segunda-feira, 17 de maio de 2010

Assim nasceu Xata com X

Publicado na edição de 17/05/2010 do jornal Diário da Manhã

No início de 1931, tendo como presidente Dr. Manoel Gonçalves Cruz, foi fundado o Annápolis Sport Club. No dia 7/02/1931, no seu primeiro jogo, debaixo de muita chuva o Annápolis Sport derrota a A.A. União Goyana, da cidade de Goiás, por 2 x 1. Com altos e baixos o Annápolis resistiu até o final de 1947. Nesse ano o presidente José Maria do Nascimento Júnior, mesmo tendo injetado muito dinheiro do seu próprio bolso na equipe, não conseguiu saldar todas suas dívidas. A situação piorou com a saída dos Puglisi (Júlio, Laudo e Zeca Puglisi) e afastamento de Raul, Verdi e outros que formaram o Quinta Coluna.

Mesmo com a resistência de José Maria, em 1º de janeiro de 1948 foi fundada, com a participação de Gisberto Ferraresi, José Elias Isaac, Moisés Roriz Filho, João Pedro Neto, Ângelo Carnielo, Edson Hermano, toda família Puglisi e atletas a Associação Atlética Anapolina em substituição ao Annápolis Sport Club, tendo como seu primeiro presidente Gisberto Ferraresi.

O primeiro jogo da Associação atlética Anapolina foi contra o Ferroviário de Araguari, no Estádio Manoel Demóstenes, em 18 de abril de 1948. A rubra venceu por 3 x 2. Gols de Júlio Puglisi, Leônidas e Picum. Sua escalação para aquela partida foi: Juca, Petrôneo e Tatu; Arnaldo, Iberê e Jé Lemes; Alípio (Luizinho), Júlio. Juvenal, Picum e Leônidas.

Os Puglisi foram importantíssimos não só na fundação como sustentação da Anapolina. Júlio, Laudo e Zeca eram extraordinários jogadores. Vicente, já veterano, Tonico e Adelino também faziam parte da rubra. Júlio Puglisi iniciou sua carreira como goleiro, se transformando posteriormente num dos mais destacados artilheiros. Laudo foi campeão goiano pelo Operário, em 1947 e na Anapolina brilhou como artilheiro da equipe. Zeca foi o mais destacado de todos eles e considerado como o melhor ponteiro direito do futebol anapolino em todos os tempos. Waldinar e Celso Campos mais novos, foram brilhantes na história da rubra. Contudo, a grande líder, a comandante de toda família, fanática torcedora da Associação Atlética Anapolina, foi a matriarca da família, dona Caetana Puglisi. Sua casa sempre foi local preferido dos atletas discutirem futebol, saboreando o café preparado por ela ao fogão a lenha. A mesa sempre farta de biscoitos, bolos e doces a qualquer hora. Dona Caetana excelente anfiriã, ainda lavava, passava e cuidava de todo material usado pela rubra. Foi uma heroína, verdadeiro exemplo de dedicação aos filhos, amigos e a Associação Atlética Anapolina.

Torcedor da Anapolina, como qualquer torcedor apaixonado pelo seu clube, tem seus momentos de alegria e tristeza. Só que o da rubra é mais criativo e está sempre de bem com a vida e com o humor. No início da década dos anos 50, a rubra ganhou o campeonato anapolino de futebol sem perder um único jogo e conquistou o tetra campeonato da cidade, patrocinado pela Liga Anapolina de Desportos. Seu maior adversário era, como continua sendo, o Anápolis Fubebol Clube. Antes das partidas circulavam pela cidade e no Estádio Manuel Demóstenes, folhinha dizendo o dia, mês, ano e fase da lua, anunciando mais uma vitória da rubra contra o tradicional adversário. Quando a previsão não dava certo, a gozação e constrangimento aos adversários já haviam sido realizados antecipadamente.

Wahib Aidar, empresário, muito amigo dos Puglisi, ex-atleta da Anapolina na mesma época que Celso Campos, era o mais espirituoso e gozador de toda torcida. Presidindo o clube, num daqueles momentos difíceis, em que faltavam atletas e dinheiro para sua manutenção, numa noite de chuva torrencial em Anápolis, Wahib sentado na tribuna de honra, assistia a mais um jogo da sua rubra querida. Longe de conversas com amigos e outros torcedores, sozinho, preocupado com os compromissos financeiros que venceriam na manhã seguinte, ouviu o locutor Vilibaldo Alves, de uma emissora de rádio local, narrando aos ouvintes a tempestade que caia sobre a cidade:

– É fogo, torcida anapolina. Cai água em grande quantidade. É chuva com X maiúsculo!

A Anapolina mesmo com toda crise, jogadores com os salários em atraso, aparentemente desmotivados, derrotou o adversário, dando show de bola. Wahib emocionado com a dedicação dos atletas, ao conceder entrevistas às emissoras de rádio anapolinas e goianienses a qualificou como uma equipe irreverente, chata. Chata diferente: " Xata com X maiúsculo."

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