domingo, 25 de abril de 2010

No futebol pouco se fala sobre o massagista

Publicado na edição de 25/04/2010 do jornal Diário da Manhã

Na terra do futebol pentacampeão do mundo, que já exportou milhares de craques para equipes grandes e pequenas de todos os continentes, Mário Américo, massagista da seleção brasileira nos anos 50, foi um dos poucos profissionais da área a ter espaço na imprensa esportiva e reconhecimento do público. Normalmente o massagista não é lembrado nem quando um atleta sofre contusão, pois os detalhes da gravidade ou não da lesão, são dados pelo departamento médico do clube.

De 1965 para cá, ano em que o Anápolis Futebol Clube sagrou-se campeão goiano, apenas o massagista Joverci Leão, no final dos anos 70, foi notícia de destaque nos noticiários esportivos. Assim mesmo não foi pelo trabalho que realizava como massagista. Sua ampla e repentina divulgação por todos os informativos esportivos de Anápolis, foi porque Leão quis defender a habilidade e força física dos homens da cidade, num desafio feito pelo lutador de box, Zulu. O lutador apareceu, hospedou-se num hotel, e anunciou que estava desafiando qualquer voluntário de qualquer tamanho e peso, para uma luta no Clube Recreativo Anapolino, na quinta feira à noite.

Leão incentivado por amigos e indignado com o atrevimento do visitante, foi ao hotel se inscrevendo para disputa. No mesmo dia, Joverci desfilou pelas ruas centrais de Anápolis, em caminhão com potentes alto-falantes, noticiando sua disposição de defender a força do box anapolino: “será a luta do século!” Dizia. As emissoras de rádio, a televisão local e jornais e revistas que circulavam em Anápolis deram grande destaque ao embate.

Zulu, impressionado com a disposição e carisma de Leão, o convidou para um jantar . Na conversa, o desafiante, prático em espetáculos dessa natureza, propôs ao massagista que fizessem apresentação “corpo mole”, uma “marmelada”, que pudesse levá-los ao empate por pontos, sem nocaute. Com o empate, a renda do primeiro combate seria repartida em partes iguais, argumentou Zulu. Caso houvesse um vencedor no combate da quinta feira, não teria condição para uma segunda apresentação. A renda de quinta- feira seria dividida em 80% para o vencedor e 20% para o perdedor. Melhor seria empate porque dividiriam em partes iguais a arrecadação e empolgariam o público que se sentiria motivado a comparecer no sábado para o combate decisivo, disse o visitante.

Na quinta feira, dia da luta, por volta das 11 horas, Leão foi à casa de Romualdo Santillo, narrou-lhe a proposta que recebera de Zulu, concluindo que sentira na proposta do lutador visitante, toda sua fraqueza. Não daria colher de chá, partiria para vencer a luta, pois Zulu mostrara que estava com medo.

– Vou acabar com esse malandro! Vou jogá-lo ao chão no primeiro assalto. Ressaltou Leão.

À noite, quadra do CRA lotada, o árbitro deu início à luta. Zulu, experiente boxeador, se livrava dos ataques desordenados de Leão. Num desses lances, o árbitro paralisou o espetáculo, chamando a atenção do massagista. Leão se fez de desentendido acertando golpe forte no baço de um Zulu desprevenido. Reiniciada a luta, o visitante, enraivecido pela agressão sofrida, desferiu potente e certeiro golpe de esquerda no rosto de Leão, que caiu desacordado ao tablado. Recebeu os 20% da arrecadação a que tinha direito, na sala de emergências do Hospital Evangélico.

Mesmo com a descortesia recebida em casa pelo desconhecido Zulu, o anapolino Joverci Leão tomou gosto pelo box. Quis trazer Maguila para um amistoso na cidade. Depois de muito se esforçar, conseguiu falar por telefone, com a esposa do lutador paulista, também sua empresária. Assim que descreveu para ela seu porte atlético, a empresária foi clara e sincera:

– Maguila luta contra peso pesado, musculoso e forte. Ele não enfrenta gente gorda e barriguda!

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