quinta-feira, 27 de maio de 2010

Fuxicos incomodam e destroem

Publicado na edição de 27/05/2010 do jornal Diário da Manhã

Inconformado com a boataria veiculada por oposicionistas, afirmando que a candidatura de Vanderlan Cardoso jamais decolará, que os prefeitos da base governista o estão abandonando e que o PSB de Barbosa Neto foi orientado pelo comando nacional do partido a ficar ao lado do PT, o governador Alcides Rodrigues perdeu a paciência, classificando como fuxiqueiros os que assim estão procedendo. Forçado a explicitar se estava se referindo ao PSDB, apenas respondeu que “são os campeões de fuxico”. Fuxico é expediente condenável usado por pessoas medíocres, sem nenhum compromisso com a verdade. Denigrem a imagem de adversários com expedientes depreciativos, caluniosos e mentirosos.

Nas eleições de 2006, Maguito Vilela do PMDB, liderava a pesquisa de intenção de votos em Anápolis. Era necessária a destruição da sua credibilidade junto a população. Verdadeira central de boatos foi montada pelos adversários, lhe responsabilizando por tudo de ruim que havia ocorrido no Município nos últimos anos. O mais absurdo de todos os fuxicos, que ele teria sido o responsável pelo fechamento da indústria têxtil Vicunha, em Anápolis.

A diretoria nacional da Vicunha veio a Goiás, quando Maguito como governador e eu prefeito nos comprometemos a dar apoio até financeiro para que ampliasse as atividades da empresa em Anápolis. Numa solenidade pública muito concorrida , animada com banda de música e muito foguete, participamos do lançamento da pedra fundamental da empresa no Daia. Fomos ao Palácio das Esmeraldas, em Goiânia, onde houve desfile de manequins com roupas feitas pelos tecidos de sua confecção. A maquete da ampliação das suas novas instalações foi exibida às autoridades, jornalistas e público presente. Acertamos até a data para o início das obras. Seria o maior complexo industrial da empresa no Brasil.

Simultaneamente, a Vicunha adquiria o controle acionário da Companhia Vale do Rio Doce, privatizada pelo governo Fernando Henrique Cardoso. A prioridade da empresa deixou de ser a fabricação de tecidos, para se transformar na exploração e venda de minérios. Além de não ampliar suas instalações conforme o que havia sido acertado, a Vicunha fechou sua unidade que funcionava na Vila Jaiára e outras existentes no Rio de Janeiro e São Paulo.Pretextando para isso a concorrência predatória praticada pela China no Brasil.

Os fuxiqueiros foram de casa em casa na Vila Jaiára e bairos próximos, atribuindo a Maguito Vilela o fechamento da Vicunha, em Anápolis. Ao mesmo tempo incluíam também como golpe de Maguito contra Anápolis a instalação da Perdigão em Rio Verde. Para os fuxiqueiros que rodavam aos bandos pelos bairros da cidade, a Perdigão viria para Anápolis, mas por ação direta do governador, deslocou-se para Rio Verde.

Essa ação criminosa bem orquestrada, em pouco tempo transformou Maguito Vilela no maior inimigo de Anápolis. Os fuxiqueiros cuja ação é condenada pelo governador Alcides Rodrigues, talvez os mesmos que destruíram a imagem de Maguito junto aos anapolinos, saíram vencedores. Destruíram a reputação de uma pessoa honesta, trabalhadora e prestativa, pela calúnia e mentira. Quem usa desse expediente para tirar vantagem, destruindo a reputação do adversário, não merece o apoio do povo. Crimes dessa espécie são iguais ou piores que os praticados por candidatos ficha suja.

sábado, 22 de maio de 2010

Queda e retorno da autonomia política

Publicado no jornal Contexto

O 28 de agosto de 1973 aparentava ser um dia como outro qualquer. Muito sol, ventava bastante, quando cheguei à Assembléia Legislativa, em Goiânia, para a sessão plenária , que seria realizada pela manhã. A diferença, a novidade, ocorreu em seguida quando fui informado por um telefonema de Brasília, que José Batista Júnior, prefeito de Anápolis, acabara de ter seu mandato cassado, direitos políticos suspensos por 10 anos. O vice prefeito Milton Alves Ferreira não fora cassado, mas impedido de tomar posse, pois no mesmo ato assinado pelo general Emilio Garrastazu Médici, nomeava o engenheiro Irapuan Costa Júnior, como primeiro prefeito nomeado de Anápolis, que naquele dia foi transformada em Área de Interesse à Segurança Nacional.

