sexta-feira, 13 de julho de 2012

Mudamos de endereço!

Para facilitar seu acesso, mudamos o endereço do Blog do Adhemar Santillo.

Novo endereço: adhemarsantillo.blogspot.com

Caso tenha adicionado o blog aos seus favoritos, readicione com o novo endereço! Obrigado!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Paulo Maluf e o Partido dos Trabalhadores


Depois de conviver com permanentes alterações na Constituição outorgada por uma Junta Militar em 1967, verdadeiros golpes dentro do golpe de março de 1964, a sociedade resolveu reagir. Saiu às ruas lutando por eleições diretas para a Presidência da República e redemocratização do País. A Emenda Dante de Oliveira, das “Diretas Já”, não foi aprovada, decepcionando a nação inteira. Mesmo assim o povo não desistiu. Continuou pressionando os congressistas pelo fim da ditadura.

Paulo Maluf, já naquela época o político mais estigmatizado do Brasil, muito colaborou para que o fim da ditadura acontecesse rapidamente. Inconformado com a escolha do general Mario Andreazza para ser o candidato da ditadura no Colégio Eleitoral, onde o Partido Democrático Social (PDS),  partido oficial do governo, detinha a maioria, o ex-governador de São Paulo decidiu enfrentar Andreazza na convenção partidária. Derrotou Andreazza, naquele que foi o maior revés do núcleo central da ditadura, dentro da sua própria base de apoio. A vitória de Maluf, na Convenção Nacional do PDS, contrariou grande parte da base governista. Lideranças como Aureliano Chaves (PDS-MG), Marco Maciel (PDS-PE), José Sarney (PDS-MA) e outras lideranças pedessistas pelo Brasil inteiro fundaram o PFL. Aliaram-se ao PMDB comandado por Ulysses Guimarães, para que numa frente interpartidária enfrentassem no Colégio Eleitoral a candidatura Maluf.

A escolha do candidato, por sugestão dos dissidentes arenistas, recaiu sobre a figura do governador de Minas Gerais, Tancredo Neves (PMDB-MG). Como a Constituição Federal foi elaborada pela Junta Militar em cima do bipartidarismo, não seria possível uma coligação PMDB/PFL. Foi por isso que José Sarney se filiou ao PMDB, para ser candidato a vice-presidente, representando o PFL, usando a sigla do PMDB.

Tancredo Neves, num ato de coragem e patriótico desprendimento, renunciou à governadoria de Minas Gerais, candidatando-se à Presidência da República pelo Colégio Eleitoral. Minoritário no colégio, Tancredo foi a campo em busca de apoio. Cada voto conquistado era comemorado com euforia pelas forças democráticas. Era de um a um. O povo exigia, em todos os Estados brasileiros, adesão dos seus representantes à candidatura Tancredo Neves.

Dentro desse esforço concentrado, com apoio de governistas históricos, a eleição se deu num clima de expectativa total, porque não se tinha a certeza que os que anunciaram seu apoio ao ex-governador de Minas confirmariam o voto no Colégio Eleitoral.

Surpreendentemente, a bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) decidiu se abster da votação. Mesmo com toda população brasileira torcendo e exigindo votação a Tancredo, os deputados petistas, por orientação de Luiz Inácio Lula da Silva, presidente nacional do PT, decidiram pela abstenção. De nada valeram os apelos dos tancredistas de que sua vitória representaria o fim do regime ditatorial. Diziam que o PT era contra qualquer tipo de eleição indireta. Continuariam contra mesmo para se pôr fim à ditadura. Três deputados petistas, Airton Soares (PT-SP), Bethe Mendes (PT-SP) e José Eudes (PT-RJ), por não concordarem com essa orientação por considerá-la equivocada, votaram em Tancredo Neves. Foram expulsos do partido. Em nome da coerência, o Partido dos Trabalhadores não participou da derrubada  da ditadura. Se dependesse só do PT, se todos fizessem da mesma forma, principalmente os ex-arenistas que ficaram ao lado da vontade nacional, votando em Tancredo, a ditadura militar duraria mais alguns anos.

Agora, toda coerência petista, que para ser diferente dos demais partidos fez o jogo de Paulo Maluf, o jogo da ditadura, se abstendo de votar no candidato Tancredo Neves,  ponte usada pelas forças democráticas para a travessia da ditadura militar para a democracia, se desmorona por completo, quando Lula vai à procura do mesmo Paulo Maluf em busca do seu apoio político e os 90 segundos de horário na TV e rádio, que o PP possui, para seu candidato a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).

Essa postura nova do PT surpreendeu a todos que não conhecem a verdadeira história do partido. Gente que não conhece esse fato histórico da vida política nacional. Já naquela época, fez o jogo de Maluf. Ao não votarem poderiam, não fosse a ação firme de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Aureliano Chaves, Marco Maciel, José Sarney e tantos outros, respaldados pelo povo e imprensa livres, eleger Maluf, o candidato da ditadura. Essa atitude de agora só não surpreendeu os democratas daquele tempo e o próprio Paulo Salim Maluf, que, falando ao jornal O Globo, edição de terça-feira, dia 26, no dia em que o PCdoB anunciou apoio a Fernando Haddad, disse que não se oporá se o vice da chapa for comunista. “O PT se comportou à direita de Paulo Maluf. Eu, perto do PT hoje, sou comunista.” Igualaram-se por baixo!

(Diário da Manhã - 27/06/2012)

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Corrupção cresce e se consolida!


Havíamos saído do regime ditatorial de março de 1964. Estávamos iniciando a atual caminhada democrática, quando estourou o escândalo dos “Anões do Orçamento”, na Câmara Federal. Através do Orçamento da União, a comissão própria para essa tarefa no Congresso Nacional, beneficiava grupos empresariais, principalmente da construção civil através de recursos federais. O esquema dos anões foi descoberto e denunciado pela imprensa investigativa. Pela revista Veja.

Depois de tantos anos de censura à imprensa, o escândalo chegou como surpresa, indignando os brasileiros. Essa prática era usual na Comissão Mista do Orçamento. Porém, sem conhecimento até mesmo de deputados e senadores, pela falta de divulgação pela imprensa. Os senadores e deputados mais “espertos” “brigavam” para fazer parte dela, já no período ditatorial. Naquele tempo, os trambiques que praticavam eram blindados pela censura oficial à imprensa. A Constituição Federal, que não era a “Constituição Cidadã”, mas sim a outorgada por uma junta militar (1967) e anulada pelo AI-5, vedava ao parlamentar legislar sobre matéria financeira. Da mesma forma não havia a chamada emenda orçamentária individual ou coletiva. Só os integrantes da Comissão Mista do Orçamento se envolviam com essa questão. Aos demais deputados e senadores eram reservados: cota anual de um mil cruzeiros para beneficiar entidades de assistência social cadastradas junto ao Conselho Nacional e alguns formulários de ajuda a alunos do segundo grau, em escolas particulares.

Ficou famosa a justificativa dada por um anão, de cadeira cativa na Comissão do Orçamento, deputado João Alves (Arena-BA), que falando sobre o fantástico crescimento do seu patrimônio, disse: "Deus tem me ajudado. Acertei inúmeras vezes os jogos da loteria esportiva!"

O escândalo dos “anões do Orçamento”, por ter sido fato novo na política nacional, alcançou grande repercussão, levando à cassação de mandato e suspensão de direitos políticos de vários deles. Mas foi também o início dessa escalada incontrolável da corrupção, diariamente noticiada com fatos novos pela imprensa. Ibsen Pinheiro (PMDB-RG), que fora líder do PMDB e presidente da Câmara Federal, uma das grandes promessas políticas daquela época, foi uma das cabeças que rolaram com o escândalo dos “Anões do Orçamento.” Retornou à Câmara Federal 10 anos depois, mas, mesmo assim, de cabeça baixa, sem destaque e brilho do antigo líder do passado. Os tempos eram outros. A corrupção mexia com o brio dos envolvidos. A desonra machucava e doía. Não havia ainda a contaminação de caráter por tanta desfaçatez. Restava aos envolvidos um pouco de vergonha na cara.

Preocupado com a força dada ao Legislativo pela  Constituição Federal de 1988, a “Constituição Cidadã,” principalmente ao de poder tratar com questões financeiras, o senador Pedro Simon (PMDB-RG), no rastro do  escândalo causado pelos “Anões do Orçamento”, sugeriu que fosse criada a Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar as ações corruptoras envolvendo empreiteiras com os políticos. Tinha certeza que criando despesas, através das emendas orçamentárias individuais, centenas de deputados e senadores se corromperiam. Seriam presas fáceis, para médios e grandes empresários. Pedro Simon não conseguiu a instalação da CPI. Foi o passaporte para a ação aberta de políticos e empresários desonestos. Para os que viveram aquele momento, a não convocação de Fernando Cavendish, da Delta Construções pela atual CPMI, é vista com naturalidade.

Hoje, grande parte dos parlamentares faz da apresentação de emendas orçamentárias individuais sua principal atividade na Câmara e Senado. A liberação dessas emendas também tem se transformado em moeda de troca pelo Executivo. Quando deseja aprovar ou rejeitar matéria do seu interesse em tramitação no Congresso Nacional, libera emendas parlamentares. As emendas orçamentárias servem para dar sustentação a todo e qualquer presidente, independentemente de possuir ou não maioria em sua base de sustentação. Aí está o maior fato gerador da corrupção no Brasil.

De quando o senador Pedro Simon sugeriu a criação e instalação da CPI dos Empresários até o momento, muitos escândalos foram e continuam sendo revelados pela imprensa. Parece que não terão fim.

A corrupção ficou tão banalizada que, mais que nunca, temos que concordar com Rui Barbosa, ao afirmar: “...De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

Os escândalos e seus desvios são tantos que as emendas individuais orçamentárias deixaram de ser negócio de parlamentares com empreiteiras para se transformar  em "ação entre amigos".

Eis o que noticiou sobre a questão o jornal O Globo, na sua edição de terça-feira, dia 19/06/2012: "O deputado Marcos Medrado (PDT-BA) confirmou que negociou com o deputado João Carlos Bacelar (PR-BA), acusado de comprar emendas de colegas, a destinação de verba ao Orçamento..." É o máximo!

Isso acontece apesar da vigilância da imprensa investigativa e até gravações de escutas telefônicas pela Polícia Federal.

(Diário da Manhã, 20/06/2012)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Dez anos sem Santillo, por Waldemar Curcino de Morais Filho


Faz dez anos que Santillo se foi. Tinha 62 anos. Sem exagero, creio que só estamos aqui graças a ele. Fosse outro o governador no episódio do Césio 137, sabe-se lá onde teríamos ido parar.

Henrique Antônio Santillo. Henrique com “h” de honestidade, honra, hombridade, humildade, humanismo. Antônio com “a” de austeridade, amizade, amor, afeto. Santillo com “s” de seriedade, sabedoria, serenidade, solidariedade. Grande homem.

Paulista de Ribeirão Preto, para Anápolis veio ainda criança. Cresceu com a cidade e a amou como berço natal. Estudou em escolas públicas do primário à universidade, de onde saiu médico formado, pediatra, doutor das crianças, principalmente das mais pobres, os anjos da periferia.

Não foi fácil chegar lá. Deu aulas em cursinhos em Belo Horizonte, enquanto cursava medicina. Desonerou o bolso do pai, que assim pôde cuidar dos demais filhos. Santillo nunca foi problema, só solução. Nunca foi tristeza, só. Alegrias. Probo, íntegro, reto, honesto.

Aprendeu e ensinou que a vida não é sorte, é luta e conquista. Que não devemos esperar pelo cavalo passar areado e, sim, campeá-lo e laçá-lo, selá-lo e montá-lo, num esforço próprio, resultado da autodeterminação. Ensinou que cada dia é um cavalo a ser pego, selado e montado. O prazer estava em consegui-lo.

Santillo, o doutor das crianças. Por causa delas, ao vê-las no sofrimento em meio à pobreza e desatenção, ingressou na política partidária, fazendo despertar lá dentro a chama da política estudantil mantida perene, acesa, pronta para a luta. Foi vereador, prefeito de Anápolis, deputado, senador, governador, ministro de Estado. Era conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, quando se despediu de nós. Ele dignificou todas essas funções.

