segunda-feira, 12 de julho de 2010

O mais organizado nem sempre é o melhor

Publicado na edição de 11/07/2010 do jornal Diário da Manhã

Os jogos de futebol entre equipes varzeanas são ricos em lances pitorescos. Normalmente a condição precária dos campos onde os jogos são disputados ajuda nas dificuldades para que os atletas tratem bem a bola. Para os que vão como expectador, sem interesse no resultado, essas competições são alegres.

Descompromissado o cidadão manda a fadiga para bem longe. Se desintoxica com as jogadas em campo e a reação dos torcedores. Sempre que posso vou a esses espetáculos em Anápolis e no interior.

Romualdo Santillo era candidato a deputado estadual. Fomos convidados pelo Abadío, comprador de cereais e vereador em Pirenópolis, para presenciarmos a partida decisiva de um quadrangular que estava sendo disputado na região da Babilônia, naquele Município, entre o Botafogo e Gueiroba. Quem vencesse seria o campeão. Em caso de empate o jogo seria decidido nos pênaltis. O campo seria o do Botafogo. Durante a semana o fazendeiro, que também presidia o alvinegro, determinou que patrola fizesse a limpeza do terreno, para maior brilhantismo do espetáculo.

Chegamos ao local quando Botafogo entrava em campo. Uniforme novo, adquirido para a grande decisão. Moças dançavam ao som da charanga contratada para animar ainda mais a festança. Os torcedores do alvinegro tomavam todas as laterais do campo. Apenas alguns gueirobenses, tímidos, acanhados mesmo, ficavam atrás de um dos gols. A festa era botafoguense. Ronqueiras fizeram barulho ensurdecedor com quase 5 minutos de foguetório. Numa mesa, debaixo de frondosa arvore, caldeirões enormes com quentão e caipirinha para que os presentes bebessem à vontade. Uniformizado, aguardando que seu time completasse os onze, o goleiro do Gueiroba , foi o que mais aproveitou das bebidas.

Enquanto os botafoguenses faziam o aquecimento e aguardavam organização do adversário, o técnico do Gueiroba implorava para que Carlos Wilson Martins, que fora conosco, participasse do jogo. De nada valeram os argumentos do Carlão. Tinha problema visual. Não enxergava nada da vista esquerda e com a direita só enxergava 20%.

- Você é grande. Vai dar mais segurança à defesa! Argumentou o treinador.

Carlão foi a campo, com chuteiras emprestadas e apertadas nos pés. O uniforme do Gueiroba, todo desbotado, calções e meias de cores variadas. Finalmente a equipe pode entrar em campo. Com muita dificuldade Carlos Wilson conseguiu levar o goleiro ao seu posto. Durante os 90 minutos não houve gol. 0 x 0, placar final. Carlão como pensara seu treinador foi barreira intransponível.

O inicio da cobrança dos pênaltis foi pelo Gueiroba., Nos quatro primeiros os dois times marcaram todas as penalidades cobradas. Na última e decisiva, os gueirobenses marcaram o quinto gol. O craque mais expressivo do Botafogo foi o encarregado da quinta cobrança. No momento, vento mais forte jogou o boné do goleiro ao chão. Sem saber o que fazer, já embalado pelo quentão mesclado com caipirinha, cambaleou o corpo no instante em que o juiz apitou. O artilheiro alvinegro bateu no momento que o goleiro caiu para pegar o boné. A bola bateu em sua cabeça, saindo pela linha de fundo. Nem viu o que aconteceu. Tristeza geral dos botafoguense e alegria dos poucos gueirobenses. Repórteres esportivos da emissoras de Anápolis especialmente convidados pelos botafoguenses, ouviram o perdedor do pênalti:

- Ta certo que quem entra num jogo sabe que pode ganhar ou perder. Mas perder para o Gueiroba, com goleiro bêbado, é muita humilhação!

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