ostentação e pelo prazer eram banalizados no pensamento deste grande homem público, que afirmava sua identidade por elevados princípios e valores éticos. A vida para ele era o Ser e seus bens eram o seu modo de existência pessoal e sua vida essencial, traduzida em sua privacidade, partilhada por poucos. Buscava orientar sua equipe de forma a diminuir as angústias da existência e delatando as armadilhas das regras sociais dos grupos que muitos sonhavam participar. Em função disso, mostrou, não a muitos, mas a apenas pouquíssimas pessoas do seu ciclo pessoal, que não vale a pena exercer um determinado poder e querer se transformar em um rei, em que todas as coisas e pessoas lhe pertencem, em que é o dono do mundo ou simplesmente se arvora em Deus. Não vale a pena! É melhor partir como Santillo partiu, não deixando seu semelhante com sentimento ruim no coração. Resumiria a humildade de Henrique Santillo à vida de Jó 1:21, escrito no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada: “Nu saí do ventre da minha mãe, e nu tornarei para lá”.

O que ele estaria pensando se estivesse convivendo no mundo atual com número acelerado de escândalos e atitudes de determinadas pessoas. Acredito, pelo que conheci, que mesmo assim continuaria acreditando na espécie humana.

Nos últimos anos de sua vida o grande prazer que ele tinha era a convivência familiar, quando por inúmeras vezes presenciava-se nele um belo sorriso ao receber um amigo.

Apesar do interesse de muitos “amigos” em esconder e fugir das idéias de Henrique Santillo, elas ficarão gravadas nas mentes e corações das pessoas de bem.

Waldemar Curcino de Morais Filho
foi secretário particular de Henrique Santillo

A melhor defesa: sua vida e sua obra, por Adhemar Santillo e Romualdo Santillo

Publicado no jornal Diário da Manhã


Ele era um homem que estava bem à frente de seu tempo. Acreditava nas pessoas e sonhava com um mundo melhor, mais justo, mais humano, com uma distribuição de rendas e riquezas que realmente elevasse o nível de vida de todos, não apenas de alguns poucos privilegiados. Via cada cidadã, cada cidadão, via todos como agentes, participantes e beneficiários das mudanças sociais e econômicas. Não admitia que o povo fosse apenas um mero espectador do progresso e, muito menos, um instrumento de manobras em mãos de políticos sem escrúpulos.

Ele tinha aversão ao populismo.

Quantas obras públicas construiu quando governador de Goiás, entregou-as aos goianos sequer as inaugurando? Sem festas, sem bandas de música, sem foguetórios, sem gastanças em propagandas impressas e televisivas? Era ele um político diferente. Avesso às promoções pesssoais, perseguia tenazmente o ideal de seus sonhos, sem jamais pisotear na dignidade de quem quer que fosse para atingir os seus objetivos.

Em 1987, Henrique Santillo recebeu o Estado com uma dívida equivalente a 2 bilhões de dólares, a parte da receita futura comprometida com antecipações. Os servidores estaduais estavam em greve, e voltaram ao trabalho, dando-lhe um voto de confiança. Não se arrependeram disso, pois Santillo, naquela época de inflação galopante, nunca deixou que os salários do funcionalismo público se defasassem. Até hoje, grande parte dos servidores estaduais tem saudades da política salarial que foi adotada por ele em seus quatro anos de governo.

Mal tinha organizado a casa, ocorreu o episódio do Césio 137. Uma cápsula de aparelho radiológico, contendo material radioativo, foi achada nos escombros da antiga Santa Casa, no Centro de Goiânia, por um catador de papel e ferro velho, e cuja história os goianos e os brasileiros conhecem muito bem. Naquele episódio, praticamente sozinho, Henrique Santillo teve inclusive de definir onde depositar os rejeitos, uma vez que o governo federal, responsável pela fiscalização e pela destinação desse tipo de material, cruzou os seus braços, enquanto, interminavelmente, o Congresso Nacional discutia se mandava ou não aquele lixo para a Serra do Caximbo, no Pará, o que contava com a oposição ferrenha de todos os políticos do Norte e do Nordeste do País. Comandando pessoalmente, com auxílio da Polícia Militar do Estado de Goiás, levou o material radioativo para Abadia de Goiás, onde seria um depósito provisório. Hoje, passados quase vinte anos, o provisório virou permanente. Se fosse depender de decisão federal, até hoje o lixo atômico estaria no Centro de Goiânia. À época, Santillo lutou bravamente contra a discriminação que a grande imprensa do País impôs aos goianos.

Mesmo com tantas dificuldades, Henrique Santillo deu um avanço substancial na área de saúde do Estado, construindo sete Cais em Goiânia, cinco nas cidades do interior, dez hospitais regionais e o Hugo (Hospital de Urgências de Goiânia), 30 postos de saúde na capital, aumentando de 20 mil para 250 mil pessoas o atendimento médico público. Cidades menores que não contavam com médicos receberam 600 agentes de saúde treinados, um programa de saúde pública pioneiro no Brasil.

Levou água potável a praticamente todos os municípios de Goiás. Aumentou de 600 mil para 850 mil o número de famílias atendidas pelos serviços de energia elétrica, com programas sociais que iam de tarifas menores aos padrões econômicos fornecidos pela própria Celg. Assim foi no Jardim Tiradentes, no Jardim Curitiba, em bairros pobres de todos os centros urbanos de Goiás, onde milhares de famílias tiveram acesso a esse benefício. Mais de 46 mil famílias de mini e micros produtores rurais foram atendidas pelo programa de eletrificação rural.

Criou a Universidade Estadual de Anápolis (Uniana), construiu a Usina Hidrelétrica de São Domingos, dotou Anápolis do mais moderno sistema de coleta e tratamento de esgoto sanitário e deu início às obras da Estação de Tratamento de Esgotos de Goiânia.

Construiu 623 quilômetros de asfalto em ruas e avenidas de todas as cidades de Goiás, no mais arrojado programa municipalista já visto no Estado. Antes de iniciar esse programa de pavimentação municipal, Santillo conversou com o presidente Sarney, que se comprometeu em financiá-lo pela Caixa Econômica Federal. Com o passar dos meses, as obras em andamento em todos os municípios, aconteceu a Convenção Nacional do PMDB para escolha do candidato à Presidência da República, e o preferido de Sarney ficou em terceiro lugar, o que o irritou profundamente. Assim, o presidente encontrou um modo de retaliar o governador Henrique Santillo, a quem ele responsabilizava pela derrota do seu candidato. O governo federal não honrou os compromissos que foram assumidos com o governador. Diante da ação intempestiva do presidente, Santillo se viu obrigado a emitir letras do tesouro estadual, para saldar os compromissos assumidos com as empresas pavimentadoras do PPM. Com a chegada de Fernando Collor de Melo à Presidência da República, foi baixado decreto cancelando todas as letras emitidas pelos Estados, tornando sem feito aquelas emitidas por Goiás. Para não sacrificar o Banco do Estado de Goiás, que era avalista das letras, cuja liquidação extra-judicial poderia ser decretada pelo governo federal, Henrique Santillo negociou com o Banco Central do Brasil o pagamento de toda a dívida, até o final do seu governo (o que foi feito), com parte do Fundo de Participação dos Estados. Dessa forma, tais episódios desestabilizaram a sua administração no último ano de governo.

Embora fosse seu plano candidatar-se ao Senado em 1990, entregando o governo ao presidente da Assembléia Legislativa, deputado Milton Alves (uma vez que Roriz, vice-governador, estava governando Brasília), Santillo resolveu permanecer no cargo até o último dia, enfrentando, ele mesmo, as dificuldades que adviriam na reta final de sua administração.