Eu o admirei por tudo o que era. Rico sem dinheiro, sua riqueza era o caráter e a sua honra o patrimônio. Nunca se submeteu a coisas materiais. Via o poder como algo efêmero, finito num abrir e fechar de olhos. Construímos uma amizade sólida e respeito mútuo. Além de amigo, eu me tornei seu genro. D. Sônia lhe deu Soninha, que a criou com base nos valores herdados do pai – honradez, humildade, honestidade, firmeza de caráter, sobriedade, solidariedade. Orgulho-me dizer isso.

Riqueza e poder não lhes interessavam. A ele bastava o pedaço de chão e a casa onde morava. “Muito menos que isso eu vou precisar quando morrer” – dizia ele.

Convivi com ele 22 anos, como genro e secretário particular. O pai amoroso e marido afetuoso eram o mesmo que, audaz, botou o dedo no nariz da ditadura para pedir democracia e respeito aos direitos humanos. Não temeu os anos de chumbo.

Teve poder, mas nunca o usou em benefício pessoal ou dos seus. Nunca fez da coisa pública instrumento particular. Dele jamais se ouviu falar que usou a caneta poderosa ou terceiros em prejuízo de alguém. Não foi com gritos ou força que demonstrou honestidade. Será leviano aquele que disser que Santillo usou a máquina pública para promoção pessoal, Nunca precisou de advogados e seguranças, nunca teve problemas de ordem moral, legal, administrativa. Santillo era um homem limpo e dele aprenderam virtudes todos os que assim quiseram.

Eu precisaria do jornal inteiro para discorrer sobre este grande homem, este maiúsculo brasileiro. Ele mesmo pediria a mim parcimônia. Até o ouço dizendo, sorrindo: “Elogio seu não vale, você é suspeito, Waldemar”. Eu e Soninha lhe demos netos por ele adorados. Abençoados, também e principalmente.

Neste junho, quando se fecha uma década da sua partida, nós nos reunimos para agradecer a Deus o rico legado que tanto nos orgulha e do qual não abrimos mão: honradez, decência, dignidade, respeito e tudo o mais que enobrece o homem.

Obrigado, amigo Santillo. O mundo sente falta de gente decente como você.


Waldemar Curcino de Morais Filho
Ex-Secretário Particular de Henrique Santillo
http://sebastiansp.blogspot.com/2012/06/henrique-santillo.html

quarta-feira, 20 de junho de 2012

As constantes nomeações de governadores


Nós, do Movimento Democrático Brasileiro - MDB havíamos preparado Íris Rezende Machado para ser o candidato a governador pelo partido, em 1970. Como prefeito de Goiânia, foi cassado em 1968, por força do Ato Institucional nº 5. Em seguida, pelo mesmo AI-5, as eleições para o Governo Estadual foram suspensas. Foi escolhido para governar Goiás, Leonino Caiado, em substituição a Otávio Lage de Siqueira.

Com o afastamento de Íris Rezende, que teve, também, seus direitos políticos suspensos por 10 anos, surgiu como a grande liderança das oposições em Goiás, Henrique Santillo. Eleito prefeito de Anápolis, enfrentando, com destemor, os representantes da ditadura em Goiás e não cedendo às violências e truculências que praticavam, usando forças da repressão, o médico Henrique Santillo que já como vereador, mostrara sua coragem e disposição à luta, automaticamente se transformou na maior liderança do MDB estadual.

O regime ditatorial, que já havia apelado para a nomeação de governadores estaduais em 1970, repetiu a dose em relação às eleições de 1974. Henrique Santillo que preparara sua candidatura ao Governo do Estado em 74, decidiu disputar o mandato de deputado estadual. Assim, exerceria suas atividades como médico pediatra em Anápolis e mandato de deputado estadual. Durante os três ano em que foi prefeito, dedicou-se, exclusivamente, à Prefeitura. Não queria abandonar suas atividades como médico. Concorri a deputado federal, embora não me houvesse preparado para isso, abrindo oportunidade para que ele fosse eleito para a Assembleia Legislativa. Mesmo saindo candidato de última hora, fui o segundo mais votado da bancada emedebista. Juarez Bernardes foi o mais votado.

Irapuan Costa Júnior, primeiro prefeito nomeado de Anápolis, depois da transformação do Município em Área de Interesse da Segurança Nacional, conforme o esperado por todos, foi escolhido Governador para substituir a Leonino Caiado.

No Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa, continuamos a luta pela redemocratização. A estupenda vitória alcançada pelo MDB em nível nacional, deu novo ânimo aos democratas. O MDB elegeu 16 senadores; quase 100 deputados federais, centenas de deputados estaduais e maioria na Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro. Graças a essa vitória, Chagas Freitas (MDB) foi nomeado Governador do Rio de Janeiro.

Evandro Carreira que não se elegera vereador em Manaus nas eleições anteriores, em 1974 seria eleito senador. Lázaro Barbosa que perdera para deputado estadual, foi eleito senador por Goiás. Nelson Thibau, suplente de vereador, foi mais votado a deputado federal que seu companheiro Tancredo Neves, em Belo Horizonte. No Paraná a Arena lançou chapa completa e fortíssima para a Câmara Federal. O MDB não conseguiu lançar mais que 17 candidatos, sendo muitos desconhecidos do eleitorado. A Arena elegeu 16 deputados e o MDB elegeu 16 dos l7 lançados. Enquanto Álvaro Dias com mais de 200 mil votos, Antônio Belinati e Alencar Furtado tiveram mais de 100 mil votos; Osvaldo Busquei, Pedro Lauro, Expedito Zanotti e Gamaliel Galvão se elegeram pela legenda com menos de cinco mil votos. Foi uma verdadeira revolução pelo voto. Golpe violento contra a ditadura.

Exercíamos a atividade parlamentar, mas já estávamos de olho na Governadoria do Estado, para as eleições de 1978. Tínhamos a convicção de que, com a forte reação popular ocorrida nas eleições de 1974 em todo o Brasil, o sistema ditatorial havia se esgotado. Não havia ambiente para novos casuísmos. Henrique Santillo pelos autênticos, e Juarez Bernardes pelos moderados, eram as duas maiores forças políticas do MDB e do Estado, para a governadoria... (continua)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Calaram nossa voz no rádio


A vitória da Arena para a Câmara Municipal de Anápolis, nas eleições de 1976, se deu por que o prefeito Jamel Cecílio, usou de todos os expedientes legais e pressões possíveis, para formar uma chapa de candidatos fortíssima. Eleitores tradicionais do MDB se filiaram e quase que à força, fizeram parte da chapa arenista. A pressão sobre o eleitorado, principalmente da classe média, foi indescritível. Esses fatores, aliados à chapa incompleta de candidatos emedebistas, garantiram a vitória arenista. Mas, para nossos adversários a vitória da Arena em 1976, se dera em consequência de terem, em maio de 1975, tirado do ar a Rádio Santana. A emissora em que apresentávamos diariamente o programa “O Povo Falou, tá Falado”.

O trabalho dos nossos adversários, inclusive gente do MDB, era encaminhar fuxicos diários ao Serviço Nacional de Informações - SNI, pedindo o fechamento da Rádio Santana e a cassação dos nossos mandatos. Não conseguindo nos cassar, que pelo menos a Rádio fosse fechada. Queriam nos afastar do contato político que tínhamos com a população, pelo rádio.

Antes do fechamento da Rádio Santana, três vereadores do MDB passaram, já naquela legislatura de 1971, a votar sob a orientação arenista, na Câmara Municipal: Lincoln Xavier Nunes, João Divino Cremonez e Pedro Sérgio Sobrinho. Os golpistas contaram com o sistema de repressão estadual, Polícia Federal e outros instrumentos de repressão, usados pela ditadura militarista, para prender e torturar emedebistas autênticos, como fizeram por três vezes consecutivas, com o vereador Walmir Bastos Ribeiro, presidente da Câmara Municipal. As prisões aconteceram para forçá-lo a renunciar à Presidência da Câmara. Queriam sua renúncia para elegerem um novo presidente. Com isso, pretendiam afastar da Prefeitura, Henrique Santillo. Como Walmir não cedeu às pressões, o prenderam por três vezes de forma arbitrária. Foi torturado, mas, não renunciou. Isso garantiu que Santillo continuasse prefeito.

Já na posse do Prefeito José Batista Júnior (MDB), substituindo a Henrique Santillo, policiais militares do Estado, invadiram transmissores e estúdios da Rádio Carajá, comandada pelo grupo santilista, devolvendo-a ao seu antigo proprietário, Plínio Jayme.

Cassaram, em 28 de agosto de 1973, o prefeito José Batista Júnior e impediram que o vice-prefeito Milton Alves, assumisse o cargo. Transformaram o Município em Área de Segurança Nacional e o engenheiro Irapuan Costa Júnior assumiu a Prefeitura.

Como em abril de 1973, menos de 60 dias da invasão e tomada da Rádio Carajá pela Policia Militar do Estado, adquirimos o controle da Rádio Santana, os arenistas e adesistas do MDB em Anápolis, atribuíam ao programa “O Povo Falou, Tá Falado,” a estupenda vitória que nós conseguimos no Município em 1974.

A Rádio Santana teve o seu transmissor lacrado e foi retirada, definitivamente, do ar, em maio de 1975. Derrotados fragorosamente em Anápolis, nas eleições de 1974, os adversários tentavam justificar a derrota ao nosso trabalho na rádio. Fechada pelas forças da reação em maio de 1975, os arenistas ficaram eufóricos com a vitória para a Câmara Municipal em 1976, atribuindo ao silêncio da nossa voz no rádio o fator principal do sucesso eleitoral. Acreditavam que havíamos chegado ao fim político.

Na eleição seguinte, a última entre MDB e Arena, ocorrida em 1978, nossa vitória em Anápolis foi estrondosa e consagradora.

Isso deixou mais uma vez claro, que mesmo com toda a violência praticada pelos representantes da ditadura, nos tomando a prefeitura através do Ato Institucional nº 5 (AI-5), prendendo inocentes, fechando de emissoras de rádio, continuamos, com apoio do povo anapolino na caminhada vitoriosa pela redemocratização do Brasil... (continua).

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Emedebista não votava na Arena


Interessante que quando vivíamos o bipartidarismo (Arena x MDB) a atividade política era respeitada coerentemente pelo eleitor. Quem era oposicionista não se dobrava aos governistas. A corrupção eleitoral, e o uso do poder econômico, eram escancarados. Os governistas faziam distribuição de material de construção; carteiras de motoristas, cestas básicas de alimento e tudo que podiam fazer para conseguir o voto, mas o eleitor continuava firme, votando, principalmente, nos emedebistas autênticos.

Nossas vitórias se deram enfrentando todo tipo de corrupção eleitoral; pressão psicológica; prisões arbitrárias; processos fraudulentos na justiça; Policia Federal, máquina do governo, denúncias mentirosas e caluniosas... No dia da eleição, praticamente todos os veículos da Cidade circulavam carregando eleitores em carros com propaganda dos adversários. Buscados em casa, os eleitores eram instruídos a votarem na Arena, mas na urna, aqui em Anápolis, votavam no MDB santilista.

Nas eleições de 1972, em que José Batista Júnior foi eleito prefeito, num pleito memorável, derrotando o fortíssimo candidato da Arena, Eurípedes Junqueira, dos 15 vereadores eleitos, l0 (dez) foram do MDB e 5 (cinco) da Arena. Os mais votados naquele pleito foram o Sargento Sebastião Maués (MDB) e o radialista Almir Reis (MDB). Maués era sargento instrutor do Tiro de Guerra-053, (Anápolis) e, Almir Reis, o mais popular repórter policial de rádio no Município. Maués obteve mais de 1.800 votos. Almir votação superior a 1.500 votos.

Em 28 de agosto de 1973, com José Batista Júnior cassado e afastado da Prefeitura pela ditadura militar, substituído pelo engenheiro Irapuan Costa Júnior, a ala do MDB que fazia oposição ao santilismo, procurou convencer vereadores do Partido para que aderissem ao prefeito nomeado.

Os dois vereadores mais votados, Sebastião Maués e Almir Reis, passaram a apoiar o prefeito nomeado, Irapuan Costa Júnior. Continuaram filiados ao MDB. Participavam normalmente das reuniões do partido, mas na Câmara Municipal se proclamavam independentes. Votavam algumas matérias dos companheiros do MDB, mas não seguiam a orientação partidária. Dessa forma a bancada emedebista se viu desfalcada em sua maioria.

