quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O Homem que Só Sabia Trabalhar em Política

Walmir Bastos Ribeiro, baiano de Brotas de Macaúba, chegou a Anápolis em 1957, trazido pelo seu pai que vinha frequentemente a Goiás para comprar fumo em rolo, em Bela Vista e Pirenópolis. Hospedou-se na Pensão do Bom Jesus, onde morou por vários anos. Matriculou-se na segunda série ginasial, do Colégio Estadual, dirigido pelo professor Hely Alves Ferreira, eleito prefeito de Anápolis em 1958. Foi apresentado aos seus colegas de classe, dentre eles Jayro Rodrigues da Silveira e eu, pelo professor Hely. Por estar impecavelmente trajado, sua chegada foi marcante. Terno de linho na cor creme, gravata borboleta e contava com bigode ao estilo Cantinflas. Para os colegas, Walmir dizia ser de Jequié, terra de Lomanto Júnior. Admirador de Vieira de Melo. No princípio suas despesas eram bancadas pelo seu pai. Com o passar do tempo teve que trabalhar para se sustentar.

Já adaptado em Anápolis, Walmir contou com a colaboração de políticos pertencentes ao PSD, dentre eles o deputado estadual Plínio Jayme, para conseguir emprego público. Seu primeiro contrato foi para prestar serviço na Telegoiás. Atenderia as reclamações que chegassem à empresa. A primeira reclamação que recebeu, sem repassá-la ao técnico responsável, foi ele mesmo aos aparelhos transmissores, mexendo em toda fiação, provocando pane em todo o sistema. Os técnicos demoraram uma semana para sanar o estrago.

Não querendo deixá-lo ao abandono, acharam melhor que fosse para a Companhia de Força e Luz, entregar os avisos e contas aos usuários. Começou bem. Até que chegou à casa de um amigo para a entrega do talão. Achou o portão do corredor aberto, adentrou à cozinha. Leu o jornal Folha de Goyas que seu amigo deixara sobre a mesa. Tomou café e por ali ficou. Quando a esposa do amigo, o viu sentado à mesa, caiu em prantos gritando por socorro. Os vizinhos vieram todos ver o que acontecia, enquanto Walmir Bastos, intrigado com tanto alvoroço, saia assustado. Foi seu primeiro e último dia de entrega de talões de energia elétrica.

Resolveram contratá-lo para trabalhar no comitê político do candidato a governador Mauro Borges. Acertaram em cheio. Nessa função ninguém era mais ativo e competente que ele. Nunca mais deixou a atividade política. Foi sete vezes vereador em Anápolis. Presidente da Câmara Municipal na fase mais difícil enfrentada pelo legislativo municipal. Preso inúmeras vezes pelos órgãos de repressão durante a ditadura militar de 1964. Organizador permanente dos Simpósios Estudantis promovidos pela Câmara Municipal de Anápolis. Era a forma de politizar os estudantes. No Legislativo municipal, o mais autêntico combatente à ditadura. Um dos heróis da resistência democrática em Anápolis. Sofreu prisões e torturas, resistindo todo tipo de violência. Não renunciou a presidência da Câmara Municipal, impedindo que afastassem pela força o prefeito Henrique Santillo, conforme plano da Arena e parte do MDB municipal.

Walmir Bastos Ribeiro disputou sua primeira eleição em 1966, pelo MDB. Não se elegeu. Seus eleitores, que eram principalmente estudantes, ficaram com Henrique Santillo. Na quarta suplência, com o falecimento dos vereadores emedebistas, Adão Mendes Ribeiro, João Furtado de Mendonça, João Luiz de Oliveira e Oscar Miotto, se efetivou.

Eleito vice-presidente da Câmara Municipal de Anápolis, mesa comandada por Antônio Marmo Canedo, na legislatura seguinte, Walmir Bastos chegou a sua presidência com a morte prematura, de Antônio Canedo. Walmir faleceu em 1994, como um dos mais valorosos políticos de Anápolis em todos tempos.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Coisas da Vida

José Moreira, o Zuza, natural de Uruana, filho de Agenor Moreira, ex-prefeito daquela importante cidade do Vale do São Patrício, foi um dos melhores funcionários públicos estaduais, em todos os tempos. Tive a honra de contar com seu talento e dedicação quando ocupei as secretarias da Educação e Governo. Foi o responsável pelo setor financeiro, nas duas secretarias. Aposentado como fiscal dos tributos estaduais, Moreira hoje dedica seu tempo à família, religião e pequena chácara próxima ao Campus da UFG, em Goiânia.

Zuza saiu bem cedo de Uruana para estudar em Goiânia. Oriundo de família pobre, enfrentou muita dificuldade para vencer os obstáculos que a vida reserva a todos nós. Mesmo assim se transformou na principal referência para os conterrâneos que precisavam de alguma ajuda, ou informação em Goiânia. No início, sem emprego fixo, quase nenhum dinheiro no bolso, fazia uma refeição ao dia. Quando almoçava, não jantava. Nunca perdeu a esperança e sempre tinha palavra amiga aos que com ele conviviam ou dele precisavam. Várias pessoas que recorreram aos seus préstimos e conviveram com ele na juventude, afirmam que Moreira repartia sanduíche para não deixá-los com fome quando vinham do interior para Goiânia. Mesmo com o prestígio que angariou ao longo da sua carreira profissional, José Moreira continua a mesma pessoa simples, solidária e humilde. Nunca disputou mandato popular.

No seu tempo de estudante e de pequenos recursos, Zuza fazia suas refeições no Restaurante do Bolonha. Sua mesa, no almoço ou jantar era sempre a mesma: nº 10. Os garçons tinham por ele o maior respeito. Solteiro, aparência atlética, alegre e descontraído, era presença marcante no restaurante.

Numa dessas idas diárias ao Bolonha, José Moreira ao sentar-se à sua mesa, viu duas moças sentadas à mesa em frente, comendo as melhores e mais sofisticadas massas servidas pela casa. Enquanto aguardava o atendimento pelo garçom, despistadamente, olhava para as garotas. Notou, da mesma forma, que comentavam alguma coisa a seu respeito. Apesar da timidez, aos poucos foi se liberando. Ao ser olhado com insistência por uma delas, teve a coragem de cumprimentá-la com gesto de cabeça. Recebeu de volta sorriso discreto.

Quando o garçom veio para atendê-lo, Zuza se lembrou que possuía apenas alguns trocados no bolso. Não dava para pedir o mesmo que as moças. Pegou o cardápio, deu uma olhada nele de cima a baixo, e disse baixinho próximo ao ouvido do garçom, seu conhecido e amigo:

- Por favor, traga-me o prato de todos os dias!

Enquanto isso só queria mesmo era paquerar as garotas. Chegando à portinhola por onde os pedidos eram feitos, gritou o garçom com a voz clara e estridente, para que todos no salão ouvissem:

- Desce uma sopa água e sal, para mesa 10!

Moreira, vermelho e apressado, foi para o sanitário, só voltando à mesa para comer sua sopa com água e sal, quando as garotas já haviam deixado o restaurante.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Godofredo e Sua Obra Sobre Anápolis

O jornalista Godofredo Sandoval Batista lançou, no último dia 8 de dezembro, importante livro contando a história de Anápolis desde 1860, quando dona Ana das Dores, depois de descansar às margens de uma cristalina e refrescante nascente dágua, existente nas proximidades do córrego das Antas, viu a mula que fazia parte da tropa, empacar. Relataram os que presenciaram a cena, que dona Ana ao abrir a bruaca que a mula transportava, encontrou a imagem de Santana. Retirada a imagem, a mula voltou a andar normalmente. Ana entendeu como sendo recado divino, para que se construísse naquele local, capela em louvor à santa. Daquele acontecimento aos dias de hoje, já se passaram 150 anos. Aí a razão de “Anápolis 150 anos de bairrismo”.

O jornalista relata fatos que presenciou e outros que conseguiu através de pesquisas. Consultou livros de outros autores sobre o mesmo tema. Ouviu relatos pessoais de historiadores e jornalistas mais antigos. Leu coleções completas de jornais anapolinos que hoje não circulam mais. Nos arquivos da prefeitura, analisou fotos e documentos históricos importantes. Foi sintético na sua narrativa, sem perder a fidelidade com os fatos narrados. Em “Anápolis 150 anos de bairrismo”, realça pontos relevantes e significativos de todos os setores da sociedade local. Escreve sobre desenvolvimento econômico, político, cultural, educacional e esportivo, mas não se esquece de figuras humildes e marcantes como Antônio Caetano Júnior, o uberabense Caetano, torcedor fanático da Associação Atlética Anapolina. No Estádio Manoel Demóstenes, ridicularizava jogadores adversários quando chutavam errado ao gol da Anapolina. Gritava com todas as forças dos seus pulmões: “Óh o pé dele Carpaneda!”. Com Teodora, a dama do Anápolis Futebol Clube, mulher que ia aos jogos do tricolor impecavelmente trajada e sempre acompanhada de sombrinha multicolorida, fazia o show à parte para os torcedores. Não se esqueceu de Maria Rosa, com seu clube Pena Azul ou Ponciana, com sua casa de encontros amorosos em pleno setor central da cidade.

Fala sobre o trabalho de evangelização do monsenhor Pitaluaga e sua firme ideologia de direita. Isso ficou evidente quando da visita do marechal Tito, da Iugoslávia, a Anápolis. Criticou a visita do velho marechal até mesmo quando a comitiva passava pela Praça do Bom Jesus. Marcante foi sua discussão verbal pelo alto-falante da Igreja Bom Jesus, com Geraldo Soares e Romualdo Santillo, redatores e apresentadores da “Rodinha do Café,” às 12 horas, pela Rádio Carajá. Eram os jornalistas provocando Pitaluga e ele respondendo agressivamente pelos alto-falantes da igreja.

Godofredo Sandoval Batista nos relata sobre a importância do café do Antônio, na Rua Barão do Rio Branco. Ponto de encontro de políticos, desportistas e sociedade em geral. Espécie de Café Central, da gente anapolina. Rua Barão de Rio Branco famosa também por ser palco de paquera para os jovens nos anos 50 e 60. O “vaivém”da moçada acontecia todos finais de semana, feriados e dias santificados, na Barão entre a Engenheiro Portela e Sete de Setembro. Homens nas calçadas e as mulheres desfilando pelo centro da rua a céu aberto. Dezenas de casais se conheceram e se casaram graças ao “vaivém.”

O livro de Godofredo Sandoval Batista é a mais perfeita crônica sobre Anápolis, sua gente e sua vida. Merece ser lido e discutido.

Só num ponto Godofredo Sandoval Batista comete pequeno equivoco. Com precisão descreve a conquista do campeonato paulista do IV Centenário pelo Corinthians, em 1954. Quando sua família retornava de Vianópolis para Anápolis. Fala do time com Gilmar ou Cabeção, Homero e Olavo; Idário, Roberto e Goiano; Cláudio, Luizinho, Baltazar, Carbone e Nonô ou Souzinha. Descreve que Baltazar era artilheiro e bom cabeceador. O cabecinha de ouro. O eleva à condição de inventor da bicicleta e conhecido como Diamante Negro! Inventor da bicicleta e Diamante Negro, foi Leônidas. É importante esse reparo para que torcedores do São Paulo e Flamengo não venham posteriormente nos contestar.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A História Se Repetiu

Na década de 70, Romualdo trabalhava com meu pai numa pequena cerealista de compra e venda de cereais. Embora pequena a firma fazia grande movimento pelo intenso rodízio praticado. Seus fornecedores eram, especialmente do Vale do São Patrício e da Estrada de Ferro.

Com a transformação de Anápolis em Área de Segurança Nacional, Zé Bigode que trabalhava em cargo comissionado na Junta de Alistamento Militar, foi dispensado pelo prefeito nomeado Irapuan Costa Júnior.

Natural de Orizona, onde conhecia os produtores rurais do município, se dispôs visita-los para a compra de feijão roxinho, um dos melhores de Goiás. Romualdo solicitou que Antônio Senhorinho, o Tonho Gaguinho, o levasse a Orizona. Zé Bigode foi de terno e gravata. Se trajava impecavelmente, até mesmo para a compra de feijão na zona rural.

Por volta das 10 horas da manhã daquele dia, fornecedor de Vianópolis, ao fazer o acerto da mercadoria com Romualdo, lhe perguntou se ele ainda possuía um Karmanguia. Ao responder que sim, o cliente lhe indagou:

– Por acaso ele foi para a região da Estrada de Ferro, hoje ?

– Ele está em Orizona ! Disse Romualdo.

– Então era ele mesmo! Quando vinha pra cá , naquela reta chegando ao povoado de Caraíba, município de Vianópolis, vi levantar um poeirão na lateral da estrada e um Karmanguia capotado.