Violência inconcebível praticada contra um povo que não se rendia e jamais se rendeu aos caprichos dos prepotentes e inimigos das liberdades democráticas. José Batista Júnior que vencera a eleição enfrentando toda máquina oficial do governo e poderio econômico, soube da sua cassação por noticiário de rádio, quando voltava de Goiânia, sem ser atendido pelo secretário da Segurança Pública, onde fora para tratar de assuntos daquela pasta em Anápolis.

Foram 12 anos sem eleição para a prefeitura e 8 prefeitos nomeados. Nesse período o MDB continuou ganhando todas as eleições que disputou no Município. A única exceção ficou por conta da eleição para vereadores ocorrida em 1976, em que a Arena elegeu oito vereadores e o MDB, sete. Durante esse tempo companheiros humildes foram presos; várias tentativas os adversários fizeram para cassar nossos mandatas – Henrique Santillo e meu; impediram Henrique de atender pelo INPS; tentaram pelo suborno comandar o MDB municipal; assumiram a direção da Rádio Carajá através de força policial e fecharam a Rádio Santana, onde apresentávamos o programa “ O Povo Falou ta Falado.”

Fizemos inúmeros encontros políticos, discursos, debates nas comissões técnicas da Câmara Federal, simpósios estudantis na Câmara Municipal e reuniões domiciliares. mantendo acesa a luta pela autonomia política de Anápolis. O vereador Valmir Bastos Ribeiro foi verdadeiro “leão” nessa luta. Preso inúmeras vezes, torturado e permanentemente perseguido, Valmir foi exemplo de lealdade aos companheios e convicto defensor do estado democrático de direito. Graças à sua dedicação e prestigio conseguiu trazer a Anápolis, para debater política e fortalecer a luta pelo retorno da autonomia política do Município, figuras como Ulysses Guimarães, Aldo Fagundes, Odacir Klein , Freitas Nobre, Jaison Barreto, Tarcisio Delgado e outros expoentes do MDB nacional.

Estamos neste ano completando 25 anos do retorno ao direito do anapolino escolher pelo voto livre e soberano, o seu prefeito. Tenho muito orgulho de ter participado dessa luta gigantesca e vitoriosa. Satisfação de ter sido eleito pelo voto direto o primeiro prefeito depois do fim de prefeitos nomeados.

Os jovens, aqueles que contam com menos de 30 anos, não sabem os prejuízos causados pela ditadura. Não foram apenas as perdas materiais. Essas são repostas. Os maiores malefícios ocorreram no impedimento de formação de novas lideranças.As lideranças políticas de maior expressão na política nacional são remanescentes de l964. Lideranças autenticas, mas que estão paulatinamente desaparecendo. O autoritarismo e leis de exceção impediram o surgimento de substitutos. Estamos com carência de lideres autênticos. Fruto do regime ditatorial. Para que isso não mais se repita, não devemos deixar que as atrocidades caiam no esquecimento, principalmente dos jovens.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Anápolis homenageará Moisés Santana

Publicado na edição de 20/05/2010 do jornal Diário da Manhã

No dia 20 de maio de 1922, portanto, a exatos 88 anos, morreu assassinado, na Redação do jornal Lavoura e Comércio, em Uberaba-MG,o escritor, jornalista e professor Moisés Augusto Santana. Foi morto pelo médico maranhense João Henrique Sampaio Vieira da Silva, que presidia a Câmara Municipal do Município. Muito inteligente, sabendo usar as palavras com maestria e fina ironia, esse goiano de Goiás Velho, que Anápolis muito lhe deve, escreveu no jornal “Separação de Uberaba”, versos satíricos considerados ofensivos pelo presidente da Câmara. Não suportando a contundência das críticas, João Henrique foi ao jornal Lavoura e Comércio, onde Moisés Santana era redator, assassinando-o à queima-roupa.