Nas eleições de 1976, sem voto para prefeito, pois a Cidade era considerada de segurança nacional, as eleições foram apenas para os 15 vereadores. A Arena, comandada por Jamel Cecílio, o terceiro prefeito nomeado de Anápolis, organizou chapa muito forte. Eleitores tradicionais da oposição e empresários se candidataram a vereador pela Arena. O MDB não conseguiu completar o número legal de candidatos.

Foi a única vez que a Arena ganhou uma eleição do MDB em Anápolis. Ao final da votação, com pouco mais de 700 votos de frente, Arena elegeu 8 (oito) vereadores e o MDB elegeu 7 (sete).

Sebastião Maués e Almir Reis candidataram-se à reeleição pelo MDB. A legislação eleitoral da época garantia ao detentor de mandato legislativo - vereador, deputado estadual e federal - vaga automática na chapa do partido ao qual pertencia. Maués e Almir fizeram a campanha à reeleição, usando o horário eleitoral gratuito do MDB. O partido lhes assegurou vagas na chapa para a Câmara. Ambos foram derrotados obtendo pouco mais de 100 votos.

O eleitor acompanhava mais a atividade política do seu candidato. Não se envolveram em corrupção, simplesmente deixaram de seguir a orientação do partido. Por isso, não receberam os votos dos seus eleitores de 1972.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Ping pong da verdade!


A decisão corajosa adotada pelo Juiz Clementino de Alencar Lima, no processo fraudulento montado contra nós - Henrique Santillo e Adhemar, pela Policia Federal, foi episódio marcante e histórico na luta que travamos em Goiás, contra a ditadura militar de 1964.

A sentença que dera, em 1972, reconhecendo como legítima a Mesa Diretora da Câmara Municipal de Anápolis, presidida pelo lº Secretário, Walter Gonçalves de Carvalho, impedindo que golpistas da política anapolina, reforçados pela Polícia Federal e todo o esquema de repressão, afastassem Henrique Santillo da Prefeitura, já havia mostrado que havia no Poder Judiciário, em quem o povo podia confiar.

Enviar para o arquivo o processo montado facciosamente contra nós, pela Polícia Federal, com a finalidade de nos afastar da política, foi digno de um verdadeiro magistrado. Sabia ele que as forças da reação em Goiás queriam nos afastar da vida política. Bastaria que aceitasse a denúncia feita pelo Ministério Público, na pessoa do promotor Elton de Morais Sarmento. Com a sua aceitação, estaríamos inelegíveis.

Dr. Clementino que acompanhava toda a movimentação política em Anápolis, não se sujeitou a fazer parte da trama urdida pelos nossos adversários, mandando o calhamaço de inverdades montado pela Polícia Federal, a pedido de emedebistas adesistas, e arenistas, para o arquivo. Da mesma forma, temos que ressaltar o destemor do promotor de justiça Decil de Sá Abreu que, responsável pelo Ministério Público em Petrolina de Goiás, não se sujeitou a oferecer denúncia nesse mesmo processo. Preferiu a paz de consciência a atender ordens emanadas da Procuradoria de Justiça Estadual, na pessoa de seu titular Bechara Daher, para que nos denunciasse de crime que não cometemos.

Graças a brasileiros destemidos como Decil de Sá Abreu e Clementino de Alencar Lima, tivemos forças para, permanentemente respaldados pelo povo, continuarmos a luta em busca das liberdades perdidas. Enfrentaríamos as eleições de 1974 de forma totalmente diferente de pleitos anteriores:

Pela primeira vez, durante o período ditatorial de março de 1964, enfrentaríamos o adversário sem contar com a Prefeitura de Anápolis. Nosso prefeito, José Batista Júnior, havia sido cassado e afastado da Prefeitura em 28 de agosto de 1973. O prefeito nomeado para Anápolis, Irapuan Costa Júnior, acabara de ser escolhido Governador para substituir a Leonino Caiado. Os arenistas proclamavam, por todo Estado, que o Governador era de Anápolis. Assim, além de não contarmos com a Prefeitura, ainda o Governador, já escolhido, saíra de Anápolis. Já não possuíamos a Rádio Carajá, que nos foi tomada no início de 1973, à base do fuzil e metralhadora. Éramos nós contra todos.

Mesmo com toda essa pedreira pela frente fomos à luta. Nosso lema era lutar pela liberdade. Tínhamos todo o esquema oficial de repressão contra nós, mas contávamos com o apoio do povo.

Durante a campanha, usando cadeia de rádio e televisão, Henrique e eu nos apresentávamos no horário eleitoral gratuito, em dupla. Ele, candidato a deputado estadual e, eu, a federal. Demos ao nosso programa o nome de “Ping Pong da Verdade”.

A audiência do programa eleitoral, por ser feito ao vivo, sendo o primeiro a acontecer no período ditatorial, era total. Por todos os lugares em que íamos em Goiás só se falava nas mensagens apresentadas pelo MDB, no horário eleitoral.

Foi em função, principalmente, da nossa apresentação do “Ping Pong da Verdade,” que ficamos conhecidos como “Irmãos Coragem”. O povo nos aclamava por onde passávamos. O MDB motivou o eleitorado brasileiro a resistir. Em Goiás, a cada dia que nos aproximávamos da eleição, crescia a simpatia da população à causa democrática... (continua)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Mesmo com tudo contra, ganhamos

Mesmo com a invasão e tomada da Rádio Carajá por forças militares do Estado; cassação do mandato do prefeito José Batista Júnior; transformação de Anápolis em Área de Segurança Nacional; investida em busca de adesão de vereadores e lideranças emedebistas; uso dos órgãos de repressão; abuso do poder econômico e, corrupção eleitoral, vencemos as eleições de 1974, em Anápolis.

Lázaro Barbosa, eleito senador pelo MDB, obteve votação estrondosa dos anapolinos. Henrique Santillo, candidato a deputado estadual, conquistou mais de 16 mil votos no Município. Eu, como candidato a deputado federal, fui o mais votado em Anápolis, com mais de 17 mil votos. Ao final da apuração, Henrique sagrou-se vencedor como o mais votado, dentre todos os deputados eleitos, obtendo mais de 33 mil votos. Eu, com mais de 48 mil sufrágios, fui o segundo mais votado do MDB, dentre os cinco eleitos. Juarez Bernardes, candidato à reeleição foi o mais votado do Partido. Os três outros eleitos pela legenda foram: Genervino Evangelista da Fonseca, Iturival Nascimento e Fernando Cunha Júnior.

O MDB saiu revigorado com esse resultado. O uso, com competência, do rádio e da televisão, pelos candidatos do partido, no horário eleitoral gratuito, foi o grande instrumento que provocou uma verdadeira revolução pelo voto. Até mesmo nossos companheiros que não disputaram a eleição em 74, se revigoraram e voltaram à atividade política. Anapolino de Faria e José Freire, na reta final da campanha, mesmo não havendo registrado suas candidaturas, participaram de forma intensa da campanha emedebista. Trabalharam, principalmente, em favor da candidatura de Lázaro Barbosa, ao Senado.

Tomamos posse em fevereiro de 1975. Imediatamente, já nos preparávamos para enfrentar, em 1976, a primeira eleição municipal sem a eleição para a Prefeitura de Anápolis. Irapuan Costa Júnior assumiu o governo do Estado. O governador Leonino Caiado, com a indicação de Irapuan à Convenção da Arena estadual, indicou para a Prefeitura de Anápolis, o professor Eurípedes Junqueira. Mesmo tendo sido derrotado por José Batista Júnior, na disputa de 1972, Junqueira assumiu o cargo. Sabia que, com a investidura do novo governador, seria, como de fato foi, afastado. Aprovado pelo Presidente Médici, Eurípedes Junqueira permaneceu à frente da Prefeitura, até a posse de Irapuan. Assim que assumiu o Governo, Costa Júnior afastou Eurípedes e designou o empresário Jamel Cecílio para a Prefeitura. Coube a Jamel organizar a chapa de vereadores da Arena, para o pleito de 1976.

Preocupados com a vitória que nós do grupo Santillo, obtivemos nas eleições de 1974 em Anápolis, os arenistas continuaram com suas perseguições ao MDB Autêntico. Passaram a cobrar da Polícia Federal e órgãos dos demais da ditadura ligados à repressão, que atuavam em Goiás, o fechamento da Rádio Santana.

Toda a programação da emissora, onde diariamente Romualdo, Henrique e eu apresentávamos o programa “O Povo Falou Tá Falado”, era gravada em fita K-7, repassada ao setor da censura, na Polícia Federal. Os advogados Altair Garcia Pereira, o “Braguinha” e Vicente de Paula Alencar, todos os dias tinham que responder a ofícios e mais ofícios que chegavam do Dentel, em Goiânia, querendo informações sobre denúncias que os arenistas faziam contra nós. A manutenção das despesas da Rádio Santana era feita por nós. Não tínhamos anunciantes. Os poucos que se atreviam a nos ajudar eram perseguidos com fiscalizações específicas nos seus estabelecimentos comerciais. O cerco aumentava dia a dia em intensidade e tamanho... (Continua)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Dossiê fajuto de 1971 reapareceu em 1974

Querendo nos afastar das disputas eleitorais, os arenistas, juntamente com nossos adversários dentro do MDB, contaram com a Polícia Federal em Goiás, para que fosse montado processo, dossiê criminosamente dirigido contra nós, (Henrique Santillo, Adhemar Santillo e Anapolino de Faria), sob a acusação de que máquinas da Prefeitura de Anápolis teriam trabalhado nos municípios de Ouro Verde, Petrolina e Goianápolis em troca de apoio político a Anapolino de Faria para deputado federal, e para mim, como deputado estadual.

Documento faccioso, parcial, desprovido do mínimo de seriedade. Tão escandaloso que foi montado pela Polícia Federal a pedido da Arena e de alguns adesistas do MDB de Anápolis, para que fosse usado pelos adversários de Henrique Santillo,quando prefeito, na Câmara Municipal. Não conseguiram afastar Valmir Bastos da Presidência, mesmo com toda a pressão e violência praticadas contra ele pelos órgãos governamentais de repressão. Até o Major Leopoldino, pelo Exército Brasileiro, foi usado na tentativa de afastá-lo. Não conseguiram. Diante disso a papelada elaborada pela Polícia Federal, que não teve como ser usada pelos vereadores na Câmara Municipal, ficou na gaveta do Procurador de Justiça do Estado, Bechara Daher. Foi desengavetada às vésperas da convenção do MDB em que Henrique e eu nos inscrevemos para disputar a eleição de 1974.

A primeira investida de Bechara foi através do Ministério Público em Petrolina. Encaminhou a papelada ao promotor daquela Comarca, Decil de Sá Abreu, para que oferecesse denúncia contra nós (Henrique e Adhemar). Anapolino de Faria, por não concorrer à reeleição, foi excluído do processo. A legislação eleitoral previa que em crime eleitoral, como o que queriam nos enquadrar, oferecida a denúncia pelo Ministério Público e aceita pelo Juiz Eleitoral, tornava o denunciado inelegível.

Decil de Sá não se dispôs a participar da farsa. O processo poderia ser encaminhado, ainda, para Goianápolis ou Anápolis. A comarca de Goianápolis foi descartada porque o juiz estava em licença para tratamento de saúde. Encaminhado a Anápolis, foi distribuído ao promotor Helton de Morais Sarmento, que ofereceu a denúncia. Encaminhado ao Juiz Eleitoral Clementino de Alencar Lima, pela falta de consistência das provas arroladas processo, não aceitou a denúncia. Foi para o arquivo, sem que o Ministério
Público recorresse ao Tribunal Regional Eleitoral.