– Eles se machucaram?

– Não! Só o carro ficou com os pneus para cima. Vi um senhor de terno e gravata, todo sujo pela poeira, batendo com as mãos na calça e paletó, falando sem parar:

– Que coisa mais desagradável. Que coisa mais desagradável...

Até hoje Romualdo tenta compreender como o Tonho Gaguinho conseguiu capotar o Karmanguia, sem que batesse em animal, pedra ou buraco numa estrada reta, mesmo não sendo asfaltada.

Impressionado com o inusitado acidente, o promotor de Justiça aposentado, Roldão Izael Cassemiro, já contou essa história para dezenas de alunos seus nas faculdades de direito onde leciona.

Na semana passada, Roldão acompanhou Daniel de Freitas, também integrante aposentado do Ministério Público, a Aruanã. Participaram de audiência no Fórum local. Daniel dirigiu o carro de sua propriedade em que viajaram. Chegaram ao destino por volta das 10h da manhã.

Às 10h30, me encontrava na Rádio Manchester, quando meu celular tocou. Era Roldão falando de Aruanã:

– Adhemar, “que coisa mais desagradável.”

– Que aconteceu Roldão ?

– Sabe aquela história do Zé Bigode limpando com as mãos a poeira da roupa no capotamento do Karmanguia, dizendo sem parar: “Que coisa mais desagradável?”

– Claro que me lembro!

– Aconteceu agora, com a gente!

– Como?

– Nós já estávamos aqui dentro da cidade de Aruanã, numa avenida reta sem nenhum obstáculo pela frente, Daniel perdeu o controle do carro, capotando em seguida. Quando deixamos o carro acidentado, me vi em plena via pública limpando poeira do terno. Mas que coisa mais desagradável. Encerrou a ligação com gostosa gargalhada.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Quase Candidato a Prefeito de Niquelândia

Em 1976, foi disputada em Anápolis a primeira eleição municipal só para vereadores, depois que o município foi enquadrado na Área de Segurança Nacional. O prefeito nomeado Jamel Cecílio, lançou chapa arenista altamente representativa. Mesmo assim foram eleitos 8 vereadores pela Arena e 7 pelo MDB. Foi a primeira e única vitória dos arenistas no município. Não havendo eleição para prefeito, participamos das campanhas por todo interior.

Em Niquelândia, a liderança mais forte ligada ao MDB era o comerciante Manoel Dourado, irmão do ex-deputado José Dourado. Os seus companheiros preferiram formar sublegenda na Arena. Dourado não quis disputar a prefeitura. Sem outro nome, ficou decidido que o partido não teria candidato na eleição daquele ano.

No encerramento do prazo para o registro de candidatura, fomos procurados por Jovino Konder, se dizendo interessado em disputar pelo partido a prefeitura de Niquelândia. Pediu-nos que conseguíssemos carro para levá-lo. Foi de Opala. Em sua companhia, seguiu professor Lucas Gonçalves, para preparar a documentação à Justiça Eleitoral. O próprio Jovino dirigiu o veículo.

Quando se aproximavam de Niquelândia, na região conhecida como Quebra Linha, Konder parou o automóvel no acostamento:

- Não posso ser visto. Vou deitar no banco de trás. Passou o volante ao professor Lucas.

- Eu nunca dirigi um carro!

- Não tem problema. Eu vou lhe ensinando como troca de marcha. Pode seguir devagar. Ressaltou Konder.

Lucas deu a última cartada:

- Jovino, como candidato você tem que aparecer!

- É que algumas pessoas não podem me ver. Depois com a candidatura registrada a história é outra...

Dirigindo a 10 km por hora, na BR-414, chegaram ao armazém do Manoel Dourado, em Niquelândia. Jovino o queria seu vice. Não conseguindo, partiu em busca de alguém que estivesse disposto a aceitar a disputa. No balcão do armazém, tomando cachaça, estava Sebastião. Jovem vaqueiro, peão de pequena fazenda da região.

- Quer ser candidato a vice-prefeito? Indagou Konder, batendo nas costas do rapaz que se engasgou de susto.

Sem tempo para melhor pensar, Sebastião aceitou. Não portando documento, pediu a um amigo que fosse até sua casa e lhe trouxesse título de eleitor, CPF e identidade. A esposa do Tião que lavava roupas e vasilhas ao mesmo tempo, quis saber o que estava acontecendo. Quando lhe foi dito que o marido seria candidato a vice-prefeito, largou o serviço doméstico partindo para o armazém a sua procura. Tião picado pela mosca azul já havia tomado gosto pela disputa. Não aceitou de forma alguma os argumentos da mulher para que abandonasse a disputa. Conformada e resmungando, retornou ao tanque.

Decidida a candidatura de Sebastião à vice, era hora de providenciar a documentação do candidato a prefeito. Não podendo ser visto, pediu a Manoel Dourado que buscasse seu título no Cartório Eleitoral. Poucos minutos depois, Dourado voltou:

- Jovino, você é eleitor em Rio Maria, no Pará!

- Como? Eu fiz a solicitação de transferência!

- Você fez o pedido, mas não pagou a multa. O processo ficou parado.

Lucas Gonçalves e Jovino Konder retornaram a Anápolis enfrentando a poeira da BR-414.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

No Passado Foi Diferente

Alguns amigos, principalmente eleitores que sempre me apoiaram nas disputas eleitorais, me perguntam se não foi difícil para mim tomar a decisão de deixar o PMDB. Para todos respondo que sim. Ingressei na vida política me filiando ao MDB. Partido que muito fez para que a ditadura de 1964 caísse e ressurgisse a democracia. Nunca havia militado noutro partido. Já em 1966, quando ajudei fundar o Movimento Democrático Brasileiro, em Anápolis, participei da eleição de Henrique Santillo a vereador. Garantir sua posse foi batalha heróica e nos moldou para a verdadeira guerra que teríamos pela frente. Em 1970 me elegi a deputado estadual. Com a cassação do mandato do prefeito Iris Rezende e suspensão dos seus direitos políticos por 10 anos, o MDB quase acabou em Goiânia. A principal trincheira da resistência democrática em Goiás foi construída em Anápolis. As vitórias que conseguíamos contra a Arena, eleição após eleição, davam visibilidade à luta oposicionista que sustentávamos. Graças a esse quadro nossa responsabilidade na formação do partido de oposição verdadeira foi enorme.

Os companheiros do interior admiravam o trabalho que fazíamos em Anápolis. Sabiam das perseguições que sofríamos, mas não fraquejávamos. Pelos estreitos caminhos que as leis de exceção nos ofereciam resistíamos indo à frente. Não nos acovardávamos e nem temíamos os prepotentes. A cada eleição inventavam enxurrada de denúncias na tentativa de nos intimidar.

Cassação do mandato do prefeito José Batista Júnior (MDB), com a transformação do municipio em Área de Interesse à Segurança Nacional; invasão da Rádio Carajá, que havíamos adquirido do ex-deputado Plínio Jayme, pela Policia Militar do Estado, devolvendo seu comando ao antigo proprietário; fechamento da Rádio Santana que adquirimos em substituição à Carajá; prisão do bravo e saudoso vereador Walmir Bastos Ribeiro e prisões de auxiliares do ex-prefeito Henrique Santillo, não nos amedrontaram. Revigoraram nossas forças.

Em Anápolis nos fortalecíamos dia a dia com nossa pregação diária em favor das liberdades democráticas no programa radiofônico, “ O povo falou tá falado”. Fazíamos reuniões domiciliares preparando novos quadros de autênticos resistentes à ditadura. Simpósios trabalhistas e estudantis completavam nosso pacote na formação de lideranças.

No interior, mesmo com a simpatia de expressivas lideranças pela nossa atuação, questões políticas locais falavam mais alto. Essas lideranças preferiam ficar agasalhadas em sublegendas dentro da Arena a formar o MDB. No início o partido contou com adesão de posseiros, pequenos sitiantes, lavradores e trabalhadores braçais. Mesmo assim enfrentamos a resistência dos políticos locais.

Em Estrela do Norte, o caminhoneiro Hilton Lucena de Oliveira foi preso, prisão preventiva decretada pelo Juiz da Comarca, porque estava filiando eleitores ao MDB. Altivo, conhecido carroceiro da cidade, que o ajudava no trabalho de filiação, apanhou tanto da polícia que sumiu da cidade. Em Jaraguá, Militino, conceituado farmacêutico no município, juntamente com a companheira Maria filiaram gente da zona rural. Quando completaram as filiações necessárias foram ao Cartório Eleitoral para o registro dos filiados. Encontraram nas mãos do escrivão, carta renúncia assinada por cada um dos filiados. Em Mara Rosa lançamos a candidatura Zériaco, à prefeitura. A única propaganda que fez foi um cartaz com seu nome e caricatura, desenhados por sobrinho seu. Em Silvânia, Geraldo Bonfim, pequeno comerciante de secos e molhados enfrentou o poderio arenista dos Caixeta. Em Goianápolis, os vereadores emedebistas Lucas Gonçalves e João Leite de Morais tiveram os mandatos cassados por trabalharem em Anápolis. Assim surgiu e se fortaleceu o MDB.

Graças à resistência dessa gente humilde e batalhadora, Iris Rezende Machado chegou ao governo de Goiás em 1982, depois de 10 anos afastado compulsòriamente da vida política. O partido de hoje não é o mesmo do seu nascimento. Deixamos o PMDB mas não deixamos a luta. Estaremos noutra trincheira com os mesmos ideais do passado. Não nos sentiríamos confortáveis, num partido moldado na resistência democrática e que hoje pune as vozes internas que democraticamente discordam da sua prática política.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Agasalhe, ou Deixe o Povo Trabalhar

Quando assumi a Prefeitura de Anápolis, em janeiro de 1986, encontrei cadastrados no município, 96 ambulantes instalados nas ruas centrais da cidade. Os comerciantes, principalmente lojistas, que pagam regularmente os impostos, encargos trabalhistas, aluguel, água e luz, gritavam contra a concorrência desigual praticada pelos camelôs, principalmente dos que congestionavam a porta da sua loja. Era questão relativamente pequena para uma cidade grande como Anápolis. Tinha que ser equacionada antes que a situação piorasse. Construímos o Camelódromo num estacionamento existente no complexo da Praça Americano do Brasil. Todos os que trabalhavam ao ar livre, nas ruas, foram instalados naquele local. Os atritos desapareceram, os ambulantes passaram a ter local certo de atuação para seus fregueses e saíram da informalidade, gerindo seu próprio negócio.

Retornando à prefeitura em 1997, para o segundo mandato, novamente ambulantes espalhados pela cidade inteira, vendendo desde CDs piratas, produtos do Paraguai, a roupas finas. Mais uma vez determinamos que no imóvel pertencente ao município, com mais de 1.500m² na Rua General Joaquim Inácio, ao lado do Terminal Urbano, fosse construído o Centro Comercial Popular, onde acomodamos mais de 350 ambulantes. Local de movimento popular intenso, os comerciantes todos na formalidade, fazem juntamente com os integrantes do Camelódromo, a alegria dos que procuram produtos com preços inferiores. Com satisfação contam inúmeras histórias de sucesso comercial. Alguns já conseguiram formar filhos em cursos superiores. Outros compraram casa própria e melhoraram de vida.

Hoje, pelas ruas de Anápolis, sem medo de errar, existem centenas de novos ambulantes. Há setores no centro, em que os camelôs ocupam praticamente de dois a três quarteirões de calçadas. Vende-se de tudo nessa que é a maior feira livre permanente do Estado. Para os que conhecem a “Feira de Caruaru” celebrizada pelo Rei do baião, Luiz Gonzaga, dizem que a de Anápolis nada fica a dever à famosa feira do interior pernambucano. Vende-se qualquer tipo de bugiganga. Desde alfinete, retrós, canivete corneta a gorrinhos vermelhos com bolinhas luminosas para fantasia de Papai Noel. De frango caipira a ovos de codorna. Frutas nacionais, importadas e muita planta medicinal. Em algumas dessas bancas de ervas, para a retirada de calo encravado a cura de diabetes a freguesia é cativa. Enquanto o poder público municipal não constrói um local para abrigá-los, os ambulantes crescem sem parar. “É sinal de vitalidade da economia no município”, dizem alguns. “Mesmo que hajam especuladores alugando o trabalho de algum desempregado para tomar conta da banca, vale a pena, pela maioria que retira o sustento da família com seu trabalho”, garantem outros.

