Nas eleições gerais de 1986, Romualdo Santillo disputou a reeleição à Assembleia Legislativa. Para não criar embaraços ao irmão Henrique Santillo, candidato do PMDB ao governo do Estado, restringiu bastante sua base de apoio. Dentre os prefeitos que o apoiaram estavam Rubens Sales (Novo Brasil) e Antônio Cunha (Nova Glória).
Em Nova Glória, para entregar à população os benefícios recebidos, Antônio Cunha programou uma série de inaugurações. Romualdo havia conseguido, junto ao governador Onofre Quinan, recursos para asfaltamento urbano da cidade. Henrique Santillo não pôde comparecer. Iram Saraiva, candidato ao Senado, estava na região Sudoeste do Estado. Irapuan Costa Júnior, candidato à outra vaga ao Senado, representou seus companheiros Henrique e Iram. Romualdo foi à frente participando de toda festa. Muita gente, foguetórios e banda de música. Em cada parada o prefeito fazia questão de agradecer a colaboração “desse baluarte da política em Goiás, Romualdo Santillo.”
A amizade entre eles era antiga. No início dos anos 60, os dois e Altair Garcia Pereira, o Braguinha, promoviam shows com cantores populares em Anápolis. Braguinha e Romualdo abandonaram a carreira de empresários de artistas quando levaram prejuízo com a “Noite dos Astros e Estrelas”, em que contrataram Miltinho, Carlos Gonzaga, Celi Campello e um punhado de cantores famosos. Ficaram decepcionados com o fracasso do evento. Cunha seguiu em frente, pelo menos para mais um espetáculo.
Passava por Goiânia Pépe Ávilla e seus Mariachis. Grande atração internacional que percorria o Brasil. Contratou o conjunto. Noite enluarada e céu estrelado prometiam show com grande assistência.
Romualdo pouco antes do final foi ao local. Cunha estava na portaria:
- E aí Cunha, veio muita gente assistir o show?
- Já entraram na bilheteria, até agora, 4 mil e 500 cruzeiros.
- Então essa é a arrecadação! Daqui para a frente não rende mais nada...
- É verdade !
- Quanto você está pagando para o Pépe Ávilla?
- Todo o gasto ficou em 10 mil cruzeiros!
- Deeez mil cruzeiros? Você está perdendo esse dinheirão, Cunha ?
- É, mas o povo tá gostando. Veja quanta alegria!!!
Esse era o Cunha, agora prefeito de Nova Glória. Nunca foi apegado a dinheiro. Seu prazer sempre foi alegrar o povo.
No final da tarde, já com Irapuan Costa Júnior presente, foi iniciada a concentração política na principal praça da cidade. Cunha determinou ao mestre de cerimônia que desse a palavra a quem quisesse falar. Lista de oradores, infindável. Todos queriam externar seu apoio aos candidatos. Para que não houvesse privilégio, o prefeito orientou que os oradores fossem chamados por ordem alfabética. Simão, líder do prefeito na Câmara Municipal, conhecido pela sua inflamada oratória, ficaria para o final. Enquanto não chegava sua vez, fazia percurso palanque – bar da esquina e vice versa. Quando foi chamado estava no trajeto bar-palanque. Subiu às pressas auxiliado por um assessor do prefeito. Microfone às mãos, aplaudido pela multidão, saudou um por um os visitantes. Não se esqueceu de fazer referência a Romualdo Santillo, o “grande benfeitor de Nova Glória.” Por último, se dirigiu a Irapuan:
- Irapuan, você é a dignidade em pessoa! (palmas e muito bem). Mais que ninguém deve receber o voto do povo goiano para o Senado (mais aplausos e muito bem!)
- Senadoooor é figura importante! Geeente, senador é uma cabaça! Senador é uma cabaça... cabaça, cabaça!
O povão que lotava a praça foi à loucura. Extasiado, batia palmas e gritava, "Muito bem! É isso aí Simão..."
- É isso messssmo meu povo. Senador é uma cabaça. Insistia o vereador.
Quanto mais as pessoas riam, mais Simão repetia, senador é uma cabaça. Romualdo gritando “muito bem, Simão. Muito bem...” Tirou o microfone da sua mão enquanto a multidão continuava eufórica. Já fora do palanque, escorado em Romualdo, o vereador continuou:
- Não é deputado? Senador não é uma cabaça?
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