sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Surpresas nas campanhas políticas

Com a vitória consagradora para o Senado em 1978, Henrique Santillo passou a ser, dentro e fora de Goiás, a maior liderança política do Estado. Ele, que se preparava desde 1974 para disputar o governo estadual, teve que adiar naquele ano, mais uma vez, seu projeto eleitoral. Com o "pacote de abril" de 1977, Geisel excluiu da Constituição Federal eleição direta para governo estadual e criou o "senador biônico", o senador sem voto. Das duas vagas disputadas em 1978, uma já era da Arena. Geisel reconduziu Benedito Ferreira, o Benedito Boa Sorte. Para a eleita pelo povo, Henrique Santillo e Juarez Bernardes pelo MDB, enfrentaram Osires Teixeira, Jarmund Nasser e Jonas Duarte, pela Arena. MDB venceu. Santillo, mais votado, consolidou sua liderança.

Em 1982, Iris Rezende, que readquirira seus direitos políticos depois de 10 anos de suspensão, decidiu ser candidato, adiando por mais quatro anos o projeto de Henrique Santillo. Iris econtrou o PMDB, sucedâneo do MDB, organizado e imbatível em todo o Estado. Onofre Quinan, empresário bem-sucedido, nosso companheiro de MDB em Anápolis, foi indicado para vice-governador na chapa de Iris.

Ary Valadão, governador do Estado, sofria com os pequenos recursos que o Estado dispunha. Precisava construir alguma coisa que marcasse sua administração. A Arena o abandonara. Estava bastante dividida. Enquanto o governador lutava pela indicação de alguém do seu grupo a maioria do partido queria Otávio Lage de Siqueira, enfrentando Iris Rezende. Alguns meses antes das eleições, Ary Valadão conseguiu autorização do Banco Central para empréstimo internacional. Os recursos seriam aplicados em pavimentação de rodovias. Principal a ser asfaltada seria a que liga Itaberaí a Itapuranga. Máquinas chegaram a iniciar os serviços de terraplanagem.

Como empréstimo externo depende de autorização do Senado, os senadores arenistas em final de governo não compareciam ao plenário para que houvesse deliberação. Em todas as sessões, a mesma cena: o presidente abria a sessão, o senador Dirceu Cardoso (PMDB-ES) pedia verificação de quorum. Não havia número para abertura. Passaram-se os dias, semanas e meses e o pedido de empréstimo do governo goiano não era apreciado. Os arenistas de Goiás espalhavam por todos cantos que os senadores Lázaro Barbosa e Henrique Santillo, do PMDB-GO, estavam impedindo sua votação, para prejudicar Ary Valadão. Essa fofoca já começava a afetar o candidato peemedebista Iris Rezende. O PMDB goiano decidiu que Lázaro Barbosa e eu, representando Henrique Santillo, iríamos a Itapuranga para esclarecer a verdade. Fomos em avião pertencente a Onofre Quinan, comandado pelo piloto Carlão. Conosco foi também o advogado Wanduir de Lima.

Ao chegarmos a Itapuranga, não havia ninguém nos esperando no campo de aviação. Carlão sobrevoou a cidade, retornando ao campo de pouso. Apenas uma pessoa no centro da pista fazendo sinais para que Carlão parasse ali, a aeronave. Era Claudion Mendes, presidente do PMDB no município, solicitando que não saíssemos do avião. Argumentou que integrantes do PMDB Jovem nos receberiam a bala caso fossemos à reunião. Apoiadores de outros candidatos do partido ao Senado e Câmara Federal não aceitavam que Lázaro e eu conversássemos com a população. Nossa missão não era buscar apoio partidário às nossas candidaturas. Além do mais, lutávamos contra qualquer tipo de prepotência. Não podíamos abandonar a luta pelo gesto tresloucado de alguns irresponsáveis! Descemos! Assim que pusemos os pés no chão, começaram os disparos em nossa direção. Sem um local mais apropriado para nos proteger, usamos a fuselagem do avião. Os disparos só cessaram quando integrantes da Polícia Militar chegaram ao local. Fomos à prefeitura, mas, com a população assustada, ninguém compareceu. A reunião não aconteceu. Cumprimos nosso papel, concedendo entrevistas à emissora de rádio local.

A campanha não podendo parar, na manhã seguinte, fui com Maria Dagmar e Paulo Silva, candidatos a vereadora por Goiânia e a deputado estadual, à Vila Redenção. Primeiro conjunto de casas populares contruído por Iris, em Goiânia. Nos acompanhou na visita, casa a casa, Tarcísio, primo de Dagmar e comerciante de materiais de contrução, na região. Depois que fizemos dezenas de visitas, chegamos à casa de dona Bárbara, matriarca de grande família. Tarcísio entrou pelo corredor, indo direto à cozinha. Nós o acompanhamos. Fez a apresentação de praxe. A anfitriã, atenta, ouviu a identificação de cada um de nós. Esgotados os argumentos, Tarcísio completou:

- "Dona Bárbara, a senhora não está surpresa de estar recebendo em sua casa o deputado Adhemar Santillo? Esse é o homem que denunciou as mordomias do ministro do Trabalho!"

A mulher, com olhar fixo ao chão da cozinha, categórica, afirmou:

- "Tarcísio, depois que Toninho, meu filho caçula de 19 anos, se casou com uma mulher velha de 69 anos, que nem INPS tem, nada mais me surpreende!"

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