Esse é momento do ano mais esperado por qualquer comerciante, esteja na formalidade ou ambulante. Chegada das festas de final de ano. Tempo para ganhar alguns reais a mais. Nem todos estão alegres e sorridentes. Vendedores da feirinha artesana estão revoltados. Justamente agora, em que todos pregam a paz. Receberam ultimato da administração municipal para que saiam da Praça Abilio Wolney, onde encontra-se o prédio principal da prefeitura. Trabalham naquela área há vários anos. Essa feira que comercializa produtos artesanais, principalmente roupas, funciona há mais de 20 anos, em Anápolis, aos domingos. Se consolidou junto à população anapolina e das cidades vizinhas. Réplica da Feira Hippie de Goiânia que se multiplicou em Feira da Lua e Feira do Sol.

O que mais tem desesperado os artesãos é o argumento de que por trabalharem debaixo de barracas de lona, deixam a praça com aspecto feio.

Todos os prefeitos que administraram o município nos últimos anos, os apoiaram. Nenhum os impediu de trabalhar. Os artesãos esperam que o prefeito do Partido dos Trabalhadores, não venha colocá-los à ociosidade, ao desemprego, sem renda no Natal, por trabalharem fora do padrão de estética.

0 exigido pelas autoridades municipais.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

É Preciso Ser Ousado

O prefeito municipal é o agente público mais exigido pelo povo. Por estar mais perto e diretamente envolvido com as questões que mexem com a vida dos cidadãos as cobranças são permanentes. Por isso, muitas vezes é obrigado a adotar medidas que ultrapassam sua área de administração.

A inexistência de viaduto e até mesmo de uma simples rotatória, na BR-153 ligando Anápolis City com Bairro de Lourdes, acidentes pavorosos aconteciam naquele trecho da rodovia federal, todas as semanas, causando dezenas de vítimas. Cansado de cobrar das autoridades federais e não ser atendido, o prefeito Wolney Martins decidiu investir parte dos poucos recursos disponíveis no Tesouro municipal para resolver o problema. Toda obra foi paga pelo município. A administração estadual colaborou em parte na movimentação de terra. Foi trabalho ousado e fundamental na preservação da vida dos que diariamente transitavam e transitam pelo local.

Ao suceder Wolney Martins acertei com o governador Maguito Vilela que faríamos pelo Dergo o anel viário de Anápolis. Basílio, arquiteto do Departamento de Estradas de Rodagens do Estado de Goiás, elaborou o projeto. Sairia da BR-060 em frente ao Calixtópolis encontrando com a BR-153 no trevo da saída para Brasília, até à proximidade da entrada ao povoado de Miranápolis. Dali cortando região rural do município até atingir o ponto inicial do anel, próximo ao posto Presidente, na BR-060. O Dergo realizou a concorrência pública e os serviços tiveram início pela abertura da segunda pista da BR-153, a partir do trevo que liga Anápolis a Brasília.

Contando com a decisiva colaboração dos meus ex-companheiros da Câmara Federal, Odacyr Klein – ministro dos Transportes e Tarcisio Delgado, diretor presidente do DNER, conseguimos repassar a obra para o ministério dos Transportes. Muito importante foi a participação de Iran Saraiva, ministro do Tribunal de Contas da União – TCU, desembaraçando junto ao Ibama, questões sobre preservação ambiental. Toda formalidade legal para a continuidade da obra foi agilizada pelo ministro, junto ao TCU.

Graças ao trabalho arrojado que a prefeitura de Anápolis e o governo estadual realizaram para construção da obra, contamos com o trecho da BR-153 duplicado do trevo que liga Anápolis a Brasília até próximo a Interlândia. O viaduto Ayrton Sena, construído na administração Wolney Martins, foi duplicado. Da mesma forma nova ponte construída sobre o córrego das Antas, ao lado da sede campestre do clube Lírios do Campo. Essa nossa decisão ousada e determinante ensejou a construção de outras obras valiosas no setor de transporte em Anápolis: viaduto na BR-153, cruzamento com a BR-414 que liga Anápolis a Corumbá de Goiás e viaduto no trevo ligando BR-153 à Vila Jaiara, principal ligação de Anápolis com o norte do Estado.

Firme tomada de posição pelo atual comandante do poder público municipal está sendo aguardada pelos anapolinos, para a continuidade normal dos serviços. O Denit está devagar, quase parado na execução de obras de menor complexidade e de muita importância para o município. Trincheira e passarela ligando os bairros Jardim Progresso ao Parque dos Pirineus estão paralisadas há meses. Denit não dá qualquer esclarecimento do porque de tanto atraso. Trecho da BR-153, do início da BR-414 ao trevo Vila Jaiara tem sido palco de inúmeros acidentes com vitimas fatais. A população do parque dos Pirineus encontra-se totalmente ilhada. As crianças do parque estudam no Jardim Progresso, têm que atravessar as duas pistas da rodovia e pistas auxiliares sem nenhuma segurança. Foram instalados na BR-153 todos os postes e luminárias no trecho compreendido entre trevo saída para Brasília à Vila Jaiara, há pelo menos seis meses. Não há sequer previsão de quando a iluminação funcionará. Da mesma forma o trevo no final da Avenida Universitária e início da BR-414 precisa de reformulação completa e imediato sistema de iluminação. Denit não soluciona o problema e sobre eles nada comenta. Para a iluminação da rodovia e do trevo estão faltando transformadores. Celg e Denit não se acertam. Sem interferência enérgica do poder público municipal as pequenas, mas importantes pendências se perpetuam. O Executivo municipal de Anápolis já deu provas no passado, que muita coisa se consegue assumindo responsabilidade que pertence ao governo federal.

domingo, 28 de novembro de 2010

Baluartes do partido, Adhemar e Onaide saem e levam mais 70

Por Cezar Santos, Editor Assistente do Jornal Opção
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Uma saída mais do que anunciada. Na semana passada, o ex-prefeito Adhemar Santillo e sua mulher, a ex-deputada Onaide Santillo, se desligaram oficialmente do PMDB anapolino. São perdas significativas, considerando que Adhemar e Onaide são os dois políticos mais conhecidos da sigla e talvez de Anápolis. Adhemar, por sinal, era o presidente do PMDB, responsável pela organização e, pode-se dizer, coesão interna do partido na última década. Mas a campanha eleitoral que terminou no dia 31 de outubro evidenciou por demais a situação muito difícil do partido em Anápolis, que vem impondo duríssimas derrotas aos peemedebistas.

“Nós nos desligamos oficialmente na tarde segunda-feira, 22, quando entregamos a renúncia”, explica Adhemar Santillo. Mas o casal não saiu sozinho. “Fomos acompanhados por 72 companheiros, que seguiram o mesmo caminho nosso. Desses, 53 pertencem ao diretório. Dos 45 membros oficiais do diretório, saíram 29, além de 13 dos 15 suplentes”, contabiliza.

Teria sido uma desfiliação em massa? Adhemar diz que não: “Nós não fizemos desfiliação em massa do partido, fizemos só a desfiliação dos membros do diretório. Os filiados comuns vão ter outra oportunidade de migrar para onde nós formos. Então ficou a minoria. Mas isso agora é uma questão interna corporis do PMDB de Anápolis.”

Ao falar de seu rompimento com a sigla, o tom de voz de Adhemar trai certa mágoa, mas ele não menosprezo seu ex-partido. “Esperamos que aqueles que ficaram, até por imposição legal, já que quem tem mandato não pode sair, façam o trabalho deles. Eu vou fazer a política que sempre fiz. Espero entrar num partido onde eu possa pelo menos ter condição de dialogar de igual para igual com seus integrantes.”

E para onde iriam Adhemar, Onaide e companhia? Segundo e ex-prefeito, não falta destino. “Posso dizer que desde o partido comandante da política goiana hoje, do qual Marconi Perillo é o maior líder, que é o PSDB, até os outros aliados, qualquer um pode ser nossa opção. Resolvemos sair, em primeiro lugar, e agora vamos começar a discutir nosso destino.”

Adhemar Santillo diz que não há pressa em procurar abrigo partidário neste momento. “Não temos muita pressa para isso, porque vários dos companheiros que nos acompanharam querem ser candidatos em 2012, mas o prazo para estar filiado a um partido é até outubro de 2011, para poder disputar a eleição em 2012. Então até janeiro estaremos dialogando para escolher o melhor caminho a seguir.”

O ex-prefeito e ex-presidente do PMDB de Anápolis informa que os dissidentes anapolinos já foram procurados por várias siglas partidárias. “Temos alguns convites. Vários partidos nos procuraram, mas tenho dito aos companheiros que qualquer decisão só será tomada depois que tivermos uma conversa com o governador eleito Marconi Perillo, a quem apoiamos no segundo turno da eleição.”

Uma coisa é certa, Adhemar e Onaide Santillo devem ter a companhia de peemedebistas ilustres de outros municípios na nova sigla que vierem a escolher. Ele informa que já conversou com Juarez Magalhães Júnior, ex-prefeito de Cristianópolis (1997-2000 e 2001-2004), e com Ney Moura Teles. “Só não falei ainda com o Luiz Bittencourt, mas a tendência é que eles tomem uma posição em conjunto, idêntica à que vamos tomar em Anápolis.”

Segundo o ex-prefeito, o momento é de dialogar. “Vamos conversar muito não só com partidos, mas também com esses companheiros, para seguir um mesmo rumo. Aliás, várias lideranças do PMDB no Estado estão apenas esperando a nossa decisão para também se manifestar. Não temos feito nenhum proselitismo nesse sentido, mas sabemos que há essa tendência. Vamos trabalhar entre nós e escolher em conjunto aquela que for a média do pensamento do pessoal, para definirmos um partido.”

Peemedebistas históricos, Adhemar e Onaide Santillo, que tinha sido candidata a deputada, aderiram ao tucano Marconi Perillo, que disputava com Iris Rezende, da coligação PT-PMDB. E por que o apoio ao adversário do PMDB? “Apoiamos Marconi em função das divergências que tivemos pelo comportamento de Iris Rezende. Na campanha ficou claro que Iris tem a síndrome da velhice. Ele faz novas amizades e simplesmente descarta os antigos companheiros, foi o que aconteceu em Anápolis.”

Adhemar reclama do que considera ingratidão de Iris Rezende. “Demos um duro danado na campanha, fomos a cada lugar pedindo voto para Iris e para Dilma Rousseff. E passado o primeiro turno ele nem sequer nos deu um telefonema para agradecer pelo menos o trabalho que a candidata a deputada Onaide fez por ele, que o diretório fez.”

O ex-presidente deplora o comportamento do comando do PMDB estadual, que segundo ele se juntou a Antônio Gomide numa campanha insidiosa feita pelo prefeito e por outros petistas, de que o PT teria sido prejudicado porque o PMDB de Anápolis está desgastado. “Não, o PMDB de Anápolis está desgastado pelo desgaste a nível estadual e federal. Ninguém fala aqui que nós fechamos Caixego ou que participamos de rolo com o BEG, que vendemos Cachoeira Dourada. Não tem nada disso contra nós de Anápolis, vem tudo de cima para baixo e atinge a nós todos.”

Outro motivo de mágoa para Adhemar foram as contas feitas por Antônio Gomide e companhia depois do desastre eleitoral do primeiro turno, quando a vitória de Marconi foi acachapante. “O PT ainda veio alegar que os votos que Iris teve no primeiro turno foram votos do PT. Ora, o PMDB desde 1998 tem 22% dos votos em Anápolis, e foi isso que Iris teve no primeiro turno. Isso fez com que nós tomássemos um posicionamento coerente de sair. Não estávamos pedindo cargos, só queríamos respeito por parte dele.”

O ex-prefeito de Anápolis faz um breve histórico para justificar seus motivos em romper com o PMDB. “A derrota do partido em 1998 para Marconi foi natural, qualquer um pode ganhar ou perder. Mas acompanhadas da derrota vieram à tona denúncias que estigmatizaram o partido no Estado todo. Se são verdadeiras ou não, isso fica para a Justiça. Aquelas questões de Caixego, BEG, que foram tão exploradas pela imprensa, tudo aconteceu em função do PMDB ter perdido o poder. Então pior do que a derrota foi o estigma jogado sobre o partido.”

E continua: "E o comportamento do PMDB a nível nacional, hoje muito mais um partido de aluguel do que propriamente que visa chegar ao poder, piorou tudo. O PMDB hoje está satisfeito com os cargos que tem e vai continuar apoiando quem lhe der cargos. É uma política diferente da que aprendi a fazer. Fui formado na oposição, de combate à ditadura. Esperávamos que a democracia nos levasse ao poder e que colocaríamos o poder em função do povo. Infelizmente, a nível nacional não aconteceu. Tudo isso afetou Anápolis, que era o polo da resistência democrática, do qual eu fiz parte, com Fernando Cunha, Henrique Santillo, essa turma toda.”

