domingo, 13 de fevereiro de 2011

Professor Akynaton

Quando alguma coisa está em disputa entre pessoas ou grupos, teoricamente todos os concorrentes querem vencer. Em quase todas as atividades que nos envolvemos estamos competindo. Viver é competir. Lutamos para que a vida supere a morte. Queremos ser vencedores. No meio radiofônico a disputa por audiência também é intensa e emocionante. Não há nada melhor para o radialista do que saber que seu programa é muito ouvido e comentado. O diretor artístico da emissora é importante nessa batalha pela conquista do ouvinte.

Romualdo Santillo, trabalhando como auxiliar de direção artística da Rádio Carajá de Anápolis, na década de 1960, sua principal preocupação era criar programação diversificada para a emissora. Aqueles programas tradicionais, como “Caleidoscópio Musical”, e ouvinte solicitando música pelo telefone estavam superados. As novas emissoras de rádio que operavam na cidade entraram no mercado com atrações modernas, cativantes. A Carajá, a mais antiga emissora de Anápolis, tinha como principal concorrente a Rádio Imprensa, ligada ao grupo Henrique Fanstone. Mesmo porque, a Santana pertencia ao mesmo grupo da Carajá. A Cultura, comandada por Benedito Junqueira, pertencia ao grupo Caiado, mais interessado em fazer a política do grupo. A Carajá era mais ouvida em quase todos os horários. A Imprensa, imbatível no programa das 14h. O astrólogo Omar Cardoso, com seus conselhos a pessoas desesperançadas de todo o Brasil, era líder absoluto em audiência. Omar foi considerado a maior expressão da astrologia nas emissoras de rádio brasileiras. Por mais que tentassem, as atrações da Carajá, para o horário, não cresciam.

Amigo do saudoso odontólogo e professor de química Felipe Jorge Mattar, o Felipão, Romualdo o convidou para apresentar programa nos moldes do de Omar Cardoso. Felipão foi a Goiânia conhecer regras básicas de numerologia e astrologia. Ficou mais de um mês indo e voltando todos dias. Aprendeu as noções básicas para enfrentar o desafio que Romualdo lhe reservara. Atenderia ouvintes da região. Preferencialmente de Anápolis. Raramente Omar Cardoso atendia alguém de Goiás. Seus consulentes eram mais de São Paulo, Minas Gerais , Rio de Janeiro, Paraná e Nordeste.

Para causar mais impacto e interesse ao público ouvinte, o astrólogo não foi apresentado como Felipão. Seu nome artístico: professor Akynaton. Dava a impressão de ser asiático, da Índia. Povo reconhecido internacionalmente como místico. Gente conhecedora de astrologia e numerologia.

No horário das 14h, Akynaton surgia na emissora, toalha branca enrrolada à cabeça, em forma de turbante, e estúdio fechado para visitantes, naquele horário.

Poucas foram as cartas da primeira semana. Contudo, em poucos dias as urnas estavam abarrotadas de correspondências. Consultas sobre questões sentimentais eram as mais freqüentes: “Meu casamento ainda pode dar certo?” “Minha namorada me deixou por outro. Ela voltará para mim?” “Meu signo, Virgem, é compatível com o da minha namorada, que é Sagitário?” Felipão, ou melhor, professor Akynaton, tirava de letra todas elas. As respostas constavam de manual que trouxera de Goiânia. Sempre com respostas que o consulente gostaria de ouvir, mas dando saída para outro desfecho. Tudo corria bem. A audiência crescia a cada dia.

Muito ouvido e respeitado pelo público, Akynaton recebeu correspondência de um ouvinte da região de Jaraguá. Estava com a esposa internada no Hospital Dom Bosco, em Anápolis, para dar a luz ao quarto filho. Pai de três meninas, torcia pelo nascimento de um menino. Assim, queria saber se a criança que estava prestes a nascer seria do sexo masculino. Akynaton, leu a correspondência. O manual não lhe dava condições de responder a questão com segurança. Alegando falta dos signos dos pais, idades das irmãs e signo de cada uma, cor da pele do pai e da mãe, endereço de residência em Jaraguá, estava impossibilitado de revelar o sexo da criança. A mãe já se encontrava internada para dar a luz. Sabedor que a criança nasceria logo, acreditava que até lhe serem prestados os esclarecimentos teria nascido.

Mal terminou o programa daquela tarde, o consulente chegou à Rádio Carajá levando as respostas solicitadas. O parto estava programado para a tarde do dia seguinte. O pai queria saber o sexo da criança, pelo menos, algumas horas antes do nascimento. Não houve escapatória: no dia seguinte, o professor Akynaton decifrou os dados que lhe foram repassados. Depois daquele suspense natural, disse solenemente que a criança seria do sexo masculino. “Será menino!”

Alegria contagiante quando a enfermeira saiu da sala do parto com a criança, anunciando ser do sexo masculino. Professor Akynaton se consagrou.

2 comentários:

  1. QUe saudade do meu padrinho Felipão! Aonde ele ia tomava conta da roda de prosa e alegrava a galera toda! sobrinho jamil!

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  2. QUEM CONHECEU O FELIPÃO , JAMAIS ESQUECE, ELE ERA UMA PESSOA MUITO INTENSA, NASCE UM DESSES A CADA 100 ANOS, SAUDADES PAI . TE AMAMOS MUITO ....

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