domingo, 4 de julho de 2010

Fanatismo e paixão no futebol

Publicado na edição de 04/07/2010 do jornal Diário da Manhã

A mobilização dos povos, principalmente das nações que participam da Copa do Mundo de futebol, é fantástica. A reação do público é idêntica em todos os continentes. Ganhou, é aquela alegria contagiante que emociona até o mais frio e apático dos assistentes. Quando perdem é só tristeza, choro e muitas lágrimas. É a verdadeira confraternização mundial, para sorrir ou para chorar. Futebol é o mais apaixonante de todos os esportes. Japoneses, africanos, ingleses, franceses, coreanos falam a mesma coisa. Sentem as mesmas emoções. O futebol tem o poder de fazer homens e mulheres de todas as nacionalidades sentirem as mesmas alegrias e decepções.

Governantes e cientistas do mundo todo não conseguem mobilizar a humanidade, para a preservação do meio ambiente. Devemos refletir um pouco mais sobre métodos modernos e revolucionários de combate à destruição da Terra. Com o engajamento de todos os clubes de futebol na defesa dessa causa, tenho certeza que a questão, se não resolvida, melhoraria substancialmente. O futebol realiza milagres que os governantes e a ciência não conseguiram resolver, por não contarem com o poder de mobilização das massas.

Essa adoração, principalmente dos brasileiros, pelos seus craques não é coisa de agora, em que o Brasil é campeão mundial por cinco vezes, estando em busca do seu sexto título.

Em 1957, um ano antes do primeiro campeonato conquistado em campos da Suécia, o Jornal do Brasil trouxe uma charge ilustrando esse fanatismo de integrante de toda e qualquer camada social pelo futebol. Um cidadão com a roupa esfarrapada, rodeado de moscas atraídas pelo odor exalado pelo corpo sem banho, sapatos com o solado estragado pelo uso, verdadeiro mendigo, sentado em um banco à beira mar no Rio de Janeiro. Lia a notícia de primeira página do jornal. Comentava sobre a quantia solicitada pelo atacante Quarentinha, um dos ídolos do Botafogo, para renovar seu contrato. O alvinegro aceitara a proposta do jogador, em bases milionárias. Ignorando sua condição de pedinte, como bom botafoguense, se sentiu realizado,ao tomar conhecimento do acordo. Sorrindo e falando sozinho:

– É isso aí, com a gente não tem miséria!

Esse fanatismo não ocorre só entre os torcedores de grandes times. O futebol é apaixonante entre clubes grandes, pequenos, varzeanos ou rurais. Os desabafos contra as arbitragens, desespero pelo gol perdido, alegria pelo gol marcado ou vitória conseguida e a tristeza pela derrota são idênticas entre pequenos e grandes clubes. Até as encrencas são semelhantes!

Certa vez jogavam Anhanguera e Maracanã, duas grandes forças do futebol amador de Anápolis na década de 60. As torcidas das duas equipes se misturavam no estádio Manoel Demóstenes. Em um determinado lance, Hado Hajar, presidente do Anhanguera, fanático pelo seu clube e pelo Anápolis Futebol Clube, se desentendeu com um torcedor do Maracanã, equipe do Mauro Gonzaga Jaime, o Pastinha. Lance, natural, sem nenhuma maldade. Enquanto os atletas se abraçavam, se desculpando mutuamente, a discussão do lado de fora só ganhava dimensão. Antônio Senhorinho dos Santos, o Tonho Gaguinho, amigo dos dois contendores, entrou entre eles para apaziguá-los. Hado deu guinada de corpo e desferiu soco rumo ao adversário. Com rápido movimento de corpo esquivou-se do murro que acertou a orelha esquerda do Tonho Gaguinho, o qual caiu desacordado ao chão. Cleto, o Manaíba, massagista da Anapolina, passava pelo local no momento. Carregando sua inseparável garrafa com óleo alcanforado, colocou no lenço para que Tonho o cheirasse. Aos poucos se recuperou, indagando aos que lhe assistiam:

– Que foi que aconteceu! Só vejo passarinhos cantando e estrelinhas rodando na minha frente.

São os milagres realizados pelo futebol. Até na hora da dor e do sofrimento se transformam em beleza e poesia.

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