Adhemar diz que hoje, com essa imagem do PMDB, o partido está fadado a inúmeros insucessos em Anápolis. "Mas nós resistimos, estivemos na trincheira o tempo todo. Eu, por exemplo, cheguei a me distanciar do meu irmão Henrique Santillo, com quem fiz política todos os dias no melhor da minha vida, para ficar ao lado de Iris Rezende e do PMDB. Eu achei que Henrique estava equivocado ao romper. Ele tinha os motivos dele, mas eu não via motivo para afastamento. Mas agora não dá mais, tivemos de sair.”

O alinhamento com o tucano Marconi Perillo é líquido e certo, segundo Adhemar. “Vou conversar com Marconi e procurar um partido da base aliada dele para continuarmos fazendo política em Anápolis. Com já disse, temos um leque de opções. Nos encontramos quando ele veio visitar o túmulo de Henrique Santillo, não tivemos tempo de conversar. Depois ele viajou, eu também. Creio que depois que ele passar pelo burburinho da formação de sua equipe, vai sobrar tempo para que possamos trocar uma ideia sobre a questão partidária e política.”

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Quebra da Unidade Peemedebista em Goiás (Final)

Contando com 40% do diretório nacional do PMDB e percentual teoricamente semelhante junto aos delegados estaduais, José Sarney imaginou que aquele era o momento certo para impor candidato seu à presidência da República, uma vez que os ulyssistas estavam divididos em três pré-candidatos: Valdir Pires, Álvaro Dias e o próprio Ulysses Guimarães. Sarney acreditava que seu indicado ficaria em primeiro lugar.

Foi escolhido Iris Rezende para representar o grupo Sarney e compor o quarteto que disputaria os votos dos convencionais. Ulysses mesmo com sua base de apoio dividida, continuava o preferido dos aliados. Era o grande líder da resistência democrática. Iris Rezende carregava o estigma da fraca administração de José Sarney. Saiu dos quadros da Arena, onde sempre militou, para se transformar em peemedebista, e candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Tancredo Neves. A Constituição Federal, não permitia coligações entre partidos. Os arenistas que haviam formado o PFL e não apoiavam Paulo Maluf, só poderiam participar da chapa de Tancredo, caso o candidato a vice-presidente se filia-se ao PMDB. Assim o udenista bossa nova e empedernido arenista José Sarney se transformou em peemedebista. Ulysses Guimarães, por ser o mais idoso entre todos os candidatos dentro e fora do PMDB, sofria a discriminação do eleitorado, traumatizado com a morte repentina de Tancredo Neves, antes mesmo de tomar posse. A síndrome da velhice o prejudicava.

Realizado o seu lançamento por Brasília, Iris Rezende passou a contatar com as lideranças estaduais do PMDB. O primeiro que visitou foi Henrique Santillo, governador de Goiás. Sonhando com a unidade do PMDB, Santillo lhe disse que não se comprometeria com nenhuma das pré-candidaturas, para ter mais condição de diálogo com todos. Entendia que para o partido ter alguma viabilidade eleitoral naquele pleito teria que marchar unido. Embora se transformando em peemedebista por arranjo, Sarney desgastou tremendamente o partido em todo o Brasil.

Para discutir a pretensão de Iris, várias vezes conversei com Henrique acompanhado de Joaquim Roriz ou sozinho. Em todas as conversas repetia que tudo fez para manter a unidade do PMDB em Goiás e que batalharia pela unidade nacional com força redobrada. Era amigo pessoal de todos os candidatos, mas que nenhum dos postulantes uniria o partido. Defendia a substituição dos quatro postulantes por um único nome que pacificasse e representasse todo o partido. Ulyssista convicto tinha noção que o comandante das Diretas Já, não possuía viabilidade eleitoral. Não queria assistir pacificamente a derrota do PMDB. Para o governador goiano o partido dividido, qualquer que fosse seu candidato sua derrota seria inevitável. Acreditava que naquele momento, o governador de São Paulo, Orestes Quércia, seria o ideal para aglutinar novamente o PMDB, evitando uma derrota para Collor de Melo.

Enquanto isso Iris Rezende viajava pelos Estados em busca de apoio. Todas as vezes que conversei com ele, reclamava da indagação que lhe faziam:

- E o governador do seu Estado, está lhe apoiando?

Respondia que Henrique Santillo estava lutando pela unidade do partido, com o lançamento de uma única candidatura.

O tempo passava e a unidade pregada e trabalhada por Henrique Santillo não se concretizava. A disputa cada vez mais acirrada e radicalizada. Na quinta feira que antecedeu a convenção, Iris Rezende me procurou para que acertasse o apoio do governador à sua candidatura, pois a unidade pregada por ele não aconteceu. As quatro chapas foram registradas. Fui ao Palácio das Esmeraldas falei com Henrique sobre a solicitação. Me autorizou a dizer que seu voto pessoal seria de Iris Rezende. Essa informação lhe dei num encontro em Brasília, com convencionais favoráveis a sua candidatura, em Águas Claras, residência oficial do governador Joaquim Roriz.

Na convenção Henrique e sua esposa Sônia, ambos delegados titulares, não compareceram. Cedaram as vagas a eleitores de Iris. Aos dois primeiros suplentes, deputados Sólon Amaral e Rubens Cosac, que votaram a favor de Iris Rezende. Encerrada a votação Ulysses Guimarães e Valdir Pires foram os dois mais votados e formaram a chapa peemedebista.

Vencido, Iris Rezende ficou magoado. Disseram-lhe que peemedebistas ligados à fundação Pedroso Horta teriam comemorado sua derrota, num hotel em Brasília. Desse espisódio em diante, conhecidos os resultados da Convenção Nacional do PMDB, o presidente José Sarney perseguiu Henrique Santillo, administrativamente. Não honrou compromisso feito com o governador de financiar o asfaltamento nos municípios de Goiás, pelo programa de Pavimentação Municipal. Esse financiamento foi garantido por Sarney a Henrique Santillo antes da Convenção Nacional. Naquela época a convivência entre Henrique e Iris era boa. Essa atitude do governo federal obrigou o governador a saldar os compromissos com as empreiteiras que realizaram o PPM, emitindo Letras do Tesouro Estadual.

Na disputa para a presidência da República, os peemedebistas goianos liderados por Sarney ficaram contra a candidatura de Ulysse Guimarães. O abandonaram. Apoiaram Fernando Collor de Melo.

Assumindo a presidência, Collor por não ter tido apoio de Henrique Santillo, o persiguiram ainda mais. No primeiro turno Henrique ficou com o candidato do PMDB, Ulysses Guimarães. A ala de Sarney a favor de Collor. No segundo turno Henrique Santillo esteve ao lado de Lula, enquanto o PMDB de Sarney continuou em Goiás apoiando Collor. Foi Fernando Collor de Melo quem desferiu o tiro final na administração Santillo, ao exigir o pagamento imediato das letras emitidas pelo governo estadual. O governador teve que comprometer quase todo Fundo de Participação do Estado, no resgate das letras. Para completar a persiguição, por capricho político, Collor fechou a Caixego, extrajudicialmente.

Na campanha para sua sucessão ao governo do Estado em 1990, Henrique liberou seus companheiros, mas não participou da campanha. Terminado o pleito, Iris Rezende eleito, Henrique Santillo deixou o PMDB.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A Quebra da Unidade Peemedebista em Goiás (II)

Ulysess Guimarães confirmou a Henrique Santillo que Iris Rezende Machado e Joaquim Domingos Roriz estavam vetados de participarem da sua chapa para o diretório nacional do PMDB. Vetados porque ocupavam cargos de confiança na administração José Sarney. Visando evitar que os vetos afetassem a unidade do partido em Goiás, o governador Henrique Santillo, programou reunião com Iris e Roriz, para decidirem o que fazer.

Não havia muito o que fazer, pois os vetos foram anunciados pela figura mais importante do partido, o presidente Ulysses Guimarães. Até aquele instante se discutia chapa única. Tradicionalmente o diretório nacional era formado por consenso. Não se acreditava que alguém tivesse disposição para desafiar Ulysses Guimarães.

Ficou acertado no encontro de Henrique Santillo, Iris Rezende Machado e Joaquim Domingos Roriz, que o governador não participaria do diretório nacional. Gesto de solidariedade do governador para com os companheiros vetados. Os três ficariam fora para que não houvesse ressentimentos e constrangimentos que pudessem afetar a harmonia existente no PMDB de Goiás.

Contrariado com os vetos, o presidente José Sarney decidiu bater chapa com Ulysses Guimarães. Organizou sua chapa branca. Encabeçou a chapa palaciana, a chapa Sarney, o paraense Jader Barbalho, ministro da Reforma Agrária. Todos os peemedebistas que forma vetados teriam que fazer parte compulsoriamente, da chapa de oposição a Ulysses Guimarães. O governador Henrique Santillo foi comunicado por Iris Rezende e Joaquim Roriz da decisão tomada por Sarney.

Após ouvi-los, o governador argumentou que o que haviam decidido valeria também em relação a chapa comandada por José Sarney encabeçada por Jader Barbalho. Henrique não participaria da chapa de Ulysses Guimarães enquanto Iris e Roriz não figurariam na chapa oficial de Sarney, para que o PMDB garantisse a sua unidade que era sólida em Goiás. Iris e Roriz disseram ao governador Santillo que a presença deles na chapa de Sarney era exigência do presidente. Se eles ficassem fora teriam que deixar os cargos que ocupavam: ministro da Agricultura e governo do Distrito Federal. Henrique Santillo, sentindo o drama dos companheiros vetados por Ulysses, não participaria da chapa oficial do PMMDB, ficando fora do diretório nacional para garantir a unidade do PMDB em Goiás.

As duas correntes fizeram campanha em todo País. A chapa organizada por Sarney obteve praticamente 40% dos votos válidos na Convenção. Isso garantiu as presenças dos auxiliares do presidente da República no diretório do PMDB. Henrique Santillo ficou fora. A partir daquele instante iniciava a divisão profunda no PMDB em todo Brasil. De um lado, Ulysses Guimarães, o grande líder da redemocratização, das Diretas Já e da Assembleia Constituinte; e do outro, o ex-arenista José Sarney, com o poder da máquina adminstrativa e cargos para oferecer aso afilhados políticos.

Com essa nova composição peemdebista foi feita a discussão interna para a a escolha do candidato que representaria o partido na eleição daquele ano, à Presidência da República. A disputa interna para a formação do diretório nacional do PMDB, embora vencida por Ulysses Guimarães, enfraqueceu bastante sua autoridade junto aos peemedebistas. Companheiros históricos, como Waldir Pires e Álvaro Dias, que fizeram parte da sua chapa, pleitearam a pré-candidatura à Presidência da República pelo PMDB, em confrontoa Ulysses Guimarães, candidato natural do partido.

Divisão na base autêntica do PMDB deu a José Sarney chance de lançar candidato seu à presidência. Contando com os 40% dos integrantes do diretório nacional do PMDB e mais os convencionais de todo Brasil que votaram na chapa encabeçada por Jader Barbalho, previa que aquele era o momento de destronar Ulysses Guimarães. Para Sarney não importava a viabilidade eleitoral do seu candidato. O importante era enfraquecer Ulysses dentro deo PMDB. Ou até desmoralizá-lo caso viesse a perder a convenção. Sarney acreditava que Ulysses deixaria a presidência ou se afastaria do PMDB. Sem Ulysses, os adesistas e oportunistas que hoje comandam o partido nacionalmente assumiriam sua direção. Ulysses era estorvo para os que queriam um PMDB para Sarney.

Por isso cresceu o movimento entre os sarneystas para que fosse lançado pré-candidato à Presidência da República...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Quebra da Unidade Peemedebista em Goiás (I)


Quando em 1980 o Movimento Democrático Brasileiro - MDB foi transformado em Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB, Henrique Santillo era o político mais respeitado e influente da oposição em Goiás. Sua vitória ao lado de Juarez Bernardes ao Senado pelo MDB foi espetacular. O triunfo dos dois consolidou a supremacia da oposição junto ao eleitorado no Estado e Henrique Santillo como seu principal líder. Ele que se preparava desde 1974 para disputar o governo estadual era o candidato natural em 1982.

Na organização de PMDB, como Henrique Santillo nunca se preocupou em mandar no partido, ter maioria no diretória regional, embora sendo sua maior expressão política regional, por isso foi marginalizado. Lideranças mais próximas ao senador, principalmente estudantes, professores, artistas, líderes sindicais, intelectuais, líderes comunitários e grupos de esquerda foram ignorados na composição do diretório. Ficaram de fora apesar de todo seu potencial político-eleitoral. Tudo porque Iris Rezende queria a formação de um diretório onde tivesse ampla maioria, pois desejava ser candidato do partido ao governo, em 82. Contrariados com a desconsideração, resolvemos deixar o PMDB para organizarmos o PT.