Anápolis ainda era uma pequena cidade e, naquele tempo, os meios de comunicação não eram sofisticados e rápidos como hoje. As notícias demoravam a chegar ao conhecimento público, mas tão logo foi divulgada em Anápolis, causou muita consternação a todos. Os anapolinos e goianos que o conheciam tinham por ele a maior admiração pela forma resoluta e carinhosa que defendia os interesses de Anápolis e Goiás. Mesmo não sendo integrante das famílias tradicionais de Santana das Antas, foi defensor ferrenho, apaixonado mesmo, pela história e luta dos anapolinos. Aparentemente destituído de vocação religiosa, coisa que descobriu aos 13 anos de idade, ao deixar o Seminário Episcopal de Santa Cruz, onde fora para seguir a carreira eclesiástica, era muito religioso. Moisés Santana se apaixonou pela história da mulinha empacadora. Aquela, que carregando bruacas, fazendo parte da tropa que descansara às margens do Córrego das Antas, não quis seguir viagem desobedecendo as ordens para ir em frente transportando carga tão pesada. Só caminhou quando abrindo as bruacas os tropeiros depararam com imagem de Santana no seu interior. Foi o aviso para que ali se construísse uma capela dando início ao povoado. O que mais tarde foi construída.

Fixando residência em Anápolis, antes da emancipação política do municipio, estando com 21 anos, Moisés Santana foi importante na consolidação dos objetivos de Gomes de Souza Ramos e Zeca Batista. Sua importância foi fundamental para que Santana das Antas se emancipasse com o nome de Anápolis. Sugestão que lhe foi feita pelo deputado Abílio Wolney, quando visitando as Antas, em busca de apoio para sua candidatura a deputado federal, sugeriu-lhe que defendesse o nome de Anápolis para o município que estava surgindo.

Casou-se com a anapolina Cassiana de Souza Dutra. Sua primeira filha, Antesina Santana, nasceu, viveu e morreu em Anápolis. Seu nome, Antesina, foi em homenagem à terra das Antas. Terra que fez questão de realçar no âmago da sua própria família, ao registrar a filha vinculando-a à terra em que nasceu. Quando do nascimento do seu segundo filho, já convicto de que o município deveria chamar-se Anápolis, o registrou como Joaquim Anapolino Santana. A partir de Anápolis, com os filhos homenageando a cidade em que nasceram, Moisés Santana fez o mesmo com os outros filhos, como Bárbara Goiabina, em respeito a Inhumas, onde nasceu.

Já em Uberaba, como redator do jornal Lavoura e Comércio, no dia 23 de novembro de 1904, Moisés Santana usou pela primeira vez de forma escrita a palavra Anápolis, num artigo em que falava sobre Santana das Antas.

Moisés Santana tem sido muito homenageado pelo muito que fez em favor da cultura goiana. Vários são os logradouros públicos que levam o seu nome. Os anapolinos estão lhe devendo esta homenagem. A Praça Moisés Santana, depois de remodelada, teve seu nome mudado para Praça das Mães, eliminando dos logradouros públicos do município o nome daquele que foi o maior divulgador e defensor de Anápolis no seu nascimento. Executivo e Legislativo municipais, jornalistas, escritores e professores, se preparem para a correção dessa injustiça involuntariamente cometida contra a figura ímpar de Moisés Augusto Santana!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Assim nasceu Xata com X

Publicado na edição de 17/05/2010 do jornal Diário da Manhã

No início de 1931, tendo como presidente Dr. Manoel Gonçalves Cruz, foi fundado o Annápolis Sport Club. No dia 7/02/1931, no seu primeiro jogo, debaixo de muita chuva o Annápolis Sport derrota a A.A. União Goyana, da cidade de Goiás, por 2 x 1. Com altos e baixos o Annápolis resistiu até o final de 1947. Nesse ano o presidente José Maria do Nascimento Júnior, mesmo tendo injetado muito dinheiro do seu próprio bolso na equipe, não conseguiu saldar todas suas dívidas. A situação piorou com a saída dos Puglisi (Júlio, Laudo e Zeca Puglisi) e afastamento de Raul, Verdi e outros que formaram o Quinta Coluna.

