domingo, 15 de agosto de 2010

A rodinha do café

Publicado na edição de 15/08/2010 do jornal Diário da Manhã

Geralmente, aos sábados, vou tomar café na pastelaria do David Bispo, no Mercado Municipal, em Anápolis. É a turma da Rodinha do Café. Só não discutimos assuntos da época de Dom Pedro II, Santos Dumont ou Rui Barbosa. Conversamos sobre tudo que acontece no mundo. Desde os assuntos municipais às questões internacionais. O professor Watison Ferreira é o que sempre traz ao debate as questões do Irã, Estados Unidos, China, Índia, Paquistão, Iraque e outros países em que os acontecimentos políticos e econômicos se alteram em alta velocidade.

João Divino Cremonez, que estourou uma das mãos quando soltava foguetes por ocasião que o prefeito Raul Balduino inaugurava o asfalto da Avenida Goiás à Vila Fabril, prefere contar aventuras sobre pescaria. Como bom pescador, anda sempre acompanhado do Aluisio, que compulsoriamente é forçado a confirmar as aventuras narradas pelo chefe, no clássico estilo Pantaleão e Terta, de Chico Anísio. Aluísio, o Mosquito, é motorista do carro de som do Cremona.

Oscar Luiz de Oliveira exerce o papel de revisor dos casos contados, aventuras narradas e conceitos emitidos. Advogado consagrado, ex-procurador jurídico da prefeitura, culto e intelectual, com diplomacia, sem causar ressentimento ou mágoa aos companheiros, coloca em ordem os fatos expostos nas discussões. Oscar é sobrinho do saudoso professor João Luiz de Oliveira, ex-prefeito de Anápolis.

O futebol dos anos 50 é discutido com conhecimento e competência, por Glicério Mellazo. Um dos maiores goleadores do futebol anapolino na sua época do amadorismo. Glicério, o principal atacante do Ypiranga, ao lado de Carlinhos e Paulo Choco, pertencentes ao Anápolis, se revezavam na artilharia dos campeonatos organizados pela Liga Anapolina de Desportos.

Num desses encontros semanais, Glicério foi questionado sobre qual seu melhor momento como atleta. Sem ter que puxar pela memória, disparou:

- Foi quando servi ao Tiro de Guerra 53! Sem dúvida em 1955 foi quando marquei mais gols. Os gols mais bonitos da minha carreira são da época de atirador.

- Por que dessa vinculação de serviço militar com sua carreira esportiva? Indagou alguém da Rodinha.

- Porque foi a época que mais me preparei fisicamente. Eu, como os demais jogadores da minha época, gostava de jogar futebol. Quando marcavam treino físico, fazíamos corpo mole. No TG, não. A gente tinha que atravessar o pântano que existia entre a Avenida Goiás ao encontro dos córregos das Antas com João Cesário, ao lado do Ginásio Internacional, atolando na lama, sendo cortado pelo capim navalha. Determinação do tenente Ataíde e sargentos instrutores. Não havia moleza. Ganhei grande preparo físico. Isso serviu para que marcasse muitos gols.

David Bispo, torcedor fanático do Anápolis, o Galo da Comarca, vai servindo o café, pão de queijo e pastel, ouvindo tudo e confirmando ou desaprovando o que é dito, com simples aceno de cabeça. David está com seu café no mesmo local desde a fundação do Mercado Municipal. Enche-se de orgulho e satisfação quando seus frequentadores o classificam de o “dono do Café Central” de Anápolis. Quando ia a Goiânia para assistir jogos do Anápolis contra Atlético, Goiânia e Goiás, David fazia questão de passar pelo Café Central, na Avenida Anhanguera. Lá os acontecimentos mundiais eram renovados a todo instante. Como na internet o assunto de agora, dois minutos depois já estava superado, mesmo com a precariedade dos meios de comunicação existentes à época.

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