domingo, 14 de março de 2010

Santillo e a soberba, por Waldemar Curcino de Morais Filho

Publicado no jornal Diário da Manhã

Creio que a melhor maneira de prestar uma homenagem a Henrique Santillo, nestes cinco anos após sua partida, que vão se completar em junho, é não ter medo e ser sincero em falar do seu estilo de vida. Digo isso porque ele deixou para um pequeno grupo, que não viveu em êxtase com o poder e riquezas, o legado de não comungarmos com a soberba e seus predicados como a empáfia e a vaidade. A inveja e a soberba, de certa forma, caminham próximas nas situações do dia-a-dia e é um sentimento variável de acordo com os indivíduos, embora, ao pobre, seja mais difícil exercê-la. O soberbo tende a se mostrar, enamorado que vive de sua própria existência e, ao se exibir, desperta a inveja nos outros. Gente como Santillo, com seu cabedal de inteligência, humanismo, generosidade, despertava a admiração nos outros, tornava o mundo melhor de ser compreendido pela simplicidade com que interagia com o poder.

Santillo veio de uma família muito simples, imigrantes da Itália; teve uma infância difícil, juventude cheia de lutas, tentando por meio do estudo, com o que Deus lhe deu de especial, a inteligência, um lugar ao sol. Na fase adulta não se acomodou em ser apenas um médico, partiu para as lutas políticas, culminando com mandatos políticos populares. Nos mandatos que exerceu no Legislativo e Executivo priorizou sempre o ser humano, na essência do amor e respeito ao próximo. Santillo parece ter aprendido a, desde muito cedo, combater a soberba. Sempre evitou a ostentação, conteve as vaidades e olhava o mundo não a partir de si mesmo, mas principalmente pelo que percebia ao seu redor, comparava, analisava e traçava suas metas com virtude e solidariedade.

Convivi com ele 22 anos, desde o tempo de senador, como assessor e secretário particular. Pude testemunhar o modo simples de vida que ele preservou desde a sua infância até a sua partida. Transmitia que o mais importante que o cargo era o ser humano. Sofria com o sentimento do seu semelhante. Apesar da aparência sisuda se comprazia com a alegria, sobretudo a dos amigos e familiares. A despeito de sua vasta cultura, tinha interesse em dialogar com os menos cultos. Nunca ouvi nem o vi faltar com respeito com seu semelhante, nem usar de artimanhas para tentar atingir algum adversário político. Sempre os respeitava e mantinha as divergências no campo das idéias.

Considerava a vaidade e a soberba como defeitos dos piores, porque enganam a nós mesmos e nos faz perder o sentido das proporções e, não raro, nos levam a cair no ridículo, porque sempre haverá alguém mais forte do que nós. A tendência comum dos indivíduos em criar gosto pela ostentação e pelo prazer eram banalizados no pensamento deste grande homem público, que afirmava sua identidade por elevados princípios e valores éticos. A vida para ele era o Ser e seus bens eram o seu modo de existência pessoal e sua vida essencial, traduzida em sua privacidade, partilhada por poucos. Buscava orientar sua equipe de forma a diminuir as angústias da existência e delatando as armadilhas das regras sociais dos grupos que muitos sonhavam participar. Em função disso, mostrou, não a muitos, mas a apenas pouquíssimas pessoas do seu ciclo pessoal, que não vale a pena exercer um determinado poder e querer se transformar em um rei, em que todas as coisas e pessoas lhe pertencem, em que é o dono do mundo ou simplesmente se arvora em Deus. Não vale a pena! É melhor partir como Santillo partiu, não deixando seu semelhante com sentimento ruim no coração. Resumiria a humildade de Henrique Santillo à vida de Jó 1:21, escrito no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada: “Nu saí do ventre da minha mãe, e nu tornarei para lá”.

O que ele estaria pensando se estivesse convivendo no mundo atual com número acelerado de escândalos e atitudes de determinadas pessoas. Acredito, pelo que conheci, que mesmo assim continuaria acreditando na espécie humana.

Nos últimos anos de sua vida o grande prazer que ele tinha era a convivência familiar, quando por inúmeras vezes presenciava-se nele um belo sorriso ao receber um amigo.

Apesar do interesse de muitos “amigos” em esconder e fugir das idéias de Henrique Santillo, elas ficarão gravadas nas mentes e corações das pessoas de bem.

Waldemar Curcino de Morais Filho
foi secretário particular de Henrique Santillo

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