Mesmo com a resistência de José Maria, em 1º de janeiro de 1948 foi fundada, com a participação de Gisberto Ferraresi, José Elias Isaac, Moisés Roriz Filho, João Pedro Neto, Ângelo Carnielo, Edson Hermano, toda família Puglisi e atletas a Associação Atlética Anapolina em substituição ao Annápolis Sport Club, tendo como seu primeiro presidente Gisberto Ferraresi.

O primeiro jogo da Associação atlética Anapolina foi contra o Ferroviário de Araguari, no Estádio Manoel Demóstenes, em 18 de abril de 1948. A rubra venceu por 3 x 2. Gols de Júlio Puglisi, Leônidas e Picum. Sua escalação para aquela partida foi: Juca, Petrôneo e Tatu; Arnaldo, Iberê e Jé Lemes; Alípio (Luizinho), Júlio. Juvenal, Picum e Leônidas.

Os Puglisi foram importantíssimos não só na fundação como sustentação da Anapolina. Júlio, Laudo e Zeca eram extraordinários jogadores. Vicente, já veterano, Tonico e Adelino também faziam parte da rubra. Júlio Puglisi iniciou sua carreira como goleiro, se transformando posteriormente num dos mais destacados artilheiros. Laudo foi campeão goiano pelo Operário, em 1947 e na Anapolina brilhou como artilheiro da equipe. Zeca foi o mais destacado de todos eles e considerado como o melhor ponteiro direito do futebol anapolino em todos os tempos. Waldinar e Celso Campos mais novos, foram brilhantes na história da rubra. Contudo, a grande líder, a comandante de toda família, fanática torcedora da Associação Atlética Anapolina, foi a matriarca da família, dona Caetana Puglisi. Sua casa sempre foi local preferido dos atletas discutirem futebol, saboreando o café preparado por ela ao fogão a lenha. A mesa sempre farta de biscoitos, bolos e doces a qualquer hora. Dona Caetana excelente anfiriã, ainda lavava, passava e cuidava de todo material usado pela rubra. Foi uma heroína, verdadeiro exemplo de dedicação aos filhos, amigos e a Associação Atlética Anapolina.

Torcedor da Anapolina, como qualquer torcedor apaixonado pelo seu clube, tem seus momentos de alegria e tristeza. Só que o da rubra é mais criativo e está sempre de bem com a vida e com o humor. No início da década dos anos 50, a rubra ganhou o campeonato anapolino de futebol sem perder um único jogo e conquistou o tetra campeonato da cidade, patrocinado pela Liga Anapolina de Desportos. Seu maior adversário era, como continua sendo, o Anápolis Fubebol Clube. Antes das partidas circulavam pela cidade e no Estádio Manuel Demóstenes, folhinha dizendo o dia, mês, ano e fase da lua, anunciando mais uma vitória da rubra contra o tradicional adversário. Quando a previsão não dava certo, a gozação e constrangimento aos adversários já haviam sido realizados antecipadamente.

Wahib Aidar, empresário, muito amigo dos Puglisi, ex-atleta da Anapolina na mesma época que Celso Campos, era o mais espirituoso e gozador de toda torcida. Presidindo o clube, num daqueles momentos difíceis, em que faltavam atletas e dinheiro para sua manutenção, numa noite de chuva torrencial em Anápolis, Wahib sentado na tribuna de honra, assistia a mais um jogo da sua rubra querida. Longe de conversas com amigos e outros torcedores, sozinho, preocupado com os compromissos financeiros que venceriam na manhã seguinte, ouviu o locutor Vilibaldo Alves, de uma emissora de rádio local, narrando aos ouvintes a tempestade que caia sobre a cidade:

– É fogo, torcida anapolina. Cai água em grande quantidade. É chuva com X maiúsculo!

A Anapolina mesmo com toda crise, jogadores com os salários em atraso, aparentemente desmotivados, derrotou o adversário, dando show de bola. Wahib emocionado com a dedicação dos atletas, ao conceder entrevistas às emissoras de rádio anapolinas e goianienses a qualificou como uma equipe irreverente, chata. Chata diferente: " Xata com X maiúsculo."