Com mais uma vitória contra ações golpistas engendradas pelos nossos adversários políticos em Goiás, sempre contando com o respaldo de integrantes da repressão, registramos nossas candidaturas às eleições de 1974. Durante a campanha, principalmente após o início dos programas eleitorais pelo rádio e televisão, o crescimento da aceitação do MDB junto ao eleitorado foi surpreendente. A eleição geral para deputados estaduais e senadores daquele ano que, na visão de alguns, seria a última para o MDB, foi marcante e se transformou num avanço democrático irreversível. Mesmo com todo o casuísmo existente, que aumentou escandalosamente nos anos seguintes até a extinção da ditadura. Por falta de fôlego, foi extinta em 1985. Mas o início real da sua queda começou em 1974... (Continua)

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Golpe de madrugada na Assembleia Legislativa

Naqueles momentos difíceis da ditadura militar os golpistas não agiram só em Anápolis. Logo depois que José Batista Júnior foi cassado, a Cidade transformada em Área de Interesse da Segurança Nacional, e seu prefeito passando a ser nomeado pelo Presidente da República, numa sessão extraordinária da Assembleia Legislativa de Goiás, mais um golpe contra o povo foi praticado. O deputado Clarismar Fernandes que, eleito pelo MDB, aderiu à Arena, apresentou projeto de lei transformando a Cidade de Goiás, em estância hidromineral.

A Constituição Federal determinava que, em municípios Área de Segurança Nacional, hidrotermais ou hidrominerais, seus prefeitos não seriam eleitos pelo povo, mas, sim, nomeados. Nos municípios enquadrados como área de segurança, caso de Anápolis (GO) e Canoas (RS), os governadores desses estados enviariam os nomes ao Presidente da República que os nomearia por decreto federal. Os prefeitos de estâncias hidrominerais, hidrotermais e capitais, seriam nomeados pelo governador do respectivo estado.

Em Caldas Novas, o prefeito, durante a ditadura, foi nomeado pelo Governo Estadual. O mesmo ocorreu com Goiânia, a partir de 1969. Agora, com a proposta de Clarismar Fernandes, sem nenhum motivo que não fosse político eleitoral, a Arena se preparava para tirar do povo da antiga capital, o direito de eleger seu prefeito.

A justificativa do projeto foi a de que o município de Goiás contava com as “Águas de São João”. Segundo os golpistas manifestaram na justificativa de transformar a velha Goiás, em estância hidromineral, as Águas de São João possuíam poder de cura. Muita gente ia ao local, segundo os deputados arenistas, para encher galões e garrafas de água e levar para casa como remédio. O local, com mina d’água, fica dentro do município, mas a 180 quilômetros da sede. Tratava-se de uma região onde havia um pequeno filete de água, numa lugar de descanso para motoristas e visitantes, sem nenhuma estrutura.

O que estava por trás da manobra golpista da bancada arenista na Assembléia Legislativa era a força do MDB no município. Nas eleições de 1969, enquanto Henrique Santillo vencia Luiz Vieira, em Anápolis, um leiteiro, muito conhecido do povo de Goiás, Dário de Paiva, vencia o candidato da Arena, comandada pela Família Caiado. Como vinha ele realizando ótima administração faria, sem nenhuma dúvida, seu sucessor. Para evitar que o governador Leonino Caiado, passasse por esse vexame, Clarismar Fernandes, que aderiu à Arena a convite do, então, governador, montou essa manobra: tirar a autonomia de Goiás, transformando-a em estância hidromineral.

As discussões que começaram por volta das 23 horas de uma quarta-feira, arrastaram-se pela madrugada à dentro, com a matéria só sendo aprovada por volta das oito horas da manhã da quinta-feira, quando jornalistas e funcionários da Assembleia Legislativa chegavam para o trabalho. Essa foi a única forma de reação já que com maioria em plenário e, apoio do Governador, a manobra golpista da sua bancada, não havia sequer forma de recorrermos à justiça. Assim foi tirado do MDB mais um município importante onde sua força era inquestionável.

Esses fatores regionais, golpes certeiros e autoritários contra o povo das cidades de Anápolis e Goiás Velho, fizeram com que nossas principais lideranças políticas na ativa: Anapolino de Faria e José Freire, presidente e secretário geral do MDB de Goiás, desistissem de se candidatarem à reeleição para deputado federal, nas eleições de 1974. Defendiam a autoextinção do partido... (continua)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Sonho - Henrique Santillo

Eu sonho com uma sociedade solidária e justa, em que a vida possa ser vivida com dignidade por todas as pessoas, ricas ou pobres, brancas ou negras, índias ou mestiças. Uma sociedade em que ninguém seja ofendido pela cor de sua pele. Uma sociedade que se orgulhe da incalculável contribuição que recebeu do negro no trabalho, na cultura, na beleza. Uma sociedade que reconheça o quanto deve ao índio, primeiro habitante, dono desse território, e que tanto tem ainda a nos ensinar em matéria de organização política e social.

Eu sonho com uma sociedade que respeite as crianças. Elas não são o nosso futuro; elas são o nosso presente. São o fruto do nosso amor, do melhor que nós temos dentro de nós. São a nossa esperança de um mundo mais inocente, mais alegre, mais solidário, mais colorido. Eu sonho com um mundo em que nenhuma criança, nenhuma mesmo, não tenha o que comer. Em que nenhuma criança fique sem escola. Nenhuma criança deixe de brincar. Nenhuma criança sofra ou morra por falta de assistência médica. Nenhuma criança, mas nenhuma mesmo, fique sem lar e sem afeto.

Eu sonho com uma sociedade que respeite os velhos. Mais que isso: uma sociedade que tenha um lugar para eles, o mais destacado, em casa, junto aos filhos, aos netos e aos bisnetos. O mais destacado na própria sociedade, o respeito à sua experiência, ao conhecimento adquirido na luta pela vida. Sonho com uma sociedade em que nenhuma pessoa idosa fique ao desamparo, ao desabrigo, sem recursos e sem afeto.

Eu sonho com uma sociedade que respeite as mulheres. Uma sociedade onde a discrimação e a violência contra a mulher estejam abolidas de uma vez por todas, sejam consideradas um absurdo. A mulher é o sonho do homem e a sua realidade. A mulher é a amada e é a filha. É a mãe e a namorada. A avó, a vizinha, a comadre, a amiga. A mulher é a grande companheira. A mulher é a luz do mundo.

Eu sonho com uma sociedade que respeite os jovens, todos os jovens. Eles são a nossa parte melhor: o nosso idealismo, a nossa pureza, o nosso desprendimento, a nossa alegria de fazer, a nossa capacidade de acreditar.

Eu sonho com uma sociedade que respeite os homens, sejam quem forem, façam o que fizerem, pensem o que pensarem. Uma sociedade que respeite o amigo e o adversário, o sócio e o concorrente, o irmão e o desconhecido, o vizinho e o distante, o parente e o estranho, o conterrâneo e o forasteiro, o nacional e o estrangeiro. Respeite todos os homens, o seu corpo e o seu espírito. Respeite e defenda a liberdade de cada um, em todos os momentos, em todas as circunstâncias.

Eu sonho com uma sociedade que respeite a natureza, pois não há vida digna desse nome sem o convívio pacífico com a natureza. Uma sociedade que respeite o sonho humano de banhar os pés nos rios e descansar à sombra das árvores. Acordar com o canto dos pássaros e alegrar os olhos com o esplendor das flores. Despertar para a vida com o sol que nasce e entregar-se ao recolhimento enquanto o sol se põe. E dormir em paz, enquanto a lua sobe no horizonte.

Eu sonho com uma sociedade em que vale a pena ser honesto e íntegro, digno e coerente. E sonhador, com a beleza de Goiás e o privilégio de viver aqui. Sonho com esse cerrado sem fim, com esse horizonte que não acaba, a não ser para revelar e esconder o sol. Sonho com essa pastagem infinita, só povoada pelo boi e pelo vaqueiro solitário. Sonho com o Araguaia e o Tocantins, suas águas e suas praias, seus barqueiros e seus pescadores. Sonho com os arrozais imensos do sul e com a pradaria de soja do sudoeste. Sonho com o norte orgulhoso, e o nordeste rude e cheio de mistérios. Sonho com os garimpos e com a história da Vila Boa. E sonho com Goiânia, a Goiânia construída por tantas mãos anônimas, vindas de tantos lugares, para erguer aqui seu sonho de felicidade.

Eu sonho com todos o goianos anônimos que constroem este estado com a força dos seus braços, o suor de seus rostos, a força de suas ideias, o vigor da sua fé.

Eu sonho com um Goiás em que ninguém seja negado o direito ao trabalho, o direito de construir o seu próprio sonho. Um Goiás que se modernize e dê vida a esse sonho de cada um, mas sem perder o seu jeito de ser, bem goiano. Um Goiás absolutamente novo e, no entanto, fiel à suas tradições. Um Goiás moderno, assentado no que há de mais nobre e belo em nosso passado. Um Goiás justo para todas as pessoas, como sonharam os nossos antepassados, e como nós lutamos até agora para implantar.

É esse o meu sonho. O sonho que quero compartilhar com todos os goianos. E agradeço, agradeço comovido, o privilégio que vocês me deram de durante esse tempo todo conviver com vocês. Muito obrigado.

sábado, 28 de abril de 2012

Henrique Santillo descredenciado do INPS

Registramos no post passado que os governistas, integrantes da Aliança Renovadora Nacional (Arena), vasculharam os arquivos da Prefeitura Municipal com o intuito de encontrar alguma coisa fora do normal que pudesse incriminar o ex-prefeito Henrique Santillo. Acharam, na Procuradoria Municipal, minuta de um decreto de isenção de impostos municipais à Panificadora Bom Jesus, pertencente a amigos do, então, prefeito. Como se tratava, apenas, de minuta, o deputado Elcival Caiado ficou desconsertado na Assembleia Legislativa, ao falar da isenção, com base na minuta. Mesmo que tivesse sido assinada, não seria ilegal, porque havia uma lei municipal que garantia o benefício. Henrique Santillo só não concedeu a isenção porque os empresários eram do seu relacionamento pessoal e político.

Fracassada essa manobra, os arenistas partiram para outros expedientes. Ao passar o comando da Prefeitura de Anápolis para seu sucessor, José Batista Júnior (MDB), o médico Henrique Santillo, voltou a atender no Hospital Santa Paula, onde era um dos seus proprietários. Pediatra, humanitário, estudioso e competente, imediatamente viu seu consultório frequentado por centenas de pais levando os filhos aos seus cuidados.

O Ministério da Previdência e Assistência Social, através do INPS, havia implantado, em Anápolis, um Plano Piloto, que deveria ser estendido à saúde pelo Instituto, para todo o Brasil. O plano estabelecia o número máximo de atendimento mensal por cada médico credenciado. O que passasse do número máximo de consultas era, automaticamente, glosado pelo INPS. O instituto só pagava até o teto permitido. O que passava o médico não recebia.

A maioria dos médicos trabalhava nos 10 primeiros dias do mês, completava sua cota e só voltava a atender pelo instituto de previdência no mês seguinte. Henrique Santillo, independentemente de receber, ou não, atendia todas as crianças que chegavam ao seu consultório. Recebia do INPS apenas o fixado como cota pelo Ministério da Previdência e Assistência Social.

Com esse diferencial de atendimento, os casos de internação por ele encaminhados eram maiores que os demais pediatras credenciados pelo INPS, em Anápolis. É lógico: se outros médicos atendiam a 100 crianças por mês, e, Henrique Santillo 300, sempre haveria diferença no número de crianças necessitadas de internação. O INPS era dirigido por indicados da Arena, nossos adversários políticos. Denunciaram que Henrique estava internando mais crianças do que o necessário. Faziam comparação com os demais pediatras. Não procuraram saber o porquê daquela diferença. Foi descredenciado pelo Ministério da Previdência.

Foram momentos difíceis. Não podia deixar de atender à população, mas precisava tirar dali, o sustento da família. Como o INPS pagava dois cruzeiros por cada consulta, passou a cobrar de quem tinha condição de pagar, os dois cruzeiros. A maioria, como fazia no atendimento pelo instituto, não pagava nada.

O Sindicato dos Médicos de Anápolis, a Associação Médica e seus colegas foram em caravana a Brasília, protestar contra o seu descredenciamento. Esclarecida a questão, a diretoria do INPS se redimiu, e o Ministério da Previdência o recredenciou.

Foi mais uma tentativa frustrada dos arenistas goianos para enquadrá-lo politicamente ou forçar sua mudança de Anápolis, de preferência para outro Estado... (Continua).

terça-feira, 24 de abril de 2012

Os adversários continuaram em pânico!

