quinta-feira, 5 de julho de 2012

Paulo Maluf e o Partido dos Trabalhadores


Depois de conviver com permanentes alterações na Constituição outorgada por uma Junta Militar em 1967, verdadeiros golpes dentro do golpe de março de 1964, a sociedade resolveu reagir. Saiu às ruas lutando por eleições diretas para a Presidência da República e redemocratização do País. A Emenda Dante de Oliveira, das “Diretas Já”, não foi aprovada, decepcionando a nação inteira. Mesmo assim o povo não desistiu. Continuou pressionando os congressistas pelo fim da ditadura.

Paulo Maluf, já naquela época o político mais estigmatizado do Brasil, muito colaborou para que o fim da ditadura acontecesse rapidamente. Inconformado com a escolha do general Mario Andreazza para ser o candidato da ditadura no Colégio Eleitoral, onde o Partido Democrático Social (PDS),  partido oficial do governo, detinha a maioria, o ex-governador de São Paulo decidiu enfrentar Andreazza na convenção partidária. Derrotou Andreazza, naquele que foi o maior revés do núcleo central da ditadura, dentro da sua própria base de apoio. A vitória de Maluf, na Convenção Nacional do PDS, contrariou grande parte da base governista. Lideranças como Aureliano Chaves (PDS-MG), Marco Maciel (PDS-PE), José Sarney (PDS-MA) e outras lideranças pedessistas pelo Brasil inteiro fundaram o PFL. Aliaram-se ao PMDB comandado por Ulysses Guimarães, para que numa frente interpartidária enfrentassem no Colégio Eleitoral a candidatura Maluf.

A escolha do candidato, por sugestão dos dissidentes arenistas, recaiu sobre a figura do governador de Minas Gerais, Tancredo Neves (PMDB-MG). Como a Constituição Federal foi elaborada pela Junta Militar em cima do bipartidarismo, não seria possível uma coligação PMDB/PFL. Foi por isso que José Sarney se filiou ao PMDB, para ser candidato a vice-presidente, representando o PFL, usando a sigla do PMDB.

Tancredo Neves, num ato de coragem e patriótico desprendimento, renunciou à governadoria de Minas Gerais, candidatando-se à Presidência da República pelo Colégio Eleitoral. Minoritário no colégio, Tancredo foi a campo em busca de apoio. Cada voto conquistado era comemorado com euforia pelas forças democráticas. Era de um a um. O povo exigia, em todos os Estados brasileiros, adesão dos seus representantes à candidatura Tancredo Neves.

Dentro desse esforço concentrado, com apoio de governistas históricos, a eleição se deu num clima de expectativa total, porque não se tinha a certeza que os que anunciaram seu apoio ao ex-governador de Minas confirmariam o voto no Colégio Eleitoral.

Surpreendentemente, a bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) decidiu se abster da votação. Mesmo com toda população brasileira torcendo e exigindo votação a Tancredo, os deputados petistas, por orientação de Luiz Inácio Lula da Silva, presidente nacional do PT, decidiram pela abstenção. De nada valeram os apelos dos tancredistas de que sua vitória representaria o fim do regime ditatorial. Diziam que o PT era contra qualquer tipo de eleição indireta. Continuariam contra mesmo para se pôr fim à ditadura. Três deputados petistas, Airton Soares (PT-SP), Bethe Mendes (PT-SP) e José Eudes (PT-RJ), por não concordarem com essa orientação por considerá-la equivocada, votaram em Tancredo Neves. Foram expulsos do partido. Em nome da coerência, o Partido dos Trabalhadores não participou da derrubada  da ditadura. Se dependesse só do PT, se todos fizessem da mesma forma, principalmente os ex-arenistas que ficaram ao lado da vontade nacional, votando em Tancredo, a ditadura militar duraria mais alguns anos.

Agora, toda coerência petista, que para ser diferente dos demais partidos fez o jogo de Paulo Maluf, o jogo da ditadura, se abstendo de votar no candidato Tancredo Neves,  ponte usada pelas forças democráticas para a travessia da ditadura militar para a democracia, se desmorona por completo, quando Lula vai à procura do mesmo Paulo Maluf em busca do seu apoio político e os 90 segundos de horário na TV e rádio, que o PP possui, para seu candidato a prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT).

Essa postura nova do PT surpreendeu a todos que não conhecem a verdadeira história do partido. Gente que não conhece esse fato histórico da vida política nacional. Já naquela época, fez o jogo de Maluf. Ao não votarem poderiam, não fosse a ação firme de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Aureliano Chaves, Marco Maciel, José Sarney e tantos outros, respaldados pelo povo e imprensa livres, eleger Maluf, o candidato da ditadura. Essa atitude de agora só não surpreendeu os democratas daquele tempo e o próprio Paulo Salim Maluf, que, falando ao jornal O Globo, edição de terça-feira, dia 26, no dia em que o PCdoB anunciou apoio a Fernando Haddad, disse que não se oporá se o vice da chapa for comunista. “O PT se comportou à direita de Paulo Maluf. Eu, perto do PT hoje, sou comunista.” Igualaram-se por baixo!

(Diário da Manhã - 27/06/2012)

Um comentário:

  1. Excelente artigo de Adhemar Santillo: Paulo Maluf e o Partido dos Trabalhadores, publicado no último dia 28 (no Diário da Manhã). Ele deu uma verdadeira aula de história da política brasileira, citando desde as Diretas Já até os dias de hoje.

    Pelo seu artigo, quem ainda não sabia que José Sarney, o poderoso do Congresso Nacional, já foi no passado Arena-PDS-Ditadura e hoje grande parceiro do PT, já sabe.

    Fico inconformado e muito bem pelo apanhado que ele conseguiu fazer e mostrar com clareza.

    O que está hoje se passando no Senado, a cassação de Demóstenes Torres, é o que deveria ter acontecido a Antônio Carlos Magalhães,
    Renan Calheiros. Só não aconteceu porque renunciaram.

    Adhemar passou uma breve história da nossa política que serve para alguns desinformados entenderem o que está se passando agora e engolir alianças tipo Lula-Collor-Maluf...

    E será o que mais veremos no futuro? Muita coisa, com certeza, que talvez jamais imaginemos acontecer. Quem viver, verá...

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