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Municipalização já, para o bem das crianças

Publicado na edição de 13/05/2010 do jornal Diário da Manhã

Quando em 1985 Anápolis readquiriu sua autonomia política, depois de 12 anos de prefeitos nomeados, como candidato do PMDB à prefeitura, fui com Henrique Santillo ao Bairro Jundiaí, visitar a região. Ouvimos as reclamações dos moradores pela falta do esgoto sanitário. Do Colégio São Francisco à Vila Santa Maria de Nazareth era uma região de relevo úmido, em grande parte pantanoso mesmo. Cisterna não precisava mais que um metro para brotar água. Fossa num lugar de tanta água em poucos dias precisava de esgotamento ou construção de uma nova. O mais dramático presenciamos na Rua Visconde de Taunay, numa residência em frente ao feirão, um enorme buraco, denunciando explosão de uma fossa, em que o proprietário havia colocado carbureto para sua limpeza, como habitualmente fazia. Uma pessoa morreu e outra ficou gravemente ferida.

Tendo vencido o pleito e Henrique eleito governador em 86, elegemos para Anápolis, a construção da rede de esgoto como sua a maior prioridade. Elaborado o projeto, atendendo mais de 90% da área urbana, a obra foi realizada. Até mesmo a pequena rede já existente, cobrindo o setor central, cujo esgoto era despejado sem qualquer tratamento no Córrego das Antas, foi reconstruída. Foram milhares de quilômetros de rede. Uma moderna estação de tratamento do esgoto coletado em toda cidade foi construída às margens do Antas, próxima ao Bairro Residencial das Flores. Esgoto tratado e devolvido ao córrego. Médicos pediatras e cartórios de registro civil podem atestar que após aquelas obras caiu verticalmente a taxa de mortalidade infantil em Anápolis.

Depois desse serviço realizado em 1987, há exatamente 23 anos, nada mais foi feito. A única extensão feita de lá até aqui, foi para coletar o esgoto do Condomínio Porto Rico, no Bairro São Joaquim, que com seus mais de 600 apartamentos, todos ocupados, usava o sistema de fossa gigante, que enchia e vazava até três vezes por semana. A prefeitura arcou com a despesa da execução da obra.

Até o momento, a expansão do atendimento ao usuário tem sido apenas com ligações domiciliares. Residências construídas em lotes antes baldios, em setores servidos pelas redes principais, recebem o ramal domiciliar e são apresentadas na estatística da Saneago. A rede e os emissários utilizados são os construídos em 1987.

Impedida de utilizar dinheiro do FGTS, a maior fonte de recurso disponível para saneamento na Caixa Econômica Federal, a Saneago com sua capacidade de endividamento esgotada, se transformou, ao lado do modestíssimo Amapá, nos dois Estados que menos reduziram a quantidade de habitantes sem a coleta de esgoto, nos últimos 16 anos. Amapá reduziu em 2% e Goiás 4%. No mesmo período, a média da redução nacional nesse setor foi de 40%, segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, do Ministério do Planejamento.

A principal vítima desse descaso administrativo é a criança, com o aumento cada vez maior da mortalidade infantil. Com 17,4 crianças mortas no primeiro ano, de cada mil nascidas vivas. Goiás só não tem a maior taxa de mortalidade infantil que as regiões Norte e Nordeste. No Centro-Oeste – Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, na Região Sul; São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo – Região Sudeste, as mortes de crianças com menos de um ano de vida são em menor número que as ocorridas em Goiás.

Para que não ficasse apenas no papel o projeto federal de construção de casas Minha Casa, Minha Vida, a prefeitura de Anápolis, se endividou em mais de 56 milhões de reais, junto à Caixa Econômica Federal, repassando os recursos à Saneago. Fato semelhante aconteceu com Aparecida de Goiânia e outras cidades interioranas.

Enquanto isso a população dos bairros periféricos de Anápolis e das cidades de médio e grande portes do Estado continua bebendo água contaminada das cisternas, assistindo ao crescimento da mortalidade infantil.