Portanto, Henrique Santillo não precisa de ninguém para o defender de nada. Sua melhor defesa é sua vida e sua obra.

Adhemar Santillo
ex-prefeito de Anápolis e ex-deputado por Goiás

Romualdo Santillo
ex-deputado estadual de Goiás

sábado, 13 de março de 2010

Atletismo promovendo cidadania

Publicado na edição de 20/01/2010 do jornal Diário da Manhã

No próximo dia 5 de fevereiro, em Manaus, a Confederação Brasileira de Atletismo escolherá seus membros que integrarão o Comitê Nacional visando as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Esse elenco de desportistas trabalhará também nos Jogos Sul-Americanos, Pan-Americanos e Campeonato Mundial, que acontecerão antes das Olimpíadas no Brasil.

Até agora o Comitê Nacional tem sido composto por dirigentes de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, como representantes da Região Sudeste e Pernambuco, do Nordeste. Desta vez as federações que ainda não participam na composição do grupo organizador dos jogos pela CBA decidiram se unir para garantir um integrante compondo o Comitê. Por unanimidade estão indicando Genivaldo José Caixeta, presidente da Federação Goiana de Atletismo. Se a escolha se desse por votação dos filiados, sua vitória seria consagradora, por 18 votos a favor contra 9. Os dirigentes da Confederação, sentindo a força das federações, adiaram a escolha para fevereiro, em Manaus.

Como democracia interna é a vontade da maioria dos que comandam o atletismo no Brasil, um goiano deve compor o Comitê Nacional para as Olimpíadas de 2016, ao lado de outros quatro integrantes tradicionais.

Conhecendo a luta desse anapolino apaixonado pelo esporte, sei que a liderança de Genivaldo José Caixeta junto aos seus colegas presidentes das federações estaduais é fruto da dedicação, trabalho e respeito que conquistou ao longo do tempo. Humilde, desprovido de ambições pessoais, Genivaldo desde criança, dedicou sua vida à pratica esportiva. Iniciou no caratê e desenvolveu a prática esportiva do atletismo. Trabalhou voluntariamente no preparo físico de centenas de crianças e jovens do Conjunto Filostro Machado, Setor Industrial Munir Calixto, Vila Esperança, e outros bairros periféricos de Anápolis. Muitos dos seus alunos se destacaram no atletismo, mas faz questão de afirmar: “todos se tornaram verdadeiros cidadãos”.

Quando, há mais de l0 anos, eleito presidente da Federação Goiana de Atletismo, Genivaldo sabia que o desafio não seria pequeno. Dirigir entidade de um esporte pouco valorizado e praticado no Estado, sem estrutura e quase sem apoio do Poder Público, a tarefa seria gigantesca. Hoje preside uma entidade que conta com mais de três mil atletas. Grande parte deles é bolsista, num trabalho conjunto dos governos estadual e federal. A região do sudoeste goiano tem sido a que mais se destaca na formação de adeptos do atletismo.

Genivaldo sente-se orgulhoso por constatar a transformação que o esporte promove na vida dos jovens. Geralmente oriundos de famílias pobres, moradores da periferia das cidades ou da zona rural, ao serem convocados para representar sua cidade e o Estado em maratonas esportivas, estes jovens voltam após os campeonatos como verdadeiros heróis. Passam a ser atração e motivação para outros adolescentes. Ao ter a satisfação de se hospedar em hotel de luxo, conviver com atletas famosos, viajar de ônibus ou avião e ainda ter foto estampada em noticiários esportivos, esses atletas são os maiores responsáveis para que outros garotos, muitas vezes já com desvio para as drogas, infrações e pequenos crimes, decidam praticar o esporte.

É a transformação que está acontecendo na vida do Babaçu. Um caçador e contador de histórias no município de São Miguel do Araguaia. Genivaldo conta que quando o conheceu, além de caçar e contar histórias, era bebedor compulsivo e já havia se envolvido algumas vezes em pequenos crimes. Ao tomar gosto pelo atletismo, mudou de vida. Deixou de beber e já não é notícia na crônica policial. Babaçu é hoje um atleta alegrando a população de São Miguel do Araguaia com suas histórias de caçador.

“Pela dedicação que tem demonstrado e progresso alcançado, Babaçu será brevemente uma referência no atletismo goiano”, garante Genivaldo José Caixeta.

Henrique Santillo, Celg e Tocantins

Publicado na edição de 14/01/2010 do jornal Diário da Manhã

Quando se discutia sobre o responsável pelo endividamento do Estado, Henrique Santillo já havia falecido e alguns procuraram lhe atribuir a maior fatia da dívida. No instante em que se procura descobrir as verdadeiras causas da falência da Celg e os responsáveis pela sua astronômica dívida, os debates parecem seguir o mesmo caminho. Não conseguirão fabricar documentos para incriminá-lo. Sua vida pública foi toda dedicada ao trabalho, correção em seus atos e zelo na aplicação do dinheiro público.

Relatório encomendado pela Assembleia Legislativa de Goiás, à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade do Estado de São Paulo (USP), conclui que, de 1984 a 2008, a Celg conseguiu lucro em 9 anos e prejuízo nos outros l6. Assim, sua dívida até 31/12/2008 era de R$ 4,l bilhões. Destes, só no período analisado de 25 anos, foi de R$ 2,1 bilhões. Metade do endividamento total da empresa.O patrimônio líquido da Celg equivale a l/8 do seu endividamento.

O nome de Henrique Santillo neste debate sobre a falência da Celg só apareceu porque boa parte do patrimônio da empresa foi transferida para o Estado do Tocantins. Ainda como senador, Henrique Santillo visitou todos os municípios do norte e nordeste de Goiás e ficou impressionado com a pobreza que presenciou. Agricultores, pequenos sitiantes e chacareiros, posseiros, garimpeiros e moradores ribeirinhos do Araguaia e Tocantins vivendo numa miséria absoluta. Assumiu com aquela gente e consigo mesmo que, chegando ao governo do Estado, resgataria a dignidade e cidadania de uma população secularmente explorada.

No segundo ano da administração, Henrique Santillo foi consultado por Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, se era a favor ou contra a divisão de Goiás. O governador não só afirmou ser favorável como conversou com os líderes partidários para que apoiassem a proposta de Siqueira Campos. Assembleia Nacional Constituinte dividiu o Estado de Goiás em dois. Acima do paralelo l3, ficou o Tocantinas e abaixo, continuou Goiás. Além dos seus milhares de clientes, a Celg transferiu para a nova unidade federada todo seu patrimônio. Representou, segundo o documento da Fipe, R$ l,5 bilhão. Não se tratou de venda ou doação do patrimônio da empresa, mas de cumprir decisão dos constituintes de1988. Saíram do patrimônio da Celg por força legal e absoluta falta de condição de continuarem em Goiás.

Torna-se obrigatório afirmar que na, administração de Henrique Santillo, a Celg levou energia elétrica a milhares de propriedades rurais, num trabalho social de grande alcance. Solucionou a falta de energia ou a precariedade da existente, em regiões como da Estrada de Ferro e Caldas Novas, que impossibilitavam o desenvolvimento normal das cidades que as compõem. Implantou a segunda linha de transmissão para o Distrito Agroindustrial de Anápolis-Daia, afetado pelos constantes apagões. Construiu a estação rebaixadora do setor Victor Braga, que dobrou a capacidade de atendimento aos anapolinos. Construiu a usina de São Domingos, para atender cidades do nordeste goiano, até então servidas por pequenas usinas ou geradores estacionáros.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Parlamentares prestigiam turismo

Publicado na edição de 07/01/2010 do jornal Diário da Manhã

O patrimônio histórico e turístico do Brasil há muito tempo precisa de melhores cuidados. Casarões, igrejas e marcos históricos do ciclo do café, do ouro ou dos desbravadores bandeirantes estão total ou parcialmente destruídos. Isso pode ser visto por quem visita Pilar de Goiás ou o distrito de Traíras, em Niquelândia. As principais relíquias da época colonial, edificadas com esmero e competência pelos seus construtores, usando a matéria-prima existente naquele instante, desapareceram pela ação do tempo e descuido das autoridades.

