domingo, 5 de dezembro de 2010

Agasalhe, ou Deixe o Povo Trabalhar

Quando assumi a Prefeitura de Anápolis, em janeiro de 1986, encontrei cadastrados no município, 96 ambulantes instalados nas ruas centrais da cidade. Os comerciantes, principalmente lojistas, que pagam regularmente os impostos, encargos trabalhistas, aluguel, água e luz, gritavam contra a concorrência desigual praticada pelos camelôs, principalmente dos que congestionavam a porta da sua loja. Era questão relativamente pequena para uma cidade grande como Anápolis. Tinha que ser equacionada antes que a situação piorasse. Construímos o Camelódromo num estacionamento existente no complexo da Praça Americano do Brasil. Todos os que trabalhavam ao ar livre, nas ruas, foram instalados naquele local. Os atritos desapareceram, os ambulantes passaram a ter local certo de atuação para seus fregueses e saíram da informalidade, gerindo seu próprio negócio.

Retornando à prefeitura em 1997, para o segundo mandato, novamente ambulantes espalhados pela cidade inteira, vendendo desde CDs piratas, produtos do Paraguai, a roupas finas. Mais uma vez determinamos que no imóvel pertencente ao município, com mais de 1.500m² na Rua General Joaquim Inácio, ao lado do Terminal Urbano, fosse construído o Centro Comercial Popular, onde acomodamos mais de 350 ambulantes. Local de movimento popular intenso, os comerciantes todos na formalidade, fazem juntamente com os integrantes do Camelódromo, a alegria dos que procuram produtos com preços inferiores. Com satisfação contam inúmeras histórias de sucesso comercial. Alguns já conseguiram formar filhos em cursos superiores. Outros compraram casa própria e melhoraram de vida.

Hoje, pelas ruas de Anápolis, sem medo de errar, existem centenas de novos ambulantes. Há setores no centro, em que os camelôs ocupam praticamente de dois a três quarteirões de calçadas. Vende-se de tudo nessa que é a maior feira livre permanente do Estado. Para os que conhecem a “Feira de Caruaru” celebrizada pelo Rei do baião, Luiz Gonzaga, dizem que a de Anápolis nada fica a dever à famosa feira do interior pernambucano. Vende-se qualquer tipo de bugiganga. Desde alfinete, retrós, canivete corneta a gorrinhos vermelhos com bolinhas luminosas para fantasia de Papai Noel. De frango caipira a ovos de codorna. Frutas nacionais, importadas e muita planta medicinal. Em algumas dessas bancas de ervas, para a retirada de calo encravado a cura de diabetes a freguesia é cativa. Enquanto o poder público municipal não constrói um local para abrigá-los, os ambulantes crescem sem parar. “É sinal de vitalidade da economia no município”, dizem alguns. “Mesmo que hajam especuladores alugando o trabalho de algum desempregado para tomar conta da banca, vale a pena, pela maioria que retira o sustento da família com seu trabalho”, garantem outros.

Esse é momento do ano mais esperado por qualquer comerciante, esteja na formalidade ou ambulante. Chegada das festas de final de ano. Tempo para ganhar alguns reais a mais. Nem todos estão alegres e sorridentes. Vendedores da feirinha artesana estão revoltados. Justamente agora, em que todos pregam a paz. Receberam ultimato da administração municipal para que saiam da Praça Abilio Wolney, onde encontra-se o prédio principal da prefeitura. Trabalham naquela área há vários anos. Essa feira que comercializa produtos artesanais, principalmente roupas, funciona há mais de 20 anos, em Anápolis, aos domingos. Se consolidou junto à população anapolina e das cidades vizinhas. Réplica da Feira Hippie de Goiânia que se multiplicou em Feira da Lua e Feira do Sol.

O que mais tem desesperado os artesãos é o argumento de que por trabalharem debaixo de barracas de lona, deixam a praça com aspecto feio.

Todos os prefeitos que administraram o município nos últimos anos, os apoiaram. Nenhum os impediu de trabalhar. Os artesãos esperam que o prefeito do Partido dos Trabalhadores, não venha colocá-los à ociosidade, ao desemprego, sem renda no Natal, por trabalharem fora do padrão de estética.

0 exigido pelas autoridades municipais.

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