terça-feira, 2 de março de 2010

Silvânia e o MDB

– A gloriosa marcha para a redemocratização do país já é percebida pelos nossos adversários.

Foi com esse entusiasmo que um simpatizante do MDB em Silvânia se expressou, aumentando o tom da voz para que suas palavras fossem ouvidas pelos poucos integrantes da platéia e por alguns que passavam pela calçada e curiosamente olhavam para dentro do salão.

A região da estrada de ferro foi um lugar bastante difícil para formação do MDB e em Silvânia não foi diferente. Na campanha de 1974, mesmo com alguns companheiros fiéis, não tivemos ambiente para realizar comício. Fizemos uma carreata com pouco mais de dez veículos, contando com os dos integrantes da caravana que saíram de Anápolis e Goiânia. Paramos na praça do coreto, tomamos café e seguimos viagem para Vianópolis, Orizona e Pires do Rio.

Os silvanenses respeitavam muito a liderança do ex-prefeito José Caixeta, que seria suplente de Benedito Ferreira, senador biônico goiano, na eleição de 1978. A liderança do Caixeta ia do prefeito passando pelos vereadores e demais lideranças daquele Município. A consideração que nutriam por ele impedia que organizassem o partido de oposição. Sem partido devidamente constituído, restava ao eleitor o direito de secretamente se manifestar, como realmente aconteceu no dia da eleição com o voto para Lázaro Barbosa.

Passadas as eleições de 74, com a vitória esmagadora de Lázaro Barbosa contra o arenista Manoel dos Reis, houve pequena abertura. Vindo de uma viagem de Ipameri para Anápolis, Vicente Alencar parou numa pequena mercearia, conversou com o proprietário, homem simples e resoluto que mostrou desejo de fundar o MDB no Município. Geraldo Bonfim seu nome. Vicente garantiu que eu iria visitá-lo oportunamente.

Cumprindo sua promessa, fui com Vicente conhecer e conversar com o Sr. Geraldo. Tratamos das medidas necessárias à criação do partido em Silvânia e acertamos detalhes para uma reunião onde levaria o deputado estadual Henrique Santillo para conversar com demais companheiros.

No sábado programado, chegamos à Silvânia numa caravana composta por Vicente Alencar, Romualdo Santillo, Joceli Machado, Henrique Santillo e alguns outros. A reunião foi no auditório do cinema local. Ainda causando estranheza uma reunião política, após muitos anos sem esta prática, foram poucos os silvanenses que compareceram.

Como não cansávamos de afirmar, onde houvesse dois ou três dispostos a nos ouvir ali estaríamos, falando com a mesma disposição como se a platéia fosse numerosa, solicitamos ao Geraldo que desse início ao encontro.

Geraldo fez a apresentação de todos os visitantes destacando qualidades de cada um. Não se esqueceu de enaltecer os companheiros de Comissão Provisória e, de forma enfática, da qualidade do orador oficial, escolhido por ele. Este orador oficial era um amigo do presidente, especialmente convidado para o encontro. Homem bem falante e comunicativo. Impecavelmente trajado com terno social, complementado com chapéu e guarda-chuva.

Geraldo passou-lhe a palavra e ele tirando cerimoniosamente o chapéu, agasalhando-o com o guarda-chuva num cabideiro atrás da mesa, fez os cumprimentos aos visitantes ilustres, não se esquecendo de algumas conquistas alcançadas por eles nessa “gloriosa caminhada em busca da democracia...”.

Finalmente entrou no objetivo da questão em discussão naquela manhã. Estufou o peito, colocando as duas mãos sobre a mesa para que suas palavras fossem audíveis para os componentes da mesa, os seis integrantes da platéia e por aqueles que transitavam pela calçada em frente o salão:

– A gloriosa marcha para a redemocratização do país já é percebida pelos nossos adversários.

E, pausadamente, com todo ardor, concluiu:

– O povo já reconhece a nossa desmoralização!

A cerimônia foi encerrada após as demais falas. Retornamos a Anápolis meio encabulados.

A partir de Geraldo Bonfim outros companheiros de Silvânia foram à luta, organizando o partido no Município, mesmo com dificuldades.

Hoje Silvânia possui o PMDB forte e resistente, com novos e antigos valorosos companheiros.

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