Em alguns casos tem faltado vontade política aos governantes para a preservação dessa memória histórica. Em l749, Bartolomeu Bueno da Silva, neto do Anhanguera e filho do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, que veio para Goiás com a decisão de aqui morar, edificou às margens do Rio Corumbá, na divisa dos atuais municípios de Pires do Rio e Urutaí, um porto para a passagem dos viajantes que vinham do Sul e instalação de uma pousada com fornecimento de cama e refeição. Se não foi o primeiro porto, com certeza foi o primeiro hotel do Estado. Uma das reportagens sobre essas atividades dos descendentes dos Bueno foi realizada pelo jornalista Moisés Santana, no início do século passado. Sendo esse um dos principais acontecimentos históricos de Goiás, deveria ser preservado. Poucos em Pires do Rio e Urutaí sequer sabem dessa história.

O Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está encaminhando reivindicação ao setor competente da área federal, pleito de cinco cidades goianas (Goiânia, Pirenópolis, Goiás, Corumbá e Pilar), para restauração e conservação do seu patrimônio tombado pelo Iphan. O pedido está sendo examinado pelo ministério da Cultura. Se aprovado, receberia recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O ministério do Turismo também pode ajudar nesse serviço de restauração. Afinal, essas obras promovem a visitação dos turistas.

Na sua edição do dia 4/01/2010, o jornal O Estado de S. Paulo publicou notícia nas suas páginas 1 e A4 que, à primeira vista, parecia ser a solução da falta de recursos para essa área e o zelo e civismo dos senadores e deputados federais para com o incentivo ao turismo. Sob o título “Turismo supera saúde e educação em emendas”, o jornal noticia que “no ano eleitoral, o Ministério do Turismo desbancou as pastas da Saúde, da Educação e de Cidades e assumiu o topo no ranking no Orçamento da União, com R$ 1,714 bilhão em emendas parlamentares”.

Ao ler a manchete do Estadão, ao mesmo tempo que assistia pela televisão o drama do desastre ocorrido em São Luís do Paraitinga (SP), que teve praticamente todo seu patrimônio histórico da época do café, à base de “taipa pilão”, destruído pela enchente do Rio Paraitinga, deduzi que, conhecendo como conhecem todas as cidades brasileiras, os parlamentares teriam se lembrado dessas relíquias já destruídas e que continuam desaparecendo e, por isso, teriam reforçado o Orçamento da União para 2010.

O jornal prossegue detalhando a opção enigmática e repentina de praticamente todos os deputados federais e senadores pelo turismo: “O ministério tem uma verba para financiar eventos, como shows, que saem sem licitação e em até dois meses após autorizado o pagamento da emenda.” Aí está a razão de tanto dinheiro para o Ministério de Turismo. Nada para restauração de relíquias destruídas e tudo para o show da reeleição.

Os bons e fortes também morrem

Publicado na edição de 31/12/2009 do jornal Diário da Manhã

Somente o mistério dos desígnios de Deus, para aceitarmos acontecimentos que a todo instante ocorrem nas nossas vidas e que não podem ser explicados pela razão. Aceitamos porque são reais, verdadeiros, mesmo que não tenhamos respostas lógicas para eles. Há pouco tempo o médico e político anapolino, Oscar Soares de Azevedo Júnior, depois de passar alguns dias de descanso em Saquarema-RJ, morreu ao receber cabeçada num choque involuntário com um companheiro de viagem. Fato doloroso, de difícil esclarecimento. Agora, na semana passada, outro fato triste, misterioso, sem nenhuma lógica, abalou a cidade.

O advogado Paulo Antônio Lopes, figura respeitada e admirada em Anápolis, depois de ter vencido doença misteriosa que o consumia paulatinamente, perdeu tragicamente a vida numa fazenda de Porangatu. Paulinho, cidadão exemplar e humilde, desde cedo trabalhou para ajudar a família e manter seus estudos. Enfrentou durante a vida toda desafios grandiosos. Formou-se em direito e com sabedoria e competência exerceu a profissão. Em 1986, na minha primeira administração como prefeito de Anápolis, contei com a colaboração de Paulo Lopes na secretária de Estradas de Rodagens. Foi o tempo em que as rodovias municipais tiveram maior assistência, facilitando o escoamento da produção rural. Era o primeiro a chegar ao serviço e não tinha hora para retornar à casa. Sereno, fala baixa e pausada, firme em suas decisões, comandava com competência sua secretaria. Era amado e respeitado por todos seus subordinados. Desempenhava qualquer missão, mesmo as difíceis e de alto risco, com sabedoria de um veterano no assunto.

Antes de deixar a prefeitura, Paulo Lopes adoeceu. Emagreceu, ficou pálido e anêmico. Sua fraqueza orgânica era indisfarsável. Passou pelos consultórios dos mais competentes e renomados profissionais da medicina no Brasil. Depois de anos de sofrimento e angústia, conseguiu interromper o definhamento causado pela doença. Recuperando a saúde lenta e progressivamente, Paulinho tinha ânimo e prazer em trabalhar.

Esse homem por vários anos esteve entre a vida e a morte e nunca se entregou. Resistiu heroicamente a enfermedidade desconhecida. Num dos raros momentos de descanso, encontrou a morte de forma inesperada e violenta. Foi massacrado por furiosos touros nelores, numa fazenda entre Porangatu e Novo Planalto, no norte de Goiás. Estava lá atendendo convite dos proprietários, que são seus primos. Mesmo não tendo a força de um jovem e traquejo de vaqueiro, fez questão de acompanhar a vacinação do gado no curral. Desconhecia a fúria dos bois que lá se encontravam, atentos às vacas e novilhas no cio, no pasto ao lado. Ao adentrar o curral, a porteira foi fechada. Paulinho não teve como esboçar nenhuma reação de defesa quando os touros partiram na sua direção. Foi praticamente esmagado, ao ser chifrado e pisoteado pelos animais.

Sua vontade de viver, dessa vez foi menor que ferimentos sofridos. Rcebeu os primeiros socorros em Porangatu e de lá foi deslocado para o Hospital de Urgências de Anápolis, onde morreu na tarde de 21 de dezembro. Fatos estranhos e misteriosos como os ocorridos com Oscar Soares de Azevedo Júnior e Paulo Antônio Lopes provam que os bons e fortes também são mortais.

O verdadeiro significado do Natal

Publicado na edição de 24/12/2009 do jornal Diário da Manhã

Natal é um momento mágico na vida do cristão. Cidades inteiras decoradas adredemente com enfeites e luzes multicoloridas. Músicas alegres, povo feliz, sorridente, se abraçando deixando para trás todo e qualquer ressentimento. Natal é o momento em que predomina o amor ao próximo. Alguns mais dispostos, como fazia Betinho, o irmão de Henfil, trabalhava o ano inteiro arrecadando gêneros alimentícios para que todos pudessem passar o Natal sem fome. Só um acontecimento extraordinário como esse seria capaz de criar corrente tão ampla de solidariedade. Mesmo com festa tendo mais conotação mercantilista que religiosa, o Natal é acontecimento inefável.