Após reunião de São Bernardo do Campo, onde o PT fez seu grande encontro nacional, constatamos que embora Lula reprovasse em conversas reservadas a ação dos grupelhos incrustados dentro do partido, na prática os apoiava. Os grupos trotkistas a princípio não aceitavam a via parlamentar. Queriam ser um partido revolucionário. Qualquer político, por melhor que fosse sua atuação, era menosprezado e até desdenhado pelos grupelhos. Mesmo sendo minoria, davam as cartas, definindo o caminho a ser trilhado pelo partido. O Partido dos Trabalhadores, no seu início, era fechado e sem perspectiva de poder. Defendia métodos revolucionários, Nós, os santillistas, retornamos ao PMDB. Optamos desde a primeira hora lutar pela redemocratização dentro dos estreitos limites da lei. Nunca o grupo discutiu a possibilidade de enfrentar o autoritarismo na clandestinidade. Questão de convicção. Não seria em 1980, quando a abertura começava a surgir, que abraçaríamos outro tipo de resistência.

Reingressamos ao PMDB. As articulações internas no partido para que Henrique Santillo fosse o candidato a governador, pelas forças oposicionistas de vanguarda continuaram. Contatos que fizemos junto às lideranças do interior, estudantes, intelectuais, líderes classistas e sindicalistas, sentimos mais uma vez o respeito e confiança que tinham na nossa prática política. Aos poucos notamos que Henrique Santillo mantendo a candidatura, sem maioria entre os convencionais que escolheriam os candidatos do PMDB, dividiria o partido. Os ânimos estavam acirrados e isso poderia provocar divisão irreconciliável. Não queríamos divisão. Nosso adversário não era Iris Rezende Machado, mas sim o representante da ditadura. O candidato da Arena. Henrique decidiu refluir de uma possível candidatura ou simples disputa na convenção que escolheria o candidato a governador do PMDB. Comunicamos essa decisão aos companheiros. Apoiamos integralmente a candidatura de Iris Rezende Machado ao governo, com o empresário Onofre Quinan, em sua vice. Derval de Paiva que estava cogitado para a vice-governadoria na chapa de Iris Rezende, entendeu o valor do acordo, abrindo mão imediatamente da sua postulação. Disputou reeleição para deputado estadual. Sólida parceria foi mantida por algum tempo.

Quando o PMDB nacional foi realizar sua Convenção Nacional para a renovação do diretório, Ulysses Guimarães estava rompido com o presidente da República, José Sarney. A orientação do partido foi para que os integrantes do PMDB que faziam parte do ministério de Sarney, deixassem seus cargos. Iris estava licensiado do governo de Goiás, ocupando o ministério da Agricultura. Apenas Luiz Henrique da Silveira, ministro da Indústria e Comércio, se afastou. Iris Rezende, Roberto Cardoso Alves, Carlos Santana e Jader Barbalho, também ministros peemedebistas, ficaram em seus postos. O mesmo aconteceu com Joaquim Roriz, governador nomeado de Brásilia.

Alguns dias antes da Convenção Nacional, o deputado Hélio Duque (PMDB-PR) encabeçou movimento para que peemedebistas que ocupassem cargos de nomeação no governo Sarney não fizessem parte do diretório. Preocupado com o desdobramento que isso poderia provocar em Goiás, Henrique Santillo foi a Brasília conversar com Ulysse Guimarães. Depois das suas poderações sobre o risco de quebra na unidade do partido no Estado, caso Iris Rezende e Joaquim Roriz ficassem de fora do diretório nacional, Ulysses o tranquilizou:

- Fique tranquilo, isso é apenas um movimento da juventude! Agradeço a manifestação, mas não interfirirá no fortalecimento do PMDB. Estaremos todos juntos.

O governador voltou certo de que tudo não passava de reação isolada de um pequeno grupo de descontentes.

Alguns dias depois, Ulysses Guimarães comunicou a Henrique Santillo:

- Governador, sou obrigado a lhe comunicar que infelizmente não vou poder colocar Iris e Joaquim Roriz no diretório. A pressão é grande e os companheiros não concordam que os que ocupam cargos de confiança no governo sejam integrantes do diretório nacional. Alegam que ficou claro que os que não se afastaram estão muito mais preocupados com os cargos que com a trajetória de lutas do PMDB. Desde já o convido para fazer parte do diretório nacional, representando Goiás.

Querendo de qualquer maneira preservar a unidade do PMDB em Goiás, Henrique Santillo procurou Iris e Roriz para que juntos resolvessem o impasse...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

MDB e a volta por cima

A vitória de Lázaro Barbosa para o Senado, em 1974, foi inacreditável. As cassações de mandatos, como a do prefeito de Anápolis, José Batista Júnior; processos e prisão, como os que ocorreram contra o deputado federal Francisco Pinto, por ter discursado contra a presença do ditador do Chile, Pinochet, no Brasil; e as constantes mudanças da Constituição alterando a data para o retorno das eleições diretas para escolha dos governadores, desanimavam até os mais convictos integrantes das oposições. Em 1974 o desânimo abateu companheiros como Anapolino de Faria e José Freire, nossos principais líderes do MDB. Não quiseram disputar as eleições. Participaram ativamente da campanha apoiando outras candidaturas.

Lázaro aceitou ser candidato a senador. No início, adversários, a imprensa e até companheiros o consideravam "candidato simbólico".Com o passar do tempo, sua candidatura foi crescendo, crescendo e, no final, ninguém tinha mais dúvida de sua vitória. Com a eleição de 16 senadores do MDB as esperanças retornaram e o lema de toda a sociedade brasileira passou a ser o de que "vale à pena lutar".

Nas eleições municipais de 1976 o crescimento do MDB, em todo o território nacional, foi gigantesco. Aqui em Goiás, conquistamos importantes prefeituras e a maioria em dezenas de Câmaras Municipais. Em algumas cidades, como Uruaçu, tivemos de lançar mão de três sublegendas para agasalhar as correntes que internamente já começavam a aparecer no partido. Em outras, como ocorreu em Mara Rosa, município vizinho de Uruaçu, disputamos sem nenhuma esquematização. Companheiro foi ao pleito apenas para dar chance aos descontentes.

Fato digno de registro, na campanha de 76, ocorreu em Niquelândia. Jovino Conder, hoje encontrado, com freqüência, nos corredores do Congresso ou gabinetes de deputados e senadores, nos procurou, Henrique Santillo e eu, mostrando-nos seu desejo de disputar a prefeitura daquele município. No dia seguinte, às 18 horas, encerraria o prazo para o registro de candidatura. Queria que indicássemos alguém para providenciar a papelada necessária ao registro. Indicamos o professor Lucas Gonçalves, integrante do Diretório do MDB de Anápolis, que lhe desse assistência técnica e jurídica. Mesmo não sendo advogado, Lucas aceitou o desafio. Na madrugada, saíram para Niquelândia. Quando se aproximavam do local denominado "quebra-linha", Conder, também motorista do Aero Willys, parou o carro, virou-se para Lucas e lhe disse:
-- Agora, você dirige, vou ficar deitado no banco detrás, porque não posso ser visto. Tenho muitos inimigos na cidade.
-- Como você quer ser candidato se você não pode andar pela cidade. Questionou Lucas.
Conder se justificou e Lucas foi para o volante.

Quando chegaram na residência do senhor Manoel Dourado, Jovino saiu rápido do carro e entrou cada adentro. Tentou convencer o anfitrião a se candidatar à vice-prefeito em sua chapa. Diante da resistência de Dourado, passaram a analisar outros nomes. Debruçados que se encontravam, sobre a lista de um possível candidato, apareceu ao local um lavrador, que já tinha vivido tudo que tinha direito e um pouco mais. Convidado por Jovino Conder, aceitou o convite para figurar na chapa emedebista.

Quando o professor Lucas Gonçalves estava começando a preparar os papéis para o registro do vice-prefeito, a esposa do lavrador chegou ao local para dizer, dentre outras coisas, que se ele candidatasse ela o abandonaria. A discussão foi longa. Quando a mulher saiu do local, o lavrador confirmou sua candidatura. Resolvida a questão do candidato a vice-prefeito, era o momento de consolidar a chapa oposicionista com a regulamentação dos documentos do candidato a prefeito. Lucas solicitou a Jovino Conder seu título eleitoral. Surpresa total para o professor e nosso enviado à Niquelândia: o título eleitoral do pretenso candidato era de Rio Maria, no Pará.

Marconi exalta Santillo

Por Nilton Pereira, Editor do Jornal Contexto
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“Estou aqui para prestar mais uma homenagem ao grande estadista que foi Henrique Santillo. Devo a ele muito do que aprendi na lida política e não me canso de enaltecer o grande homem que ele foi”. Com essas palavras, o Governador eleito Marconi Perillo (PSDB) falou a dezenas de pessoas que compareceram ao Cemitério “São Miguel”, na tarde da terça-feira 02, feriado de Finados. Marconi tem na figura de Santillo, seu “padrinho” político, com quem trabalhou desde jovem e pelas mãos de quem ingressou na política disputando, e vencendo, a primeira eleição para deputado estadual.

De acordo com o senador e Governador eleito, Henrique Santillo simbolizava a luta dos “irmãos coragem”. Uma alusão, à época, a “João”, “Duda” e “Jerônimo”, vividos pelos atores Tarcisio Meira, Cláudio Marzo e Cláudio Cavalcante, personagens principais de uma novela da Rede Globo (Irmãos Coragem, de Janete Clair-1970), comparação feita à trajetória política de Henrique e de seus irmãos Adhemar e Romualdo Santillo. “Ele era a materialização da coragem, da bravura e do destemor, enfrentando o forte regime militar que cassou, torturou e perseguiu muitos brasileiros. Santillo sofreu, na pele, a perseguição dos governos militares e, nem por isso, se rendeu, ou foi omisso”, disse Marconi Perillo. Ele lembrou, também, que foi pela instrumentalidade de Henrique Santillo, então vice-presidente do Senado Federal, que ocorreu a histórica vitória de Tancredo Neves para a Presidência da República, na retomada da democracia no Brasil, com o fim da Ditadura Militar. “Era um homem íntegro, honesto, de um senso humanístico incomparável, além de humilde e solidário para com todos. É por isso que me espelho nele”, alegou Marconi em sua fala.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Desrespeito e Ingratidão

Deve ser tática de marqueteiros, mas as constantes agressões de Iris Rezende Machado a Henrique Santillo, usadas para obtenção de prestígio e votos, não tem dado certo. Os eleitores antigos que apoiavam o MDB têm verdadeira adoração pelo político anapolino. Se orgulham até hoje da forma destemida que combatia a ditadura. Foi referência nacional da resistência democrática exercida pelos autênticos do MDB. Os que já o conheceram como governador da mesma forma se orgulham da sua luta, enfrentando com altivez e competência o maior acidente radioativo ocorrido em território brasileiro. O acidente com o Césio 137, em Goiânia, em 1987. Enquanto alguns políticos goianos fugiram do Estado, abandonando a população goianiense, Henrique Santillo enfrentou a catástrofe brava e heroicamente. Enquanto os congressistas em Brasília, discutiam interminavelmente para onde deveria ser levado lixo atômico espalhado pelas ruas de Goiânia, Henrique Santillo determinava sua retirada de madrugada, para o depósito provisório em Abadia de Goiás. Até hoje, depois de 23 anos do acidente, o Congresso Nacional não encerrou a discussão. Não há lei regulamentando a matéria e os rejeitos radioativos continuam no depósito provisório. Na defesa dos goianos discriminados, Henrique Santillo procurou a grande imprensa nacional, protestando contra o crime que estava praticando contra Goiás. Revista Isto É, com sua manchete de capa: Goiânia Nunca Mais! Por baixo um homem ardendo em chamas radioativas, foi exemplo dessa discriminação. Foi duro na resposta à apresentadora Hebe Camargo, que se atrevia a discutir assunto desconhecido até mesmo pela comunidade científica. Henrique Santillo, tão envolvido na solução da catástrofe em Goiânia, não teve tempo para comemorar a realização da etapa do campeonato mundial de motociclismo que aconteceu na mesma época, em Goiânia. Pelo seu excelente conhecimento cultural e comprometimento com os avanços sociais, é o mais querido e admirado político goiano, pela juventude. Agredir um cidadão ético e responsável como foi Henrique Santillo, denigre o detrator e empobrece seu currículo.

Anápolis é um capítulo a parte. Desde a primeira vitória de Marconi ao governo estadual, em 1998, os anapolinos se sentiram atingidos pelas agressões a Henrique Santillo, aplicando a Iris Rezende derrotas cada vez maiores. Grande parte do prestígio de Marconi Perillo no munícipio se deve à sua lealdade a Henrique Santillo. A rejeição que os anapolinos nutrem por Iris Rezendetem tem sido pela forma descortês que tem tratado Henrique Santillo.

