segunda-feira, 14 de junho de 2010

Respeito ao povo e ao dinheiro público

Publicado na edição de 10/06/2010 do jornal Diário da Manhã

O voto do eleitor brasileiro tem sido muito mais pelo emocional que pela razão. Isso porque ninguém acredita em “proposta” de candidato. Só vamos alterar essa cultura, quando eleitor, além de votar, exigir do eleito que cumpra a palavra empenhada na campanha eleitoral.

Os japoneses estão nos dando, mais uma vez, lição de democracia e cidadania. O primeiro-ministro Yukio Hatoyama , antes de completar nove meses no cargo, foi obrigado a renunciar sob pressão popular. Hatoyama assumiu compromisso de, sendo eleito, retirar a base militar do exército americano em Okinawa, ilha no sul do Japão. No cargo, desistiu da ideia, passando a defender a presença da base em solo japonês por questão de segurança nacional. Sua mudança de comportamento revoltou a população, obrigando-o a renunciar o cargo.

Para substitui-lo, foi designado Naoto Kan, que ao contrário de Hatoyama defendeu publicamente a permanência da base militar de Okinawa. O povo aceitou sua proposta. A revolta popular não se deu pela manutenção ou retirada da base militar americana, mas sim por promessa enganosa. O japonês não aceitou ter sido enganado, exigindo sua renúncia sob pena de impingir-lhe fragorosa derrota na próxima eleição parlamentar. Seu substituto defendeu a presença da base militar americana e foi aceito pela maioria, sem nenhuma contestação. Governante tem que ter segurança nas suas propostas. Perdendo a confiança da população não merece permanecer no cargo.

Infelizmente, aqui entre nós, a maioria diz que “conversa de político e risco na água têm o mesmo valor”. Por isso que os debates políticos se aproximam cada vez mais de programas policiais, em que o denuncismo prevalece. Vence quem melhor denuncia, mais ataca e usa de expedientes ilícitos. Vence quem melhor mexe com o emocional do eleitor. Além de nada proporem, muitos, ao assumirem o cargo, destroem ou não dão manutenção às obras que seus antecessores realizaram.

O Projeto Dom Bosco, criado em Anápolis desde 1986, é ótimo exemplo dessa irresponsabilidade. Durante seu funcionamento, instruiu e encaminhou milhares de crianças e jovens à aprendizagem profissional e ao primeiro emprego. Foi fechado por Ernane de Paula e nunca mais voltou a funcionar pelas administrações que o sucederam. Para Ernane José de Paula, o programa fazia lembrar Adhemar e Onaide Santillo. Por isso teria que ser destruído. Não deixou nem um vestígio da sua existência de tantas conquistas e glórias. Todos equipamentos, máquinas e materiais que lhe pertenciam sumiram. Até a sede principal do Projeto Dom Bosco, que adquirimos da Aeronáutica, na Vila Jaiára, foi repassada à Polícia Militar para instalação de uma unidade da PM. Enquanto isso, os jovens foram jogados à rua. Hoje centenas de garotos, que poderiam estar frequentando o Projeto Dom Bosco, fazem das ruas sua moradia e das drogas e flanelinhas sua aprendizagem.

O Centro Integrado da Mulher (CIM), dirigido pelo médico Maurício Machado, dentro de uma concepção moderna e avançada, desenvolvida pela Universidade de Campinas (Unicamp), em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS), foi por nós implantado em Anápolis. Referência no atendimento à saúde da mulher, dentro e fora de Goiás. Pioneiro no serviço público goiano em prevenção de câncer de mama e colo de útero, evitou que milhares de mulheres contraíssem câncer. Apontado por médicos e entidades que militam na área como o mais importante programa de saúde da mulher em Goiás, foi reduzido a um posto de saúde por Ernane José de Paula, por ter a “cara de Adhemar e Onaide Santillo”. Inaugurado com a presença de José Aristodemos Pinotti, uma das maiores autoridades mundiais em programas de saúde da mulher, que só veio a Anápolis pelo valor do programa e seu pioneirismo em Goiás, o Centro Integrado da Mulher é apenas saudade.

Com a direção do médico Geová Leite Guedes, instalamos na Vila Jaiára o Hospital de Medicina Natural. Da mesma forma que o Projeto Dom Bosco e o CIM, foi extinto sem deixar vestígio.

Infelizmente, ainda não temos a mesma cultura política japonesa.

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