Com a cassação de José Batista (em agosto de 1973), alguns integrantes do MDB de Anápolis foram aliciados pela Arena. Queriam, porque queriam, levar o partido a apoiar a nova administração municipal, chefiada por Irapuan Costa Júnior. Marcamos reunião do diretório para eleger nova Executiva. Pressão implacável sobre os companheiros. Gente humilde, desempregada, recebeu oferta de empregos. Ninguém se rendeu às ofertas. Aquela mesma turma que se unira a Arena tentando a cassação de Henrique Santillo e que apoiou Euripedes Junqueira, contra José Batista Júnior, queria agora acabar com a oposição em Anápolis.Os companheiros, mesmo pressionados de todo tipo, ficaram ao nosso lado afastando os adesistas.

Nós do MDB de Anápolis que fazíamos oposição incansável aos governos do Estado e Federal, passamos da mesma forma a ser oposição em Anápolis. No programa “O Povo Falou, Tá Falado”, pela Rádio Santana, levávamos diariamente a palavra de ordem do partido.

Os adversários não se conformavam com nossa disposição de luta. Notaram que não cederíamos às pressões e truculência. Buscaram nos intimidar por outros meios. A primeira investida foi a de realizar devassa nos documentos da prefeitura. Julgavam que encontrariam irregularidades na administração de Henrique Santillo.

Já naquela época, 1970, Henrique acreditava no desenvolvimento do Município através da industrialização. Criou a lei municipal de incentivo fiscal às empresas novas que se instalassem em Anápolis. Essas empresas ficariam isentas do pagamento dos impostos municipais por um período de 5 (cinco) anos.

Empresários anapolinos montaram nesse período, a Panificadora Bom Jesus. Por se enquadrar ás exigências e benefícios da lei, requereram à prefeitura a isenção de pagamento dos impostos municipais por cinco anos. O grupo era formado por pessoas ligadas políticamente a Henrique Santillo. O prefeito encaminhou a solicitação à Procuradoria municipal para oferecer parecer jurídico. Seu parecer foi favorável à concessão da isenção.Foi elaborada a minuta do decreto de isenção e anexada ao requerimento.

Com base nessa devassa promovida em toda documentação da administração de Henrique Santillo, a única coisa que encontraram foi essa solicitação de isenção de pagamento de impostos municipais feita pela Panificadora Bom Jesus.

Eu era deputado estadual. Numa sessão da Assembléia, quando discursava criticando o governador Leonino Caiado, fui aparteado pelo deputado Elcival Caiado. Além de primo do governador representava a Arena de Anápolis. Levantou a questão do benefício fiscal que Henrique Santillo fizera aos seus amigos da panificadora em Anápolis:

- “Vossa excelência está aí criticando o governador, mas se esquece que o seu irmão Henrique Santillo, isentou de pagamento de impostos em Anápolis, um grupo de amigos.”

- “ Não é verdade, deputado”, respondi.

Elcival foi até seu gabinete, e voltou com papel timbrado com o brasão da prefeitura de Anápolis. Leu o inteiro teor do Decreto com o nome do prefeito Henrique Santillo.

Assim que fez a leitura, para um plenário em silêncio, lhe respondi:

- “Esse documento não está assinado por Henrique Santillo!” Repeti por várias vezes que o documento não estava assinado.

Elcival Caiado reconheceu que não havia assinatura do prefeito. Tratava-se da minuta de decreto. Mesmo sendo legal, o prefeito não havia concedido o benefício à Panificadora Bom Jesus.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Prefeito José Batista Júnior cassado

José Batista Júnior assumiu a Prefeitura dando sequência ao trabalho que vinha sendo realizado por Henrique Santillo. Era um trator para trabalhar. Muito disposto, chegava à Prefeitura, onde hoje funciona a Câmara Municipal, nas primeiras horas do dia e só a deixava no inicio da noite. Continuou com a prática das ações concentradas levando, de 15 em 15 dias, benefícios aos moradores dos bairros. Por ocasião do 66º Aniversário de Anápolis (31/07/1973), realizou a Feira da Amostra da Indústria Anapolina - Faiana, no local onde hoje fica a Praça Abílio Wolney e a Prefeitura Municipal. Parte do brejo ali existente foi drenada, e aterrada, propiciando as condições para abrigar a feira.


Empolgado com o cargo e o trabalho que realizava, José Batista procurava se aproximar da Administração Estadual. Estava preocupado, principalmente, em fazer parceria com o, então, Governador Leonino Caiado, no setor da Segurança Pública. Vinha tentando, desde a sua posse, audiência com o Governador e o Secretário da Segurança Pública. A audiência foi marcada pelo secretário para as 10 horas do dia 28 de agosto. Ao chegar à Secretaria, ele foi informado, por assessores, que a audiência fora suspensa. Retornou imediatamente a Anápolis. Ao se aproximar do povoado de Santa Tereza, hoje Terezópolis de Goiás, ouviu notícia extraordinária, pelo rádio do seu carro, que o presidente Emilio Garrastazu Médici, havia, por decreto, transformado o Município de Anápolis em ‘Área de Interesse da Segurança Nacional’, cassando seu mandato de prefeito e nomeado o engenheiro Irapuan Costa Júnior, então, Presidente da CELG, a prefeito em sua substituição. José Batista Júnior nem passou na Prefeitura para apanhar seus pertences pessoais.

A cassação de José Batista Júnior foi ato covarde. Toda cassação que se deu durante o período ditatorial foi arbitrária, injusta, prepotente e covarde. Não se cassou ninguém por corrupção. As cassações se deram por motivação política. A de José Batista não foi diferente. Perdeu o mandato e os direitos políticos por que foi eleito prefeito pela maioria dos eleitores anapolinos. Foi cassado por que tinha o apoio e o respeito da população. Os arenistas, como não conseguiam ganhar eleição em Anápolis, decidiram tomar a Prefeitura com a transformação do Município em Área de Interesse da Segurança Nacional, cassando o mandato do prefeito eleito.

Cassado, impedido de ocupar cargo público, José Batista Júnior mudou-se para Brasília onde montou uma panificadora. Sem prática no ramo, pequena clientela e funcionando em lugar pouco habitado, em pouco tempo teve que abandonar a atividade. Foi convidado, pelo presidente da Encol, empresa ligada à construção civil e empreendimentos agrícolas na Região Norte, para administrar uma fazenda no interior do Amazonas. Ficava até oito meses sem ver a família em Brasília. Só deixou as matas amazônicas quando veio a anistia política. Readquirindo seus direitos políticos o levei para trabalhar no meu gabinete na Câmara Federal.

Hoje, José Batista Júnior mora novamente em Anápolis. No dia 28 de agosto próximo completará 39 anos da sua cassação. Dia da maior injustiça cometida contra um anapolino que, por amar e acreditar na democracia enfrentou, com destemor, os ditadores de março de 1964. José Batista Júnior foi baluarte na luta contra a ditadura e os golpistas. Os democratas lhe serão eternamente gratos. Sua história honrou a bravura e o destemor dos anapolinos. Deve ser contada repetidamente, para que todos saibam, em detalhes, seu amor pelas liberdades democráticas... (Continua)

quarta-feira, 28 de março de 2012

Uma vitória que parecia perdida!


Como vivíamos em plena ditadura, a vitória de qualquer candidato emedebista, em qualquer eleição, era fato auspicioso. Para a prefeitura de uma cidade como Anápolis, se transformava em feito espetacular.
A vitória de José Batista Júnior (MDB), para prefeito de Anápolis em 1973, foi o fato mais importante ocorrido na política goiana naquele ano. Os arenistas de Goiás contando com um candidato intelectualmente competente, de notável saber administrativo, simpático e com muita disposição de trabalho, como era Eurípedes Junqueira (Arena), jamais pensaram em derrota. Além do mais, por não haver eleição para prefeito em Goiânia, toda a estrutura do Governo Estadual sendo transferida para Anápolis, abusando do poder econômico e corrupção eleitoral, no entendimento deles, a vitória do candidato emedebista era “carta fora do baralho”.

A diferença dos eleitores e cabos eleitorais de Eurípedes para os de José Batista era grande. Quando saíamos nos bairros, vilas, distritos e povoados a manifestação de apoio ao candidato do MDB era de vibração total. Aquela gente humilde, sofrida pela dureza do dia a dia, manifestava sua simpatia e apoio de forma espontânea carinhosa e vibrante. Nas visitas que fazíamos aos empresários do setor central, notávamos sua frieza. Em compensação, quando estávamos fora do comércio, os “chapas”, os que carregavam e descarregam caminhões, faziam a maior festa para o nosso candidato. Em algumas ocasiões, quando nos retirávamos de um prédio comercial em que éramos tratados secamente pelo proprietário, os “chapas” aguardavam José Batista Júnior à porta carregando-o, aos ombros num verdadeiro comício. Esse era o clima da campanha.

A cédula era individual. Não havia, também, apuração pelo sistema eletrônico. Os votos eram contados um a um. Ao serem apuradas cinco ou seis urnas para prefeito, encerrava-se a apuração para o Executivo, dando-se inicio à apuração para a Câmara Municipal. Embora fossem candidatos de dois partidos apenas, mas pela lentidão da apuração, onde cada voto era cantado em voz alta para que os fiscais e delegados partidários pudessem, em caso de dúvida, registrar impugnação, a apuração demorava.
Nas primeiras 14 sessões, que representavam o eleitorado mais tradicional de Anápolis, a vantagem foi de Eurípedes Junqueira. Houve uma sessão, a sexta, em que a diferença de Eurípedes Junqueira sobre José Batista foi superior a 60 votos. Aquilo provocou um clima de euforia total entre os arenistas. Eurípedes Junqueira, segundo seus assessores, foi para Caldas Novas, onde ficou até o final da apuração. A festa da vitória seria monumental.

Nós, que havíamos corrido o município todo, sabíamos que, naquelas urnas apuradas no primeiro dia, a vantagem seria de Eurípedes. Sabíamos, também, que, nas urnas dos bairros, ganharíamos. De qualquer forma, para quem não tinha essas informações, a emoção e a expectativa eram intensas. Procurado pelos jornalistas que faziam a cobertura das apurações, para dar a minha opinião sobre o resultado final do pleito, fiz a observação a todos eles que até a 14ª seção a vitória seria de Eurípedes Junqueira, mas que a partir da 15ª o vencedor seria José Batista Júnior. Não deu outra... A partir da 15ª seção o candidato emedebista começou a ganhar, não perdendo mais. Até em Campo Limpo, onde Henrique Santillo havia perdido, por dois votos, para Luiz Vieira, no pleito de 1969, José Batista obteve mais de 400 votos de frente.
Ao final da apuração nossa confraternização se resumiu a uma caminhada da Praça do Bom Jesus à Praça Santana, onde aglomeramos algumas centenas de companheiros, para que o prefeito eleito e Henrique Santillo agradecessem aos companheiros e ao povo de Anápolis por mais uma vitória espetacular dada às forças da resistência democrática no Município... (continua)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Rádio Carajá tomada à base de metralhadora

Os fatos históricos, e heróicos, da resistência democrática praticada pelos anapolinos sob a liderança de Henrique Santillo, à ditadura militar de março de 1964, são reais. Eles mostram o destemor da nossa gente, seu amor à democracia e liberdade.

A vitória de José Batista Júnior (MDB) sobre Eurípedes Junqueira (Arena) foi a gota d’água para que medidas mais radicais fossem utilizadas pelos ditadores contra o mais importante reduto de resistência à ditadura em todo o estado de Goiás. Por via democrática, pelo voto popular, estava claro que a Arena não venceria o MDB autêntico. A esperança que tinham, havia sido frustrada: derrota de Eurípedes Junqueira para José Batista Júnior.

A primeira grande vítima da ação raivosa dos arenistas de Goiás foi a Rádio Carajá. A mais antiga e potente emissora radiofônica de Anápolis, sempre funcionou no andar superior do prédio pertencente ao Banco do Estado de Goiás - BEG, na esquina das ruas Barão do Rio Branco e Engenheiro Portela, na Praça Bom Jesus. Hoje Banco Itaú. Assim que a emissora foi adquirida do ex-deputado Plínio Jayme, por um grupo de emedebistas ligado ao santilismo, a emissora foi despejada daquele local, pela diretoria do BEG, por determinação do Governo Estadual. Os estúdios da emissora foram transferidos para um galpão, na Avenida Goiás, esquina com a Rua Coronel Batista.