No domingo quando ia votar no Colégio Antesina Santana, fui abordado por Divino Eurípedes Batista, antigo companheiro de MDB, indignado com os ataques gratuitos a Henrique Santillo, no último debate com Marconi Perillo, na TV Anhanguera. Depois de lamentar as agressões de Iris, de quem já foi eleitor, acrescentou:

"Quando Iris foi cassado como prefeito de Goiânia, em 1969 e teve seus direitos políticos suspensos por 10 anos, todos nós choramos e lamentamos pelo ostracismo em que foi colocado compulsoriamente pela ditadura de 1964. Iris ficou até 1980 cuidando da advocacia e seus bens pessoais. Não militava ou participava de atividades políticas. Foram vocês do MDB, comandados por Henrique Santillo, que combateram a ditadura e organizavam o partido pelo Estado inteiro. Venceram o pessimismo dos que queriam o fim do MDB em 1974. Deram a volta por cima elegendo pela primeira vez no período ditatorial a eleição para o Senado, com Lázaro Barbosa. Henrique Santillo desde 1974 era o candidato natural da oposição ao governo do Estado. Em 1978, com o "pacote de abril" de 1977, mais uma vez tiraram de Santillo o direito de disputar o governo. Eliminaram ainda uma das vagas ao Senado que foi preenchida por senador sem voto, senador biônico. Henrique Santillo e Juarez Bernardes foram candidatos em sublegendas pelo MDB, enfrentando os arenistas Osires Teixeira, Jarmund Nasser e Jonas Duarte. O MDB venceu e Henrique eleito por ter sido o mais votado. A partir daquele instante não tínhamos mais nenhuma dúvida que o MDB venceria qualquer eleição majoritária em Goiás e que Henrique Santillo era a maior liderança política do Estado. Como nunca se preocupou em ser coronel e dono de partido, quando Henrique Santillo acordou, tinha a liderança e os votos, mas Iris Rezende Machado controlava o diretório estadual do PMDB. Henrique Santillo humildimente, para não estragar as pretensões de Iris desistiu da sua candidatura. Henrique poderia, se quisesse, ser candidato pelo PT. Como não queria fazer concessão à Arena, apoiou Iris, adiando por mais quatro anos seu projeto ao governo. Entregou para Iris partido imbatível em Goiás. Partido que vocês e os companheiros construíram durante os 10 anos em que Iris esteve afastado por força do arbítrio. Agredir Henrique Santillo é agredir quem lhe construiu a casa para voltar a militar seguro na política. Agredir sua memória? É desrespeito! É ingratidão!"

Abraçou-me e foi embora.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Marconi presta homenagem a Henrique Santillo

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Foto: Wagnas Cabral

Debaixo de chuva, Marconi visitou à tarde o túmulo do ex-governador Henrique Santillo, no Cemitério São Miguel de Anápolis.



Depois de repetir o gesto de depositar flores e orar, o governador eleito fez um breve pronunciamento em homenagem àquele que considera o maior inspirador de sua vida pública.

Marconi lembrou do idealismo de Santillo e da sua importância na luta pela redemocratização do Brasil. “Poucos homens tiveram a coragem que ele teve. Foi corajoso e destemido no combate ao regime arbitrário que se instalou no Brasil a partir de 1964. Foi um governador de idéias avançadas, de quem extrai muitos ensinamentos", enfatizou o governador eleito.

"Ele marcou a minha vida pela postura correta e pela retidão de caráter. Morreu pobre porque usou a política para servir e não para dela se servir. Espero poder continuar honrando a herança que tive dele. Sem ele jamais teria conseguido chegar aonde cheguei. Hoje já rezei por ele e o faço sempre porque o admiro e o tenho como um exemplo a ser seguido”, declarou Marconi.

Adhemar Santillo, irmão do homenageado, agradeceu “a solidariedade que o senhor tem tido com a nossa família. Ele certamente está alegre agora com a sua visita e o seu triunfo. Todos nós estamos alegres e satisfeitos por você ter tanta consideração com a nossa família”, agradeceu.

domingo, 31 de outubro de 2010

A reunião que não era reunião

O conselheiro Milton Alves Ferreira, do Tribunal de Contas do Estado-TCE, foi político atuante e influente no MDB de Anápolis. Quando estudante secundarista, destacado líder do grêmio literário Castro Alves, no Colégio estadual José Ludovico. Desportista, exerceu a Secretaria da Liga Anapolina de Desportos. Vereador, vice-prefeito e deputado estadual. Chegou à presidência da Assembléia Legislativa, de onde saiu para o TCE, indicado pelo governador Henrique Santillo.

Fato curioso aconteceu em 28 de agosto de 1973: Milton era o vice-prefeito de Anápolis, quando cassaram o prefeito José Batista Júnior. Transformado o município em Área de Interesse à Segurança Nacional, prefeito passou a ser nomeado pelo presidente da República. Irapuan Costa Júnior, designado o primeiro prefeito nomeado. Decreto presidencial que cassou o mandato de José Batista e suspendeu por 10 anos seus direitos políticos não fez qualquer menção ao vice-prefeito Milton Alves. Não teve seu mandato cassado, nem os direitos políticos suspensos. Não lhe deram posse com a vacância do cargo. Ele também não questionou na justiça seu direito. Truculência praticada com base no AI-5 não era apreciada pela justiça. O AI-5 estava acima da Constituição Federal. Acima do AI-5, só o presidente da República, que possuia poder de aplicá-lo indiscriminadamente! Milton candidatou-se deputado estadual em 1974, elegendo-se ao lado de Henrique Santillo.

O Movimento Democrático Brasileiro era constituído de militantes destemidos. Na Vila Jaiara, a principal referência era José Luis Có, Zé Maneco. Amigo fiel, corajoso e participativo. Quando em 1966, o juiz eleitoral de Anápolis deixou de diplomar o vereador Henrique Santillo, o mais votado naquele pleito com 1.536 sufrágios, sob a alegação de que era fichado como comunista na G-2 da Polícia Militar de Minas Gerais. Zé Maneco não o deixou sem companhia um minuto sequer. Só se afastou quando Henrique foi diplomado e empossado.

Milton Alves era muito ligado ao Zé Maneco. Morador na Vila Jaiara, mas com amigos por toda cidade. Cearense, conhecia toda colônia nordestina de Anápolis. Organizava as reuniões domiciliares e setoriais. Eram reuniões geralmente com pouca gente. Reuniões de líderes convictos em favor da redemocratização do Brasil. Participantes levavam para sua comunidade os ensinamentos que lhes passávamos. Graças a isso estávamos em todos os setores da cidade. Com as reuniões, o partido estava vivo e ativo. Companheiros sabiam que tinhámos argumentos sólidos contra a ditadura. Milton Alves era um dos baluartes dessa luta. Não tinha preguiça. A qualquer hora e para qualquer reunião que fosse convocado fazia questão de comparecer.

Reunião marcada para o bairro João Luiz de Oliveiro, o candidato a deputado estadual Milton Alves solicitou ao amigo José Maneco que fosse conversar com os companheiros até que chegasse. Naquele mesmo dia participaria de comício em Nerópolis. Chegaria à reunião um poucoo mais tarde.

À tarde, quando Milton já estava em Nerópolis, faleceu um vizinho do proprietário da casa onde a reunião aconteceria. Organizadores do encontro acharam prudente suspendê-la. Não havia telefone celular para que Milton fosse avisado. À noite, Zé Maneco misturou-se com a pequena multidão que participava do velório. Esperava o candidato e amigo.

Milton Alves ao chegar, vendo aquela quantidade de gente do lado de fora da casa, não sabendo tratar-se de velório, ficou eufórico. Nunca tinha participado de reunião tão numerosa. Antes mesmo que seu motorista estacionasse o carro, desceu tropeçando, quase caindo, e foi ao encontro de Zé Maneco:

- Ei, Zé Maneco! Isso que é liderança! Isso aqui não é reunião! Isso é um comício!

Muito discreto, Zé o arrastou para um canto, cochichou alguma coisa ao seu ouvido. Em seguida foram para o interior da casa, onde o corpo era velado.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Religião e política, ontem e hoje

Natural de Itaguara-MG, Raimundo de Oliveira Lima, padre Raimundo, chegou a Anápolis na década de 40. Casado com a professora Zezé, também mineira, foi professor rural, na fazenda de Chico Mendonça, em Souzânia. Ao mudar-se para o setor urbano do município, trabalhou no cartório do 2° Ofício e passou a fazer parte dos congregados marianos, na Igreja do Bom Jesus. Sério, respeitado e admirado, Raimundo foi convidado por Achilles de Pina, à época maior expressão política do PSD no município, para ser candidato a vereador, nas eleições municipais de 1962. Sem pedir votos, instruindo congregados marianos nas fazendas e distritos a votarem nos candidatos representantes da sua região, Raimundo mesmo assim, foi o vereador mais votado. Em 1966, no MDB, reelegeu-se. Seu futuro era promissor e brilhante como político.

Na metade do segundo mandato, renunciou a vereança para ser ordenado diácono da igreja católica. Após conversa franca que teve com o bispo diocesano de Anápolis, dom Epaminondas de Araújo, decidiu encerrar sua curta e belíssima carreira política para dedicar-se integralmente aos trabalhos da igreja. Hoje, sem sua estimada e querida Zezé, Raimundo de Oliveira Lima é sacerdote diocesano. Com seus 95 anos, celebra missa semanalmente por inúmeras paróquias do município.

A história do diácono, hoje frei Raimundo, realça o comportamento da diocese anapolina. Alguém do comando da igreja que se envolva na luta partidária não tem apoio da diocese. Desde sua instalação, tem orientado aos católicos votarem com responsabilidade.

Votam de acordo com a consciência de cada um. Frei Raimundo que já era político militante, teve que decidir-se: diácono ou político. Para dom Epaminondas a questão não era Raimundo. Esse era homem sério, conduta ilibada. A igreja solicitou seu afastamento do mandato para se precaver. Poderia servir de pretexto a algum oportunista, no futuro. Dom Epaminondas Araújo dizia que qualquer pessoa cometendo um equívoco ou delito, a culpa não passa da pessoa do delituoso. Alguma autoridade na igreja, cometendo falha ou deslize, quem fica manchada na sociedade é a igreja. Sempre dizia ser a política necessária. Seus conselhos eram que os cristãos devem ser informados pela igreja quais valores deve defender. Candidaturas são para os leigos.

Entre os evangélicos de Anápolis, pastor Antônio Carneiro, da igreja Assembleia de Deus do Ministério de Anápolis, eleito vereador na década de 60, foi primeiro a ser eleito com o título de pastor. Católicos e evangélicos têm sido destaques na política anapolina, sem usarema estrutura da igreja a que pertencem. Frequentam missas e cultos em Honra e Louvor a Cristo. Não transformam paroquianos e irmãos compulsoriamente, em massa de manobra para comícios políticos.

No passado, os pretendentes a cargos eletivos frequentavam bastante os terreiros de Umbanda. Assistiam e participavam da cerimônia. Os chefes dos terreiros eram mais liberais. Mesmo assim, democraticamente, recebiam todos os políticos com a mesma distinção e cordialidade. Não eram ligados a partido político. Raramente uma figura de um terreiro se candidatava a cargo eletivo. Abriam as portas dos trabalhos para que os futuros govermos compreendessem melhor sobre os trabalhos que realizavam.

José Escobar era frequentador do terreiro do Raimundinho, no bairro Boa Vista. Seu pai influente líder evangélico em Anápolis.

Pastor Cavalcante, muito estimado e querido pela comunidade. Candidato a vereador, Escobar foi convidado pelo pai a assitir a culto na ingreja que pastoreava, na Vila Santa Maria de Nazareth. Conhecedor das virtudes do filho, com satisfação, o apresentou aos fiéis da igreja. Depois de realçar seus valores de cidadão, pastor Cavalvantefez questão de enaltecer os compromissos evangélicos do filho. Passou-lhe a palavra para a oração final:

"Irmãos, eu quase não tenho frequentado a igreja. Meu pai dissertou muita coisa a meu respeito. Admiro e respeito a fé e trabalho de vocês todos. Fico orgulhoso por isso... Confesso que gosto mesmo é do espiritismo!"

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Merece respeito

Publicado na seção Opinião do Leitor, edição de 26/10/2010 do jornal Diário da Manhã

Nota dez para o artigo do ex-deputado Adhemar Santillo ("Deixem Henrique Santillo descansar em paz"). Merece todo respeito de todos os goianos por tudo que ele foi e fez por Goiás e pelo Brasil. Ele e seus irmãos foram os baluartes do PMDB pela democracia e pela liberdade, lutaram muito. É um homem que merece muita luz e não trevas de pessoas que têm ódio e a mágoa no coração.

