domingo, 8 de agosto de 2010

Despacho do Divino Euripedes

Publicado na edição de 08/08/2010 do jornal Diário da Manhã

Divino Euripedes Batista, o Curiango, assim como meu amigo Ronnie Baptista Soares e muitos outros Batista, são integrantes de uma das famílias mais tradicionais de Anápolis. Sua maior referência foi Zeca Batista, o fundador de Anápolis. Curiango, o popularíssimo Curi, nasceu no Bairro Jundiaí, casa próxima à Praça dos Trabalhadores. Seus pais eram fanáticos pela cidade. Tinham tanto orgulho de Anápolis, que esmeraram-se nas ações e emoções, conseguindo que Curi nascesse no dia 31 de julho. Data da Emancipação Política do Município. Divino Euripedes quando jovem praticou intensamente o futebol. Meio campista cobiçado por todos os times varzeanos do Jundiaí. Hoje é tido como o “homem que evitou o desaparecimento do campo Barro Preto.”

O Barro Preto fica na quadra residencial mais valorizada da Vila Santa Maria de Nazareth. Única área de lazer da região. Pertencia ao médico Ivan Roriz, que por generosidade admitia que fosse ocupada como campo de futebol. Por ser área nobre e grande, sempre foi cobiçada por todas as imobiliárias locais. Assim que as lideranças da região foram informadas que o Barro Preto iria desaparecer, Curiango foi com dezenas de dirigentes esportivos da Santa Maria e outros bairros, ao meu gabinete, na prefeitura municipal. Pediram-me que impedisse a venda da área. Desapareceria único ponto de união e confraternização dos habitantes da região. Graças ao empenho e liderança do Divino Euripedes, fizemos sua permuta por outra área. Garantimos o Barro Preto aos barropretanos. Tem sido palco de grandes e emocionantes partidas de futebol.

Na década de 60, clássico no Jundiaí, era entre Serraria e Castilho. Equipes pequenas que disputavam campeonato patrocinado pela Liga Anapolina de Desportos. A rivalidade entre elas era tão grande quanto a de Anápolis x Anapolina ou Ypiranga x Anápolis. Mexia mesmo com o sentimento dos torcedores que residiam das proximidades da estação ferroviária de Engenheiro Castilho, no Jundiaí Industrial à Santa Maria de Nazareth.

Num desses clássicos, a diretoria do Castilho foi informada que num terreiro de Umbanda, existente na Vila Santa Terezinha, havia uma fotografia do seu time completo, espetada por enorme agulha de crochê, de cabeça para baixo, na parede da sala. A descrição da cena impressionou a toda equipe e torcedores do Castilho. Os dirigentes preocupados com apavoramento dos seus atletas e torcedores, trataram de encontrar a maneira de minimizar o problema. Queriam principalmente recuperar psicologicamente o astral dos jogadores.

Procuraram Curi que era amigo do chefe do terreiro. Embora muito católico, Curiango conhecia e era amigo dos chefes de todos os terreiros da cidade. Narraram-lhe o drama que viviam. Precisavam de contra-ofensiva eficaz e imediata. A convite foi à reunião com jogadores e torcedores, na noite de sexta feira que antecedia o grande clássico do domingo. Ao chegar foi logo presenteado com um frango índio, colocando-o sob o braço. Aplaudidíssimo, Divino Euripedes se emocionou. Chorou de alegria. O frango assustado se mexia para fugir do sufoco.

O dirigente da reunião teceu elogios ao Curi. Falou dos compromissos dele com a vitória do Castilho:

- Curi é nosso amigo e vai acabar com a macumba encomendada pelos nossos adversários. (aplausos). O despacho do retorno, será à meia noite de hoje, na principal encruzilhada da região. (aplausos). Vamos fazer a macumba virar contra o macumbeiro! Aplausos calorosos e intermináveis.

Encerrada a apresentação da grande estrela da noite, Curiango falou em voz pausada e firme:

- Obrigado pela homenagem. Obrigado pelas palavras e conceitos sobre mim, ditos pelo Zé das Velhas.

- Você merece! Disse a platéia de forma uníssona.

- Mais uma vez obrigado. Gosto de vocês. Lamento estejam apreensivos e temerosos. Para mim o temor de vocês é motivo de alegria e satisfação. Sou torcedor convicto do glorioso Serraaaaría...

Teve que sair escoltado pela polícia que passava no momento pelo local. Foi comer frango à caçarola, com diretores do Serraria.

Um comentário:

  1. Boa tarde Senhor Adhemar, como é bom ainda ouvir sua voz na rádio nos traduzindo o cenário político aqui da cidade. Essa história do Despacho do Eurípedes veio a calhar "divinamente" em meu trabalho Monográfico dentro da UEG. Trabalho as histórias dos umbandistas na cidade. Caso tenha mais algumas pérolas gostaria de ter acesso.
    Meu e-mail: diogojansen@hotmail.com

    Att.

    Diogo Jansen - Professor de História

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