Só há uma solução para evitar o colapso total: municipalização, já !

domingo, 9 de maio de 2010

Ausência de benefícios não atrapalha

Publicado na edição de 09/05/2010 do jornal Diário da Manhã

Recordar, principalmente das coisas boas que aconteceram nas nossas vidas, mesmo sendo nostálgicas, nos arremessa a emoções sempre renovadas. Embora não sendo anapolino, pois nasci em Ribeirão Preto –SP, desde de pequeno vivo em Anápolis. Lembro-me com freqüência de momentos importantes de todas as fases da minha vida. Uma de atividade intensa foi quando adolescente, jogando futebol pelo Ypiranga, no estádio Manoel Demóstenes. Não havia rotina. A todo instante acontecia um fato novo. Não saem do arquivo positivo que carrego em minhas lembranças.

Nosso campo, inaugurado em 17/05/l942, por Manoel Demóstenes Barbo de Siqueira, num terreno doado pelo fazendeiro José Gomes de Paula. Era realmente de chão batido, sem nenhum conforto para atletas e torcedores, mas era o nosso campo. Estávamos tão acostumados com sua simplicidade e precariedade, que não víamos defeito e deficiência nas suas instalações. Quando alguém surgia com a idéia de modernizá-lo a reação contrária era de todos. Nessa simplicidade existiu até 10/04/1965, quando surgiu o estádio Jonas Duarte.

No final dos anos 50 surgiu em Anápolis um técnico de análises clínicas, vindo do Rio de Janeiro, torcedor do Bangu. Para ele, Zózimo era o maior de todos os craques brasileiros. Aqui chegando se apresentou como técnico de futebol e foi logo assumindo a função no Induspina. Foi nessa condição que Abel conheceu o estádio Manoel Demóstenes. Ficou decepcionado e estarrecido com o que viu:

- Qualquer campo de várzea no Rio é gramado e possui arquibancada. Temos que fazer desse terreiro um projeto de campo de futebol. Não há justificativa para uma cidade como Anápolis, repleta de craques de primeira grandeza, jogar num lugar assim...

Decidiu em parceria com alguns comerciantes da cidade construir lance de 10 metros lineares de arquibancadas, com cinco degraus. Para impressionar os desportistas, ele próprio foi arquiteto, engenheiro, mestre de obra e pedreiro. Em três dias sua obra prima estava construída. Paredes de meio tijolo, com o vão de dois metros uma da outra, ate completar os dez metros projetados. Com tábuas de angico, de cinco centímetros de espessura, montou os cinco degraus da arquibancada. A maioria dos torcedores que só comparecia ao campo no domingo, ficou surpresa com a novidade, que não existia na semana anterior. A arquibancada foi erguida na lateral do campo, paralela à Rua Benjamim Constante, próxima a linha de fundo.

Metódico, muito organizado, Abel tomou todas as providências para que a solenidade de inauguração fosse marcante. Convidou o prefeito Municipal Hely Alves Ferreira para a inauguração. Enquanto isso a Banda Lira de Prata de Santana, executando Uberaba Esporte a pedido de Caetano, natural de Uberaba, fanático torcedor da rubra e Cidade Maravilhosa, em homenagem a Abel, fazia o espetáculo mais alegre e festivo. A medida que se aproximava o horário da partida oficial entre Ypiranga e Botafogo de Buriti Alegre, pelo campeonato goiano, o público aumentava cada vez em maior número ao lado das arquibancadas. Todos comentavam sobre a novidade, mas ninguém se dispunha a sentar-se nelas. A fita verde amarela, adquirida na tipografia e papelaria Glória, estendida por toda extensão da arquibancada, aguardava a presença do prefeito para solenemente ser descerrada.

Com o prefeito ausente o descerramento não se deu. Ao entrar em campo, o árbitro da partida designado pela Federação Goiana de Desportos, vendo aquela aglomeração foi verificar o que estava acontecendo. Viu a obra idealizada e o serviço feito por Abel. Não gostou. Sem nenhuma técnica de segurança era um perigo à integridade física dos torcedores que poderiam ser agredidos a tijoladas pelos mais fanáticos e descontrolados.Determinou sua derrubada e retirada de todo o entulho imediatamente. Só depois de totalmente demolida e o material levado para fora do estádio, a partida foi iniciada.