Lucimaria Mendonça Santos
(via e-mail)

Deixem Henrique Santillo descansar em paz

No momento em que nos aproximamos do 31 de outubro, quando serão realizadas as eleições no seu segundo turno, marqueteiros do PMDB, partido que ajudei a fundar e ao qual pertenço, resolveram agredir a administração Henrique Santillo. Essa é tática velha, desgastada. Ofendem Henrique Santillo com o intuito de atingir Marconi Perillo. Esse diferentemente da maioria dos seres humanos, faz questão de proclamar onde quer que se encontre a gratidão que tem e sempre teve pelo seu grande líder. Atacar uma pessoa que sempre foi correta e ética no exercício dos cargos e funções políticas que desempenhou não é o melhor caminho para pessoas sérias. Agredir um cidadão que deu sua vida pela democracia e que tanto fez por Goiás, é ato mesquinho.

Lembro-me quando Henrique Santillo foi eleito governador substituindo Iris Rezende Machado, que encontrava-se licenciado ocupando o Ministério da Agricultura no governo José Sarney, várias categorias de funcionários públicos estaduais estavam em greve ou anuciando greve. Nunca denunciou a situação caótica que herdou. Mesmo quando os dois se distanciaram politicamente, não fez qualquer acusação nesse sentido ou afastou os iristas que faziam parte da sua administração. Praticamente 12 suplentes foram por ele elevados à condição de titulares da Assembleia Legislativa sem que houvesse qualquer pressão do governo para que não apoiassem Iris. Henrique Santillo era de uma retidão de comportamento exemplar. Estava decidido a se desincompatibilizar no final de governo, para concorrer ao Senado. Desistiu do seu projeto pessoal para não prejudicar o presidente da Assembleia Legislativa, Milton Alves Ferreira, que o sucederia.

Joaquim Domingos Roriz, vice-governador de Goiás, foi escolhido pelo presidente Sarney para governar Brasília. Com um eventual afastamento do governador goiano, ocuparia a governadoria o presidente da Assembleia Legislativa. Nessa mesma ocasião, José Sarney não honrou os compromissos assumidos verbais e pessoais com Henrique Santillo de financiar o Programa de Pavimentação Municipal - PPM, maior programa de asfaltamento municipal feito por um governador em Goiás. Emitiu Letras do Tesouro Estadual para honrar os compromissos assumidos com as empreiteiras. Foram tornadas nulas por Collor de Melo. Sabendo da crise que viria refluiu da idéia de se afastar do governo, para não passar o problema a Milton Alves.


Com a emissão de Letras do Tesouro Estadual, expediente legítimo e legal, usado por governos municipais e estaduais, Henrique Santillo saldou os compromissos com os empresários que executaram o asfaltamento. As letras emitidas pelo governo goiano, por Sarney não honrar os compromissos, como forma de retaliação por Henrique Santillo ter ficado ao lado de Ulysses Guimarães na campanha de 1989 para a presidência da República, venceriam a longo prazo. Com a posse de Fernando Collor à presidência, baixou decreto considerando nulas todas as letras emitidas e negociadas, obrigando o governo de Goiás a resgatá-las imediatamente, sob pena de fechar extra-judicialmente o Banco do Estado de Goiás, seu avalista. Sem reclamar ou denunciar a perseguição ao seu governo e ao Estado, preferiu ficar no governo até seu termino, resgatando as Letras do Tesouro Estadual que emitira, com recursos do Fundo de Participação do Estado. Essa foi a principal razão de Iris Rezende Machado o substituir encontrando as finanças estaduais descontroladas.

Não se tem notícia de uso indevido de Caixego, Beg, Celg, Saneago ou qualquer outro orgão público, por Henrique Santillo, no exercício das funções e cargos públicos que exerceu. Não se tem notícia de ter ele levantado a voz para acusar aos que o perseguiram de forma ostensiva e veladamente por inveja ou capricho político. Por favor respeitem a memória de quem tanto fez por Goiás e para o Brasil. Quem sofreu calado as maiores perseguições e injustiças por retaliações políticas. Inspirem-se na ética e retidão de comportamento que nortearam todas as ações de sua vida. Só assim poderão viver com a consciência tranquila.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Baioneta não é voto e cachorro não é urna

Por Bruno Hoffman, redator da revista Brasil, Almanaque de Cultura Popular
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(Fotos: Luciano Andrade)


Em 15 de novembro de 1978, os eleitores iriam escolher senadores, deputados estaduais e federais. De um lado, a Arena (partido dos militares); do outro, o MDB (de oposição). Para buscar votos, o MDB organizou uma caravana pelo Nordeste. Na liderança, o presidente do partido, Ulysses Guimarães.

Em várias reuniões, arbitrariedades e abusos deixaram o clima pesado. O momento mais tenso ocorreu em 13 de maio de 1978, em Salvador. Policiais bloquearam a sede do MDB com cachorros e fuzis com baionetas. Ulysses aproximou-se de um policial e bradou, enquanto empurrava sua arma: “Respeitem o líder da oposição!”.

Dentro da sede, fez um discurso histórico: “Meus amigos, foi uma violência estúpida, inútil e imbecil. Eles nos ajudam muito”. E encerrou com a frase que se tornou célebre: “Baianos, marchemos para a vitória a 15 de novembro. Baioneta não é voto e cachorro não é urna”.

Discurso de Ulysses Guimarães em Salvador (13/05/78)

Meus amigos que aqui estão,

Brasileiros que aqui não puderam vir e estão lá fora, mas que, apesar disso, em todo o Brasil, ouvem o pregão do MDB pela liberdade e pela democracia,

Soldados da minha pátria que foram aqui convocados — sei que contra a consciência de vocês, que são do povo — para impedir que o povo aqui chegassem. Mas vocês nos ouvem como assistência e são juízes de que quem defende vocês somos nós, porque a verdadeira autoridade não vem dos homens, vem da lei, que é igual para todos e não pode discriminar entre os brasileiros.

Meus prezados amigos,

Enquanto ouvíamos as vozes livres que aqui se pronunciaram, ouvíamos também o ladrar dos cães policiais lá fora. O que se falou aqui é a linguagem da História, da tradição, do passado, dos Tiradentes, dos cassados, em cuja frente está o exemplo extraordinário do líder sacrificado Alencar Furtado.

O ladrar, essa manifestação zoológica, é do arbítrio, da prepotência, que haveremos de vencer, não nós do MDB, mas o povo brasileiro.

Meus amigos, foi uma violência, foi, mas uma violência estúpida, inútil e imbecil. Eles nos ajudam e em muito. Se nós fizéssemos aqui um comício, seria um grande comício, não há dúvida, mas com uma repercussão talvez regional. Amanhã, ao amanhecer, os brasileiros vão ler os jornais, vão ver as metralhadoras e os cães, impedindo que brasileiros pacíficos exercitem um direito que está na Carta Universal dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.

Nós não temos armas. Sou Presidente Nacional do MDB e já percorri este país oito vezes, de cidade em cidade, cercado pelas multidões. Não porto arma nenhuma (batendo no bolso e abrindo o paletó). Não tenho, meus amigos, protetores e guardas (gritos: "tem o povo", "tem a povo!"). Eu não me assusto mais, meus amigos. Tive em Pernambuco os cachorros e os cavalos do governador Moura Cavalcanti: luz apagada, pedras na praça quando realizávamos as nossas concentrações. Mas, meus amigos, o MDB, é como a clara: quanto mais bate, mais cresce. Os cães ladram mas a caravana passa.

Nós temos o povo que, sem dúvida alguma, nos levará à espetacular vitória de 15 de novembro próximo. Eu não levo, meus amigos, imagem melancólica da Bahia. A Bahia são vocês que estão aqui dentro. Aquilo que está lá fora para nos oprimir representa esta situação de arbítrio e de prepotência. Isso que está lá não é a Bahia, não é o Brasil, não é povo, não é a nação, não é sociedade, não é o cidadão.

Quero dizer a vocês: 13 de maio de 1888, então o Brasil evitou a divisão de dois Brasis - o Brasil branco que oprimia e o Brasil negro que era oprimido. Mas, quase 90 anos depois, nós temos as mesmas servidões e as mesmas discriminações. Não temos política neste país porque para haver política é preciso o povo e isso que aí está não tem a substância, o respaldo e o apoio do povo.

Temos um Presidente sem povo, temos governadores sem povo e contra o povo. E, por cúmulo de audácia, numa insólita demonstração de ousadia, que é um insulto a esta nação, criou-se esta figura que foi tatuada para a História com este nome odioso de senador "biônico". E nós estamos aqui para dizer que não será aceito isso!

Na cadeira de Rui Barbosa, que representou as tradições libertárias deste estado, não podem sentar os penetras indicados pela oligarquia e pelos conchavos entre amigos e parentes.

Vocês ouvem falar do achatamento salarial. Vocês já ouviram falar e de se tomar providência do achatamento dos lucros criminosos que fazem a opulência de poucos e enchem as burras e as arcas das multinacionais, fazendo com que tenhamos uma sangria às avessas, o sangue e o suor dos trabalhadores para enriquecer outras pátrias, outros países?

Muitas vezes se pergunta: o que o MDB pode fazer pelo povo? Eu quero sintetizar essa resposta. O MDB não é munificente, o MDB não é patriarcal, o MDB não quer presentear com alguma dádiva _ porque se desse, poderia também tirar. O MDB quer dar uma arma. O povo brasileiro está desarmado da grande arma pela qual ele defende o seu pão, o seu teto, a saúde e a sobrevivência da sua família. O MDB quer dar a urna e o voto a todos os brasileiros. Não há salário justo e digno. É impossível salário digno e justo sem liberdade, porque já dizia a Bíblia que "ganharás o teu pão com o suor de teu rosto". Para ganhar o pão não é preciso só o trabalho físico e intelectual, é também reivindicar, é exigir da sociedade as vantagens econômicas para todos e não em benefício de poucos. Não há, portanto, salários justos e não existe divisão, distribuição de riquezas, sem a democracia e sem a liberdade.

Meus amigos, a discriminação, este anátema que envergonha a cultura e a educação brasileira: o 477, um dos filhos diletos do nefando AI-5. Nós do PMDB sabemos que escola e faculdade são para dar o diploma, mas somente o caráter é que faz o homem. E o jovem, sem liberdade e democracia, não será homem para servir a si, aos seus e à sociedade.

A inexistência do habeas corpus é testemunha de que há injustiça, ilegalidade, arbítrio, nesta nação.

Aqui, queremos lembrar os nossos mártires, os que caíram, com a canção da resistência francesa: companheiro, se você tombar, alguém sairá da sombra para tomar o seu lugar.

Mesmo que tenhamos divergências naturais, é preciso que nos unamos numa trincheira comum. Há um inimigo comum, um adversário comum. São aqueles que se apropriaram do poder e só através de nossa união é que poderemos reconciliar esta nação.

A data de 13 de maio é a data limpa, asseada, decente e branca da liberdade neste pais. Quiseram mas não conseguiram aqui na Bahia, que a data da liberdade fosse manchada e enodoada com o espetáculo de opressão que aqui se montou para espanto de todo o Brasil. Mas, meus amigos, aguardamos e lutamos por outra Lei Áurea, por outro 13 de maio: pela libertação. Esta libertação será no dia que está próximo e que tem este nome: Assembléia Nacional Constituinte.

E a Assembléia Nacional Constituinte só pode ser feita na base da honra, da dignidade, do dever de reparação àqueles que tombaram no sangue e no sacrifício. A base para isso é esse nome de paz e de esperança para o Brasil e seus filhos: Anistia.

Baianos, marchemos para a vitória a 15 de novembro. Baioneta não é voto e cachorro não é urna.

(Foto: Luciano Andrade)

Surpresas nas campanhas políticas

Com a vitória consagradora para o Senado em 1978, Henrique Santillo passou a ser, dentro e fora de Goiás, a maior liderança política do Estado. Ele, que se preparava desde 1974 para disputar o governo estadual, teve que adiar naquele ano, mais uma vez, seu projeto eleitoral. Com o "pacote de abril" de 1977, Geisel excluiu da Constituição Federal eleição direta para governo estadual e criou o "senador biônico", o senador sem voto. Das duas vagas disputadas em 1978, uma já era da Arena. Geisel reconduziu Benedito Ferreira, o Benedito Boa Sorte. Para a eleita pelo povo, Henrique Santillo e Juarez Bernardes pelo MDB, enfrentaram Osires Teixeira, Jarmund Nasser e Jonas Duarte, pela Arena. MDB venceu. Santillo, mais votado, consolidou sua liderança.

Em 1982, Iris Rezende, que readquirira seus direitos políticos depois de 10 anos de suspensão, decidiu ser candidato, adiando por mais quatro anos o projeto de Henrique Santillo. Iris econtrou o PMDB, sucedâneo do MDB, organizado e imbatível em todo o Estado. Onofre Quinan, empresário bem-sucedido, nosso companheiro de MDB em Anápolis, foi indicado para vice-governador na chapa de Iris.