Por ser uma emissora independente, noticiando fatos importantes para o esclarecimento da população, sua audiência era extraordinária. O programa “O Povo Falou, Tá Falado” que, diariamente, apresentávamos com Romualdo Santillo, pela Carajá, era ouvido praticamente por todos os anapolinos. Essa força na comunicação intranquilizava os representantes da Arena. Mesmo com a ação truculenta do Governo do Estado, obrigando a transferência dos estúdios da emissora para lugar improvisado, sua audiência continuou fantástica.

Na madrugada do dia em que José Batista Júnior assumiria a Prefeitura, substituindo a Henrique Santillo, elementos do Departamento Nacional de Telecomunicações - Dentel, acompanhados de integrantes da Policia Militar do Estado, invadiram os transmissores da Rádio Carajá, no Bairro Jundiaí, e seus estúdios, impedindo a entrada dos nossos funcionários à emissora. Assumiram o seu comando por determinação do Ministério das Comunicações e a devolveram a Plínio Jayme. Alegaram que a transferência se dera sem conhecimento do Ministério. Com isso, foi a negociação considerada ilegal. Ficamos nós, do MDB autêntico, sem nosso principal instrumento de comunicação com o povo.

Adquirimos em seguida o controle da Rádio Santana Ltda. de Anápolis, uma pequena emissora de 250 watts de potência, que pertencia às freiras da Igreja Católica. Seu procurador era Radivair Miranda, político e proprietário de emissora de rádio em Itumbiara. Em abril, dois meses após a tomada da Carajá por força policial, iniciamos os trabalhos na Rádio Santana. Em pouco tempo o programa “O Povo Falou Tá Falado” era, novamente, líder absoluto de audiência. A perseguição à emissora e consequentemente ao santilismo continuou. Integrantes da Polícia Federal montaram guarda nas dependências da emissora. Exigiam a gravação diária da sua programação. Perseguição aos que nela se atrevessem a anunciar e era feita escancaradamente por órgãos da Secretaria Estadual da Fazenda. Mesmo assim, nós da família Santillo a sustentávamos nos seus déficits mensais. Se mantinha em funcionamento... (continua).

quinta-feira, 15 de março de 2012

A força do MDB santilista em Anápolis

Estamos resgatando a página mais bonita da história política dos anapolinos contra a ditadura militar de 1964. Na crônica passada, relatamos parte da disputa pela Prefeitura de Anápolis, em 1972, última eleição direta para prefeito, antes de o Município ser transformado em Área de Interesse da Segurança Nacional.

Os arenistas acreditavam que Eurípedes Junqueira, pelo seu valor pessoal, contando com forças governistas federais e a máquina administrativa estadual, seria eleito prefeito. Um debate pela televisão, diziam, aumentaria o cacife de Eurípedes. Compraram horário nobre, num domingo, na TV Anhanguera. Chegamos aos seus estúdios às 18 horas. Encontramos o quadro montado. Índio do Brasil Artiaga, que viria a ser prefeito nomeado de Goiânia, vereador Lincoln Xavier Nunes (MDB) que apoiava Eurípedes, e quatro jornalistas goianienses que serviam ao Governo Estadual, organizavam as regras do debate. Os jornalistas se apresentaram como os entrevistadores. Não aceitei as regras. Propus-me a fazer perguntas para Eurípedes Junqueira e que, um deles, fizesse perguntas a José Batista. Não concordaram. O impasse foi criado. Depois de muita discussão chegamos à conclusão de que só Eurípedes e José Batista entrariam no estúdio. Fariam perguntas, um ao outro.

Foi um debate sereno, sem agressões ou perguntas constrangedoras. Só ficamos sabendo da repercussão do debate quando chegamos a Anápolis. Fomos recebidos com muita festa e foguetes. Os adversários, por sua vez, também haviam gostado da apresentação de Junqueira. Mas, o debate serviu para mostrar aos que não conheciam bem a José Batista Júnior, que ele era competente e preparado para dirigir o Município de Anápolis.

Na semana seguinte, o desespero dominou as hostes arenistas. Partiram para o tudo ou nada. Em reportagem encomendada, duas páginas no Jornal Cinco de Março, de Goiânia, o jornalista Edson Nunes, foi violento contra José Batista Júnior, sem apresentar nenhum documento. Acusou-o de tudo. Desde que teria colocado fogo em uma loja comercial de sua propriedade para receber seguro a estelionato. Difamado e caluniado, não perdeu a tranquilidade. Mesmo sendo inverdades grosseiras, enorme baixaria, deram-nos muita dor de cabeça e perda de tempo. Desmentimos todas, mas não tiveram o destaque merecido pela imprensa denunciante.

O refrão usado pelo locutor dos comícios da Arena era: “Zé Tochinha, Zé Tochinha, Zé Tochinha...” alusão a José Batista Júnior de que teria colocado fogo em uma loja comercial em Goiânia.

Os comícios de encerramento da campanha aconteceram no último dia. O de José Batista Júnior foi na Praça Bom Jesus. O de Eurípedes Junqueira, na Praça das Mães. Os oradores de Batista Júnior foram os mesmos de todos os dias, tendo como o grande destaque Henrique Santillo. Inúmeros foram os oradores convidados ao comício de Junqueira. As atrações artísticas no comício do MDB foram as duplas sertanejas Zé Venâncio e Saulino e Cascatinha e Inhana. No da Arena houve globo da morte, outras atrações circenses e o maior conjunto musical do Brasil à época: Os Incríveis. O público se revezava indo de um lado para o outro.

No dia da eleição só se viam automóveis trabalhando para Eurípedes. Na contagem dos votos, Eurípedes Junqueira saiu à frente nas primeiras urnas. Encerradas as seções do setor central, entrando as urnas dos bairros e da zona rural, José Batista Júnior tirou a diferença e ampliou a vantagem de seção em seção. José Batista Júnior foi eleito de forma emocionante e espetacular. Recentemente comentando sobre essa eleição, Eurípedes Junqueira atribuiu sua derrota à força do santilismo em Anápolis... (continua)

terça-feira, 6 de março de 2012

Campanha emocionante em 1972

Em abril de 1972 foi inaugurada a Base Aérea dos Mirage em Anápolis. Falava-se na transformação do Município em Área de Segurança Nacional. Acreditando numa vitória arenista a ideia foi adiada.

Para a eleição daquele ano, o MDB indicou como candidato a prefeito, o professor José Batista Júnior. Querido e respeitado pela população e pelos companheiros de partido. Havia comandado a educação e a cultura do Município. José Batista seria protagonista de uma das mais emocionantes disputas pela prefeitura de Anápolis.

Seu adversário, professor Eurípedes Barsanulfo Junqueira, era tido como funcionário público municipal exemplar. Começou como contínuo, chegando à chefia de gabinete do prefeito nas administrações de Hely Alves Ferreira e Jonas Duarte. Havia passado pela direção do Colégio Estadual “José Ludovico de Almeida”, principal colégio da cidade. Em 1965, cogitado para ser candidato em substituição ao prefeito Jonas Duarte, abriu mão para Raul Balduíno. Era, sem dúvida, a pessoa mais forte que a Arena poderia lançar.

José Batista, também, um político coerente e tradicional, se apresentava como o candidato da luta pela redemocratização do País e único capaz de dar continuidade ao trabalho realizado pelo grupo santilista.

A tese defendida por Eurípedes foi a de que Anápolis ganharia com a sua eleição por que ele teria a mão esquerda estendida ao Governo Estadual e, a direita, ao Governo Federal. Fez, pessoalmente, a campanha paz e amor. Sem o ódio e radicalismo, como a maioria dos que o apoiavam. Sua mensagem era, especialmente, levada às mães. Era tido pelos analistas políticos como imbatível.

Não havendo eleição para prefeito em Goiânia, a estrutura do Governo Estadual, para ganhar a eleição, foi transferida para Anápolis. Lei eleitoral falha, justiça desaparelhada, sem termos a quem recorrer, incentivávamos o eleitor a receber as benesses oferecidas pelo Governo, mas que votasse em José Batista Júnior:

- “Peguem o dinheiro, carteira de motorista, material de construção que estão lhe oferecendo, mas votem contra quem está tentando comprar seu voto. Diga não à corrupção e à escravidão. Vote pela liberdade. Vote José Batista Júnior.”

A Rádio Imprensa, pertencente ao médico Henrique Fanstone, presidente municipal da Arena, fazia a campanha arenista. Transmitia, todas as noites, os comícios de Junqueira. A Rádio Carajá comandada pelo MDB autêntico, defendia a administração Henrique Santillo, a candidatura de José Batista Júnior e transmitia, diariamente, os seus comícios.

Os emedebistas que romperam com o prefeito Henrique Santillo, criaram um grupo que se auto-intitulou “MDB Positivo” em apoio a Eurípedes Junqueira. Fernando Cunha Júnior e Ronaldo Jayme, por serem detentores de mandatos, não subiram ao palanque de Eurípedes Junqueira. Os demais emedebistas, adesistas, fizeram parte do palanque arenista. No palanque de José Batista Júnior, Henrique Santillo, Anapolino de Faria, os sete vereadores que apoiavam o prefeito, dentre eles o candidato a vice Milton Alves Ferreira; João Abrão, Presidente do MDB, Romualdo Santillo, eu e lideres populares.

Certos que num debate pela televisão Eurípedes Junqueira venceria José Batista, a Arena comprou o horário mais importante da TV Anhanguera, o único canal de televisão, até então, existente em Goiás, para o confronto, marcado para as 19 horas de um domingo... (continua)

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Até o Exército Foi Usado Para Afastar Walmir

Com duas câmaras de vereadores funcionando simultaneamente em Anápolis, o juiz Clementino de Alencar Lima reconheceu, como legitima, a presidida por Walter Gonçalves de Carvalho. A que apoiava Henrique Santillo. Ao mesmo tempo chegou-nos a notícia de que Walmir Bastos estava preso nas dependências do Exército, em Brasília. Só ficamos sabendo do seu paradeiro naquele local por que alguns membros do Partido Comunista Brasileiro - PCB, daqui de Anápolis, que lá se encontravam presos, agora em liberdade, nos trouxeram informações dele.

No PIC, do Exército em Brasília, à disposição do major Leopoldino, militar envolvido na trama para forçá-lo a renunciar ao mandato de vereador, Walmir não resistiu às pressões e torturas, assinado sua carta-renúncia. O documento ficou nas mãos de Leopoldino. Caberia a ele encaminhá-lo à Câmara Municipal de Anápolis. Teria que ser lido em plenário para que a renúncia se consumasse. Sem Walmir, com eleição de novo presidente que, com certeza, seria do grupo que fazia oposição ao prefeito Henrique Santillo, os golpistas ficaram eufóricos com a notícia que circulava nos bastidores sobre a renúncia. Só falavam na iminente cassação de Henrique Santillo. Antes que a carta-renúncia chegasse à Câmara, Walmir foi solto.

Chegando a Anápolis, ele me procurou narrando em detalhes o acontecido. Imediatamente fomos a Brasília conversar com o presidente nacional do MDB, deputado Ulysses Guimarães. Na Câmara Federal, acompanhados do deputado Anapolino de Faria, narramos a violência praticada contra Walmir Bastos, nas dependências do Exercito, tudo objetivando o afastamento de Henrique Santillo da Prefeitura. Ulysses designou o líder da bancada emedebista na Câmara, deputado Jayro Brum (RG), para que denunciasse o caso à Nação.

A repercussão nacional da denúncia impediu que o major Leopoldino encaminhasse à Câmara Municipal de Anápolis o oficio de renúncia. Com isso o vereador continuou exercendo seu mandato e, consequentemente, a presidência. Os golpistas da Arena, reforçados por adesistas do MDB, sem presidência da Câmara Municipal e com processo feito por encomenda à Policia Federal, desprovido de provas contra nós - Henrique, Adhemar e Anapolino - não tiveram a coragem de nos processar judicialmente.

Encerrado o mandato de Henrique Santillo como prefeito, o processo foi entregue ao Procurador estadual Bechara Daher, que o manteve em sua gaveta para uso posterior.

Como prefeito, Henrique Santillo, sofreu outras perseguições. Uma delas foi retenção do ICM - Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços - pelo Governo Estadual. Nos três últimos meses da sua administração, em 1972, o prefeito não teve sua quota de 25% do ICM arrecadado em cada mês no Município, repassada pela Secretaria da Fazenda Estadual, no prazo estabelecido em lei. Com isso, sendo a maior fatia da arrecadação municipal, a Prefeitura não dispunha de recursos sequer para o pagamento do salário do funcionalismo público. Queriam desgastar e desestabilizar o prefeito. Mesmo com tantas perseguições ao longo da sua administração, Henrique Santillo continuava com grande apoio popular.