Se toda essa alegria sobrenatural que reverencia e realça a figura de Papai Noel, aparentemente garoto propaganda das atividaddes comerciais, fosse compartilhada com os ensinamentos de Cristo, a alegria seria completa. A solidariedade humana que aflora nos festejos natalinos seriam uma constante na vida das pessoas e não apenas um episódio passageiro. Não haveria pequena parcela com exagerada concentração de riquezas e multidões de miseráveis famintos espalhadas por toda face da terra. Nos ensinamentos que o Filho de Deus nos deixou não há espaço para corrupção, roubalheira, enriquecimento ilícito e todo tipo de injustiças sociais. Esse é o detalhe fundamental que tem sido esquecido na comemoração do Natal.

A posição radical de líderes religiosos defendendo fatos científicos equivocados, como o de que o sol girava em torno da terra , não a terra que gira em torno do sol, deu margens para que ateus se fortalecessem, com a tese de que Deus estaria morrendo. Pra imediatistas tem sido mais fácil promover Papai Noel que o aniversariante Jesus Cristo. Isso tudo pode ser fruto do confronto religião x ciência;

A escritora irlandesa Karen Armstrong, em seu livro The case for God (Uma defesa para Deus), que será lançado em 2010 no Brasil, afirma que o confronto entre as idéias de Deus e dos livros sagrados com a ciência acabou por cercear a mente humana, restringindo-a a deter apenas aquilo que pode ser cientificamente comprovado. Para Karen as três leis da mecânica clássica, do físico inglês Isaac Newton e a teoria da evolução da espécie do naturalista inglês Charles Darwin, tiraram da fé, um dos seus principais ingredientes: a capacidade humana de vislimbrar o inconcebível. “Esse conflito entre ciência e religião acabou nos afastando das formas mais puras da fé. As pessoas esqueceram que a razão e o mito sempre foram complementares no ser humano”, diz ela. E mais: “Somos por natureza, criaturas em busca de sentido. O Homo sapiens é, também, o Homo religiosus. A religião não existe para nos explicar a origem do Universo. Esse é o papel da ciência. As religiões nos ajudam lidar com os aspectos da vida para os quais não existem respostas fáceis: a morte, a dor, o sofrimento, as injustiças da vida e as crueldades da natureza.” Para a escritora cristã, Deus não pode ser tratado como um ente supremo, mas sim como o mistério que foi, é e será. As quedas de algumas das teorias religiosas como a origem da terra e a vida que nela habita, não negam a existência Deus. Devemos separar as coisas e entender a ciência como a presença Deus a serviço da humanidade.

Unindo os princípios cristãos com a festa secular que acontece no Natal, o 25 de dezembro deixará de ser apenas a marca de dia alegre e festivo para se transformar num compromisso de vida nova e formação de uma sociedade mais solidária.

terça-feira, 2 de março de 2010

Biografia pela Fundação Getúlio Vargas

A Fundação Getúlio Vargas publicou Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro narrando os aocntecimentos mais importantes na vida do país no período de 1930 a 1983. Este trabalho teve a Coordenação de Israel Beloch e Alzira Alves de Abreu, editado pela Forense Universitária, em 1984, composto de quatro volumes.

O Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas, no volume IV, páginas 3079 e 3080 faz a seguinte referência sobre Adhemar Santillo:


SANTILO, Adhemar


Deputado Federal por Goiás em 1975


Adhemar Santillo nasceu em Ribeirão Preto-SP no dia 13 de novembro de 1939, filho de Virginio Santillo e de Elydia Maschietto Santillo. Seu irmão, Henrique Santillo, foi deputado estadual em Goiás de 1975 a 1979 e senador pelo mesmo Estado a partir de 1979. Iniciou sua vida política como chefe de gabiente do prefeito de Anápolis,GO, elegendo-se em 1970 deputado estadual em Goiás na legenda do Movimento Democrático Brasileiro. Assumindo o mandato em fevereiro do ano seguinte tornou-se nesta lesgislatura vice-líder da bancada de seu partido na Assembéia Legislativa. Em novembro de 1974 elegeu-se deputado federal por Goiás, ainda na legenda do MDB, assumindo uma cadeira na Câmara em fevereiro do ano seguinte após o término de seu mandato na Assembéia em janeiro anterior. Nessa legislatura foi membro da comissão de serviço Público e suplente da Comisssão de Desenvolvimento da região Centro Oeste. Integrante do grupo neo-autêntico, ala mais radial do MDB, engajada na denúncia da repressão policial aos estudantes e na defesa dos direitos humanos e da Constituinte-, foi eleito em 1977 2º Vice Presidente da Câmara. Na opinião dos moderados de seu partido lançou sua candidatura à Mesa Diretora da Câmara para criar problemas ao candidato Juarez Bernardes, também representante de Goiás que contava com apoio da maioria dos dirigentes do partido. Em novembro desse mesmo ano reuniu-se com mais de quinze deputados e com o Marechal Osvaldo Cordeiro de Farias para discutir a respeito da formação de uma Assembléia Constituinte e do processo de abertura política que começava a ser ensaiado no governo do General Ernesto Geisel (1974-1979).


Em novemro de 1978 reeleeu-se deputado federal na mesma legenda tendo sido o candidato mais votado em seu Estado. Ainda nesse ano deixou o cargo de 2º Vice Presidente da Câmara. Em março de 1979 apresentou um projeto propondo a revogação da lei que criou o Serviço Nacional de Informações – SNI e determinando as providências necessárias à incineração de documentos referentes a pessoas físicas e jurídicas dos arquivos desse órgão do Governo. Justificando sua proposta afirmou que o SNI “transformou-se numa verdadeira polícia política” que controlava a vida dos cidadãos, sendo portanto, “incompatível com a propalada intenção de abertura política”.


Com a extinção do bipartidarismo em novembro de 1979 e a consequente reformulação partidária, filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB, tornando-se nesse mesmo ano Vice-líder de sua bancada na Câmara, função que desempenhou até 1980. Em janeiro desse ano, quando seu irmão Henrique Santillo foi derrotado na reunião da executiva por Iris Rezende, escolhido candidato ao Governo do Estado de Goiás, passou, juntamente com o irmão para o Partido dos Trabalhadores – PT. Em abril seguinte declarou, em entrevista ao jornal O Globo, que o país atravessava grave crise econômica e que os partidos políticos deveriam forçar o governo a formar um novo pacto social, legítimo e efetivo, através da convocação de uma Assembléia Constituinte. Defendeu ainda, a revogação de todos os atos de exceção, a liberdade sindical, a liberdade de imprensa, o direito de greve, a organização partidária sem qualquer obstáculo, enfim, o restabelecimento pleno do estado de direito, que permitiria ao povo expressar livremente a sua vontade.


No início de junho de 1980 afirmou que sairia do PT em obediência às suas bases políticas ressentidas com o veto imposto em reunião do partido à quatro políticos e com a saída de dois deputados estaduais por divergências ideológicas. Após viagem de consulta às suas bases em 42 municípios, anunciou sua decisão de deixar o PT retornando ao PMDB. Seu irmão decidiu permanecer no PT apesar das tentativas de adeptos do PMDB de fazê-lo retornar a esse partido, o que viria ocorrer somente mais tarde. Ainda em junho pediu ao plenário da Câmara a revisão da pensão concedida aos ex-presidentes da República e criticou o General Ernesto Geisel por ter aceitado o cargo de Presidente do Conselho de Administração da Cia Petroquímica do Nordeste (Copene)-maior empresa do polo de Camaçari-(Ba)- e de sua subsidiária, Nordeste-Química (Norquisa). Afirmou ainda que Geisel “alugou” a essa empresa “seu prestígio, todo seu conhecimento sobre segurança nacional e suas relações na estrutura do poder”. Nessa ocasião o ex-presidente da República foi defendido na tribuna da Câmara pelo deputado Alcides Franciscato, do Partido Democrático Social-PDS.