Ary Valadão, governador do Estado, sofria com os pequenos recursos que o Estado dispunha. Precisava construir alguma coisa que marcasse sua administração. A Arena o abandonara. Estava bastante dividida. Enquanto o governador lutava pela indicação de alguém do seu grupo a maioria do partido queria Otávio Lage de Siqueira, enfrentando Iris Rezende. Alguns meses antes das eleições, Ary Valadão conseguiu autorização do Banco Central para empréstimo internacional. Os recursos seriam aplicados em pavimentação de rodovias. Principal a ser asfaltada seria a que liga Itaberaí a Itapuranga. Máquinas chegaram a iniciar os serviços de terraplanagem.

Como empréstimo externo depende de autorização do Senado, os senadores arenistas em final de governo não compareciam ao plenário para que houvesse deliberação. Em todas as sessões, a mesma cena: o presidente abria a sessão, o senador Dirceu Cardoso (PMDB-ES) pedia verificação de quorum. Não havia número para abertura. Passaram-se os dias, semanas e meses e o pedido de empréstimo do governo goiano não era apreciado. Os arenistas de Goiás espalhavam por todos cantos que os senadores Lázaro Barbosa e Henrique Santillo, do PMDB-GO, estavam impedindo sua votação, para prejudicar Ary Valadão. Essa fofoca já começava a afetar o candidato peemedebista Iris Rezende. O PMDB goiano decidiu que Lázaro Barbosa e eu, representando Henrique Santillo, iríamos a Itapuranga para esclarecer a verdade. Fomos em avião pertencente a Onofre Quinan, comandado pelo piloto Carlão. Conosco foi também o advogado Wanduir de Lima.

Ao chegarmos a Itapuranga, não havia ninguém nos esperando no campo de aviação. Carlão sobrevoou a cidade, retornando ao campo de pouso. Apenas uma pessoa no centro da pista fazendo sinais para que Carlão parasse ali, a aeronave. Era Claudion Mendes, presidente do PMDB no município, solicitando que não saíssemos do avião. Argumentou que integrantes do PMDB Jovem nos receberiam a bala caso fossemos à reunião. Apoiadores de outros candidatos do partido ao Senado e Câmara Federal não aceitavam que Lázaro e eu conversássemos com a população. Nossa missão não era buscar apoio partidário às nossas candidaturas. Além do mais, lutávamos contra qualquer tipo de prepotência. Não podíamos abandonar a luta pelo gesto tresloucado de alguns irresponsáveis! Descemos! Assim que pusemos os pés no chão, começaram os disparos em nossa direção. Sem um local mais apropriado para nos proteger, usamos a fuselagem do avião. Os disparos só cessaram quando integrantes da Polícia Militar chegaram ao local. Fomos à prefeitura, mas, com a população assustada, ninguém compareceu. A reunião não aconteceu. Cumprimos nosso papel, concedendo entrevistas à emissora de rádio local.

A campanha não podendo parar, na manhã seguinte, fui com Maria Dagmar e Paulo Silva, candidatos a vereadora por Goiânia e a deputado estadual, à Vila Redenção. Primeiro conjunto de casas populares contruído por Iris, em Goiânia. Nos acompanhou na visita, casa a casa, Tarcísio, primo de Dagmar e comerciante de materiais de contrução, na região. Depois que fizemos dezenas de visitas, chegamos à casa de dona Bárbara, matriarca de grande família. Tarcísio entrou pelo corredor, indo direto à cozinha. Nós o acompanhamos. Fez a apresentação de praxe. A anfitriã, atenta, ouviu a identificação de cada um de nós. Esgotados os argumentos, Tarcísio completou:

- "Dona Bárbara, a senhora não está surpresa de estar recebendo em sua casa o deputado Adhemar Santillo? Esse é o homem que denunciou as mordomias do ministro do Trabalho!"

A mulher, com olhar fixo ao chão da cozinha, categórica, afirmou:

- "Tarcísio, depois que Toninho, meu filho caçula de 19 anos, se casou com uma mulher velha de 69 anos, que nem INPS tem, nada mais me surpreende!"

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Luta Marcante

No período em que estivemos submetidos aos rigores e prepotência do regime ditatorial imposto pelo golpe militar de 1964, principalmente na década de 70, a fidelidade partidária dos emedebistas era coisa obrigatória, natural. Deixar o Movimento Democrático Brasileiro, aderir à Arena, quase sempre levava o adesista á derrota na eleição seguinte. Principalmente nas cidades do interior, os emedebistas nem sequer tomavam café em lanchonetes freqüentadas por arenistas. Radicalismo espontâneo. Posicionamento imutável. Os detentores de mandatos pelo MDB ou aceitavam as regras estabelecidas pelos companheiros interioranos ou perdiam o apoio.

Nas eleições de 1970 para a Assembléia Legislativa, foram eleitos 12 deputados pela legenda do MDB. Iniciados os trabalhos, Clarismar Fernandes aderiu à Arena. Os onze que restaram decidiram se retirar do plenário todas as vezes que Clarismar assomasse a tribuna. Com o passar do tempo esse comportamento da bancada passou a ser compulsório. Ele começava o discurso os emedebistas iam para o cafézinho.

Habituado a essa convivência partidária sem concessões, fui eleito deputado federal. Ao chegar ao Congresso Nacioanl notei que o relacionamento entre integrantes dos dois partidos era de harmonia completa. Realizávamos encontro sociais em nossos apartamentos, quando compareciam os emedebistas e arenistas que representavam Goiás. Muitas vezes ficava bom tempo conversando com o senador Benedito Ferreira, o Benedito Boa Sorte e deputado Rezende Monteiro, ouvindo as hitstórias de fatos pitorescos acontecidos na política goiana. Ambos extrovertidos e ótimos contadores de causos. Ao nos despedirmos, Rezende, sem maior protocolo, me dava seu infalível beliscão na barriga. Gustavo Capanema, Plínio Salgado, José Bonifácio, Magalhães Pinto e Wilmar Guimarães, alguns dos experientes integrantes da bancada da Arena, afirmavam com grande convicção, que Rezende Monteiro era deputado desde o tempo em que federal se escrevia com "ph", deputado phederal. Gozação, é claro. Nem esse cordialidade nacional me autorizava modificar os costumes dos companheiros do interior.

Em Anápolis, cidade goiana mais resistente à ditadura, fazíamos a mobilização popular através dos encontros domiciliares. Durante o ano inteiro, em época de eleição ou não. Passávamos de 2ª a 6ª em Brasília e aproveitávamos os finais de semana para as reuniões políticas em Anápolis e no interior. Quando em 1973, cassaram nosso prefeito José Batista Júnior (MDB) e transformaram o município em Área de Segurança Nacional, tirando dos anapolinos o direito de escolherem pelo voto o seu prefeito, nossa luta foi mais intensa. Aí fazíamos três ou até quatro reuniões por noite.

Numa dessas ocasiões fui convidado para realizar, no mesmo horário, uma reunião no Bairro Jardim Gonçalves, casa do Anfilófio e outra no Bairro São Lourenço, casa de dona Benedita. Como não poderia estar nas duas ao mesmo tempo, solicitei a José Escobar, nosso fiel companheiro, que fosse à casa de dona Benedita enquanto eu falaria aos amigos do Anfilófio. Assim que encerrasse minha participação iria dar o encerramento ao encontro comandado pelo Escobar.

Ao chegar à residência de dona Benedita, encontrei todos de olhos fixos na televisão assistindo a novela das 20 horas, da Globo. Inclusive Escobar que dizia não gostar de novela. Cheguei, eles foram logo desligando a tv, enquanto dava início ao debate. Só alguns minutos depois fiquei sabendo que o Escobar não havia conversado com o pessoal. Assitira o Jornal Nacional e calma e pacientemente estava assistindo a novela. Encerrada a reunião o chamei separadamente:

- Escobar, lhe peço para conversar com o pessoal até que eu chegasse, e você fica assistindo televisão?

Prontamente me esclareceu:

- Ao chegar, fui logo dizendo: "Bem, gente!" Imediatamente aquele senhor que está sentado ali na frente, fumando cigarro de palha, pôs o indicador da mão direita sobre os lábios e disse: "Psssiu, Jornal Nacional!" Depois disso, não tive coragem de cortar nem propaganda de Coca-Cola.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Que falta faz Henrique Santillo


Por Orisvaldo Pires, jornal Estado de Goiás, 7/7/2010
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O momento político de Anápolis, porquanto a cidade busca reconquistar sua força e representatividade política exige posições e ações eficientes, maduras, rápidas, decididas. Ao analisarmos nossa história política contemporânea, percebemos que para alcançarmos este objetivo estamos cada dia mais necessitados da força e da visão de homens como Henrique Antônio Santillo, de saudosa memória. O político que em vida se tornou mito e após a morte se perpetuou como figura sui generis na condução de Goiás rumo ao desenvolvimento.

A política é uma prática democrática, mas movida a partir de decisões tomadas por homens de pulso forte. No momento em que a delicadeza se faz necessária nas discussões, de sua boca brotam orientações que nos tocam como a brisa leve de uma manhã de primavera. Mas, se o posicionamento exige firmeza, de seus atos e decisões emanam relâmpagos que clareiam a noite e prenunciam a chuva que fecunda a terra. Deste chão nascem idéias transformadoras, forjadas na experiência de quem sabe a hora de dizer sim e de dizer não.

Os caminhos do amadurecimento político não são cobertos de flores e perfumes, desenhados com raios de sol ou animados pela melodia dos sorrisos. Na maioria das vezes é pedregoso, cheio de espinhos e não menos livre de cizânia. Atravessar esse caminho exige habilidade e sapiência. Nesses momentos sentimos a falta de homens como Henrique Santillo. No período de 23 de agosto de 1937 a 25 de junho de 2002, esse paulista de Ribeirão Preto de nascimento, e anapolino de Sant’ Ana das Antas de coração, acumulou a maior riqueza que um ser humano pode almejar: conhecimento e respeito.

Henrique Santillo, exemplo para muitos políticos da atualidade, exerceu praticamente todas as funções públicas de destaque. Foi de vereador a ministro de Estado. De um lado teve habilidade e firmeza para conduzir, enquanto governador, o processo de desmembramento de Goiás e Tocantins; e de outro exteriorizou a humildade de espírito ao caminhar pelas ruas pedindo votos na campanha para prefeito de Anápolis, logo depois de comandar as ações da Saúde no Brasil como Ministro. Uma comovente demonstração de amor por Anápolis, cidade cujos interesses colocava acima de qualquer outro.

A trajetória que começou em 1965, quando se elegeu para a Câmara de Vereadores, passando pelo mandato de prefeito (1969-1972), deputado estadual mais votado (1975-1979), senador da República por Goiás (1979-1987), governador de Goiás (1987-1991), ministro da Saúde (1993-1995), secretário estadual de Saúde (1999), conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (1999-2002) órgão que presidiu em 2002, rendeu frutos essenciais para o desenvolvimento de Anápolis, de Goiás e do Brasil. Santillo participou de forma corajosa na campanha pelas Diretas, tem participação efetiva no advento dos genéricos no País e priorizou projetos históricos na defesa de uma saúde de melhor qualidade principalmente dos mais pobres.

As marcas de Henrique Santillo na saúde em Anápolis são indeléveis. Não precisamos enumerar todas. Basta falar da concepção do Hospital de Urgências, que leva seu nome, projeto executado pelo discípulo Marconi Perillo; a construção dos Centros de Atendimento Integrados de Saúde (Cais) do Jardim Calixto e Progresso, e algum tempo depois a implantação do sistema de atendimento 24 horas; o laboratório do Teste do Pezinho (Apae); o Hospital Oncológico Dr. Mauá Cavalcanti Sávio; aquisição de equipamentos e construção de novas alas da Santa Casa de Misericórdia; Hospital da Criança na Vila Jaiara; apoio ao Hospital do Hanseniano no Bairro Novo Paraíso; entre outros.

Que sentimentos movem um homem que, imediatamente após deixar o Ministério da Saúde, volta a atender normalmente como médico, de graça, em seu consultório no Hospital da Criança na Vila Jaiara? Que se compadece com o pobre que precisa de assistência médica? Que exemplos nos deixa um político que, depois de 37 anos ocupando os mais importantes cargos políticos nos âmbitos municipal, estadual e federal, na gestão de orçamentos bilionários, com a força de poderes imensuráveis, chega ao fim da vida com simplicidade, sem riquezas materiais e referenciado como um dos mais respeitados políticos do Brasil? Em momentos como agora, quando nos vemos tentando equilibrar na tênue linha que separa um passado de sonhos de um futuro de realizações, passamos a entender a importância de homens como Henrique Santillo.