quarta-feira, 16 de março de 2011

Respeito e amor à vida

O maior terremoto da história do Japão, provocando tsunami com ondas de até 12 metros nas águas do Oceano Pacífico, só não foi mais arrasador, ceifando centenas de milhares de vidas humanas, pelo preparo do seu povo em lidar com esse tipo de catástrofes. Na escola, no trabalho, pelos meios de comunicação de massa e até em casa, a população japonesa é orientada como proceder quando há tremor de terra, o mais frequente dos desastres naturais que ocorrem no país. Mesmo com seu amor à vida, o povo não consegue fugir das destruições naturais. Seria infinitamente pior se não houvesse sua permanente vigilância. Graças a essa preocupação, o terremoto de 8,9 na escala Richter, o maior registrado já no Japão, provocou menos mortes que o de 2004, na Indonésia, em que mais de 200 mil pessoas morreram, num terremoto de menor magnitude. Os desastres constantes têm feito com que a população a cada abalo sísmico adquira novos conhecimentos, se resguardando do perigo futuro, graças aos investimentos permanentes feitos pelo governo e conscientização do povo japonês.

Enquanto essa catástrofe que impressionou a população mundial com suas imagens aterrorizantes, ceifando vidas humanas, arrasando cidades, avariando usinas nucleares, destruindo plantações, engolindo navios, carros, estradas, pontes e viadutos, no colossal acidente natural equivalente à detonação de milhares de bombas atômicas, uma outra silenciosa, provocada pela incompetência governamental, aconteceu no Brasil, passando quase desapercebida. Sem maior destaque até mesmo na imprensa nacional, antenada que estava na destruição do Japão, 213 pessoas, a maioria jovem, perderam a vida em acidentes nas rodovias federais, durante os festejos do último carnaval.

Se computássemos as mortes que ocorreram no mesmo período em rodovias estaduais e hospitais, daqueles que foram resgatados com vida, esse número de pessoas mortas no feriado do carnaval, dobraria.

Essa catástrofe que enlutou inúmeras famílias, deixou milhares de pessoas gravemente feridas, superlotando hospitais e causando alguns milhões de reais em prejuízo material, poderia ser reduzida drasticamente, caso houvesse investimento no sistema de orientação aos motoristas e sua fiscalização nas estradas.

Numa das suas últimas edições, o jornal O Globo, ao mesmo tempo que destacou o esforço hercúleo das autoridades japonesas para preservarem vidas diante de mais um desastre natural, informa para a tristeza e vergonha de todos nós, que no período de carnaval, o Departamento Nacional de Trânsito só fez campanha de prevenção de acidentes em três capitais: Rio, Recife e Salvador. Ressalta ainda que “o Ministério das Cidades alega que faltaram recursos para uma campanha nacional contra violência nas estradas. O Fundo Nacional de Segurança e Educação no Trânsito teve 72% do orçamento de 2011, contingenciados”.

Esse descaso para com as famílias que usaram as rodovias no carnaval , além de vergonhoso é irresponsável e criminoso. Sem orientação e fiscalização, as estradas foram usadas como pista de corrida e campo de guerra por motoristas despreparados e irresponsáveis. Beberam em demasia, praticaram rachas, deram “cavalos de pau”, não respeitaram sinalizações, ultrapassaram em locais proibidos, morreram e também mataram dezenas de inocentes. Ao tomarem conhecimento que as rodovias estavam sem policiamento, aguçaram seu instinto à violência, transformando o que era para ser alegria, em choro e tristeza para centenas de famílias.

Chorar seus mortos por catástrofes naturais, como choram hoje os japoneses enlutados, é lamentável e triste, mas plenamente compreensível. A natureza tem sido mais forte que o homem. Mas chorar mortos por falta de policial rodoviário, equipamentos de segurança, falta de orientação e fiscalização aos motoristas de vocação suicida é despreparo e irresponsabilidade. Chorar os mortos por contingenciamento de recursos orçamentários que preservariam a vida, combatendo a violência nas estradas, é crime inaceitável.

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