A solução para essa retenção indevida de tributos veio com sua reação imediata. Henrique determinou ao Procurador Geral da Prefeitura, Vicente de Paula Alencar, que requeresse Intervenção Federal, no Governo do Estado, por descumprimento à norma constitucional, que previa punição com intervenção federal no caso de retenção ou atraso do repasse de impostos, pertencentes aos municípios. Imediatamente as quotas de ICM retidas foram repassadas a Anápolis. Henrique se aproximava do final da sua administração superando todas as tentativas de golpe... (continua)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A Violência Contra Walmir Bastos

Com a denúncia caluniosa, verdadeira deduragem do grupo contrário ao santillismo em Anápolis, se utilizando inclusive da Polícia Federal, o MDB local rachou por completo. O prefeito Henrique Santillo demitiu das secretarias e diretorias os integrantes da equipe denuncista. Ele que contava com folgada maioria de 10 vereadores contra 5 da Arena, na Câmara Municipal, viu seu partido transformar-se em minoria de 7 contra 8, com as adesões dos emedebistas Lincoln Xavier Nunes, Pedro Sergio Sobrinho e João Divino Cremonez , lhe fazendo oposição radical.

Com leucemia e saúde abalada, o presidente da Câmara, vereador Antônio Marmo Canedo-MDB pró Santillo, que mesmo debilitado pelo câncer lutava como um leão, não resistiu vindo a falecer. Walmir Bastos Ribeiro- MDB, que da mesma forma pertencia ao grupo autêntico que apoiava o prefeito, assumiu a presidência na qualidade de vice presidente eleito ao lado do presidente Marmo Canedo e Walter Gonçalves de Carvalho, secretário.

Os adversários de Henrique Santillo dentro do MDB, já haviam tentado a adesão de Walmir. Isso ocorreu num banquete realizado na casa de um dos integrantes do grupo. Na oportunidade ofereceram todo tipo de vantagens pessoais para que mudasse de posição. Não conseguindo, partiram para a perseguição e violência:

Mobilizaram órgãos da repressão para prender, torturar e levar Walmir Bastos à renúncia do mandato. Departamento de Ordem Política e Social – Dops, da secretaria Estadual de Segurança Pública e Policia Federal fizeram parte da ação. O vereador foi preso passando mais de 10 dias numa cadeia de Goiânia. Solto só após haver se comprometido que na Câmara Municipal ficaria ao lado dos três vereadores do MDB que faziam oposição a Henrique Santillo. No exercício do mandato Walmir continuou à frente da presidência da Câmara, apoiando o prefeito. Foi novamente preso por integrantes do Dops e Policia Federal. Ficou mais 15 dias totalmente incomunicável. Ganhou a liberdade depois de novamente se comprometer a deixar a liderança de Henrique Santillo. Retornando a Anápolis publicou panfleto em que denunciava à população as perseguições sofridas.

Estava distribuindo: “ Uma Voz que Não se Cala diante das Ameaças!”, nas dependências da prefeitura que funcionava na Praça do Bom Jesus, quando avistou os policiais que o prenderam nas vezes anteriores. Correu para o gabinete do prefeito Henrique Santillo, onde me encontrava. Fiquei com ele até que a noite chegasse. Escuro, ruas desertas, entrei no meu carro para lhe dar carona e fuga. Mal sentou-se ao banco do carona, quando dois policiais a paisana, fortemente armados nos deram voz de prisão. Quando me reconheceram, pois era deputado estadual, pediram mil desculpas e alegaram que o levariam para um depoimento na Policia Federal e em seguida seria liberado.

Dali o levaram para prisão onde sofreu todo tipo de humilhação, agressões e torturas. Nenhum de nós do grupo santillista sabíamos para onde fora levado. Só depois de muito tempo soubemos que se encontrava em Brasília. Continuava apanhando para que renunciasse a presidência da Câmara. Enquanto isso os 5 vereadores da Arena, mais os 3 do MDB que faziam oposição a Henrique Santillo, elegeram um novo presidente para dirigir a edilidade municipal. Assumiram a sede da Câmara, que funcionava no edifício do Clube Recreativo Anapolino, à Rua Barão do Rio Branco.

Os 7 do MDB, fiéis a Henrique Santillo, passaram a se reunir no antigo prédio da Biblioteca Pública Municipal Zeca Batista, á Praça Americano do Brasil, sob a presidência do secretário Walter Gonçalves de Carvalho. A questão foi parar na justiça... (Continua)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

MDB vence eleição para a Prefeitura em 1969

Continuando a história da resistência em Anápolis. Com o acerto interno do MDB, Henrique Santillo foi lançado candidato à prefeitura para a sucessão de Raul Balduíno, tendo Thales Reis na vice. A arena homologou a candidatura de Luiz Vieira, vice de Raul Balduíno. Quando PSD, PTB, UDN e todos os partidos foram extintos pela ditadura de 1964, Vieira que pertencia ao PTB, filiou-se à Arena. Candidato oficial do partido governista, contando com o apoio do governador Otavio Lage. Mesmo com toda estrutura oficial a favor do arenista, já se notava durante a campanha que não suportaria a supremacia, credibilidade e popularidade do MDB.

A vitória da dupla Henrique Santillo/Thales Reis foi esmagadora. Venceu em quase todo município. Luiz Vieira só ganhou, com 2 votos de frente, em Rodrigues Nascimento (Campo Limpo). Nas demais regiões a vitória de Henrique/Thales foi consagradora.

Na formação da sua equipe fui escolhido chefe de gabinete. Henrique organizou seu secretariado democráticamente, equilibrado, prestigiando as duas tendências existentes no partido. Thales Reis, Fernando Cunha e Carmem Xavier, dentre outros, da corrente de Achiles de Pina, fizeram parte do secretariado.

Nos seus três anos de mandato, comandou duas eleições. A legislativa em 1970 e a da sua sucessão em 1972.

O deputado federal Anapolino de Faria, nosso amigo e fiel companheiro, foi fundamental na nossa vida política. Desde o primeiro instante ficou aberta e decisivamente com a candidatura Santillo à prefeitura. Em 72 candidatou-se à reeleição. Fernando Cunha Júnior, do grupo contrário, também lançou-se candidato.

Convidamos Laudo Puglisi e José Batista Júnior para que um deles se candidatasse pelos santillistas, à deputado estadual. Não se dispuseram. Diante disso os companheiros lançaram minha candidatura. Fiz dobradinha com Anapolino de Faria. Fernando Cunha Júnior foi apoiado em Anápolis, dentre outros, por Ronaldo Jayme.

Para o Senado foram disputadas as três cadeiras. As deixadas por Juscelino Kubitschek e Pedro Ludovico Teixeira por terem sido cassados e a de José Feliciano Ferreira cujo mandato estava se encerrando. O MDB lançou Raul Balduíno, Gerson de Castro Costa e Pedro Ludovico Jr. Pela Arena disputaram Osires Teixeira, Benedito Vicente Ferreira e Emival Caiado. Se elegeram os três arenistas. Emival Caiado na terceira vaga, com mandato de 4 anos, por ter sido o menos votado dos três.

Anapolino e Fernando se elegeram deputado federal. Eu e Ronaldo Jayme fomos eleitos para a Assembléia Legislativa. Pela Arena, representando Anápolis, Elcival Caiado deputado estadual e Henrique Fanstone para a Câmara Federal.

Após as eleições o grupo contrário a Henrique Santillo no MDB, rompeu com ele, por não se conformar com o resultado eleitoral. Publicou um manifesto nos denunciando (prefeito Santillo, eu como deputado estadual e Anapolino de Faria reeleito deputado federal) termos praticado corrupção eleitoral. Alegaram, irresponsavelmente, termos usado máquinas da prefeitura de Anápolis, em estradas rurais de Ouro Verde, Goianápolis, Nerópolis e Petrolina, em troca de votos.

Por se tratarem de denúncias feitas por integrantes do MDB ao prefeito também do MDB, a Policia Federal abriu inquérito para apurá-las.

Ao mesmo tempo os emedebistas rompidos com Henrique Santillo, através dos vereadores Lincoln Xavier Nunes, Pedro Sérgio Sobrinho e João Divino Cremonez, passaram a votar com a Arena. Usaram o inquérito da Policia Federal, tentando o afastamento do prefeito pela Câmara Municipal, por impeachment... (continua)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Candidatura de Henrique Santillo à prefeitura

Com a vitória esmagadora, surpreendente, de Henrique Santillo para a Câmara Municipal nas eleições de 1966, a celeuma que se criou em torno da sua diplomação pela justiça eleitoral, seu nome emergiu de maneira espontânea como a grande liderança política de Anápolis para substituir Raul Balduino, nas eleições de 1969.

Antes de 1966, nós os santillistas, embora tivéssemos nossas convicções políticas e ideológicas, não havíamos sido filiados a nenhum partido político. Passamos a militar em partido só a partir de 1966, quando nos filiamos ao MDB. A vitória de Henrique Santillo para a Câmara Municipal dava inicio a um novo rumo para o partido em Anápolis.

O Movimento Democrático Brasileiro no município foi organizado, muito mais em cima de divergências políticas locais, que compromisso de combate a ditadura, que era o seu compromisso nacional.

Henrique Fanstone que fora derrotado por Raul Balduíno, nas eleições de 1965, para a prefeitura de Anápolis, filiou-se a Arena. Os liderados por Achiles de Pina, Jonas Duarte e Raul Balduíno, até por falta de outra opção, pois haviam só Arena e MDB, filiaram-se ao MDB. O deputado federal Haroldo Duarte convicto e ferrenho combatente à ditadura de 1964 era exceção dentro grupo. O surgimento de Santillo foi o grande acontecimento da política Anapolina. Viria transformá-la completamente.

Como vereador deu sustentação ao prefeito Raul Balduino, ao mesmo tempo que organizou o MDB para sua missão histórica de combate ao autoritarismo.O movimento popular, movimento das massas de baixo para cima, cresceu tanto que fugiu do controle dos “cardeais” do partido. O povo exigia a candidatura de Henrique Santillo. Mesmo com o vasto apoio popular, a cúpula municipal não acostumada a pressão, queria Thales Reis, como candidato. Thales era ex-delegado de polícia e genro de Achiles de Pina.

Até aquele momento da história política Anapolina, Achiles de Pina era a grande referência, o grande eleitor. Sua força política era antiga. Desde a época em que a maioria do eleitorado de Anápolis era rural. Como maior cerealista do município, mantinha um relacionamento comercial e de amizade com os fazendeiros de Nerópolis, Brasabrantes, Nova Veneza, Damolândia, Ouro Verde, Goianápolis, Campo Limpo, Souzânia e Interlândia, todos distritos de Anápolis. Seu pedido de apoio e voto para essas lideranças rurais era órdem a ser cumprida.

Embora sem apoio popular, a candidatura de Thales, foi se consolidando dentro do MDB, pela indefinição de Henrique Santillo que relutava em aceitar sua candidatura. Moacyr Junqueira, editor chefe do jornal O Anápolis, diário pertencente ao deputado federal Anapolino de Faria, numa das suas edições, estampou em manchete “ Adhemar Santillo será o candidato do MDB”
Diante desse fato novo, Henrique anunciou sua disposição de disputar a prefeitura.

Ainda assim a cúpula emedebistas insistia com a candidatura de Thales Reis. Passadas algumas semanas, Henrique Santillo foi convidado para reunião com o prefeito Raul Balduíno e seus apoiadores. Foi selada a unidade emedebista, com Santillo para prefeitura, Thales para a vice.

O apoio do deputado federal Anapolino de Faria, desde o primeiro instante, a Henrique Santillo, foi decisivo para a sua escolha como candidato do MDB. Se não contasse com esse apoio de Anapolino, mesmo com toda manifestação popular ao seu lado, o resultado da convenção poderia ter sido outro.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Walmir Bastos conquistou os anapolinos

Em 1957 Romualdo e eu estudávamos no Colégio Estadual de Anápolis que funcionava no prédio que pertence a Escola Antesina Santana, situada à Rua Desembargador Jayme, em frente à Igreja de Santana. Henrique já havia concluído o científico e se encontrava em Belo Horizonte para enfrentar o vestibular para medicina na UFMG.


