Naqueles momentos difíceis da ditadura militar os golpistas não agiram só em Anápolis. Logo depois que José Batista Júnior foi cassado, a Cidade transformada em Área de Interesse da Segurança Nacional, e seu prefeito passando a ser nomeado pelo Presidente da República, numa sessão extraordinária da Assembleia Legislativa de Goiás, mais um golpe contra o povo foi praticado. O deputado Clarismar Fernandes que, eleito pelo MDB, aderiu à Arena, apresentou projeto de lei transformando a Cidade de Goiás, em estância hidromineral.
A Constituição Federal determinava que, em municípios Área de Segurança Nacional, hidrotermais ou hidrominerais, seus prefeitos não seriam eleitos pelo povo, mas, sim, nomeados. Nos municípios enquadrados como área de segurança, caso de Anápolis (GO) e Canoas (RS), os governadores desses estados enviariam os nomes ao Presidente da República que os nomearia por decreto federal. Os prefeitos de estâncias hidrominerais, hidrotermais e capitais, seriam nomeados pelo governador do respectivo estado.
Em Caldas Novas, o prefeito, durante a ditadura, foi nomeado pelo Governo Estadual. O mesmo ocorreu com Goiânia, a partir de 1969. Agora, com a proposta de Clarismar Fernandes, sem nenhum motivo que não fosse político eleitoral, a Arena se preparava para tirar do povo da antiga capital, o direito de eleger seu prefeito.
A justificativa do projeto foi a de que o município de Goiás contava com as “Águas de São João”. Segundo os golpistas manifestaram na justificativa de transformar a velha Goiás, em estância hidromineral, as Águas de São João possuíam poder de cura. Muita gente ia ao local, segundo os deputados arenistas, para encher galões e garrafas de água e levar para casa como remédio. O local, com mina d’água, fica dentro do município, mas a 180 quilômetros da sede. Tratava-se de uma região onde havia um pequeno filete de água, numa lugar de descanso para motoristas e visitantes, sem nenhuma estrutura.
O que estava por trás da manobra golpista da bancada arenista na Assembléia Legislativa era a força do MDB no município. Nas eleições de 1969, enquanto Henrique Santillo vencia Luiz Vieira, em Anápolis, um leiteiro, muito conhecido do povo de Goiás, Dário de Paiva, vencia o candidato da Arena, comandada pela Família Caiado. Como vinha ele realizando ótima administração faria, sem nenhuma dúvida, seu sucessor. Para evitar que o governador Leonino Caiado, passasse por esse vexame, Clarismar Fernandes, que aderiu à Arena a convite do, então, governador, montou essa manobra: tirar a autonomia de Goiás, transformando-a em estância hidromineral.
As discussões que começaram por volta das 23 horas de uma quarta-feira, arrastaram-se pela madrugada à dentro, com a matéria só sendo aprovada por volta das oito horas da manhã da quinta-feira, quando jornalistas e funcionários da Assembleia Legislativa chegavam para o trabalho. Essa foi a única forma de reação já que com maioria em plenário e, apoio do Governador, a manobra golpista da sua bancada, não havia sequer forma de recorrermos à justiça. Assim foi tirado do MDB mais um município importante onde sua força era inquestionável.
Esses fatores regionais, golpes certeiros e autoritários contra o povo das cidades de Anápolis e Goiás Velho, fizeram com que nossas principais lideranças políticas na ativa: Anapolino de Faria e José Freire, presidente e secretário geral do MDB de Goiás, desistissem de se candidatarem à reeleição para deputado federal, nas eleições de 1974. Defendiam a autoextinção do partido... (continua)
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