O advogado, político, escritor e jornalista Eurico Barbosa, no seu artigo “Desolação,” publicado pelo Diário da Manhã, na edição de 15 de março, afirma que a representação popular nos parlamentos brasileiros é abaixo crítica. Ressalta que não é um problema exclusivo do Brasil, mas fenômeno mundial.
Ao citar algumas figuras folclóricas eleitas na atual legislatura para o Congresso Nacional, Eurico deixa claro que pior que esses, são aqueles que foram eleitos pelo poder econômico, pela malversação do dinheiro público e pela propinagem. O oportunismo de donos de partidos, lançando candidatos, figuras folclóricas do mundo artístico, ou expressões consagradas no meio esportivo, escancarou as portas dos parlamentos para o descrédito da atividade política. Lançam os chamados puxadores de votos, para que possam ir às suas costas.
Dentro desse quadro desolador e pouco republicano descrito pelo jornalista em “Desolação,” depois de lamentar pela exclusão de figuras reconhecidamente dotadas de responsabilidade moral e intelectualmente bem preparadas, cedendo lugar aos representantes do populismo de big brother ou da propinagem, lamenta a mediocridade de muitos que têm assento nas casas legislativas.
A citação ao nosso trabalho como políticos que honraram o mandato popular, nos emocionou. Revigorou nossas forças para prosseguirmos nessa caminhada em busca da justiça social, de uma sociedade cada vez mais liberta e democrática. Eurico Barbosa, em “Desolação,” ao lamentar que o poder econômico tenha substituído o mérito moral e intelectual nas disputas eleitorais, arremata: “Parece que nunca mais teremos os Afonso Arinos, os Almino Afonso, os Aleomar Baleeiro, os Franco Montoro, os Ulysses Guimarães, os Simão da Cunha, os Vasco dos Reis, os Paulo Campos, os Celestino Filho, os Peixoto da Silveira, os Wagner Estelíta, os Henrique e Ademar Santillo, centenas de outros políticos pobres mas intelectualmente brilhantes que honraram o Congresso Nacional.”
Essa declaração, verdadeiro manifesto público, nos enche de orgulho e satisfação, porque Eurico, como deputado estadual em 1966, ao lado de Iturival Nascimento, foram as duas únicas vozes que se levantaram a favor de Henrique Santillo, eleito o vereador mais votado de Anápolis, não foi diplomado, por perseguição política, com a conivência da Justiça Eleitoral do Município. A ditadura militar de 64 não aceitava contestações. O MDB de Anápolis de estrutura conservadora não tinha motivação para defender seu membro perseguido. Sabia que Henrique impedido de exercer o mandato os votos ficariam com a legenda. Poucos externaram seu protesto. O MDB estadual, sucessor do PSD, ainda atordoado pela derrota de Peixoto da Silveira e cassação de inúmeras lideranças, simplesmente ignorou o episódio de Anápolis.
Os deputados Eurico Barbosa e Iturival Nascimento formalmente protestaram contra a violência, colaborando para que o TRE reformasse a decisão do juiz eleitoral de Anápolis, diplomando e empossando Henrique Santillo. Essa ação política permitiu que a caminhada prosseguisse. Não morresse no nascedouro. Muitas outras perseguições enfrentamos nestes 45 anos que nos separam daquele fatídico acontecimento.
Processos dolosos montados por adversários e órgãos da repressão, tentativa de cassação dos nossos mandatos, prisões em massa de companheiros, cassação do mandato de José Batista Júnior e transformação de Anápolis em Área de Segurança Nacional, fechamento de emissora de rádio... A tudo resistimos, sempre contando com o apoio popular. Valeu a pena lutar. Uma avaliação como essa feita por Eurico Barbosa é o maior galardão que um político pode receber.
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