sexta-feira, 15 de abril de 2011

Vale a pena lutar (Parte II)

[Discurso de agradecimento ao título de cidadania anapolina]

Já em 1970, eu me candidatei pela primeira vez como deputado estadual. Fui o mais votado do MDB e o terceiro mais votado do estado. Na Assembléia Legislativa, praticamente dediquei meu tempo a defender o meu irmão, que estava sofrendo uma pressão nunca vista aqui na cidade de Anápolis. Nós elegemos dez vereadores. A Câmara era formada por quinze. Nós elegemos dez vereadores contra cinco da Arena. Passada a eleição de 70, três vereadores do MDB aderiram a Arena. Passamos a ter minoria de sete contra oito na Câmara Municipal. Era presidente da Câmara Antônio Marmo Canedo. Sofria de um mal realmente muito grave. Acabou morrendo no exercício da presidência da Câmara Municipal. Assumiu a presidência Valmir Bastos, que era o vice-presidente.

Como eles queriam de toda maneira deturpar o processo eleitoral de Anápolis, fazer uma reviravolta na política anapolina, queriam que Valmir renunciasse ao mandato. O Valmir não renunciava ao mandato. E, por não renunciar ao mandato, Valmir foi preso três vezes. Injustamente, sem qualquer justificativa, sendo que a última prisão do Valmir Bastos ocorreu na minha presença, no meu carro. Foi retirado do carro a base de metralhadora e levado para Brasília, onde ficou lá nas dependências do exército por mais de trinta dias. De lá só saiu quando assinou um documento para o Major Leopoldino, renunciando a presidência da Câmara e renunciando seu mandato. Só que para valer, teria que ser lido no plenário da Câmara Municipal. Esse documento nunca apareceu. Valmir terminou o mandato dele como verador, terminou o mandato como presidente da Câmara Municipal, e o Henrique terminou o seu mandato como prefeito da cidade de Anápolis. Nós estavamos lá na Assembléia, diariamente fazendo a defesa e fazendo também as denúncias gravíssimas do que os nossos adversários aqui queriam fazer contra a Democracia.

Então, foi realmente um trabalho enorme. Em 1972, quando elegemos José Batista Júnior, mais da metade do MDB se auto-entitulou "MDB Positivo." Pulou para o palanque da Arena e foi trabalhar para a candidatura arenista. Nós ficamos do lado de cá, meia-dúzia de gatos pingados. Anapolino de Faria, eu e Henrique Santillo, ficamos na defesa de José Batista Júnior, e tivemos uma vitória extraordinária, com mais de quatro mil votos de frente.

No dia da posse de José Batista Júnior, a Rádio Carajá - que nós haviamos adquirido do Dr. Plínio Jayme, que havia sido deputado estadual - foi invadida por policiais militares, na madrugada, no seu transmissor e nos seus estúdios. Veio uma ordem diretamente do DENTEL, em Brasília, determinando que a emissora voltasse para o seu antigo proprietário. Embora o Dr. Plínio não quisesse isso, foi obrigado a aceitar a emissora de volta, sendo que nós haviamos adquirido o controle da rádio em 1967. Fazíamos, todos os dias, eu e o Romualdo, o programa "O Povo Falou, Tá Falado". Não nos demos por satisfeitos. Fomos e adquirimos a Rádio Santana. Começamos a trabalhar com ela imediatamente. Em 1975, a Rádio Santana foi fechada. Não permitiram mais que nossa voz fosse levada ao ar. Mas nós continuamos a nossa tarefa com o povo de Anápolis.

Estou fazendo isso, amigos, pra dizer da minha satisfação, e como é gostoso poder trabalhar na política. Como deputado estadual, a minha tarefa foi de defender a Democracia, os princípios democráticos. Coloquei quase que todo o meu mandato na defesa do nosso prefeito, meu irmão, que era perseguido aqui em Anápolis. Graças a Deus, ele terminou o seu mandato.

Em 1974, eu era candidato a re-eleição a deputado estadual. Mas, meu irmão, que havia deixado a prefeitura em 1972, querendo re-organizar a sua vida no hospital Santa Paula, me disse: "Adhemar, não tenho condição de sair daqui e ir para Brasília. Portanto, não vou disputar a eleição." Eu falei: "Então vamos fazer o seguinte: eu vou candidato a deputado federal, e você vai candidato a deputado estadual." Ele respondeu: "Deputado estadual dá para mim, dá para eu ir e voltar a Goiânia. Você quer?" Aceitei, e, na última hora, saí candidato a deputado federal. Foi o primeiro ano que tivemos a discussão e debate na televisão, a propaganda gratuita. Então nós fomos fazer o trabalho, eu e ele, através de programas de rádio e televisão, onde fizemos o "Pingue-Pongue da Verdade." O que realmente tomou conta do estado de Goiás, e nos deu realmente uma dimensão maior, e nós fomos eleitos. Ele, deputado estadual de 1974, com 33 mil votos, e eu, deputado federal, com 48 mil votos.

