quinta-feira, 15 de julho de 2010

O início de uma dura caminhada (II)

Publicado na edição de 15/07/2010 do jornal Diário da Manhã

O ano de 1974 foi decisivo para o MDB. A princípio grandes líderes do partido, com a supressão das eleições diretas para os governos estaduais, queriam sua extinção. Alegavam que o Movimento Democrático Brasileiro estava legitimando a ditadura. Para eles os ditadores jamais entregariam o poder. A ação enérgica de Ulysses Guimarães, presidente nacional do partido, foi fundamental para eliminar essa posição pessimista dos que tinham pressa em chegar ao governo.

Em Goiás, os dois principais líderes da velha guarda emedebista, Anapolino de Faria e José Freire, decidiram não disputar a reeleição a deputado federal. Foram dois desfalques incalculáveis. Henrique Santillo que estava se preparando para concorrer ao governo em eleição direta, resolveu não pleitear cadeira para deputado federal. Não queria afastar-se da atividade de médico pediatra no Hospital Santa Paula. Foi quando abri mão da reeleição a deputado estadual, cedendo oportunidade a ele. Disputei uma vaga na Câmara Federal.

Fizemos a campanha juntos. Da mesma forma usamos o horário eleitoral gratuito, que se fazia ao vivo, com a apresentação do “ping-pong da verdade.” Vencemos. Na Câmara Federal e Assembleia Legislativa trabalhamos em sintonia. Defendemos o retorno imediato da democracia, fazendo duro e implacável combate à ditadura.

Em agosto de 1976, com base na Tomada de Preços n° 8/75, de 17 de abril de 1975, para compra de gêneros alimentícios e material de limpeza, mensais, para a residência oficial do ministro do Trabalho. Foi um duro golpe na propalada ética e moralidade do gasto do dinheiro público no regime ditatorial. A residência do ministro Arnaldo Prieto recebia por mês mercadorias equivalentes ao estoque de um pequeno supermercado. Entre carne bovina, suína, frango, peixe ou crustáceos e dobradinha eram 956 quilos; 600 quilos de arroz; 300 quilos de açúcar; 150 quilos de feijão; 135 quilos de macarrão; 201 quilos e mais 436 dúzias de frutas; 432 quilos de manteiga; 90 latas de óleo de soja e 32 latas de óleo de oliva; 885 quilos de legumes e verduras; 1296 garrafas de refrigerantes; 144 garrafas de sucos de fruta e uma infindável lista de outros gêneros alimentícios e material de limpeza. Os principais chargistas da grande imprensa brasileira fizeram alusão à mordomia do ministro. Candidatos emedebistas, principalmente dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, usaram o“ rancho do ministro”, por mim enunciado, em suas propagandas políticas.

O cronista Eduardo Carlos Novaes, em seu livro Quiabo Comunista, faz referência à denúncia. Propalou-se na ocasião que teria meu mandato cassado, pela repercussão da denúncia. Nada aconteceu e exerci normalmente o mandato. Dessa denúncia surgiu o livro "Da mesa farta à subnutrição", cujo lançamento foi na Universidade Católica de Goiás.

No final de 1976, candidatei-me internamente no MDB para concorrer à 2ª vice-presidência da Câmara, em substituição a Alencar Furtado. Era a principal função do partido na Mesa Diretora da Câmara Federal. Concorreram ao mesmo cargo, Juarez Bernardes, de Goiás, apoiado por Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Franco Montoro, Nelson Carneiro e outros moderados; Getúlio Dias, do Rio Grande do Sul, apoiado por Alencar Furtado, Fernando Lira, Jarbas Vasconcelos; Freitas Nobre e outros autênticos; Fabio Fonseca, ex-presidente da Comissão de Saúde, presidente do Atlético Mineiro; Hélio de Almeida ex-ministro do governo João Goulart e Emanuel Waisseman, da bancada do Rio de Janeiro. Getúlio Dias e eu fomos os mais votados no primeiro escrutínio. Na segunda votação fui o mais votado. A mesa diretora eleita em plenário ficou composta por Marco Maciel, presidente; João Linhares, 1° vice; Adhemar Santillo, 2° vice; Djalma Bessa, 1° secretário; Jader Barbalho, 2° secretário; José Camargo, 3° secretário; João Clímaco, 4° secretário. Vencíamos mais uma batalha elevando a força política de Goiás...

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