Recentemente fui presenteado pelo amigo José Moreira, o Zuza do Agenor de Uruana, com uma coleção de uns 500 discos 78 rotações por minuto, das décadas de 50/60, com Orlando Silva, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Nora Nei, Francisco Alves e muitos outros astros e estrelas da música popular brasileira e internacional, de todos os tempos. Para ouvi-los, reformei a vitrola que se achava encostada junto a bagulhos, que ainda não encontrei coragem para descartá-los. Ainda bem! Algumas vezes, como agora, podem nos tirar do sufoco.
Vou convidar Mauro Gonzaga Jaime, o Pastinha, para que possamos apreciar alguns clássicos que fazem parte da coleção que ele incentivou Moreira a me presentear. Mauro Pastinha é fanático por música. Maior colecionador goiano das canções de Altemar Dutra, Roberto Carlos e Beatles. Pastinha sabe tudo sobre eles. Conhece as letras e como e para quem foram compostas. Nesse mundo cada vez mais selvagem em que vivemos, valores intelectuais perdendo o sentido, há os que classificam esse conhecimento e gosto por músicas populares do passado, como cultura inútil. Para mim, não. Volto ao passado com prazer e alegria. Passado de criança pobre, com experiência que os meninos de hoje, ricos ou pobres, dificilmente viverão.
Hoje as letras para fazerem sucesso têm que narrar fracassos e frustrações no amor. Fazem apologia à bebida. Quanto mais “ dor de cotovelo” e alusão à bebedeira, mais sucesso alcançam. Não possuem, contudo, a sabedoria e fineza poética de Lupicínio Rodrigues, o inventor da expressão “dor de cotovelo.” Poucos são os poetas, inteligentes e espirituosos, como Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa, Chico Buarque, Humberto Teixeira, Pena Branca e Xavantinho e tantos outros que enriqueceram e enriquecem nosso acervo musical. Para muitos, canções do passado ou música de protesto só servem para museu e relatos históricos.
Os discos que incorporei à minha discoteca, levaram meu pensamento ao passado. Passado já bem distante, mas que para mim parece ter sido ontem. Lembranças gostosas e prazerosas. Lembranças da adolescência quando por falta de outras opções de lazer em Anápolis, Jayro Rodrigues, Oara Silva, Altair Garcia Braguinha, Mauro Pastinha, Geraldo Divino, Romualdo e eu, íamos à noite ao parque de diversões do Bené Silva, o Goiá-Parque, instalado à Rua Leopoldo de Bulhões, ao lado da estrada de ferro. Carrosséis, barquinhos, balanços, jogos de argola e músicas, eram suas atrações. Seus potentes alto-falantes ouvidos por todo setor central da cidade, que ainda era pequena. Goiá-Parque, local preferido por jovens de ambos os sexos darem recado à pessoa amada ou pretendida.
Com os chavões até hoje usados nos parques de diversões por todo interior do País, Bené Silva, que além de dono era locutor, fazia isso com precisão e competência: “Ouviremos agora – Empresta-me Teus Olhos -, com Carlos Galhardo. Essa música é dedicada a alguém, esse alguém sabe quem, com amor e carinho!” Ou: “A moça de vestido estampado oferece – Nós Queremos Uma Valsa – com Carlos Galhardo, ao charmoso rapaz de camisa branca e calça preta, com respeito e admiração.” Depois dessas dedicações, a garotada tentava descobrir quais eram os protagonistas daquelas declarações de afeição e amor. Bené era também produtor e redator das propagandas e mensagens que difundia no parque “A, E, I, O, URCA! URCA, o melhor café!”
As atividades no Goiá-Parque se encerravam por volta das 23 horas. Sempre com show do Porã e seus Bonecos Falantes. Timóteo, jogador do Anápolis Futebol Clube, à noite se transformava em Porã. Levava consigo os bonecos Crispim e Marieta. Ventríloco, criava histórias diárias para seus bonecos falantes. Timóteo, ou melhor Porã, Crispim e Marieta eram espetáculo à parte, engraçadíssimos. Bené Silva, antes de encerrar as atividades, fazia propaganda do seu parque:
“Seja belo como galã, forte como Tarzan, balangando nos balangos do Goiá-Parque!”
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