Em novembro de 1980 após uma palestra numa entidade feminina de Goiânia sobre partidos políticos, sentiu-se observado num restaurante, sendo logo depois perseguido em seu automóvel, o que o levou a buscar refúgio próximo a um quartel do Exército. Ainda em 1980 tornou-se membro da Comissão Parlamentar de Inquérito-CPI, encarregada de investigar as causas das elevadas taxas de juros do sistema financeiro nacional e relator substituto da CPI encarregada de apurar atos de corrupção praticados por órgãos da administração direta e indireta da União. Em abril de 1981 propôs que todos partidos de oposição realizasem convenções extraordinárias para fixar posição contrária à prorrogação dos mandatos dos deputados federais e estaduais e afirmou que o PMDB também era contrário à sublegenda, ao voto distrital e à vinculação de votos. Nessa ocasião, juntamente com o deputado Hélio Duque, do PMDB do Paraná, solicitou ao presidente da Câmara, deputado Nelson Marchezan, uma investigação junto ao Banco Central para apurar os nomes dos deputados que teriam recebido empréstimos do Banco do Estado de São Paulo-Banespa, por determinação do Governador do Estado, Paulo Salim Maluf, em troca do apoio à prorrogação de mandatos. Em agosto seguinte acusou o Governo na CPI que apurava a corrupção na administração pública, de incentivar essa prática nos órgãos federais, que haviam dificultado a ação do Tribunal de Contas da União – TCU, no exame das contas da Fiação e Tecelagem Lutfalla, pertencente à família do Governador Paulo Maluf, que sofrera intervenção governamental devido a irregularidades financeiras. Em dezembro desse mesmo ano a partir do relatório dos deputados que participaram dessa CPI, Santillo pediu providência no sentido da instauração de uma ação penal contra Paulo Maluf, Ibrahim Abi-Ackel, então Ministro da Justiça e José Paulo dos Reis Veloso, ex-Secretário do Planejamento, por crime contra a administração pública.


Em junho de 1982, visitando a cidade de Itapuranga-GO, juntamente com o senador Lázaro Barbosa, foi vítima de um atentado praticado por integrantes do diretório municipal do PMDB daquela cidade. Vários parlamentares foram unânimes em garantir, contudo, que o atentado constituía fato isolado não comprometendo a unidade do partido em Goiás. Durante essa legislatura integrou as Comissões de Ciência e Tecnologia e de Constituição e Justiça e foi suplente da Comissão de Agricultura e Política Rural da Câmara do Deputados.


Em novembro de 1982 reelegeu-se deputado federal por Goiás, ainda na legenda do PMDB.


Casou-se com Onaide Silva Santillo, com quem teve três filhos.


Fontes: Câmara dos Deputados; Câmara dos Deputados: Deputados Brasileiros

Repertório(8 e 9); O Estado de São Paulo (3.06.80; 31.03, 5.08, 12.12.81); Folha de São Paulo (24.04.81); O Globo (17.01, 27.04 e 10.06.80 e 24.04.81); Jornal do Brasil (02,11 e 12 de 77; 10.03 e 26.09.79; 10 e 27.06.80; 23.04 e 11.06 de 82); Neri, S. 16; Perfil (1980); Tribunal Superior Eleitoral, dados (9).

Vale a Pena Lutar

A certeza de ter realizado um trabalho digno em minha caminhada política é constatada no respeito que sempre tive dos colegas, adversários e imprensa.

Os principais jornais brasileiros, emissoras de rádio e televisão deram destaque especial à minha atuação como parlamentar, não só no MDB, como na minha rápida passagem pelo PT, em que, por decisão dos companheiros Deputados Federais Airton Soares, Antônio Carlos de Oliveira, Edson Kahir e Luiz Cecchinel, fui indicado líder da Bancada.

Ao denunciar mordomia do Ministro do Trabalho, com suas compras de alimentos e material de limpeza com recursos do Tesouro Federal, em quantidade mensal maior do que o estoque de um supermercado de tamanho médio, fui notícia de primeira página nos jornais e revistas do eixo Rio – São Paulo por várias semanas.

Na campanha para as eleições municipais de 1976, no Sul do país, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, os candidatos do MDB usaram a denúncia que fiz como propaganda eleitoral. Constatei pessoalmente isso quando estive em Rio Negrinho, Santa Catarina, juntamente com Luiz Henrique da Silveira, governador do estado, naquela época Deputado Federal.

Além dos livros contendo boa parte do meu trabalho como Deputado, “Da mesa Farta à Subnutrição”; “És Tu, ó Perturbador?” e “Escândalos: os frutos do Regime!”, tive a honra de ser citado por vários escritores famosos, como Carlos Eduardo Navaes, em seu livro “O Quiabo Comunista”.

Darcy Ribeiro, num de seus últimos livros também faz referência ao meu trabalho como parlamentar.

O jornalista Clovis Senna, numa de suas publicações, realça minha atuação na Câmara dos Deputados.

A revista Veja, quando publicou edição especial sobre seu jubileu de prata,deu destaque aos fatos mais importantes ocorridos no Brasil e divulgados pela revista, nos seus 25 anos de existência. Noticiou como fato importante a denúncia que fiz contra as mordomias na residência oficial do Ministro do Trabalho.

Foi imensamente gratificante ser lembrado por renomados escritores, sob a supervisão da FGV - Fundação Getulio Vargas, relacionando os brasileiros que mais se destacaram de 1930 a 1983. Parte da minha biografia é relatada naquela coleção de quatro volumes. Fatos históricos importantes estão nesta coleção, registrando a forma correta com que exerci os cargos públicos até aquele ano.

O trabalho de Antônio Fernandes de Oliveira, o Tonhão, contando minha vida em versos, na publicação “O Incansável Lutador” foi uma homenagem que me emocionou pela singeleza deste poeta autodidata e pela riqueza de detalhes da minha vida política.

Pela amizade e fidelidade dos companheiros e amigos e pelo carinho, atitudes e palavras generosas de pessoas anônimas, olho para o passado e revejo os caminhos que percorri e só tenho um sentimento:

Vale a pena lutar!

Cronologia da Violência

Primeiro de abril de 1964: Após ter sido eleito o primeiro presidente da União dos Estudantes Secundaristas de Anápolis pelo voto direto, Adhemar Santillo é destituído do cargo pelos integrantes do golpe que destituiu o Presidente da República João Goulart.


Maio de 1964: Adhemar Santillo é preso juntamente com médico Fuad Siad, acusados de pertencerem ao movimento clandestino Ação Popular (AP). Responderam a inquérito policial na Secretaria de Segurança Pública de Goiás.


Junho de 1964: Adhemar Santillo responde a Inquérito Policial Militar (IPM), comandado pelo Exército Brasileiro. Conclusão do IPM: não é encontrado nada que possa incriminá-lo.


Junho de 1964: Adhemar é impedido de trabalhar como radialista na Rádio Carajá de Anápolis ou qualquer outra emissora de radiodifusão da cidade pelo coronel Izacir Telles.


Agosto de 1964: Por determinação do coronel Epitácio de Brito, chefe de gabinete militar do governador Ribas Jr., Romualdo Santillo é preso por haver escrito no jornal Correio Braziliense, em sua coluna diária “O Que Se Comenta”, notícia em que fazia crítica à postura do coronel. Com seus jantares diários realizados no Palácio das Esmeraldas em Goiânia, o coronel buscava apoio a uma possível candidatura ao governo do Estado pela UDN, nas eleições que aconteceriam em 1965.


