segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Jogo da despedida de MDB e Arena

Publicado na edição de 23/08/2010 do jornal Diário da Manhã

Na década de 70, embora a convivência entre os parlamentares da Arena e MDB no Congresso Nacional fosse respeitosa e cordial, as discussões eram tensas. O momento mais crítico que vivemos foi quando, em abril de 1977, o presidente Geisel baixou o “pacote de abril”. Colocou em recesso o Congresso Nacional, extinguiu as eleições diretas para os governos estaduais previstas para 78; cassou o mandato do deputado Alencar Furtado, líder do MDB, e criou a escandalosa figura do senador sem voto, o senador biônico. Nesse episódio, o presidente nacional do MDB, deputado Ulysses Guimarães, fez um dos mais belos discursos até então pronunciados da tribuna da Câmara Federal. Foi quando comparou Ernesto Geisel ao sanguinário ditador de Uganda, Idi Amim Dada.

Em 1979, ainda no governo Geisel, crescia a convicção entre todos nós parlamentares e no seio da sociedade brasileira de que o regime de força estava chegando ao fim. A mobilização nacional para a volta dos exilados e foragidos políticos foi colossal. As negociações entre oposição e governo para a concessão da anistia eram ininterruptas. Setores das Forças Armadas participaram ativamente dessas discussões. O campo estava sendo preparado para a travessia da ditadura à democracia. Se discutia também o fim do bipartidarismo.

Antes que os dois partidos fossem extintos, a revista Manchete programou uma partida de futebol entre parlamentares do MDB e Arena, para seu campo gramado, no Setor Gráfico de Brasília. A grande imprensa nacional esteve presente ao clássico. A Manchete, na sua edição da semana seguinte, deu ampla cobertura ao evento. Tivemos nosso dia de seleção brasileira. Todas as atenções foram dirigidas ao jogo que marcava a despedida de MDB e Arena. Orlando Brito, um dos mais destacados fotojornalistas do Brasil, registrou os melhores momentos do “jogo do ano”, vencido pela equipe do MDB. Tarcisio Delgado, cuja infância passara na zona rural, aprendeu jogar descalço. Mesmo assim mostrou seus dotes de artilheiro ao infernizar a defesa arenista. Álvaro Dias, que na adolescência treinou algumas vezes na equipe do Londrina, time principal da sua terra natal, foi ao lado de Tarcísio a dupla do meio campo, que desestabilizou o time arenista. No ataque, o destaque ficou por conta de Roberto Freire. Atuei pela zaga direita fazendo o trio de zagueiros com Alceu Colares e Pimenta da Veiga. No gol jogou da Manchete, foram disponibilizados na Internet por Canindé Soares, pelo site o craque mais jovem do MDB, Carlos Alberto.

Fotos e comentários sobre essa partida de futebol, realizada há 31 anos no campo, http://canindesoares.blog.digi.com.br/.

A equipe do MDB foi composta pelos deputados Carlos Alberto (RN), Adhemar Santillo (GO), Alceu Collares (RG),Olivir Gabardo (PR), Pimenta da Veiga (MG) e Jorge Viana ( BA).Tarcisio Delgado (MG), Álvaro Dias (PR), Roberto Freire (PE), Jorge Uequed ( RG) e Evilasio Vieira senador (SC).

Pela Arena jogaram, dentre outros, Paulo Lustosa (CE), Hugo Mardini (RG), Paulo Guerra, João Carlos de Carli, Carlos Wilson , ministro da Previdência, Jair Soares.

Pouco tempo após essa partida, MDB e Arena deram lugar ao surgimento do pluripartidarismo. A Arena transformou-se em PFL e o MDB em PMDB. Alguns integrantes do grupo autêntico, comandados por Roberto Freire, fundaram o Partido Comunista Brasileiro-PCB. Sob o comando de Lula, Airton Soares, Eduardo Suplicy, Antônio Carlos de Oliveira, Edson Kahir e outros fundaram o PT. Com a Anistia ampla, total e irrestrita, os exilados e perseguidos políticos puderam retornar ao Brasil e à prática política. Estava pavimentada a estrada para a redemocratização do País.

A importante partida de futebol realizada num domingo pela manhã no campo gramado da revista Manchete em Brasília foi testemunha do encerramento, em confraternização, dos partidos políticos MDB e Arena, existentes durante a ditadura militar.

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