sexta-feira, 12 de março de 2010

Parlamentares prestigiam turismo

Publicado na edição de 07/01/2010 do jornal Diário da Manhã

O patrimônio histórico e turístico do Brasil há muito tempo precisa de melhores cuidados. Casarões, igrejas e marcos históricos do ciclo do café, do ouro ou dos desbravadores bandeirantes estão total ou parcialmente destruídos. Isso pode ser visto por quem visita Pilar de Goiás ou o distrito de Traíras, em Niquelândia. As principais relíquias da época colonial, edificadas com esmero e competência pelos seus construtores, usando a matéria-prima existente naquele instante, desapareceram pela ação do tempo e descuido das autoridades.

Em alguns casos tem faltado vontade política aos governantes para a preservação dessa memória histórica. Em l749, Bartolomeu Bueno da Silva, neto do Anhanguera e filho do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, que veio para Goiás com a decisão de aqui morar, edificou às margens do Rio Corumbá, na divisa dos atuais municípios de Pires do Rio e Urutaí, um porto para a passagem dos viajantes que vinham do Sul e instalação de uma pousada com fornecimento de cama e refeição. Se não foi o primeiro porto, com certeza foi o primeiro hotel do Estado. Uma das reportagens sobre essas atividades dos descendentes dos Bueno foi realizada pelo jornalista Moisés Santana, no início do século passado. Sendo esse um dos principais acontecimentos históricos de Goiás, deveria ser preservado. Poucos em Pires do Rio e Urutaí sequer sabem dessa história.

O Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan) está encaminhando reivindicação ao setor competente da área federal, pleito de cinco cidades goianas (Goiânia, Pirenópolis, Goiás, Corumbá e Pilar), para restauração e conservação do seu patrimônio tombado pelo Iphan. O pedido está sendo examinado pelo ministério da Cultura. Se aprovado, receberia recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O ministério do Turismo também pode ajudar nesse serviço de restauração. Afinal, essas obras promovem a visitação dos turistas.

Na sua edição do dia 4/01/2010, o jornal O Estado de S. Paulo publicou notícia nas suas páginas 1 e A4 que, à primeira vista, parecia ser a solução da falta de recursos para essa área e o zelo e civismo dos senadores e deputados federais para com o incentivo ao turismo. Sob o título “Turismo supera saúde e educação em emendas”, o jornal noticia que “no ano eleitoral, o Ministério do Turismo desbancou as pastas da Saúde, da Educação e de Cidades e assumiu o topo no ranking no Orçamento da União, com R$ 1,714 bilhão em emendas parlamentares”.

Ao ler a manchete do Estadão, ao mesmo tempo que assistia pela televisão o drama do desastre ocorrido em São Luís do Paraitinga (SP), que teve praticamente todo seu patrimônio histórico da época do café, à base de “taipa pilão”, destruído pela enchente do Rio Paraitinga, deduzi que, conhecendo como conhecem todas as cidades brasileiras, os parlamentares teriam se lembrado dessas relíquias já destruídas e que continuam desaparecendo e, por isso, teriam reforçado o Orçamento da União para 2010.

O jornal prossegue detalhando a opção enigmática e repentina de praticamente todos os deputados federais e senadores pelo turismo: “O ministério tem uma verba para financiar eventos, como shows, que saem sem licitação e em até dois meses após autorizado o pagamento da emenda.” Aí está a razão de tanto dinheiro para o Ministério de Turismo. Nada para restauração de relíquias destruídas e tudo para o show da reeleição.

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