Dezembro de 1966: Henrique Santillo, eleito vereador da Câmara Municipal de Anápolis, deixou de ser diplomado pelo Juiz Eleitoral Manuel Luis Alves, sob a acusação de ser fichado como comunista na G2 da Polícia Militar de Minas Gerais. Henrique Santillo foi diplomado e empossado quando o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Goiás, em vista de documentos oficiais buscados por Adhemar em Belo Horizonte e acostados ao processo, atestou não ser Henrique fichado naquela corporação.


1969: Candidato a prefeito de Anápolis pelo MDB, Henrique Santillo teve seu registro de candidatura, diplomação e posse impugnados pelos adversários, sempre com denúncias e documentos falsos. A Justiça Eleitoral não deu provimento a nenhuma das denúncias, mandando-as ao arquivo.


Janeiro de 1971: Encerradas as eleições de 1970, Anapolino de Faria foi o candidato a Deputado Federal mais votado em Anápolis e Adhemar o mais votado para a Assembléia Legislativa. Integrantes do MDB do município, contrários aos Santillo, denunciaram Henrique Santillo, Anapolino de Faria e Adhemar Santillo à Polícia Federal, acusando-os de prática de corrupção eleitoral naquelas eleições. Foi designado o delegado Jesus Lisboa para a realização do inquérito que, concluído, ficou engavetada na Procuradoria Geral do Estado.


Janeiro de 1971: Dos quinze vereadores que compunham a Câmara Municipal de Anápolis, foram eleitos em 1970 dez pertencentes ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e cinco da Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Foram eleitos para a mesa diretora da Camâra, biênio 1971/1972, Antônio Marmo Canedo como Presidente, Walmir Bastos Riberio como vice-Presidente e Walter Gonçalves de Carvalho como Secretário, todos emedebistas e santillistas. Antônio Marmo Canedo faleceu no exercício da Presidência. Para substituí-lo, foi efetivado Walmir Bastos.


1972: Com a morte de Antônio Marmo Canedo, três vereadores do MDB (Lincoln Xavier Nunes, João Divino Cremonez e Pedro Sergio Sobrinho), não ligados a Henrique Santillo, passaram a votar de acordo com os cinco arenistas em oposição ao prefeito. Os adversários lutaram para que Walmir Bastos, Presidente da Câmara, aderisse à ala do MDB oposicionista a Henrique. Não conseguiram e passaram a perseguí-lo com auxílio dos órgãos de repressão, comandados pela Polícia Federal e Delegacia da Ordem Política Social do Estado, sendo preso por três vezes consecutivas. A última prisão de Walmir foi a mais violenta, pois foi retirado sob mira de metralhadoras de dentro do carro em que Adhemar lhe dava uma carona. Foi conduzido à Brasília e dele foi exigido que renunciasse à Presidência da Câmara e ao seu mandato de Vereador. Se cumprida, essa exigência abriria a vaga do Presidente da Câmara Municipal de Anápolis para os opositores ao prefeito. Com isso, usariam o documento do inquérito feito pela Polícia Federal e afastariam Henrique Santillo da Prefeitura. Das duas vezes anteriores, Walmir suportou todas as pressões. Dessa vez, contudo, não resistiu às torturas psicológicas e físicas. Acabou assinando sua renúncia ao mandato e entregou-a ao major Leopoldino, chefe da carceragem em que se encontrava nas dependências do Exército Brasileiro em Brasília. Alertado pelo Deputado Estadual Adhemar Santillo, o presidente nacional do MDB, Deputado Federal Ulysses Guimarães, denunciou a trama à nação e o documento assinado por Walmir Bastos à base da tortura nunca chegou a Câmara Municipal de Anápolis. Walmir cumpriu seu mandato até o final, o mesmo acontecendo com o Prefeito Henrique Santillo.


1 de fevereiro de 1973: Na madrugada do dia em que José Batista Jr. tomaria posse substituindo Henrique Santillo na prefeitura de Anápolis, policiais militares do estado invadiram os estúdios e transmissores da Rádio Carajá, pertencentes aos santillistas desde 1967, alegando cumprir ordens do Departamento Nacional de Telecomunicações (DENTEL). Afastaram os santillistas da sua direção, devolvendo-a ao seu antigo proprietário, Plínio Jayme.


Maio de 1973: Adversários do médico Henrique Santillo exigiram da direção nacional do Instituto Nacional da Previdência Social (INPS) seu descredenciamento daquele instituto, com o objetivo de forçá-lo a mudar-se de Anápolis ou abandonar a luta oposicionista. Algum tempo depois, médicos anapolinos forçaram o INPS a rever a punição, com Henrique sendo recredenciado.


Agosto de 1973: Sete meses após sua posse, o prefeito José Batista Jr. teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos por dez anos, com base no Ato Institucional n°5 (AI-5), pelo Presidente Emílio Garrastazu Médici. No mesmo dia, o município de Anápolis foi considerado área de Interesse à Segurança Nacional e o engenheiro Irapuan Costa Jr. nomeado Prefeito.


Setembro de 1973: Adversários dos Santillo, com auxílio da Polícia Federal e do DOPS estadual, prenderam vários integrantes do MDB de Anápolis, dentre eles ex-secretários do prefeito Henrique Santillo e líderes comunitários, levando-os para as dependências do DOPS em Goiânia. O objetivo era arrancar, sob pressão e tortura, denúncias contra Henrique e Adhemar Santillo. A trama só foi desfeita quando o Advogado Vicente Alencar, acompanhado de Adhemar, entregou pessoalmente ao Ministro do Exército, Orlando Geisel, completo relatório dos planos escusos que estavam acontecendo em Goiás.


Maio de 1974: Por determinação do Procurador de Justiça do Estado, o inquérito elaborado pela Polícia Federal em 1971 contra Henrique e Adhemar Santillo foi encaminhado ao Ministério Público de Petrolina, para que apresentasse denúncia contra os dois, com a finalidade de afastá-los da disputa eleitoral daquele ano. O Promotor Decil de Sá Abreu negou-se a fazer a denúncia e o processo foi encaminhado à comarca de Anápolis. Ali, o Ministério Público apresentou a denúncia, que não foi recebida pelo Juiz Eleitoral Clementino Alencar. Caso o juiz a aceitasse, os dois irmãos não poderiam disputar a eleição para Deputado Estadual e Federal como disputaram, pois a lei das inelegibilidades impedia registro de candidatura pela simples aceitação da denúncia pelo Judiciário para esse tipo de crime eleitoral.


25 do Maio de 1975: Rádio Santana Ltda., pequena emissora de rádio-difusão com 250 Watts de potência, adquirida pelos Santillo depois da invasão da Rádio Carajá, foi fechada por determinação expressa do Ministro das Comunicações Quandt de Oliveira. Deixava de ir ao ar o programa noticioso “O Povo falou, tá Falado”, que, desde 1967, era apresentado por Romualdo e Adhemar Santillo.

Meu trabalho registrado em Publicações

Eleito deputado federal nas eleições de 1974 continuei com a mesma garra e o mesmo destemor na defesa da democracia, fazendo oposição ferrenha a todos os atos arbitrários do regime militar instalado com o golpe de 64. Reeleito em 78 e 82, trabalhei incessantemente pelo restabelecimento dos direitos democráticos e em favor do emprego correto das verbas públicas.

Com farta documentação comprovei e denunciei mordomias no governo federal e corrupção nas instituições bancárias do governo estadual.

Da tribuna da Câmara dos Deputados combati a ditadura continuamente, fazendo corajosos pronunciamentos em favor da liberdade, da justiça, dos direitos humanos e do retorno à democracia.

