domingo, 23 de janeiro de 2011

Quase que o cachorro pagou o pato

Embora não sendo ano eleitoral, vivíamos a expectativa da eleição direta para governador do Estado, no ano seguinte. Era março de 1977. Na Câmara Federal, acertei com os colegas Freitas Nobre, Odacir Klein, Tarcisio Delgado e Luiz Henrique da Silveira que viessem a Goiás para encontro do partido que faríamos na Assembleia Legislativa. Henrique Santillo, deputado estadual, organizou forte grupo de voluntários ao seu projeto político, entre estudantes, profissionais liberais, intelectuais, líderes sindicais e comunitários. Era pré-candidato ao governo. O encontro com esses novos líderes emedebistas nacionais seria para que os companheiros goianos ganhassem um novo alento, visando a disputa programada para 1978.

No mês seguinte, veio o “pacote de abril” editado pelo presidente Geisel, eliminando do texto constitucional a eleição direta para governador. Pior, criando a escandalosa figura de um senador nomeado. O senador biônico. A mudança nas regras do jogo não foi surpresa para nós, democratas. Em Goiás, a alteração das regras eleitorais serviu apenas que fosse adiada em mais quatro anos a chegada do MDB ao governo do Estado e para que a Arena recebesse, de mão beijada, uma cadeira no Senado da República.

Para o encontro de março, as regras que valiam eram de eleições de dois senadores e governador. Tínhamos que mobilizar o pessoal para o encontro em Goiânia. As tarefas foram distribuídas entre os companheiros. Deixamos para Vicente de Paula Alencar, presidente do MDB anapolino, vereador Walmir Bastos Ribeiro e Romualdo Santillo contatos em Anápolis e região do Vale do São Patrício. À minha responsabilidade ficaram as regiões da Estrada de Ferro, Entorno de Brasília, Médio Norte Goiano e algumas lideranças de Goiânia.

Final de semana, retornando de Brasília, passei em Anápolis, convidei um amigo para irmos a Goiânia. Iríamos à casa do professor Reinaldo Pantaleão, residente do Conjunto Itatiaia, próximo ao campus da UFG. Sabia que morava naquela região, mas não em que rua e casa. Telefonei para o amigo José Moreira, o Zuza, que conhecia Pantaleão, sabia onde morava. Fomos na Variant do Moreira. Dois dos seus filhos, Éric e Ludmila nos acompanharam. Levavam seu cachorro de estimação. Assim, partimos nós cinco mais o cachorro para a visita.

Com sua costumeira fidalguia, professor Pantaleão nos recebeu se colocando pronto a formar o grupo de voluntários que trabalharia para arregimentar a plateia que lotaria as dependências da Assembleia Legislativa. Na ida à casa do professor, o tempo estava firme com muito sol. Calor intenso. Moreira fez todo o trajeto com os vidros da Variant abertos. O ar refrescou a temperatura e arejou o ambiente. Na volta fazia o mesmo calor, mas caiu de repente, chuva fina e forte. Fomos forçados a fechar todos os vidros. Á medida que as vidraças foram levantadas, o calor interno ficou insuportável.

Odor azedo exalou pelo interior do carro, para piorar a situação. Incomodado pelo o mau cheiro, Moreira gritou para os filhos que carregavam no colo, o cachorro de estimação:

– Éric e Ludmila, por favor, ao chegarem em casa, lavem esse cachorro!

– Pai, nós o lavamos hoje, minutos antes de sairmos!

– Por favor, lavem esse cachorro pelo menos duas vezes ao dia.

– É isso que fazemos! Lavamos cedo e à tarde.

– Então, quando forem dar banho nele, usem shampoo!

– Nós usamos shampoo.

A discussão entre eles continuou até chegarmos ao local onde havia deixado meu carro. Nos despedimos. Eu e o companheiro retornamos para Anápolis. Quando cheguei em casa, antes mesmo de tomar banho, telefonei para Moreira:

– Moreira, não deixe seus meninos matarem o cachorro com tanto banho, shampoo e desinfetantes. O provocador daquele odor era meu companheiro. Quando há qualquer evento político, ele transpira demais e se esquece de tomar banho.

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