Mas, quando foi fazer o registro da candidatura, o procurador de justiça do estado, no governo Leonino Caiado, simplesmente quis impugnar a nossa candidatura. Terminada a eleição de 70, os nossos adversários fizeram uma informação de que nós, eu e Anapolino de Faria, teríamos usado máquina da prefeitura no município de Goianápolis, no município de Ouro Verde e no município de Petrolina, para nós nos elegermos. Eles, então, mandaram para a Polícia Federal. A Polícia Federal fez um inquérito; não constatou nada. Mas estava preparada para oferecer argumentos para eles. Como ele não tinham condição de nos pegar, deixaram isso amoitado.

Em 74, na hora do registro da candidatura - por que naquela época existia um lei em que o cidadão, para poder ser impugnado, bastava o promotor, o ministério público, oferecer a denúncia e o juiz receber; feito isso, ele já estava impugnado; não precisava ser condenado, bastava oferecer a denúncia e ela ser recebida pelo juiz - tentaram fazer isso em Petrolina. Mas o promotor daquela cidade, o Dr. Decildes Sá Abreu, não aceitou fazer a denúncia por que não havia como oferecer a denúncia. Aí, o processo veio para Anápolis. E, aqui em Anápolis, ele encontraram um promotor que oferecesse a denúncia. O promotor ofereceu a denúncia contra mim e contra o Henrique. Mas ai, o Dr. Clementino Alencar, juiz da cidade, responsável pelos feitos, não concordou e mandou o processo para o arquivo.


Como deputado federal, procurei honrar também os nossos compromissos com a nossa população. Não tegiversar, não dar tréguas ao adversário. Estar permanentemente lá, fazendo um trabalho nas nossas três passagens. Está registrado no livro "Da Mesa Farta à Subnutrição", que falava a respeito das desigualdades sociais. Inclusive, fiz a denúncia contra o ministro do Trabalho daquela ápoca. Foi divulgada nacionalmente pelos principais jornais e revistas, onde o ministro do Trabalho pedia ao povo que "apertasse o cinto", por que ainda não era a hora de dar um salário mínimo digno, e ele consumia por mês mais de mil quilos de carne bovina, suína, frango, peixes e crustáceos. Mais de mil quilos! A ponto do jornal O Estado de São Paulo o publicar carregando uma bandeja e um touro em cima, dizendo que era a refeição do ministro. Foi um trabalho extraordinário que nós realizamos. Em todo o Sul do país, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do SUl, estados em que fui chamado para participar, os candidatos a prefeito e vereador da eleição de 76, apresentavam, atrás de sua propraganda eleitoral, o nosso pronunciamento e a denúncia que fizemos na Câmara Federal.

Fui eleito Vice-Presidente da Câmara no segundo ano do mandato, enfrentando o "Grupo Autêntico" com Getulio Dias e enfrentando o "Grupo Moderado" com Juarez Bernardes. Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e outros mais apoiavam Juarez, enquanto Alencar Furtado, Isâneas Maciel e outros mais do "Grupo Autêntico" apoiavam Getulio Dias. Trabalhei no meio deles e, ao final, estava eleito Vice-Presidente da Câmara Federal, o mais alto posto reservado a bancada oposicionista. Por isso, quero dizer aos amigos que vale a pena lutar. O que não vale é querer o poder pelo poder, e querer ser poder de qualquer jeito. Vale a pena lutar! A luta é dignificante!

Em 78, fui eleito deputado pela segunda vez, e o Henrique, senador. Em 82, o Henrique não foi candidato por que tinha um mandato de senador. Eu fui eleito deputado federal; o Romualdo, deputado estadual. o Henrique continuou como senador, e Íris foi eleito governador do estado de Goiás. Em 86, o Henrique se elegeu governador do nosso estado.

Eu quero dizer que, nessas lutas todas, para mim a grande batalha foi a batalha pela Democracia, a batalha para voltar novamente a ter o direito a escolher nossos representantes, o direito de falar aquilo que quer, o direito de explanar o seu ponto-de-vista da forma que quer. Por isso eu sou um democrata autêntico. Eu não aceito o cidadão falar que é democrata, usar nos discursos a palavra democrata, mas no exercício do poder ser um autoritário, perseguidor. Foi contra isso que nós lutamos e conseguimos fazer com que houvesse a derrocada total dessa qualidade de pessoas, que não podem continuar convivendo no regime democrático.

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