Alguns destes pronunciamentos estão registrados em três publicações da Gráfica do Senado.


Da Mesa Farta à Subnutrição


Esta publicação deveria ser intitulada “Da mordomia à pechincha”.

Na época, o governo, através do ministro Delfim Neto, pedia à população para “pechinchar” nas feiras e no comércio. No entanto, chegou ao meu Gabinete, na Câmara dos Deputados, uma lista de compras para a cozinha do Ministro do Trabalho, Arnaldo Prieto, que mais parecia um estoque de supermercado.

O Deputado Marco Maciel, Presidente da Câmara dos Deputados, chamou-me pedindo que mudasse o título da publicação para evitar confronto e provocação ao Presidente Geisel, que estava tentando uma abertura democrática. O título do livro “Da mordomia à pechincha” poderia reacender a força dos radicais de direita.

Entendi a preocupação do presidente Marco Maciel e mudei o título, sem mudar o seu conteúdo que, em 1976, foi o ponto de partida para desmistificar a cruzada contra a corrupção alardeada pelo golpe militarista de 1964.

Na publicação especial de 25 anos da revista VEJA há uma referência a este meu pronunciamento como um dos mais importantes acontecimentos daquele período.

Na época tornou-se um orgulho dizer que a “Revolução” de 64 tinha vindo para acabar com a corrupção política, implantando a moralização nos gastos públicos.

O Ministro Delfin Neto era tido como o mago das finanças e alardeava que o resultado positivo do produto interno bruto, seria dividido assim que o “bolo” crescesse. Dessa forma, salários eram achatados e reivindicações trabalhistas eram ignoradas.

Campanhas públicas foram feitas para que a população fizesse o controle dos preços pedindo descontos, no que se chamou “campanha da pechincha”.

O principal aliado do Ministro Delfim Neto nesta cruzada era Arnaldo Prieto, o Ministro do Trabalho, encarregado de convencer a classe trabalhadora de que era preciso economizar, “pechinchar”, colaborando com o crescimento do “bolo”.

Em setembro de 1976, recebi de Soares Dutra, funcionário do Ministério do Trabalho, cópia da Tomada de Preços 8/75, para fornecimento diário de gêneros alimentícios e material de limpeza para a residência oficial do Ministro do Trabalho, alimentos, bebidas, refrigerantes e material de limpeza que seriam gastos no período de um mês.

De acordo com o documento, foram consumidos entre carne bovina, suína, frango, peixe ou crustáceos e dobradinha, 956 quilos; 600 quilos de arroz; 300 quilos de açúcar; 156 quilos de feijão; 135 quilos de macarrão; 201 quilos e mais 436 dúzias de frutas; 432 quilos de manteiga; 885 quilos de legumes e verduras; 1.296 garrafas de refrigerantes; 144 garrafas de suco de frutas; 90 latas de óleo de soja; 32 latas óleo de oliva; 90 dúzias de ovos...

Faziam parte da tomada de preços para o consumo mensal na residência do ministro, 194 itens como: azeite de dendê, araruta, catchup, farinha de rosca, gordura de coco, lentillha, amido de milho, pimenta malagueta, tomate, caquí, nozes, champignons, leite evaporado, chantili, bacalhau, toucinho defumado, patê, presunto defumado, filé mignon, carret de bisteca, rabada, queijo prato, queijo cremelino, queijo minas, queijo mussarela, queijo parmesão, orégano, camarão fresco e grande, filé de pescado, filé em posta, namorado, bom ar hortelã, bom ar de limão aerossol, limpa vidro shell, vassoura de piaçava, sabão de coco, cera branca e vermelha e uma infindável lista de gêneros alimentícios e material de limpeza.

Ao contrário do que acontecia normalmente com os discursos de deputados da oposição que eram ignorados pela imprensa e nunca causavam repercussão, jornais como O Estado de São Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e outros de circulação nacional fizeram a comparação entre as compras mensais de Ministro do Trabalho e um supermercado de tamanho pequeno. O Estadão publicou várias charges repercutindo o assunto. Numa delas, um garçom com um boi na bandeja satirizava o Ministro com seus quase mil quilos mensais de carnes, peixes e crustáceos. A variada e generosa despensa do ministro deu origem ao livro com alguns dos meus pronunciamentos na Câmara dos Deputados: DA MESA FARTA À SUBNUTRIÇÃO.

A revista VEJA, na comemoração dos 25 anos de sua publicação, fez referência a este assunto como um dos mais importantes naquele período.

A Presidência da República, com o objetivo de desqualificar as denúncias, procurou usar a mídia, quando o Ministro do Trabalho usou rede de rádio e televisão por 10 minutos, em horário nobre, para tentar explicar a questão. A tentativa não deu certo, já que as despesas haviam sido realizadas, pois a tomada de preços era de agosto de 1975 e estávamos em setembro de 1976. Não havia o que se justificar.

Além da repercussão alcançada na imprensa, o assunto passou a ser o mais comentado por toda a população. A palavra mordomia era relacionada com gastos da despensa do Ministro

A campanha eleitoral para prefeitos e vereadores em 1976, pelo MDB, era infalivelmente sobre o arrocho salarial e os gastos do Ministro do Trabalho. Em Rio Negrinho, Santa Catarina, as propagandas eleitorais impressas traziam a foto dos candidatos e no verso, o “Rancho do Ministro”, com todos os detalhes da tomada de preços do Ministério do Trabalho. Simpósios, encontros regionais do MDB em vários Estados, comícios e debates públicos reivindicavam a minha presença para apresentar a questão detalhadamente.

A repercussão foi tamanha que este pronunciamento, com estas denúncias, tem sido considerado pelos historiadores, como um primeiro e grande abalo que expôs a falsa austeridade do governo da época.



És Tu, ó Perturbador?


O nome desta publicação teve como inspiração uma passagem bíblica registrada no livro de Reis I, capítulo 18, num encontro do profeta Elias com o rei Acabe. Este rei, manipulado pela sua esposa, Jezabel, fazia horrores aos seus súditos, matando, ignorando os mais básicos direitos da pessoa humana, o que era combatido pelo profeta. Ao se encontrarem, o rei, invertendo a situação, recebe Elias dizendo: “– És tu, ó perturbador de Israel?”

Em abril de 1977 houve o fechamento do Congresso Nacional.

O Governo editou medidas de exceção, como a supressão de eleição direta para governadores prevista para o ano seguinte, estabeleceu eleição indireta de um senador pelas Assembléias Legislativas estaduais, escolhido dentro do partido majoritário naquela assembléia, e as arbitrariedades eram fatos corriqueiros.

O MDB só era maioria no Rio de Janeiro. Nos demais estados, a Arena era maioria. O pacote de abril suspendeu apresentação de programas políticos pelo rádio e televisão e ainda o Presidente Ernesto Geisel cassou o líder do MDB na Câmara, Deputado Alencar Furtado.

Esse foi o chamado ”Pacote e abril”. Sua origem foi em função das bancadas do MDB, Câmara dos Deputados e do Senado terem votado contra a Reforma do Judiciário, contrariando o desejo do general Ernesto Geisel. A reforma proposta e rejeitada não agradava ao Judiciário, Ministério Público e Ordem dos Advogados do Brasil. Mesmo assim, o general Geisel queria colocá-la garganta a baixo da nação e humilhar a oposição para que, de joelho, votasse pela sua aprovação. Como o MDB resistiu, foi fechado o Congresso Nacional e baixado o “Pacote de abril”, com inúmeros retrocessos na caminhada para o retorno democrático no Brasil.