O que mais impressionou Abel, foi que para construir a arquibancada não contou com nenhuma ajuda, mas para derrubá-la, todos os torcedores presentes ao Manoel Demóstenes fizeram questão de participar.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Lázaro da bicicleta, o locutor diferente

Publicado na edição de 03/05/2010 do jornal Diário da Manhã

O Estádio Manoel Demostenes em Anápolis, campo de chão batido, cerca de ripas em substituição ao alambrado, sem arquibancadas e banheiros, além de não possuir vestiários para os clubes e árbitros, foi palco de acontecimentos monumentais no futebol. A apresentação da Portuguesa de Desportos, no início dos anos 50, com seus ídolos, Muca, Djalma Santos, Brandãozinho, Julinho, Pinga , Nininho e tantos outros, foi um deles.

No Manoel Demostenes foram realizados jogos históricos, onde se exibiram renomados craques anapolinos e goianienses. Tambem foi lá que torcedores fizeram a diferença. Caetano, da Associação Atletica Anapolina, com seu bordão inconfundível, “óh o pé dele Carpaneda”, Teodora a dama tricolor impecávelmente vestida e sua inseparável sombrinha, além de Mané Padeiro,que muitas vezes assistia jogos do seu Anápolis, dentro do estádio, em cima da carroça-baú, cheia de pães, roscas e quitandas.

Lá, Alcemiro Rodrigues, o popular Gigante, trajando calça esporte dobrada até o meio da canela, botina de carregar pela boca, paletó azul marinho, cachecol, chapeu e guarda chuva desbotado pelo uso, se transformou no mais popular árbito de Anápolis, no amadorismo.

Campo lotado, torcedores em silêncio absoluto, assistiram no Manoel Demostenes,Glicério Mellazo, artilheiro do Ypiranga se negar a cobrar pênalti contra o Anápolis, aos 43 minutos do segundo tempo. Ficou assustado e amedrontado com a presença em campo do presidente tricolor, Juiz de Paz no Município, Joâo Bezze, que discretamente portava um 38 na cintura e indagava em vóz alta e pausada aos alvinegros: “ Quem vai bater o pênalti ?” Como ninguém se apresentou para a heróica missão, Joaquim Diogo encerrou a partida, e o pênalti só foi cobrado, com os portôes fechados ao público, três meses depois, por decisão da justiça desportiva.

Consagrado e respeitado jornalista Jayro Rodrigues da Silveira, iniciou sua carreira de comentarista esportivo na Rádio Santana de Anápolis, no Estádio Manoel Demostenes. Polêmico e discreto, Jayro nunca deixou transparecer sua simpatia e amor pela rubra, a xata. A Rádio Santana não possuia o poder e penetração da Bandeirantes de Sâo Paulo, que com sua Cadeia Verde-Amarela atingia todo Brasil, mas tinha sua cabine de madeira, toda pintada de verde-amarelo.

Enquanto Jayro Rodrigues comentava pela Rádio Santana, uma outra grande figura, essa consagrada no meio jurídico goiano, Getúlio Targino, no Manoel Demostenes, comentava pela Rádio Cultura. Os comentaristas seguiram caminhos exitósos e diferentes, mas suas emissoras tiveram o mesmo destino: fechadas que foram no período ditatorial, pelo ministro Quandt de Oliveira, da Viação e Obrás Públicas, responsável pela área das comunicações, em maio de 1975, por decisão política.

Outra figura popularíssima, que fez história marcante no Manoel Demostenes, foi Lázaro Gomes, o Lázaro da Bicicleta. Todas as tardes quando treinavam Anapolina, Anápolis, Ypiranga ou São Francisco, Lázaro chegava mais cedo, em sua bicicleta, acomodava-se ao lado da cerca de ripas e com uma latinha, geralmente de extrato de tomate, transmitia todos os lances do treino coletivo. No transcurso do treinamento, atletas se dirigiam até onde o locutor se encontrava, para esclarecer uma jogada mais polêmica. Lázaro da Bicicleta era ouvido e admirado pela garotada. Os meninos prestavam muito mais atenção no que Lázaro dizia e comentava, que nos lances dentro de campo. Lázaro da Bicicleta também faz parte da história do futebol anapolino e do estádio Manoel Demostenes.