O período letivo já havia iniciado, quando numa determinada noite do mês de março, o professor Hely Alves Ferreira, diretor do Colégio Estadual—que no ano seguinte, 1958, seria eleito prefeito de Anápolis, para um mandato de dois anos, compareceu à nossa sala, numa aula de francês, ministrada pelo professor Geraldo Fleury, tendo em sua companhia um rapaz magrinho, bigode ralo, usando terno de linho creme e gravata borboleta. Disse que o jovem viera de Jequié, na Bahia, para estudar em Anápolis. Tratava-se de Walmir Bastos Ribeiro, que viria se transformar, num futuro não muito distante, no mais eficiente e operoso vereador que já passou pela Câmara Municipal. Figura de destaque na luta contra a ditadura militar.


Walmir Bastos (primeira fila, esq.) durante sessão na Câmara

Walmir gostava de política. Seu ídolo era Vieira de Melo. Respeitado nacionalmente e que representava a Bahia, no Congresso Nacional. Já nas eleições de 1958 para o Grêmio Literário Castro Alves, fez parte da sua diretoria. O presidente era Severino Ferreira. Haviamos deixado Antesina Santana e fomos para o Colégio Estadual “José Ludovico de Almeida,” construído pelo governador Juca Ludovico, na Vila Brasil.

Na eleição de 1966, Walmir Bastos que se consagrara como grande liderança estudantil presidindo o Grêmio Castro Alves, saiu candidato a vereador. Disputou mandato enfrentando especialmente o médico Henrique Santillo, professor de Química Mineral, no científico do Colégio Estadual. Henrique era muito conceituado e querido entre os estudantes e professores. Com mais de 400 votos, Walmir ficou na quarta suplência do MDB.


No desenrolar da legislatura que se findou em 1970, Walmir, carinhosamente conhecido como Baiano, assumiu o mandato em inúmeras oportunidades. O Regimento Interno da Câmara Municipal, permitia que o titular faltando à sessão, o líder da bancada podia convocar o suplente melhor classificado presente ao recinto da Câmara para assumir a vaga. Como vereadores de cidades com menos de 100 mil habitantes não recebiam subsídios e o prefeito Raul Balduino administrava tranqüilo, sem oposição, em todas as sessões havia alguém que deixava de comparecer. Walmir gostava de política, não tinha apego a dinheiro, se fazia presente a todas as sessões, assumindo a vaga.


Fato histórico e raro mesmo, aconteceu naquele período de 1967/1970, no Legislativo anapolino. Iniciando legislatura como quarto suplente da bancada do MDB, o vereador Walmir Bastos ao final da legislatura foi efetivado titular.


No transcurso dos quatro anos, os vereadores emedebistas João Furtado de Mendonça, Adão Mendes Ribeiro, João Luiz de Oliveira e Oscar Miotto, faleceram. Com isso o baiano de Jequié terminou a legislatura em 1970, como titular.


Nas eleições de 1970, Walmir Bastos se reelegeu com expressiva votação. Seus eleitores esclarecidos e politizados eram especialmente profissionais liberais, professores e estudantes. A bancada do MDB elegeu 10 vereadores enquanto a Arena as 5 restantes. A Mesa Diretora da Câmara Municipal, para o biênio 1971/72, foi toda do MDB: Antônio Marmo Canedo, presidente; Walmir Bastos, vice-presidente; Walter Gonçalves de Carvalho, secretário...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O surgimento de uma nova liderança (III)

A decisão parcial do Juiz Eleitoral de Anápolis, Manoel Luiz Alves, tendo como base calhamaço de papéis apócrifos, sem nenhuma denúncia concreta e verdadeira, apenas fofocas, inverídicas e desonestas, nos preocupou. Afinal não havíamos completado dois anos da implantação da ditadura de 1964. Caça aos esquerdistas, lideres sindicais e estudantes era a obsessão dos governantes.Comunista para eles era palavrão! Com a negativa do juiz, as coisas ficariam mais fáceis para os golpistas que queriam matar a liderança de Henrique Santillo no nascedouro. Já contavam com o apoio dos órgãos da repressão. A decisão do juiz deu o respaldo que necessitavam.

Não nos amedrontamos ou intimidamos com o golpe. Partimos para a resistência. Acompanhado do saudoso amigo Amaral Montez, fomos a Belo Horizonte. No Departamento das Execuções Penais da Polícia Civil recebemos certidão negativa de qualquer prisão de Henrique Santillo nos presídios de Minas Gerais. No Dops nenhuma alusão a subversão do estudante Henrique Santillo no Estado. Da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, saímos com declaração de que fora o mais destacado aluno da sua turma em todo curso de medicina. No Comando da Polícia Militar, certidão de que Henrique Santillo não era fichado como comunista na G-2 de Minas Gerais.

Com essa documentação e despesas pagas pelo nosso pai Virginio Santillo, contratamos Rômulo Gonçalves, o mais experiente e famoso advogado de presos políticos em Goiás, para defender Henrique junto ao Tribunal Regional Eleitoral, para onde havíamos recorrido.

No dia da votação, o advogado da Arena presente à sessão do TRE, apresentou um fax enviado pelo governador de Minas Gerais, Israel Pinheiro, ao governador de Goiás Otavio Lage de Siqueira, em que declarava que havia tornado nula a certidão emitida pela G-2 da Polícia Militar, pois “Henrique Santillo estava mesmo fichado como comunista naquela repartição militar.”

Foi mais uma tentativa desesperada dos golpistas na luta para impedir o surgimento de uma nova liderança política em Goiás, evitando que fosse diplomado vereador em Anápolis.

O Juiz Federal José de Jesus, integrante do Tribunal Regional Eleitoral, usando da palavra no instante em que se discutia se o fax enviado pelo governador mineiro deveria ou não anular a certidão da Polícia Militar, disse em seu voto:

"Não se pode anular uma certidão, com sinete da corporação militar de Minas Gerais, por um fax enviado pelo governador Israel Pinheiro de Minas Gerais ao governador Otavio Lage, de Goiás. O que vale é o documento oficial."

Realizado o julgamento o TRE determinou a diplomação do vereador Henrique Santillo e sua posse imediata.

Mesmo com a decisão do Tribunal Regional Eleitoral a favor da diplomação do vereador Henrique Santillo, o juíz eleitoral de Anápolis, Manoel Luiz Alves, se negou a realizá-la. O TRE designou o juiz Sir Roriz, para que cumprisse sua sentença. Assim Henrique Santillo assumiu a cadeira que por mérito e justiça era sua na Câmara Municipal de Anápolis. Enquanto esteve impedido, seu substituto foi Oscar Miotto, primeiro suplente da bancada emedebista. Foi a primeira e grande vitória do grupo santillista, na luta pela resistência democrática, em Anápolis. Surgia uma nova liderança política em Goiás.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O surgimento de uma nova liderança (II)

Filiado ao MDB, e registrado candidato a vereador pelo partido, fomos à luta em busca do voto. Romualdo, radialista conceituado, estimado e de muita credibilidade, fez a campanha entre os colegas de trabalho. Como Presidente da Liga Anapolina de Desportos; ex-presidente do Grêmio Literário Castro Alves, do Colégio Estadual José Ludovico de Almeida e da União dos Estudantes Secundaristas de Anápolis - UESA, trabalhei junto aos dirigentes esportivos, atletas e estudantes. Nosso pai Virgínio, levou o nome de Henrique aos comerciantes, fornecedores de cereais, corretores e chapas. Nossa mãe Elydia às suas comadres e amigas. Henrique trabalhou junto aos clientes, alunos do Colégio Estadual, lideranças comunitárias e companheiros da área de medicina.

Campanha silenciosa. Pé na estrada. Os analistas políticos municipais elaboravam suas listas de prováveis eleitos e não o incluíam entre eles. Não era de se admirar, pois pelo MDB, os candidatos apontados pelos especialistas como vitoriosos eram os que disputavam a reeleição; representantes de distritos como Souzânia (Homero Siqueira) e Campo Limpo (Adão Mendes Ribeiro); lideres religiosos ou integrantes de famílias numerosas.

As cédulas eram individuais, com o nome do candidato, colocadas em envelopes rubricados pelos mesários. No dia da eleição amigos eleitores de Henrique tiveram que confeccionar à máquina de escrever, cédulas para urnas do setor central da Cidade. As que haviam sido destinadas a cada sessão eleitoral foram em quantidade insuficiente ou retiradas por adversários. Encerrada a apuração, Santillo obteve 1.536 (hum mil quinhentos e trinta e seis) votos. Mais de 10% dos votos válidos. Votação que jamais havia sido alcançada por outro candidato e até hoje recorde no Município.

A expressiva e surpreendente vitória de Henrique Santillo, com mais de 200 votos sobre Elias Abrão, que alcançou mais de 1.200 (hum mil e duzentos) sufrágios, alvoroçou os adversários. Não tinham explicação lógica para o ocorrido.

Na diplomação dos eleitos, o Juiz Eleitoral, Manoel Luiz Alves, diplomou 14 dos 15 eleitos. Deixou de diplomar Henrique Santillo sob a alegação que seria ele fichado como comunista na G-2 da Polícia Militar de Minas Gerais. Os arenistas elaboraram um calhamaço de denúncias apócrifas, dizendo que como estudante Henrique Santillo teria sido preso várias vezes pela policia mineira; que não estudava e só fazia agitação política; que era fichado como agitador no Dops de Belo Horizonte e fichado como comunista na G-2 da Polícia Militar de Minas Gerais. O juiz aceitou a denúncia e não o diplomou. Tínhamos pela frente um obstáculo tão, ou mais difícil, que vencer a eleição...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O surgimento de uma nova liderança (I)

Anápolis foi destaque nacional no combate à ditadura militarista implantada no País a partir de março de 1964. O grupo autêntico do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), comandado por Henrique Santillo fez do Município a maior trincheira da resistência democrática em Goiás.

Oriundo de Ribeirão Preto, aqui chegando em 1944, Santillo praticamente não teve a infância que os demais meninos da sua idade tiveram. Começou a trabalhar bem cedo para ajudar na renda familiar. O restante do tempo de que dispunha, era para estudar. Cursou o Científico no Colégio São Francisco de Assis, sendo invariavelmente, o primeiro classificado da turma. Branca de Azevedo, posteriormente casada com o saudoso atleta do Ipiranga, Barroso, era sua mais direta concorrente.

Antes de ir para Belo Horizonte, onde cursou Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais, Henrique Santillo fundou e foi o primeiro presidente do Grêmio Literário Clarim das Letras e das Artes, do Colégio São Francisco.

Em Belo Horizonte, enquanto cursava Medicina, participou da política estudantil sendo presidente do Diretório Acadêmico da UFMG; presidente do Diretório Central dos Estudantes de Belo Horizonte e presidente da UEE mineira.

Casado, pai de duas filhas, Sônia e Elidya, professor de química no cursinho preparatório Alfredo Balena, o mais importante da capital mineira, participando ativamente da política estudantil, mesmo assim, foi o primeiro colocado da turma de medicina de 1963.

Retornando a Anápolis no início de 1964, instalou seu consultório médico no prédio da Tipografia Glória, na Avenida Goiás. Prestou serviços à Santa Casa de Misericórdia, Hospital São Zacarias e ao Serviço de Atendimento Médico Domiciliar de Urgência - Samdu.

Em 1966 filiou-se ao MDB. Partido de oposição, presidido em Anápolis pelo, então, deputado Haroldo Duarte. Partidos tradicionais, criados com a redemocratização do Brasil em 1945, cederam lugar a Aliança Renovadora Nacional (Arena), de apoio à ditadura de 1964 e Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição. No mesmo ano, foi candidato a vereador. Concorreu dentro do MDB, com figuras destacadas da política anapolina, como João Furtado de Mendonça, Homero Ferreira, Adão Mendes Ribeiro, Laudo Puglisi, Raimundo de Oliveira Lima, João Luiz de Oliveira, Oscar Miotto, etc. Na chapa arenista a maior expressão foi o, também, médico, proprietário do Hospital São Zacarias, Elias Abrão. Era tido como a maior liderança política anapolina e, se preparava para ser candidato à Prefeitura pela Arena, em 1969...