Deste período, os pronunciamentos que fiz da tribuna da Câmara dos Deputados foram publicados em 1980, com o título: ÉS TU, Ó PERTUBADOR?

Nesta publicação está registrada, através dos pronunciamentos que fiz da tribuna da Câmara dos Deputados, a tática que o Governo da época utilizava, tentando impingir à oposição a culpa pelas mazelas que aconteciam no país. A capa da publicação se refere a uma conhecida fábula de Esopo, O lobo e o Cordeiro. O sistema autoritário da época agredia instituições, imprensa, movimentos populares e buscava colocar na atitude oposicionista a responsabilidade das insatisfações populares.



Escândalos:

Os Frutos do Regime


Nesta coletânea de discursos por mim proferidos na tribuna da Câmara dos Deputados, pude trazer ao conhecimento público a grilagem de terra no norte de Goiás e os privilégios e transações altamente irregulares que levaram enormes prejuízos à CAIXEGO - Caixa Econômica do Estado de Goiás, e ao Banco do Estado de Goiás, instituições que se transformaram em instrumento de enriquecimento ilícito de políticos e simpatizantes ligados aos governantes da época.

Tudo está comprovado com documentos oficiais nos anais da Câmara e na publicação da Gráfica do Senado, começando em maio de 1978, quando o BEG emprestou à empresa PROVALLE importância de 40 milhões de cruzeiros. Já era do conhecimento público, nesta época, o grande número de títulos de responsabilidade desta empresa, apontados ao cartório de protestos. Antes de completar 90 dias do empréstimo dos 40 milhões, por outros empréstimos e variadas modalidades de operações, a dívida do grupo PROVALLE atingia mais de 100 milhões de cruzeiros, o que representava cifra superior a trinta por cento do capital e reservas do BEG.

Em junho de 1979, havia várias outras operações de empréstimos a pessoas ou empresas que assumiram dívidas do grupo PROVALLE. Elevou-se, pois, cerca de 400 milhões de cruzeiros o total dos empréstimos concedidos à empresa, correspondendo, pasme-se pelo absurdo, a mais de 100% do capital e reservas do Banco do Estado de Goiás.

Os empréstimos foram concedidos a taxas especiais de 2% ao mês, enquanto no nível de mercado o BEG cobrava taxa superior a 3% ao mês. Para fazer face aos empréstimos subsidiados, o BEG captou em São Paulo 700 milhões de cruzeiros, quantia igual ao montante dos depósitos captados pelo próprio banco junto aos seus clientes. As taxas pagas pelo BEG na operação de empréstimos causaram perplexidade no mercado financeiro em São Paulo, já que os grandes bancos do país, oficiais e particulares, não conseguiam fazer concorrência, pois tinham taxas de 52 a 60% ao ano, incluídas as comissões de corretagens.

Essa volumosa soma de recursos – 700 milhões de cruzeiros - foi distribuída em cerca de 200 contratos de empréstimos em conta garantida, somando 400 milhões de cruzeiros a taxas favorecidas variáveis entre 0,8 e 2,8% ao mês e concedidos a clientes ligados, em sua quase totalidade, a deputados, secretários de estado, auxiliares do governo, políticos situacionistas, firmas de ex-sócios e amigos dos governantes da época. Até dois integrantes, chefe e subchefe de Serviço Nacional de Informações – SNI tiveram acesso aos empréstimos favorecidos com taxas subsidiadas, 300 mil cruzeiros para um e 1 milhão e quinhentos mil cruzeiros para outro. Antes de serem saldados, os empréstimos eram ampliados e os juros adicionados ao final.

Para compensar o enorme prejuízo que o banco sofria na concessão de empréstimos a taxas subsidiadas e inferiores às de mercado e do próprio custo do dinheiro que captava, foi elevada a taxa de juros que vinha cobrando do próprio Estado de Goiás, maior acionista e depositante, de 2% ao mês para 4 e 5 % ao mês. Transferiu assim, para as costas do sofrido contribuinte goiano as benesses concedidas a um pequeno grupo de amigos.

Fato interessante e escandaloso foi o empréstimo de 7 milhões de cruzeiros feito a uma cliente a juros de 1% ao mês ou 12% ao ano pela agência do BEG em Goiás. A mesma cliente dois dias depois emprestou a mesma quantia ao BEG em São Paulo com juros de 51% ao ano. O Banco Central tinha conhecimento daquele verdadeiro festival de corrupção e esbanjamento de dinheiro do povo e mesmo assim não tomou nenhuma providência, sendo conivente com tudo que ali acontecia.

Nos círculos econômicos e financeiros de Goiás sabia-se que a cifra de 451 milhões de cruzeiros, apresentada como prejuízo e constante no balanço referente ao primeiro semestre do ano de 1981, não correspondia à realidade. O Banco Central Enviou oficio de nº 81/ 024, de 26/05/81, à Diretoria do Banco do Estado de Goiás, solicitando que fosse inscrito na conta de Crédito em Liquidação a quantia de Cr$ 10.785.381,32, dez bilhões setecentos e oitenta e cinco milhões e setecentos e vinte e seis mil e trezentos e oitenta e um cruzeiros e trinta e dois centavos, já no balanço do primeiro semestre de 1981.

Em resposta, foi encaminhado ao Departamento de Fiscalização Bancária e Divisão de Fiscalização Bancária do Banco Central do Brasil, no dia 16/06/81, oficio nº 81/95, solicitando que não fosse inscrita na Conta de Crédito em Liquidação tal importância, uma vez que Cr$ 9.538.240.070,90 - nove bilhões e quinhentos e trinta e oito milhões e duzentos e quarenta mil e setenta cruzeiros e noventa centavos - era de responsabilidade do setor público do Estado e que desse total encontrava-se vencida a importância de Cr$ 2.080.723.140,90 - dois bilhões e oitenta milhões e setecentos e vinte e três mil e cento e quarenta cruzeiros e noventa centavos.

O Banco Central, através de expediente da Divisão de Fiscalização Bancária nº 81/42, em 23/07/81, adverte que ante “as perspectivas de acentuado negativo neste balanço de 30/06/81, com repercussões altamente danosas ao seu Patrimônio Líquido, esperamos que providências urgentes sejam adotadas, objetivando a reversão do atual caso”. Ao mesmo tempo, determinava que fosse inscrita na conta de Crédito em Liquidação, no balanço do primeiro semestre daquele ano, a quantia de Cr$ 1.210.099.196,53 - Um bilhão e duzentos e dez milhões e noventa e nove mil e cento e noventa e seis cruzeiros e cinqüenta e três centavos.

No dia 31/07/81, através do oficio nº 81/125, o Banco do Estado de Goiás solicitava ao Departamento de Fiscalização Bancária do Banco Central do Brasil que permitisse apresentar no balanço de 30/06/81, na conta crédito em liquidação, apenas a importância de Cr$ 379.455.080,89 - trezentos e setenta e nove milhões e quatrocentos e cinqüenta e cinco mil e oitenta cruzeiros e oitenta e nove centavos, com o que concordou o Banco Central.

Por esta razão, o prejuízo real do Banco do Estado de Goiás apresentado em balanço foi de apenas de Cr$ 451 milhões de cruzeiros. Os documentos oficiais e a própria fiscalização do Banco Central comprovam que o prejuízo real do BEG, naquele ano, foi superior a 1 bilhão e duzentos milhões de cruzeiros correspondendo ao dobro de seu capital e reservas, apresentados em 31/12/1980.

Pela gravidade do fato que envolveu fraude contábil, o Banco Central do Brasil foi co-participante de todo o desastre do BEG e responsável pelo descalabro administrativo do Sistema Financeiro Nacional.