sábado, 25 de dezembro de 2010

Coisas da Vida

José Moreira, o Zuza, natural de Uruana, filho de Agenor Moreira, ex-prefeito daquela importante cidade do Vale do São Patrício, foi um dos melhores funcionários públicos estaduais, em todos os tempos. Tive a honra de contar com seu talento e dedicação quando ocupei as secretarias da Educação e Governo. Foi o responsável pelo setor financeiro, nas duas secretarias. Aposentado como fiscal dos tributos estaduais, Moreira hoje dedica seu tempo à família, religião e pequena chácara próxima ao Campus da UFG, em Goiânia.

Zuza saiu bem cedo de Uruana para estudar em Goiânia. Oriundo de família pobre, enfrentou muita dificuldade para vencer os obstáculos que a vida reserva a todos nós. Mesmo assim se transformou na principal referência para os conterrâneos que precisavam de alguma ajuda, ou informação em Goiânia. No início, sem emprego fixo, quase nenhum dinheiro no bolso, fazia uma refeição ao dia. Quando almoçava, não jantava. Nunca perdeu a esperança e sempre tinha palavra amiga aos que com ele conviviam ou dele precisavam. Várias pessoas que recorreram aos seus préstimos e conviveram com ele na juventude, afirmam que Moreira repartia sanduíche para não deixá-los com fome quando vinham do interior para Goiânia. Mesmo com o prestígio que angariou ao longo da sua carreira profissional, José Moreira continua a mesma pessoa simples, solidária e humilde. Nunca disputou mandato popular.

No seu tempo de estudante e de pequenos recursos, Zuza fazia suas refeições no Restaurante do Bolonha. Sua mesa, no almoço ou jantar era sempre a mesma: nº 10. Os garçons tinham por ele o maior respeito. Solteiro, aparência atlética, alegre e descontraído, era presença marcante no restaurante.

Numa dessas idas diárias ao Bolonha, José Moreira ao sentar-se à sua mesa, viu duas moças sentadas à mesa em frente, comendo as melhores e mais sofisticadas massas servidas pela casa. Enquanto aguardava o atendimento pelo garçom, despistadamente, olhava para as garotas. Notou, da mesma forma, que comentavam alguma coisa a seu respeito. Apesar da timidez, aos poucos foi se liberando. Ao ser olhado com insistência por uma delas, teve a coragem de cumprimentá-la com gesto de cabeça. Recebeu de volta sorriso discreto.

Quando o garçom veio para atendê-lo, Zuza se lembrou que possuía apenas alguns trocados no bolso. Não dava para pedir o mesmo que as moças. Pegou o cardápio, deu uma olhada nele de cima a baixo, e disse baixinho próximo ao ouvido do garçom, seu conhecido e amigo:

- Por favor, traga-me o prato de todos os dias!

Enquanto isso só queria mesmo era paquerar as garotas. Chegando à portinhola por onde os pedidos eram feitos, gritou o garçom com a voz clara e estridente, para que todos no salão ouvissem:

- Desce uma sopa água e sal, para mesa 10!

Moreira, vermelho e apressado, foi para o sanitário, só voltando à mesa para comer sua sopa com água e sal, quando as garotas já haviam deixado o restaurante.

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